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A divisão da Coreia entre sul e norte é, de longe, o legado de maior expressão da Guerra Fria e da Ordem Mundial Bipolar. Marcadas pelas influências diretas de União Soviética e Estados Unidos, Coreia do Norte e Coreia do Sul mantinham relações diplomáticas muito pequenas e que, com as recentes decisões e posicionamentos do Norte, tornaram-se nulas.
Existem especulações de que a postura ofensiva da Coreia do Norte seria um “blefe”, uma manobra ousada para fazer com que o bloqueio econômico e as sanções internacionais impostas sobre o país diminuíssem ou acabassem.
O estopim para a elevação das tensões diplomáticas entre as duas coreias aconteceu a partir de 12 de Fevereiro de 2013, quando a Coreia do Norte realizou o terceiro teste nuclear de sua história, o primeiro em tempos recentes. Isso significa que o país abandonou a postura defensiva que vinha adotando nos últimos anos diante das exigências internacionais para que o país deixasse de produzir e armazenar armas e equipamentos nucleares.
A realização do teste não foi gratuita, trata-se de uma resposta do governo norte-coreano diante da ampliação das sanções comerciais impostas ao país pelo Conselho de Segurança da ONU e pelos bloqueios internacionais realizados pelos EUA a fim de dificultar a proliferação de armas nucleares no país.
Imediatamente após a confirmação da realização dos testes nucleares, a comunidade internacional condenou ferozmente o regime norte-coreano, sobretudo os EUA e a Coreia do Sul. Os sul-coreanos prometeram respostas duras e diretas aos vizinhos caso algum ataque direto fosse planejado e/ou executado.
Para entender: divisão e Guerra das Coreias e o Armistício de Panmunjon
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o território da Coreia – então sob a influência do Japão, derrotado ao lado dos países do Eixo – foi dividido a partir da influência dos Estados Unidos, ao Sul, e da URSS e China, ao norte. A ideia era a de que essa divisão fosse de caráter provisório e que a população dos dois países seria responsável pela decisão sobre a reunificação, o que nunca aconteceu por conta das tensões e conflitos em tempos de Guerra Fria.
Em 1950, eclodiu, então, a Guerra das Coreias (1950-1953), quando as tropas norte-coreanas atacaram o sul de surpresa, invadindo e ocupando a capital Seul. Os sul-coreanos responderam ao ataque com tropas enviadas pelo general Douglas McArthur, batalha na qual conseguiram a vitória e a desocupação do território invadido.
Com a ofensiva sul-coreana, a China interviu no combate, ajudando diretamente a Coreia do Norte. Em 27 de julho de 1953, foi assinado um armistício na cidade de Panmujon, divisa entre os dois países, em que foi acordado o cessar-fogo e o fim de uma guerra que deixou muitos mortos e nenhum vencedor. Dessa forma, ficou estabelecida a divisão das Coreias nos limites do 38º paralelo, conforme podemos observar no mapa abaixo:
Coreia do Norte afirma considerar o armistício de Panmujon “completamente nulo”
No dia 11 de Março de 2013, o governo da Coreia do Norte, representado pela figura do ditador Kim Jong-Um, afirmou não reconhecer o armistício de Panmujon, que foi responsável por estabelecer o fim da Guerra das Coreias. A justificativa de Kim Jong-Um era a de que o país não poderia considerar o cessar-fogo por conta de exercícios militares realizados em conjunto entre as tropas sul-coreanas e as dos Estados Unidos.
A Coreia do Sul respondeu alegando que o tratado não poderia ser quebrado, pois, de acordo com o documento assinado pelas duas partes, o fim do cessar-fogo só poderia ocorrer em acordo de ambas as partes.
Nesse momento, para os sul-coreanos, a possibilidade de uma guerra estaria descartada, porém a situação política entre os dois países se agravaria ainda mais nos dias posteriores.
30 de Março de 2013: Coreia do Norte declara estado de Guerra
No dia 30 de Março, a Coreia do Norte afirmou ter entrado em “Estado de Guerra” contra a Coreia do Sul e os Estados Unidos, considerando a possibilidade de um combate de grandes proporções contra os dois países.
Em resposta, a Coreia do Sul afirmou que autorizou o seu exército a responder duramente em caso de um ataque direto, aumentando, então, a possibilidade de uma nova guerra entre os países. Além disso, os EUA também mobilizaram tropas e um navio de guerra para a península coreana.
Nos dias seguintes, a Coreia do Norte recomendou que as embaixadas instaladas no país fornecessem planos de retirada a fim de facilitar a fuga na ocasião de uma guerra.
Mitos e verdades sobre a Coreia do Norte
Ao contrário do que muitos jornais, alguns analistas e, até mesmo, cientistas políticos afirmam, na Coreia do Norte não há comunismo, mas um regime ditatorial de economia planificada, ou seja, com plena intervenção e controle da economia pelo Estado através de um elevado número de estatais. Além disso, há no país a formação de elites que controlam e ditam os rumos políticos e econômicos, muito longe dos ideais marxistas para o socialismo e o comunismo.
É possível eclodir uma guerra nuclear na Guerra das Coreias? A possibilidade de uma Guerra Nuclear entre as Coreias até existe – por conta do fato de ambas deterem armamentos nucleares –, porém, isso é completamente improvável. Ataques nucleares entre ambas as partes seriam extremamente prejudiciais a ambas: imagine um ataque nuclear dos norte-coreanos a Seul que fica apenas a 200 km do país, com certeza a radiação e as consequências do ataque também seriam gravemente sentidas por aqueles que realizaram o ataque.
A possibilidade de uma guerra nuclear entre as Coreias é pequena¹
É possível um ataque atômico da Coreia do Norte aos Estados Unidos? Não, pois os norte-coreanos não dispõem de tecnologia suficiente para isso, pois os mísseis de maior alcance chegariam, no máximo, ao Alasca, região pouco habitada dos EUA. Além disso, tais mísseis seriam facilmente identificados e abatidos em espaço aéreo.
Afinal, uma guerra internacional é possível na Ásia? Sim. Recentemente, a Coreia do Norte também ameaçou atacar e “destruir” completamente o Japão. Caso isso aconteça – e pode realmente acontecer –, os EUA entrariam em guerra contra a Coreia do Norte e, muito provavelmente, a China também ingressaria no conflito ou enviaria tropas, ajuda ou armamentos para a Coreia do Norte, por conta das relações políticas e econômicas dos dois países e suas relações de interdependência.
Talvez seja por esse motivo que a China tenha emitido declarações de insatisfação frente à postura ousada e ofensiva por parte dos norte-coreanos. Aparentemente preocupados com um eventual combate nuclear, os chineses temem o estremecimento das relações comerciais com a Europa e, principalmente, com os EUA, o que acarretaria em uma grande fuga de capitais do país e uma instabilidade político-econômica sem precedentes.
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¹Créditos da imagem: Rishabh Tatiraju
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia