PUBLICIDADE
Geopolítica é um termo utilizado para designar tanto a prática quanto os estudos das relações e disputas de poder entre Estados e territórios. Esse campo do conhecimento se dedica aos estudos dos conflitos diplomáticos, políticos e territoriais, das crises, da evolução histórica do ordenamento político do espaço mundial, da articulação entre os Estados nacionais e da atuação das organizações internacionais e blocos econômicos.
De grande importância para a análise das relações internacionais e do ordenamento territorial em diversas escalas, a geopolítica permite desenvolver uma visão crítica acerca do passado histórico e principalmente dos acontecimentos atuais.
Confira nosso podcast: A geopolítica do petróleo
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre geopolítica
- 2 - O que é geopolítica?
- 3 - O que a geopolítica estuda?
- 4 - Origem e história da geopolítica
- 5 - Importância da geopolítica
- 6 - Geopolítica no Brasil
- 7 - Geopolítica mundial
- 8 - Geopolítica x Geografia Política
- 9 - Geopolítica no Enem
- 10 - Exercícios resolvidos sobre geopolítica
Resumo sobre geopolítica
-
Geopolítica é uma área do conhecimento que se dedica ao estudo das relações de poder entre Estados e territórios, bem como a forma como se organizam no sistema-mundo.
-
A geopolítica aborda temas como os conflitos diplomáticos, disputas territoriais, crises internacionais, questões separatistas e ainda a atuação e importância dos organismos internacionais e blocos econômicos na articulação dos Estados.
-
Johan Rudolf Kjellén (1864-1922), cientista político sueco, foi o primeiro a utilizar o termo “geopolítica” para tratar dos Estados nacionais enquanto agentes atuantes no espaço.
-
Conhecer a geopolítica é muito importante para a compreensão de como evoluiu o ordenamento espacial do mundo sob uma perspectiva política, além de possibilitar o desenvolvimento de uma visão crítica acerca de eventos atuais.
-
É importante saber que geopolítica e Geografia Política, embora semelhantes, apresentam abordagens distintas.
O que é geopolítica?
Entende-se por geopolítica todas as relações de poder que são estabelecidas entre diferentes países e territórios e as dinâmicas espaciais, políticas e econômicas diretamente associadas a elas. Assim, podemos dizer que a prática da geopolítica acontece principalmente mediante as ações e as estratégias engendradas pelo Estado, que corresponde ao organismo político de um determinado país, mas não se limita somente a esse nível de organização territorial. Além disso, frequentemente estudamos a geopolítica pela ótica dos organismos internacionais e supranacionais, dos blocos econômicos e das alianças regionais, por exemplo.
O que a geopolítica estuda?
A geopolítica está diretamente associada à Geografia Política, utilizando muito dos conceitos dessa área da ciência geográfica para construir as suas principais vertentes de estudo. Em linhas gerais, a geopolítica analisa as relações internacionais e as estratégias políticas adotadas pelos diferentes territórios e Estados nacionais na sua atuação diante de situações específicas, como conflitos, crises políticas, econômicas e diplomáticas, ameaças à manutenção de sua soberania interna, questões separatistas e outros temas correlatos.
A conjuntura política do sistema-mundo e a maneira como se dá a articulação dos Estados em períodos históricos distintos são também objetos de estudo da geopolítica. Dentre esses elementos está ainda a atuação dos organismos supranacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), os blocos econômicos regionais, as organizações políticas e financeiras internacionais e as alianças locais e regionais que se formaram ao longo da nossa história.
Origem e história da geopolítica
O interesse pela organização territorial do mundo e pela compreensão das disputas de poder se tornou crescente à medida que os Estados nacionais se estabeleciam pelo mundo. Durante principalmente o século XIX surgiram muitos estudos de caráter estratégico que visavam a analisar a geografia política do continente europeu.
Foi nesse contexto que surgiram importantes contribuições à Geografia Política, como as do geógrafo Friedrich Ratzel (1844-1904), que se tornou uma das principais referências quando se fala em uma definição de território e na compreensão do que é o Estado.
A origem da geopolítica enquanto parte da ciência geográfica e principalmente enquanto conceito estabelecido aconteceu entre o final do século XIX e o início do século XX, quando a palavra foi utilizada pela primeira vez em um estudo publicado pelo cientista político sueco Johan Rudolf Kjellén (1864-1922).
A geopolítica de Kjellén destaca o Estado como principal agente político e articulador, dando a ele uma dimensão espacial. Foram publicadas novas obras e estudos em que Kjellén forneceu explicações detalhadas a respeito do que é e como se delineava a geopolítica sueca, assim como do período em que se inseria. A disciplina foi ganhando cada vez mais importância no campo prático, em especial na Europa em um contexto de disputas por fronteiras territoriais e da Primeira Guerra Mundial.
A geopolítica se tornou mais abrangente e sólida após a Segunda Guerra Mundial, quando o mundo se viu diante da Guerra Fria, que colocou os países em polos ideológicos opostos, havendo uma intensa disputa pela hegemonia política e econômica internacional.
Importância da geopolítica
Enquanto parte do conhecimento geográfico, a geopolítica é de fundamental importância para o entendimento do que é poder e qual a sua relação com os territórios em diversas escalas.
Essa disciplina possibilita também a melhor compreensão acerca da atuação dos Estados nacionais no sistema-mundo e de que forma ocorrem as relações e articulações entre eles. Dessa forma, a importância da geopolítica se estende para a apreensão da conjuntura política internacional e análise crítica de como se organizavam os territórios no passado histórico.
A geopolítica facilita, assim, a interpretação dos dilemas atuais, como conflitos territoriais, étnicos e políticos, guerras comerciais, disputas por hegemonia, tensões diplomáticas entre dois ou mais Estados nacionais, atuação das organizações internacionais em meio a essas questões e diversos outros acontecimentos que se desenrolam em tempo real e o desenvolvimento de uma visão analítica e crítica a respeito do mundo e da atualidade em que estamos inseridos.
Geopolítica no Brasil
O Brasil se insere na geopolítica internacional como um país em desenvolvimento com grande potencialidade para crescimento no cenário político e econômico mundial.
Atualmente, o país apresenta fortes alianças estabelecidas com outras nações pertencentes ao Sul Global, que compreende os países emergentes, como os demais membros do grupo dos Brics e os seus parceiros regionais do Mercosul, bloco constituído pelas economias nacionais sul-americanas. Assim, o país desempenha um importante papel político e econômico na região do Atlântico Sul.
Com relação à constituição de um corpo acadêmico nacional dedicado aos estudos da geopolítica, o professor Wanderley Messias da Costa explica|1| que a sua concretização aconteceu a partir da segunda metade do século XX, mais precisamente a partir da década de 1980.
Antes disso, em sua maioria, a geopolítica brasileira era desempenhada no campo prático e reservada aos meios militares, pensando então em questões de estratégia de proteção das fronteiras e integração do território nacional.|2|
O reordenamento interno do território brasileiro a partir dos anos 1950, com a urbanização acelerada, a industrialização e a modernização da agricultura, levou ao reposicionamento do Brasil na conjuntura política e econômica internacional.
Durante a década de 1980, as transformações na estrutura política interna, com a redemocratização e o fim da ditadura, direcionaram a centralidade da geopolítica para a academia, que se desenvolveu ainda sob a influência de pensadores franceses e alemães.
Geopolítica mundial
A geopolítica mundial passou por transformações muito significativas no decorrer do tempo, em especial se consideramos todos os eventos que decorreram após o final da Segunda Guerra Mundial.
Em meados do século XIX, a geopolítica mundial era desenhada por duas potências principais que disputavam a hegemonia política dos demais Estados nacionais, sendo elas os Estados Unidos, que representava o mundo capitalista, e a União Soviética, que representava as nações socialistas. Esse período é mais conhecido como o da Guerra Fria. Nesse ínterim surgiram importantes organismos internacionais, como a ONU, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ao final da década de 1980 aconteceu a queda do Muro de Berlim, na Alemanha, que simbolizou o fim da divisão do mundo em dois polos e a reconfiguração da geopolítica mundial, agora com os Estados Unidos se consolidando na posição de país hegemônico logo no início dos anos 1990. Desenhava-se o que ficou conhecido como a Nova Ordem Mundial, em contraponto à Velha Ordem Mundial.
Outro fenômeno que caracterizou a nova configuração global diz respeito ao desenvolvimento do capitalismo monopolista (ou financeiro), à expansão das multinacionais e ao advento de uma divisão internacional do trabalho.
A dinamicidade dos processos políticos e econômicos globais condicionaram o surgimento de um contexto geopolítico internacional no período recente. Chegamos em um cenário em que, apenas para citarmos alguns exemplos, os Estados Unidos e a China disputam a hegemonia econômica internacional, ao mesmo tempo em que se intensificam os conflitos territoriais e étnicos na Europa e no Oriente Médio, com destaque para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e os confrontos recorrentes entre Israel e os territórios da Palestina e da Faixa de Gaza.
Saiba mais: Qual é o papel do Brasil na Nova Ordem Mundial?
