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Os países que compõem o Mundo Árabe, situados ao norte da África e no Oriente Médio, passaram por diversas insurgências e revoltas populares no intuito de pressionar a derrubada de regimes ditatoriais que se estenderam por décadas nessa região. Reunidos em diferentes realidades econômicas, políticas e sociais, mas tendo em comum a necessidade de reformas políticas e econômicas profundas, esses movimentos conseguiram derrubar governos e promover parte de seus ideais. Em alguns caos, o sucesso não foi alcançado ou não teve progresso em determinar a formação de regimes democráticos devido ao intenso nível de fragmentação política e a presença de forças autoritárias que ainda atuam nesses países.
Os protestos começaram na Tunísia, na África, alcançando Egito, Jordânia e Iêmen. Em seguida, as manifestações continuaram por Barein, Argélia, e Líbia. Na Argélia, mesmo não havendo um regime ditatorial, a população protestou contra as condições econômicas e falta de liberdade de expressão. Ainda em 2011, o governo do presidente Abdelaziz Bouteflika anunciou o fim do Estado de Emergência que vigorou no país por quase duas décadas e um pacote de medidas econômicas para tentar reduzir a amplitude dos movimentos sociais, com destaque para o combate ao desemprego.
No Barein, país com cerca de 1 milhão e 300 mil habitantes e detendo uma enorme produção de petróleo, a grande maioria da população do país é xiita, diferente da elite do país representada pela monarquia constitucional sunita do Rei Hamad bin Isa Al Khalifa. Muito mais do que problemas econômicos, as manifestações exigem uma maior participação popular nas decisões políticas, expressando também as diferenças na divisão histórica de poder entre xiitas e sunitas.
No Marrocos, a oposição convocou o povo para marchar contra o governo do país, o que não tomou a amplitude de outras localidades. No mês de março de 2011 os protestos alcançaram a Síria. No Irã e na Arábia Saudita, ainda que em menor proporção, também foram notificados protestos e manifestações por reformas políticas e sociais. A população de Omã, de maioria ibadista, uma subdivisão do islamismo, começou a protestar contra o sultanato de Qaboos Bin Said Al Said, desde 1970 no poder. Omã representa uma exceção no contexto regional, apresentando estabilidade política e econômica, onde até mesmo as práticas religiosas islâmicas são mais condescendentes com as transformações culturais da atualidade, o que favorece o diálogo com o mundo ocidental.
Já países como o Irã e Arábia Saudita apresentam características peculiares. O primeiro é um país persa, antigo aliado estado-unidense e que passou por uma Revolução Islâmica ao final da década de 1970, o que isolou o país da influência ocidental. O segundo representa um dos maiores aliados dos Estados Unidos na região e que possui cerca de 25% das reservas de petróleo da OPEP, o cartel dos grandes exportadores de petróleo.
O Irã é um Estado teocrático, onde os Aiatolás, líderes religiosos que possuem grande influência sobre os poderes legislativo e judiciário, impõem leis voltadas para o Alcorão, livro sagrado dos islâmicos. O ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que governou o país entre 2005 e 2013 perpetuou um discurso agressivo, inclusive negando publicamente a ocorrência do holocausto judeu, o que representa uma afronta ao Estado de Israel. Recentemente o Irã passou a sofrer sanções da ONU, pois há uma grande desconfiança quanto ao programa nuclear do país, que oficialmente é desenvolvido para fins pacíficos, mas que poderia esconder as pretensões do Irã em desenvolver armas nucleares.
No caso do Irã, a população contrária ao regime dos Aiatolás representa uma atitude muito bem recebida pelos Estados Unidos e seus aliados, que não desejam o surgimento de uma potência nuclear no Oriente Médio, uma vez que o Irã possui grandes reservas de petróleo e gás natural assim como o controle sobre boa parte do Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, rota obrigatória para o comércio do petróleo produzido pelos países da região. Hassan Rohani, recém-empossado presidente do Irã, tem adotado um discurso mais cauteloso, apontando que o país não irá, em nenhuma hipótese, construir armas nucleares.
Agora, no que diz respeito à Arábia Saudita, os protestos são encarados pelo ocidente de forma bem diferente. O país também é uma teocracia, utilizando o Alcorão como constituição. Possui as cidades religiosas de Medina e Meca, esta última fundamental para a fé islâmica. O país é o mais importante aliado árabe dos Estados Unidos e detém as já destacadas jazidas de petróleo. Diante dessa conjuntura, vários danos poderiam ser provocados em relação ao ocidente caso as manifestações populares, que ainda não são intensas, provoquem a queda do regime do rei Abdullah.
Veja também: Retrospectiva sobre os Movimentos no Mundo Árabe - Parte I
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP