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Figuras de linguagem

Figuras de linguagem são palavras ou expressões que destoam da linguagem denotativa. Elas podem ser classificadas como semânticas, de pensamento, de sintaxe ou de som.

As figuras de linguagem são usos de palavras ou expressões com sentido conotativo.
As figuras de linguagem são usos de palavras ou expressões com sentido conotativo.
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Figuras de linguagem são palavras ou expressões conotativas, portanto, apresentam um sentido que ultrapassa a linguagem comum, literal ou denotativa. Então, se, por exemplo, escrevemos que “Artur é um doce”, não queremos dizer que ele tem gosto de açúcar, mas que é uma pessoa delicada. Por fim, as figuras podem ser:

  •  de palavras ou semântica 

  • de sintaxe ou construção

  • de pensamento

  • de som ou harmonia

Leia também: O que são funções da linguagem?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre figuras de linguagem

  • As figuras de linguagem estão relacionadas ao sentido conotativo das palavras.

  • A metáfora é uma das mais importantes figuras de palavras ou de semântica.

  • A ironia merece destaque entre as figuras de pensamento.

  • O pleonasmo é uma figura de sintaxe ou construção, mas também pode ser um vício de linguagem.

  • A aliteração e a assonância são figuras de som ou harmonia muito utilizadas em textos poéticos.

Videoaula sobre figuras de linguagem

O que são figuras de linguagem?

A denotação se refere ao sentido básico de uma palavra e não depende de um contexto. Já a conotação vai depender do contexto em que o termo é empregado. Por exemplo, a frase “Fulano tem um coração de pedra” pode ter um sentido denotativo ou conotativo. No sentido denotativo, o coração é realmente feito de pedra. Já no conotativo, “coração de pedra” indica que Fulano é insensível.

Dito isso, podemos dizer que as figuras de linguagem estão relacionadas à conotação, pois, quando as utilizamos, pretendemos indicar um sentido que vai além do significado original ou denotativo. Portanto, o sentido figurado ultrapassa o sentido comum, já que o caráter plurissignificativo da linguagem é evidenciado.

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Tipos de figuras de linguagem

Figuras de palavras ou de semântica

  • Comparação

Relação de igualdade entre dois elementos, com a presença de conjunção comparativa:

Ler é como voar sem sair do chão.

  • Metáfora

Relação de igualdade entre dois elementos, mas sem a presença de conjunção comparativa:

Ler é voar sem sair do chão.

Desse modo, é a presença ou ausência da conjunção comparativa que diz se o enunciado é uma comparação ou uma metáfora. Isso no caso das metáforas impuras, aquelas nas quais os elementos da comparação estão explícitos, ou seja, “ler” e “voar sem sair do chão”.

A metáfora pura é mais elaborada e difícil de identificar. Ela pode ser observada nesta estrofe do poema “Soneto de separação”, de Vinicius de Moraes:

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

A palavra “chama” é uma metáfora pura, pois está sendo comparada a elementos não explicitados na estrofe, ou seja, “vida” ou “amor”.

  • Metonímia

Substituição de um elemento por outro a ele relacionado.

Na metonímia pode ocorrer a substituição:

  • do autor pela obra:

Li o Caio Fernando Abreu ontem.
(O livro do Caio Fernando Abreu.)

  • do possuidor pelo possuído:

Não se esqueça de ir ao açougueiro hoje à tarde.
(Ir ao açougue.)

  • do lugar pelo produto:

Comprei cambraia para fazer roupa de cama.
(Cambraia é um tecido originário da cidade francesa de Cambrai.)

  • do efeito pela causa:

Esta casa e tudo que está nela é fruto do meu suor.
(O trabalho produz o suor.)

  • do continente pelo conteúdo:

Acredite, comi um pote de sorvete de morango.
(Comeu o sorvete que estava no pote.)

  • do instrumento pelo agente:

Cássio é um volante experiente.
(Um motorista experiente.)

  • da coisa pela sua representação:

Desceu do avião e ficou emocionado por estar de novo em seu lar.
(Estar de novo em seu país ou pátria.)

  • do inventor pelo invento:

O porsche é um sonho inalcançável para muitos.
(Porsche é uma marca de automóveis criada por Ferdinand Porsche.)

  • do concreto pelo abstrato:

Arruda traz proteção contra olho grande?
(Proteção contra inveja.)

  • da parte pelo todo:

As pernas passavam apressadas diante da minha janela.
(As pessoas passavam apressadas.)

  • da qualidade pela espécie:

Zeus, os mortais tudo ignoram.
(Os seres humanos tudo ignoram.)

  • do singular pelo plural:

O inglês é mesmo pontual?
(Os ingleses)

  • da matéria pelo objeto:

Morro se você quebrar a porcelana que mamãe me deixou.
(Quebrar xícara ou prato de porcelana.)

  • do indivíduo pela classe:

Sei que meu filho não é nenhum Einstein.
(Não é nenhum gênio.)

  • Catacrese

Emprego impróprio de uma expressão, por desconhecer a sua origem:

Você pode me dar uma mesada de 15 em 15 dias.
(Mesada é uma quantia dada mensalmente.)

  • Perífrase ou antonomásia

Substituição de uma palavra ou expressão por outra que a caracterize:

A cidade-luz ainda é considerada romântica.
(Paris ainda é considerada romântica.)

Quando essa substituição está relacionada a coisas ou animais, como no exemplo anterior, ela é chamada de perífrase. Mas se fizer referência a pessoas, então a chamamos de antonomásia:

A rainha do soul é um ícone da música negra americana.
(Aretha Franklin é a rainha do soul.)

  • Sinestesia

Combinação entre dois ou mais dos cinco sentidos humanos:

O brilho da manhã não eliminava o fel da minha existência.
(Sentidos: visão e paladar)

Para saber mais sobre essa figura de linguagem, leia o texto: Sinestesia.

Figuras de pensamento

  • Hipérbole

Expressão marcada pelo exagero:

Irandir estava morrendo de medo, mas não retrocedeu.

  • Litotes

Declaração caracterizada pela negação do contrário:

Keyla não é boba e logo percebeu as segundas intenções da amiga.

Nesse caso, o enunciador diz que Keyla é esperta, por meio da negação do adjetivo contrário à esperta, ou seja, boba: não é boba.

  • Eufemismo

Utilização de termo ou expressão que suavize a declaração:

Meu irmão foi muito descuidado e se envolveu em um acidente de trânsito.
(Foi muito irresponsável.)

  • Ironia

Forma de expressar o oposto do que se afirma:

Como eu amo pessoas desorganizadas, fico o mais longe delas possível.
(Não suporta pessoas desorganizadas.)

  • Prosopopeia

Personificação de seres irracionais ou de coisas:

A porta invejava a minha janela.
(Inveja é uma característica humana.)

  • Antítese

Expressa uma oposição:

Sinto o calor de seus olhos e o frio de suas mãos.
(Calor se opõe a frio.)

  • Paradoxo ou oximoro

Antítese acompanhada de contradição:

A morte é essencial para a continuação da vida das espécies.

Se a morte é o oposto de vida, é contraditório dizer que ela é essencial para a continuação da vida. Mas, apesar da contradição, o enunciado faz sentido se pensamos que, para se alimentar, as espécies precisam recorrer à morte de elementos de outras espécies.

  • Apóstrofe

Interrupção do enunciado, com o objetivo de interpelar ou invocar:

A dor, ó irmão, pode ser benéfica.

  • Gradação

Sucessão de ideias:

Uma música, um poema, um desenho eram suficientes para me demonstrar seu amor.

Veja também: Qual a diferença entre conotação e denotação?

Figuras de sintaxe ou construção

  • Elipse

Palavra ou expressão implícita na estrutura do enunciado:

No automóvel, três pessoas: eu, meu amigo e meu irmão.

Nesse exemplo, está implícito o verbo “estavam”: No automóvel, estavam três pessoas: eu, meu amigo e meu irmão.

  • Zeugma

Tipo de elipse em que ocorre a omissão de um termo mencionado anteriormente.

Pensava mais em comida do que em esportes.

Nesse enunciado, está implícita a segunda ocorrência do verbo “pensava”: Pensava mais em comida do que pensava em esportes.

  • Anáfora

Repetição de uma ou mais palavras no início de versos ou orações:

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
[...]

Nesse trecho da letra de música “O que será?”, de Chico Buarque, é possível observar a anáfora “que andam”.

  • Pleonasmo

Repetição intencional para enfatizar uma ideia:

A mim nada me convence de algo tão improvável.

Porém, se não é usado para enfatizar ou expressar melhor uma ideia, o pleonasmo se torna um vício de linguagem, como se verifica no seguinte enunciado:

Entrei pra dentro de casa logo que anoiteceu.

  • Anacoluto

Falta de ligação entre o início de uma frase e a sucessão de ideias:

O automóvel tudo são apenas bens materiais e desnecessários.

  • Silepse ou concordância ideológica

Concordância com a ideia e não com a palavra dita ou escrita.

Existem três tipos:

  • Silepse de gênero:

Sua excelência está disposto a tudo.

O enunciador, nesse caso, faz a concordância com a ideia de que “sua excelência” é um homem e não com o sujeito feminino. Sem o uso da silepse, mesmo que o enunciador se refira a alguém do gênero masculino, a concordância gramatical é: Sua excelência está disposta a tudo.

  • Silepse de número:

A turma estava desnorteada, já que lhes faltava liderança.

Nesse caso, o pronome “lhes” se refere à turma, porém está relacionado à ideia de que uma turma é composta de vários indivíduos. Sem o uso da silepse, a concordância gramatical é: A turma estava desnorteada, já que lhe faltava liderança.

  • Silepse de pessoa:

As três estávamos apavoradas.

Nesse exemplo, ao conjugar o verbo “estar” na primeira pessoa do plural, a enunciadora se inclui entre as três pessoas apavoradas. Sem o uso da silepse, a concordância gramatical é: As três estavam apavoradas. No entanto, a frase perde o sentido original, pois não fica evidente a inclusão da enunciadora entre “as três”.

  • Hipérbato

Inversão da ordem direta (sujeito, verbo, complemento ou predicativo) de uma oração:

Por muitos brasileiros não é a literatura nacional valorizada.

Assim, a ordem direta é:

A literatura nacional não é valorizada por muitos brasileiros.

  • Polissíndeto

Repetição da conjunção “e”:

O povo sofre, e chora, e grita, e protesta, e aceita o inevitável enfim.

Veja também: Conjunções aditivas – responsáveis por unirem palavras ou orações de mesma função

Figuras de som ou harmonia

  • Aliteração

Repetição de consoantes ou sílabas:

Paulo pediu ao pedreiro para pregar o prego na parede.

Essa figura, no entanto, é utilizada apenas em textos literários, pois, em textos funcionais, ela se converte em um vício de linguagem.

  • Assonância

Repetição de vogais:

A Cláudia falava da lágrima que cala.

  • Onomatopeia

Palavra cuja pronúncia imita o som produzido por determinados seres:

  • O tique-taque do relógio era ensurdecedor.

  • Foi só o gato fazer miau, que a cachorrada disparou a latir.

  • Paronomásia

Utilização de termos semelhantes, mas com grafia, som e significado distintos:

O relógio soava duas horas, enquanto o homem suava no calor da tarde.

Exercícios resolvidos sobre figuras de linguagem

Questão 1 - (Enem)

O açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema

não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar

como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da
mercearia.

Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos

que não nascem por acaso
no regaço do vale.

[...]

Em usinas escuras,
homens de vida amarga

e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

FERREIRA GULLAR. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 227-228.

A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e

A) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar.

B) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se dissolve na boca.

C) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde se produz o açúcar.

D) a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale.

E) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas escuras.

Resolução:

Alternativa E. A antítese é expressa na oposição entre o “branco açúcar” e a “vida amarga”, ou seja, entre o doce e o amargor; politicamente, na oposição entre a vida agradável do eu lírico e a vida difícil dos trabalhadores da usina.

Questão 2 - (Enem)

Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é:

A) “Dos dois contemplo

rigor e fixidez.

Passado e sentimento

me contemplam” (p. 91).

B) “De sol e lua

De fogo e vento

Te enlaço” (p. 101).

C) “Areia, vou sorvendo

A água do teu rio” (p. 93).

D) “Ritualiza a matança

de quem só te deu vida.

E me deixa viver

nessa que morre” (p. 62).

E) “O bisturi e o verso.

Dois instrumentos

entre as minhas mãos” (p. 95).

Resolução

Alternativa D. Ao dizer “E me deixa viver nessa que morre”, o eu lírico cria um paradoxo, já que é contraditório viver naquilo que morre.

Questão 3 - (UEL)

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

PESSOA, F. Mensagem. In: Mensagem e outros poemas afins seguidos de Fernando Pessoa e ideia de Portugal. Mem Martins: Europa-América [19-].

Em relação aos versos “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal”, ocorrem, respectivamente, duas figuras de linguagem nomeadas:

A) Metáfora e onomatopeia.

B) Catacrese e ironia.

C) Anacoluto e antítese.

D) Sinédoque e aliteração.

E) Pleonasmo e metáfora.

Resolução

Alternativa E

A expressão “mar salgado” é um pleonasmo, uma vez que não existe mar doce. Já “lágrimas de Portugal” é uma metáfora, pois o sal é comparado a “lágrimas de Portugal”, mas sem a presença de conjunção comparativa.


Por Warley Souza
Professor de Gramática   

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Figuras de linguagem"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/figuras-linguagem.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(USF-SP) Leia estes versos:

“As ondas amarguradas

Encostam a cabeça nas pedras do cais.

Até as ondas possuem

Uma pedra para descansar a cabeça.

Eu na verdade possuo

Todas as pedras que há no mundo,

Mas não descanso”.

(Murilo Mendes)

A figura de linguagem que ocorre nos versos 5 e 6 é:

a) metáfora.

b) sinédoque.

c) hipérbole.

d) aliteração.

e) anáfora.

 

Exercício 2

(FUVEST) A catacrese, figura que se observa na frase “Montou o cavalo no burro bravo”, ocorre em:

a) Os tempos mudaram, no devagar depressa do tempo.

b) Última flor do Lácio, inculta e bela, és a um tempo esplendor e sepultura.

c) Apressadamente, todos embarcaram no trem.

d) Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal.

e) Amanheceu, a luz tem cheiro.

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