Geopolítica x Geografia Política
Geopolítica e Geografia Política estão intimamente relacionadas, mas apresentam abordagens distintas:
-
Geografia Política: inserida no escopo da Geografia Humana, corresponde a uma área do conhecimento que se ocupa do estudo dos Estados e de sua dimensão espacial, isto é, dos territórios.
-
Geopolítica: coloca o Estado no centro da ação e se volta à compreensão das relações de poder entre os diferentes Estados, às estratégias e articulações que permeiam essa dinâmica e aos seus desdobramentos em diferentes períodos e conjunturas.
Geopolítica no Enem
A geopolítica é um tema muito importante para a composição do pensamento crítico e analítico dos indivíduos e, por essa razão, ele aparece de forma recorrente nas provas do Enem.
Espera-se que o(a) candidato(a) tenha conhecimento a respeito dos principais conceitos da Geografia Política, que são frequentemente utilizados nos textos e reportagens que abordam questões geopolíticas, como Estado, nação, território e soberania, e da atuação dos organismos e instituições internacionais.
Ao mesmo tempo, demanda-se que o(a) aluno(a) esteja atento aos principais eventos da geopolítica ao longo da história e sobretudo na atualidade. Para isso, é fundamental dedicar um tempo para acompanhar o noticiário em suas mais diversas mídias e seguir os acontecimentos mais relevantes do mundo nas redes sociais.
Dentre os assuntos cobrados e que podem ser esperados em futuros exames estão:
-
Conflitos no Oriente Médio;
-
Mercosul;
-
Funcionamento da ONU.
Exercícios resolvidos sobre geopolítica
Questão 1
(Enem)
Brasil, Alemanha, Japão e Índia pedem reforma do Conselho de Segurança
Os representantes do G4 (Brasil, Alemanha, Índia e Japão) reiteraram, em setembro de 2018, a defesa pela ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) durante reunião em Nova York (Estados Unidos). Em declaração conjunta, de dez itens, os chanceleres destacaram que o órgão, no formato em que está, com apenas cinco membros permanentes e dez rotativos, não reflete o século 21. “A reforma do Conselho de Segurança é essencial para enfrentar os desafios complexos de hoje. Como aspirantes a novos membros permanentes de um conselho reformado, os ministros reiteraram seu compromisso de trabalhar para fortalecer o funcionamento da ONU e da ordem multilateral global, bem como seu apoio às respectivas candidaturas”, afirma a declaração conjunta.
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 7 dez. 2018 (adaptado).
Os países mencionados no texto justificam sua pretensão com base na seguinte característica comum:
A) Extensividade de área territorial.
B) Protagonismo em escala regional.
C) Investimento em tecnologia militar.
D) Desenvolvimento de energia nuclear.
E) Disponibilidade de recursos minerais.
Resolução:
Alternativa B
Todos os países mencionados no texto, que são chamados de G4, representam importantes Estados que exercem influência nas respectivas regiões em que estão inseridos, como é o caso do Brasil na América do Sul, o que seria mais representativo da geopolítica do século XXI.
Questão 1
(Enem)
Os soviéticos tinham chegado a Cuba muito cedo na década de 1960, esgueirando-se pela fresta aberta pela imediata hostilidade norte-americana em relação ao processo social revolucionário. Durante três décadas os soviéticos mantiveram sua presença em Cuba com bases e ajuda militar, mas, sobretudo, com todo o apoio econômico que, como saberíamos anos mais tarde, mantinha o país à tona, embora nos deixasse em dívida com os irmãos soviéticos — e depois com seus herdeiros russos — por cifras que chegavam a US$ 32 bilhões. Ou seja, o que era oferecido em nome da solidariedade socialista tinha um preço definido.
PADURA, L. Cuba e os russos. Folha de S.Paulo, 19 jul. 2014 (adaptado).
O texto indica que durante a Guerra Fria as relações internas em um mesmo bloco foram marcadas pelo(a)
A) busca da neutralidade política.
B) estímulo à competição comercial.
C) subordinação à potência hegemônica.
D) elasticidade das fronteiras geográficas.
E) compartilhamento de pesquisas científicas.
Resolução:
Alternativa C
A relação econômica descrita no trecho da reportagem representa uma forma de subordinação a uma das potências hegemônicas do período da Guerra Fria, que era a União Soviética.
Notas
|1| e |2| COSTA, Wanderley Messias da. A Geopolítica brasileira e sua influência no pensamento estratégico nacional. In: L’Espace Politique (online), 31, 2017-1. Disponível aqui.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia