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A maior integração do Brasil à Nova Ordem Mundial compreende a década de 1990 e a primeira década dos anos 2000, com a abertura econômica ao capital estrangeiro e a consolidação da sua participação em importantes grupos e mecanismos econômicos e políticos com interesses em comum, como é o caso do Mercosul e dos Brics.
A presença do Brasil no cenário internacional cresceu de forma considerável nas últimas décadas, e o seu posicionamento diante dos conflitos que se instalaram mais recentemente será de fundamental importância para o futuro de suas relações diplomáticas e alianças já estabelecidas dentro do contexto da Nova Ordem Mundial.
Confira no nosso podcast: As novas áreas de influência do século XXI
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o Brasil na Nova Ordem Mundial
- 2 - O que é Nova Ordem Mundial?
- 3 - Papel do Brasil na Nova Ordem Mundial
- 4 - A Nova Ordem Mundial e o Brasil na atualidade
Resumo sobre o Brasil na Nova Ordem Mundial
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A Nova Ordem Mundial diz respeito ao reordenamento político e econômico do mundo após o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, com a consolidação do capitalismo enquanto sistema hegemônico.
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Antigas potências econômicas, políticas e militares se consolidaram, como os Estados Unidos, e outras surgiram, como países da União Europeia, Japão e China.
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O mundo agora se divide entre os países desenvolvidos (ou do norte) e subdesenvolvidos e emergentes (ou do sul).
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A maior integração do Brasil à Nova Ordem Mundial aconteceu por meio da adoção das medidas do Consenso de Washington na década de 1990, que ocasionou a maior presença de empresas e do capital internacional no país.
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O Brasil reforçou suas alianças regionais, com a criação do Mercosul, e passou a integrar o grupo de países emergentes conhecido como Brics, além de ter ampliado significativamente a sua importância no cenário político e econômico internacional como um todo.
O que é Nova Ordem Mundial?
Nova Ordem Mundial é o nome dado ao rearranjo da estrutura da política e da economia mundial a partir da segunda metade do século XX, em substituição à antiga ou velha ordem mundial até então vigente. Nessa reconfiguração, alguns dos antigos países hegemônicos se mantiveram nessa posição, enquanto outros se viram enfraquecidos diante do cenário que se delineava mediante a combinação das forças políticas com as forças econômicas e de mercado.
A velha ordem mundial a que nos referimos foi aquela que se estendeu do final da Segunda Guerra Mundial, portanto a partir de 1945, até a dissolução da União Soviética no ano de 1991, dois anos após a queda do Muro de Berlim, na Alemanha.
Esse período ficou conhecido como Guerra Fria, marcado pelo enfrentamento político-ideológico de duas nações, os Estados Unidos e a União Soviética, dividindo o mundo entre os países capitalistas e os países socialistas. Ou seja, o que se tinha à época era um mundo bipolar. Considerados ambos superpotências, os EUA e a URSS disputavam a hegemonia internacional por meio de diversas frentes, desde a econômica até a científica e militar.
A queda do Muro de Berlim em 1989 representou a primeira etapa do que, pouco tempo mais tarde, viria a ser o enfraquecimento do socialismo e o fim da União Soviética no ano de 1991. O antigo território soviético se fragmentou em diversas nações, o que por si só desencadeou uma série de conflitos étnicos e territoriais que se mantém sem solução até o presente. Considerando o aspecto geopolítico, esse foi um marco que consolidou o capitalismo enquanto sistema econômico dominante e os Estados Unidos enquanto uma das principais potências internacionais, garantindo a sua soberania militar e política no atual cenário.
Na Nova Ordem Mundial, que coincide com o avanço da globalização e da internacionalização da economia, novos polos de poder surgiram em outros lugares do planeta. Assim, pode-se dizer que o mundo bipolarizado deu lugar a um sistema multipolar, notadamente em relação à economia.
Esses outros polos eram inicialmente o continente europeu, mais precisamente os membros da União Europeia, e o Japão, mas rapidamente a China também ascendeu como uma potência econômica mediante a consolidação de sua abertura econômica na década de 1990, estabelecendo-se como um grande investidor internacional entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, o mesmo período em que se tornou membro oficial da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os organismos multilaterais e blocos econômicos (ONU, Otan, FMI, OMC, Banco Mundial, União Europeia etc.) desempenham um papel importante na Nova Ordem Mundial, uma vez que consistem na atuação em conjunto de diversos países na viabilização e promoção de políticas de comum interesse entre essas nações, atuando por meio de diferentes frentes e áreas, como é o caso de medidas socioeconômicas e de desenvolvimento sustentável, que têm sido discutidas amplamente nas últimas décadas.
A regionalização do mundo, em decorrência dos aspectos econômicos que caracterizam a Nova Ordem Mundial, divide os países em desenvolvidos e subdesenvolvidos. Outra nomenclatura adotada com o mesmo significado é a do norte global e do sul global, que não necessariamente correspondem ao grupo de países pertencentes a cada hemisfério. Países do norte global são os países ricos e desenvolvidos, o que inclui nações meridionais como a Austrália, enquanto os países do sul global são aqueles subdesenvolvidos.
Confira nossa videoaula: Nova Ordem Mundial
Papel do Brasil na Nova Ordem Mundial
Ao final da década de 1980, a maior integração da economia brasileira com o capital internacional e sua nova fase de acumulação já estava em curso. Especialmente a partir de meados dos anos 1950, com a intensificação da industrialização nacional, houve maior ingresso de empresas estrangeiras no país, de forma concomitante à reformulação de políticas internas aliadas aos interesses dos principais centros econômicos internacionais como uma maneira de viabilizar o acesso desse capital ao país.
Ao mesmo tempo em que se aprofundaram desigualdades socioeconômicas internas, houve um breve período de crescimento econômico que foi seguido de crise a partir de meados dos anos 1970, potencializada pela primeira crise internacional do petróleo.
O período que compreende as décadas de 1980 e 1990 foi marcado pela profunda reforma político-econômica no Brasil. Em primeiro lugar, ocorreu a redemocratização da política interna, com o retorno o sistema democrático de direito e as eleições presidenciais, consolidando ainda o restabelecimento do pluripartidarismo.
No campo econômico é que estão as medidas que foram essenciais para a integração definitiva do Brasil com a Nova Ordem Mundial, mediante o rearranjo estrutural da economia para maior viabilização do capital financeiro e comercial estrangeiro no território nacional, atendendo a interesses tanto nacionais quanto externos.
Trata-se da adoção das teses do chamado Consenso de Washington, medidas sugeridas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o que pode ser interpretado como a imposição vertical das políticas neoliberais dos países desenvolvidos sobre os países do sul global. Dentre essas medidas estão a redução das tarifas de importação e exportação (abertura comercial), reformas no sistema fiscal e menor participação do Estado na economia. Esse último aspecto, no Brasil, foi marcado pela onda de privatizações.
Nesse mesmo contexto, crescia a integração econômica regional do Brasil com os países da América do Sul, o que foi traduzido na criação do Mercosul no ano de 1991. A maior aproximação política entre as nações sul-americanas aconteceu durante a primeira década dos anos 2000. Internacionalmente, o Brasil se consolidou como um grande exportador de commodities agrícolas, sobretudo soja, a partir do início dos anos 2000, especialmente após o “boom” das commodities de 2004 impulsionado pela demanda chinesa.
Foi também durante os anos 2000 que o Brasil entrou para o grupo dos países considerados emergentes, inicialmente chamado de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e posteriormente Brics, com a inclusão da África do Sul. Mais do que somente uma denominação para os países em franco processo de desenvolvimento econômico, os Brics se fortaleceram enquanto mecanismo de cooperação em diversas frentes de interesse comum, tornando-se um importante contraponto, na ordem internacional, às nações desenvolvidas do norte global.
A partir da década de 2010, o país reforçou seus laços econômicos com a China, tornando-se um parceiro estratégico global dessa nação, além de estreitar as relações com os países vizinhos do Mercosul. Além disso, é importante notar que durante as duas primeiras décadas do século XXI o país ampliou significativamente a sua presença no cenário econômico e político internacional.
A Nova Ordem Mundial e o Brasil na atualidade
Observa-se atualmente um atrito de forças no cenário internacional, especialmente no que diz respeito ao papel político e militar dos Estados Unidos e dos demais países-membros da Otan frente às ações da Rússia para impedir os avanços desse organismo no continente europeu, sobretudo em nações que pertenceram à União Soviética. Um exemplo é o desencadeamento da guerra da Rússia com a Ucrânia.
A inserção do Brasil nesse contexto ainda não é clara, uma vez que o país vem tentando apresentar uma posição de maior neutralidade. O que se pode afirmar por ora é que as relações diplomáticas do Brasil daqui para frente e a sua posição nesse novo cenário internacional que se delineia vão depender diretamente de como o país reage diante da escalada dos conflitos.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia