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Polissíndeto é a figura de linguagem que utiliza repetidamente uma conjunção de modo a intensificar o efeito do discurso. Esse recurso estilístico não deve ser confundido com assíndeto e nem com a anáfora.
Leia também: Hipérbato – figura de linguagem que se caracteriza pela inversão sintática
Tópicos deste artigo
- 1 - O que é polissíndeto?
- 2 - Diferença entre polissíndeto e assíndeto
- 3 - Diferença entre polissíndeto e anáfora
- 4 - Exercícios resolvidos
O que é polissíndeto?
Polissíndeto é a figura de construção caracterizada pela repetição de conjunções, o que muitas vezes acaba gerando um efeito de intensificação do discurso. Observe:
- “Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.” (Rubem Braga)
- “Enquanto os homens exercem seus podres poderes / Índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval” (Caetano Veloso)
- “Não é este edifício obra de reis, ainda que por um rei me fosse encomendado seu desenho e edificação, mas nacional, mas popular, mas da gente portuguesa [...]” (Alexandre Herculano)
Nos respectivos trechos da crônica de Rubem Braga, da canção de Caetano Veloso e do conto de Alexandre Herculano, vemos diferentes exemplos de polissíndeto. Em ambos os casos, há intensificação da ideia de adição e de reforço (com as conjunções coordenativas aditivas “nem” e “e”) e de contraste (com a conjunção coordenativa adversativa “mas”).
Diferença entre polissíndeto e assíndeto
Ao contrário do polissíndeto, o assíndeto se caracteriza pela omissão proposital de conjunções, o que também gera um efeito de intensificação, muitas vezes pela sensação de inacabamento de uma sequência. Veja:
“A tua raça quer partir, / guerrear, sofrer, vencer, voltar.” (Cecília Meireles)
No verso acima, o assíndeto ocorre pela omissão de conjunção na sequência de ações, o que gera o efeito de constante movimentação.
Diferença entre polissíndeto e anáfora
A anáfora é a figura de linguagem em que há repetição de uma ou mais palavras no início de orações ou de versos, não sendo necessariamente a repetição de conjunções. Observe no exemplo abaixo:
“Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o Sol, esperando o trem
Esperando o aumento desde o ano passado para o mês que vem”
(Chico Buarque)
Nos versos acima da canção “Pedro Pedreiro”, a anáfora ocorre com o termo “esperando”, que não é uma conjunção.
Veja também: Anacoluto – figura de linguagem caracterizada pela topicalização de um termo no início do enunciado
Exercícios resolvidos
Questão 1 – (UFBA)
O período “A rua continuava indefinidamente, e o dedo apontado, e eu sem saber, e ela pedindo urgência, dizendo que o fogo lavrava sempre.” (l. 14-16) apresenta, predominantemente, orações independentes, coordenadas, e a figura de sintaxe polissíndeto.
( ) Certo
( ) Errado
Resolução
Certo. O período, de fato, é composto majoritariamente por orações coordenadas. O polissíndeto se dá pela repetição da conjunção “e”.
Questão 2 – (IF-PA)
Rios sem discurso
Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma se comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.
[...]
(MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra, p. 350-351)
O texto Rios sem discurso é metafórico, e mais detalhadamente podemos identificar outras figuras de linguagem. Marque a alternativa cujo trecho retirado do referido texto apresenta um polissíndeto:
A) “Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio que ele fazia”
B) “Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária”
C) “e muda porque com nenhuma se comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.”
D) “cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica”
E) “e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma se comunica”
Resolução
Alternativa E. O polissíndeto pode ser visto na repetição da conjunção “e” no início de cada verso.
Por Guilherme Viana
Professor de Gramática