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A Rússia é um dos exemplos mais evidentes do descompasso existente entre a construção das fronteiras políticas representadas pela soberania dos Estados e as diferentes nações que integram essas localidades. Dessa forma, esse país – assim como os demais Estados da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) – abriga em suas regiões verdadeiros mosaicos étnicos que, em muitos casos, procuram constituir a sua própria autonomia e independência.
Em alguns casos, grupos tidos como terroristas realizaram inúmeros atentados e ameaças públicas ao governo russo que, em muitos casos, reprimiu duramente os seus opositores. Nas vésperas das Olimpíadas de Inverno de 2014 em Socchi, por exemplo, um grupo extremista anunciou um vídeo prometendo realizar ações terroristas durante aquilo que foi classificado como “jogos satânicos”.
Muitas das questões envolvendo os grupos separatistas na Rússia e nas demais ex-repúblicas soviéticas devem-se, primeiramente, a esse pluralismo nacional existente nessa região e, em segundo lugar, à antiga postura do governo de Josef Stalin ao implantar a chamada “política do liquidificador”. Nessa conjuntura, a administração soviética forçou a dispersão das diferentes composições por todo o território pertencente à URSS, envolvendo usbeques, russos, tajiques, cazaques, quirguízes e muitos outros grupos.
A zona russa que apresenta focos de tensões é a região do Cáucaso, uma localidade que divide a Europa Oriental e a Ásia Ocidental, onde está situada uma cadeia de montanhas de igual nome, cercada pelo Mar Negro e pelo Mar Cáspio (veja o mapa abaixo). As principais repúblicas que prezam pela independência nessa região são a Chechênia e o Daguestão.
Mapa do Cáucaso, com as províncias russas ao norte e os países vizinhos ao sul ²
No início do século XXI, o governo russo intensificou as medidas de combates aos grupos separatistas. A maior parte do peso sobre essa postura é atribuída aos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, quando o terrorismo passou a ser temido e encarado internacionalmente como uma ameaça representativa. Assim, grupos antes tidos como extremistas, violentos ou separatistas, ganharam o rótulo de terroristas, passando a ser duramente reprimidos sem maiores sanções ao governo da Rússia. No entanto, essa postura “antiterror” já era praticada pelas autoridades locais.
À medida que se intensificou a repressão russa, os atos extremistas dos grupos rebeldes também aumentaram. Entre os casos mais emblemáticos estão a invasão do Teatro de Moscou em 2002 e o ataque à escola de Beslan, em 2004; no primeiro, o saldo foi a morte de mais de 150 reféns, enquanto, no segundo, o número de vítimas foi superior a 300 mortos.
A Chechênia sempre foi considerada como um dos locais de maior tensão. O território é considerado uma região autônoma, com uma república constituída, mas ainda pertencente ao território russo. Os chechenos – nação predominantemente muçulmana – chegaram a declarar por duas vezes a independência (em 1991 e 1994), mas em ambos os casos não tiveram o reconhecimento internacional de seu território, além de terem sido duramente reprimidos pelo governo da Rússia. Desde o fim da URSS, vários conflitos armados ocorreram na região.
O Daguestão, recentemente, tomou da Chechênia o status de região mais perigosa da Rússia. Os atentados a bomba e as mortes relacionadas com os conflitos são cada vez mais comuns. A presença do islamismo também é majoritária nessa república, que passou a receber incursões rebeldes a partir do ano de 1999. Até hoje são frequentes atentados cujo foco são, principalmente, personalidades e autoridades políticas.
Além de envolver as repúblicas autônomas da Chechênia e do Daguestão, os conflitos políticos também atingem outras regiões do Cáucaso, como a Inguchétia e a Ossétia do Norte. Nessa última, inclusive, ocorreu o já mencionado massacre na escola de Beslan, sendo também uma das principais bases russas de combate ao extremismo. Os ossetas, inclusive, acusam os inguchétios muçulmanos e os chechenos de promoverem um terrorismo fundamentalista em seus domínios.
O processo de independência da Chechênia parece estar longe de acontecer, sobretudo pelo crescente domínio russo e pela legitimidade que as ações do governo vêm tomando internacionalmente face à imagem de terroristas por parte dos rebeldes. A região é estrategicamente relevante por representar uma saída para o Mar Cáspio e por conter alguns oleodutos utilizados para o escoamento de petróleo.
Além da Chechênia e demais territórios da Rússia, há também no Cáucaso outras lutas separatistas, como na Ossétia do Sul e na Abkházia, que buscam independência em relação à Geórgia, bem como o Nagorno Karabakh, zona de maioria armênia que busca a libertação nacional sobre o Azerbaijão.
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¹ Créditos da Imagem: Northfoto / Shutterstock
² Créditos da Imagem: Kbh3rd / Wikimedia Commons
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia