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A água é um imprescindível recurso natural, considerado como estratégico em razão da sua importância para a vida das pessoas e das sociedades e também por não se distribuir de forma igualitária no globo, havendo regiões que possuem menos e outras mais. Por esse motivo, os recursos hídricos sempre foram motivos, ao longo da história, de debates e disputas. No entanto, o que foi algo em menor grau no passado pode tornar-se a grande tônica do século XXI, que pode presenciar um número sem precedentes de conflitos pela água entre países.
Com o crescimento populacional e, principalmente, com a disseminação da agricultura moderna, a água vem sendo consumida de forma cada vez mais ampla e intensificada. Por outro lado, a poluição e o uso não sustentável da natureza provocam a diminuição de sua disponibilidade no mundo. Em muitos locais, a instabilidade política e tensões entre governos por causa da água já são realidade.
O Oriente Médio é um dos locais onde mais acontecem e podem acontecer disputas pela água. Aliás, ela já foi motivação para algumas ações em uma área de grande tensão política: em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel invadiu as Colinas de Golã, na Síria, tanto pela sua posição estratégica quanto pelo fato de essa localidade abrigar as nascentes do Rio Jordão, necessárias tanto para os israelenses quanto para a Jordânia.
Atualmente, no território da Palestina, a população local é privada de ter acesso às fontes locais pelo próprio governo de Israel, sendo um dos fatores que elevam a instabilidade política em uma área com grandes desertos e pouco potencial hídrico.
Outra zona de instabilidade geopolítica por causa da água é a Turquia e seus vizinhos Iraque e Síria. A questão ronda em torno dos rios Tigre e Eufrates, os quais abastecem sírios e iraquianos, mas possuem suas nascentes localizadas em território turco. Em 2009, uma seca na região diminuiu o fluxo dos rios e tornou as relações ainda mais tensas, uma vez que o Iraque passou a acusar os outros dois países de usarem acima do permitido as águas dos rios em questão, o que desencadeou falta de água no país. Os turcos, no entanto, afirmam que emitem mais água pelos rios do que o combinando em acordos internacionais. Enquanto isso, a tensão eleva-se na região e deixa em aberto a pergunta: será esse um foco de conflito armado no futuro?
Essa questão em torno dos rios Tigre e Eufrates não é uma grande novidade. A posição oficial da Turquia, por exemplo, é a de que “a água [dos rios] é tão turca como o petróleo do Iraque é iraquiano”. Em 1998, quase houve um conflito entre Turquia e Síria, pois os turcos iniciaram a construção de barragens e represas no leito do Tigre e também do Eufrates, o que diminuiria suas vazões nas áreas de suas jusantes.
A lógica em outras regiões do mundo parece ser a mesma: a disputa não é só pela água em si, mas pelo controle de suas nascentes ou por uma maior cooperação entre os países em cursos d'água que percorrem vários territórios políticos. Na África, o rio Nilo passa pela mesma disputa por parte de Etiópia, Egito e Sudão; ao mesmo tempo em que Botswana, Namíbia e Angola também disputam, de forma semelhante, a bacia de Okavango.
Além da disputa pelo controle de nascentes de grandes rios interterritoriais, a previsão para o decorrer do século XXI é a emergência de conflitos que também se associem a ações imperialistas, em que países passem a invadir ou controlar politicamente outros territórios em busca da obtenção de água ou a sua importação a um menor custo. Por esse motivo, é preciso pensar em saídas para evitar uma escassez ainda maior desse recurso, com medidas que visem à sua sustentabilidade.
Por Me. Rodolfo Alves Pena