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Os curdos formam uma etnia composta por cerca de 30 milhões de pessoas, são descendentes do reino mesopotâmico ou medo-persa e habitam uma região localizada em seis diferentes países: Turquia, Armênia, Azerbaijão, Iraque, Irã e Síria. Em geral, os curdos professam a religião islâmica e reivindicam a área em que ocupam nesses países para a criação de um Estado chamado Curdistão. Não obstante, a questão curda estabelece-se no fato de esse povo formar a maior nação sem um Estado territorial.
Mapa com a região estimada de reivindicação dos curdos para a criação do Curdistão
O povo curdo, segundo relatos históricos, habita a região que denominam por Curdistão há cerca de 2600 anos. No ano de 612 a.C., eles teriam conquistado a cidade de Nínive, mas foram derrotados, mais tarde, pelo Império Persa no ano de 550 a.C. Tempos depois, possivelmente no século VII d.C, os curdos converteram-se em massa ao islamismo e passaram a se guiar pelos valores e leis do Alcorão.
Até a Segunda Guerra Mundial, os curdos habitavam áreas correspondentes ao que era os Impérios Turco-Otomano e Persa, respectivamente. Atualmente, eles habitam os países sucessores ou herdeiros desses impérios, com destaque maior para o Iraque e a Turquia, onde seus gritos por independência foram duramente reprimidos. No território iraquiano, a maior onda de violência aconteceu durante o governo de Saddam Husseim, que reprimiu duramente todo e qualquer ativismo curdo, incluindo o uso de armas químicas nos anos 1990. Na Turquia, ainda nos dias atuais, os curdos são duramente reprimidos em suas manifestações pelo Estado, e a comemoração de suas datas nacionais e o ensino da língua curda – o indoirani e alguns outros dialetos – nas escolas são vedados.
Em resposta às duras repressões, os curdos organizaram-se em diversos grupos armados ligados ao PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), reconhecidos como terroristas, que atuam muitas vezes por meio da ativação de carros-bombas e atentados públicos contra os governos, principalmente na Turquia e, mais recentemente, na crise da Síria. Essa instabilidade e a dura repressão do governo turco em relação os curdos são, inclusive, uns dos entraves que o país possui para conseguir sua entrada na União Europeia, que não admite governos tidos como antidemocráticos e que violam os direitos humanos.
Registro fotográfico do PKK, Partido dos Trabalhadores Curdos, no Iraque, em 2013 *
Os curdos estão na linha de frente de vários conflitos e disputas territoriais geopolíticas no Oriente Médio. No Iraque, por exemplo, eles vêm formando a principal linha de resistência que impede a expansão do grupo terrorista Estado Islâmico, que pretende constituir um Estado regido pela sharia (lei islâmica). Já na guerra civil da Síria, embora boa parte dos curdos tenha optado pela neutralidade, alguns deles formam grupos que atuam contra o governo de Bashar al-Assad e também contra alguns grupos jihadistas que tentam tomar o poder no país, em uma complexa disputa geopolítica.
A atuação dos curdos no Iraque – primeiramente contra Saddam Husseim e depois contra o Estado Islâmico – foi de grande utilidade para garantir a eles uma relativa autonomia na região norte desse país, porém ainda muito distante da tão sonhada independência e constituição inicial de seu território. Nesse país, a maioria dos curdos é de orientação sunita (menos radical), que compõe cerca de 17% da população de todo o Iraque, ao passo que os curdos xiitas integram apenas 1%.
O que falta para a constituição de um Estado Curdo?
Aparentemente, os curdos estão longe de constituir o seu próprio Estado. Primeiramente, a atuação do grupo PKK, considerado terrorista por muitos países, dificulta o reconhecimento da luta desse povo no contexto internacional. Em segundo lugar, cabe destacar que o território reivindicado, além de fazer parte de seis países, contém uma série de recursos naturais e nascentes de águas, isso em uma região onde esse recurso é extremamente escasso, o que faz com que os países apresentem uma forte resistência. Por fim, a falta de influência política dos curdos e o desinteresse das potências ocidentais colocam a luta curda em um plano secundário na Geopolítica do Oriente Médio.
* Créditos da imagem: thomas koch / Shutterstock
Por Me. Rodolfo Alves Pena