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A queda do Muro de Berlim deu-se na passagem do dia 9 para o dia 10 de novembro de 1989. Esse acontecimento é marcante, pois foi o prenúncio da queda da República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental, e da reunificação da Alemanha, separada em duas nações desde o final da Segunda Guerra Mundial. A queda do muro também foi parte do processo de queda do bloco comunista na Europa Oriental, que se iniciou a partir do final da década de 1980.
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Tópicos deste artigo
Antecedentes históricos
O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria, conflito político-ideológico que dividiu o mundo em dois blocos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o comunista, liderado pela União Soviética. A Alemanha foi um dos grandes palcos da Guerra Fria, uma vez que o país foi dividido em duas nações.
Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha, derrotada, foi dividida em quatro zonas de influência: uma britânica, uma francesa, uma norte-americana e uma soviética. Essa divisão em zonas de influência também aconteceu em Berlim, capital da Alemanha. Com o avanço das tensões resultantes da Guerra Fria, a Alemanha acabou dividindo-se em duas nações.
A Alemanha Ocidental (República Federal Alemã) e a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) foram as duas nações surgidas dessa disputa político-ideológica da Guerra Fria. Berlim, por ser uma grande cidade e por ter grande importância estratégica, foi disputada pelos dois blocos, o que resultou também na sua divisão. Começava, na década de 1940, uma disputa que se estendeu por cinco décadas.
Mapa de Berlim durante o período da Guerra Fria. De azul, está Berlim Ocidental; de vermelho, está Berlim Oriental.**
Com a configuração desse quadro e a formação do bloco comunista no Leste Europeu, os Estados Unidos logo criaram uma estratégia para barrar o avanço desse bloco pela Europa e, assim, surgiu o Plano Marshall. Esse plano tinha como objetivo financiar a reconstrução dos países da Europa Ocidental que sofreram com a destruição causada pela guerra.
O resultado disso é que logo a cidade de Berlim Ocidental (lado capitalista) desenvolveu-se. A população da porção oriental de Berlim, insatisfeita política e economicamente, começou a se mudar em grande número para o lado ocidental. Só em 1953, 331 mil pessoas da Alemanha Oriental abandonaram o país|1| e entre 1948 e 1961, cerca de 2,7 milhões de pessoas haviam deixado o país|2|.
Para conter o êxodo de habitantes, os governos da Alemanha Oriental, governada na época por Walter Ulbricht, e da União Soviética, governada na época por Nikita Kruschev, decidiram construir um muro que isolasse Berlim Ocidental. O Muro de Berlim foi construído na passagem do dia 12 para o dia 13 de agosto de 1961. Durante 28 anos, o muro foi o símbolo da divisão do mundo por causa da Guerra Fria.
Queda do muro de Berlim
O bloco comunista entrou em uma forte crise durante a década de 1980 e a situação não foi diferente na Alemanha Oriental. A crise da economia da Alemanha Oriental era evidenciada pelo aumento da dívida externa do país, crescimento do deficit comercial, a falta de mercadorias etc. Além disso, a indústria e a infraestrutura do país estavam à beira do colapso.
A insatisfação da população da Alemanha Oriental com a falência econômica de seu país era agravada pelo autoritarismo do governo. O governo da Alemanha Oriental não aceitava críticas, perseguia opositores, além de censurar a cultura e a opinião das pessoas que era intensa. A polícia secreta, chamada Stasi, era o símbolo da repressão do governo.
A crescente insatisfação da população fez com que movimentos de oposição começassem a ser organizados apesar da repressão do governo. A crise política na Alemanha Oriental começou a ser agravada especialmente a partir de 1989 por conta de acontecimentos que se passaram na Hungria e na Polônia, outros dois países do bloco comunista.
Em junho de 1989, a Hungria decretou a abertura de sua fronteira com o oeste, isto é, com as nações capitalistas e isso impactou diretamente a Alemanha, porque, somente no mês seguinte, 25 mil pessoas da Alemanha Oriental decidiram ir para a Hungria e de lá encaminharam-se para a Áustria, de onde solicitavam asilo político na embaixada da Alemanha Ocidental|3|.
Enquanto isso, na Polônia, era eleito o primeiro governo não comunista desde a Segunda Guerra Mundial, e isso também fez com que milhares de pessoas mudassem-se da Alemanha Oriental para a Polônia. Esse fluxo de acontecimentos desembocou em uma série de protestos na Alemanha Oriental, especialmente em Berlim Oriental e Leipzig, as maiores cidades da porção oriental.
O mês de outubro e os primeiros dias de novembro de 1989 ficaram marcados por uma série de acontecimentos que evidenciaram a ruína do governo da Alemanha Oriental. A situação fugia do controle e isso resultava na demissão de milhares de membros do governo. Os protestos também ganhavam uma magnitude que não se via na Alemanha Oriental desde a década de 1950.
No dia 9 de novembro de 1989, o porta-voz da Alemanha Oriental chamado Günter Schabowski realizou o anúncio da nova lei de mobilidade de cidadãos. A lei anunciada pelo porta-voz basicamente acabava com as restrições que existiam na fronteira da Alemanha Oriental. Durante a entrevista, Schabowski afirmou equivocadamente para um jornalista que a lei entraria em vigor em caráter imediato. A lei, na verdade, só seria válida depois de ser aprovada no Parlamento.
O anúncio do porta-voz na imprensa atraiu milhares de pessoas nos postos fronteiriços da Alemanha Oriental. Essas pessoas exigiam o direito de atravessar as fronteiras para entrarem na Alemanha Ocidental e logo cerca de 100 mil pessoas reuniram-se ao redor do Muro de Berlim, forçando as autoridades da Alemanha Oriental a endossar a lei. Na virada da noite de 9 para 10 novembro a multidão, portando pás, picaretas e outras ferramentas, começou a realizar a derrubada do Muro que separava as duas porções de Berlim.
Helmut Kohl, chanceler da Alemanha de 1982 a 1998, foi quem conduziu o processo de reunificação da Alemanha.***
A queda do Muro tinha uma simbologia muito grande e deu força para o processo de reunificação das Alemanhas. O processo político da reunificação da Alemanha foi conduzido por Helmut Kohl, chanceler da Alemanha Ocidental e membro da União Democrata-Cristã, partido de centro-direita da Alemanha.
A reunificação da Alemanha foi formalizada em 3 de outubro de 1990 e o processo de abertura total das fronteiras concluído em 1º de julho de 1991. A derrubada do muro, assim como a reunificação da Alemanha foram acompanhadas de celebrações na rua e festas por toda a Alemanha.
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Consequências
A queda do Muro de Berlim foi um dos grandes acontecimentos recentes da história da humanidade. As suas grandes consequências foram:
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Contribuiu para a queda do bloco comunista do leste europeu. A ruína do bloco já estava em andamento e a queda do muro foi mais um elemento nesse processo.
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Contribuiu decisivamente para a reunificação da Alemanha.
A queda do Muro também representou um grande desafio para os governantes da Alemanha Ocidental que encararam o desafio de realizar a modernização da porção leste da Alemanha. A divisão da Alemanha após tantos anos criou uma espécie de “barreira mental” e mesmo, hoje, passados três décadas desse acontecimento, ainda existem cidadãos alemães que defendem a reconstrução do Muro.
Resumo
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O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria e cercava Berlim Ocidental, isolando-a.
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O Muro foi construído em 1961 para conter o êxodo de pessoas que se mudavam para Berlim Ocidental. Foi construído em um dia.
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Separou as duas porções da cidade de Berlim, durante 29 anos.
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Na década de 1980, a Alemanha Oriental estava em grave crise econômica que gerava forte insatisfação na população.
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A falta de liberdade e o autoritarismo do governo da Alemanha Oriental também era um motivo de insatisfação.
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Inúmeros protestos aconteciam em Berlim Oriental e Leipzig, grandes cidades da Alemanha Oriental.
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A abertura das fronteiras da Hungria fez milhares de alemães irem para lá para atravessar a fronteira com a Alemanha Ocidental.
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A queda do Muro aconteceu após o porta-voz do governo da Alemanha Oriental anunciar a abertura das fronteiras do país.
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Milhares de pessoas reuniram-se ao redor do Muro no dia 9 de novembro de 1989 e, então, começaram a colocar o muro abaixo.
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Um ano depois da queda do Muro, a Alemanha reunificava-se e tornava-se uma só nação novamente, depois de quase 50 anos de separação.
|1| FERNANDES, Marisa. A reunificação política da Alemanha (1989/1990): no contexto das relações entre as grandes potências, p. 95. Para acessar clique aqui.
|2| BRENER, Jayme. Leste europeu: a revolução democrática. São Paulo: Atual, 1990, p. 104.
|3| FERNANDES, Marisa. A reunificação política da Alemanha (1989/1990): no contexto das relações entre as grandes potências, p. 99. Para acessar clique aqui.
*Créditos da imagem: Neftali e Shutterstock
**Créditos da imagem: Miqu77 e Shutterstock
***Créditos da imagem: 360b e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História