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Ao longo do século XX, a região conhecida como Faixa de Gaza, junto ao Mar Mediterrâneo, atravessou uma série de conflitos, principalmente após a Partilha da Palestina em 1947. Com o desenvolvimento da Primeira Guerra Árabe-Israelense entre os anos de 1948 e 1949 a Faixa de Gaza foi conquistada pelo Egito, até que finalmente sofreu a anexação por parte de Israel durante o conflito conhecido como Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Após quase 25 anos de domínio israelense sobre a Faixa de Gaza, os Estados Unidos participaram da mediação de uma aproximação entre judeus e palestinos em 1993, com a assinatura dos Acordos de Oslo assinado pelo líder palestino Yasser Arafat e o primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin. Israel se comprometeu a retirar os assentamentos judeus de Gaza e reconhecer a soberania desse território aos árabes palestinos. Infelizmente, os Acordos de Oslo foram seguidos pelo assassinato de Rabin, praticado por um extremista judeu. A morosidade na aplicação das determinações de Oslo foi lentamente esfriando as relações entre as partes, e o radicalismo de ambos os lados começou a recrudescer.
A retirada da população judaica começou a ocorrer, de fato, em 2005, como uma estratégia israelense de persuadir os palestinos a reduzir os enfrentamentos contra o exército e a população de Israel, aumentando a fiscalização e a proteção de suas fronteiras. Mesmo após a retirada dos colonos judeus em Gaza, Israel manteve o controle do espaço aéreo, assim como a entrada de pessoas e suprimentos essenciais para a população palestina, inclusive a maior parcela de geração de energia. A devolução de Gaza aconteceu no mesmo momento que o grupo político Fatah assumiu a presidência do governo palestino, fato que poderia favorecer as negociações diplomáticas com Israel.
Um ano mais tarde, o grupo extremista Hamas venceu as eleições parlamentares na Palestina e assumiu o controle da faixa de Gaza. Imediatamente após a vitória do Hamas, Israel não reconheceu tais eleições, posto que os integrantes do Hamas nunca esconderam suas pretensões de destruir o Estado de Israel ao invés de manter uma política de negociações, uma posição totalmente oposta ao Fatah.
Como forma de deter os avanços do Hamas, Israel estabeleceu em 2007 o Bloqueio Comercial à Faixa de Gaza, recebendo apoio irrestrito do governo do Egito, essencial para obter êxito nessas pretensões. De acordo com o governo de Israel, o bloqueio à Gaza foi realizado para impedir o acesso do Hamas a financiamento, armas e demais matérias-primas. A prática do embargo puniu não apenas o Hamas, mas toda a população palestina de Gaza, com cerca de 1 milhão e meio de habitantes e concentrada em uma extensão territorial de apenas 360 km², determinando uma densidade populacional de mais de 4.500 hab./km². Como a maioria dos seus habitantes vive em situação de pobreza, a ajuda humanitária internacional é fundamental para impedir a instalação de uma crise social ainda mais grave, pois o embargo restringe produtos como materiais de construção, equipamentos eletrônicos, insumos agrícolas e combustíveis. Indiretamente, o bloqueio acaba interferindo em outros segmentos. Com o comprometimento da rede elétrica, o bombeamento e o abastecimento de água permanecem instáveis e incapazes de atender às demandas.
Em 2010 um grupo de 6 navios oriundos da Turquia foi em direção de Gaza para levar ajuda humanitária na forma de médicos, remédios, alimentos, entre outros bens básicos. A marinha de Israel interceptou o grupo, alvejando um desses navios, o que resultou na morte de 10 pessoas que faziam parte de uma equipe de 750 ativistas, fato profundamente repudiado pela comunidade internacional. As pressões externas após esse incidente e a condenação da Secretaria Geral da ONU por conta da manutenção do bloqueio resultaram em um pequeno aumento da entrada de produtos básicos israelenses para o abastecimento da população palestina residente em Gaza, ainda que timidamente.
Algumas centenas de túneis foram escavados entre a Faixa de Gaza e o Egito, principalmente nas proximidades da cidade palestina de Rafah, a fim de contrabandear os produtos que têm a sua comercialização limitada pelo bloqueio comercial, sendo utilizados para transportar desde automóveis e combustíveis até cigarros e materiais de construção. Mesmo ilegal, o comércio dos túneis produz uma renda aproximada de US$ 700 milhões por ano, aquecendo a economia de Gaza, gerando empregos e permitindo a reprodução socioeconômica da população palestina.
Com a derrocada da ditadura egípcia e eleição do presidente Mohamed Mursi, do partido islâmico Irmandade Muçulmana, havia um cenário de flexibilização do bloqueio no lado egípcio, mas os militares do país, ainda muito influentes nas práticas políticas, sempre foram contrários a encerrar as restrições, inclusive inundando alguns desses túneis. Depois de ter assumido o comando do país, mais uma vez após derrubarem o governo de Mursi, em julho de 2013, a situação dos habitantes de Gaza dependentes dos produtos transportados pelos túneis se deteriorou bastante.
*Créditos da imagem: ChameleonsEye e Shutterstock.com
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP