PUBLICIDADE
A elipse é a figura de linguagem que omite um termo, palavra ou expressão no enunciado, e o termo omitido pode ser facilmente subentendido pelo contexto. Esse tipo de recurso linguístico é muito comum na linguagem literária e publicitária.
Leia também: Assíndeto – figura de linguagem que consiste na supressão de conectivos em uma oração
Tópicos deste artigo
- 1 - O que é elipse?
- 2 - Exemplos de elipse
- 3 - Diferença entre elipse e zeugma
- 4 - Curiosidades sobre a elipse
- 5 - Exercícios resolvidos
O que é elipse?
A elipse é uma figura de linguagem caracterizada por omitir um termo linguístico (palavra ou expressão) no enunciado. Apesar de omitido, esse termo costuma ser facilmente subentendido pelo contexto. Assim, sua omissão não torna o enunciado incompreensível.
Como essa figura de linguagem explora e altera a estrutura do enunciado, trata-se de uma figura de construção (também chamada de figura de sintaxe).
Exemplos de elipse
Observe, nos exemplos a seguir, como alguns elementos ficaram omitidos sem que isso causasse prejuízo no entendimento do enunciado. A omissão pode até tornar a leitura mais fluida ou poética.
-
Casa de ferreiro, espeto de pau.
-
Ele já estava prestes a me interromper de novo, mas eu: “Chega!”.
-
As roupas no varal, o vento aumentando...
-
Nós terminaremos de quitar a casa mês que vem.
-
Ela fitou-me silenciosa, aquele olhar cheio de significado.
Em casos específicos, é comum que ocorra elipse com preposições, verbos ou conjunções, especialmente na linguagem coloquial e falada. Veja, agora, os mesmos enunciados com algumas possibilidades de preenchimento que serviriam para tornar o enunciado mais exato:
-
[Em] casa de ferreiro, [o] espeto [é] de pau.
-
Ele já estava prestes a me interromper de novo, mas eu [exclamei]: “Chega!”
-
As roupas [estavam] no varal, [e] o vento [estava] aumentando...
-
Nós terminaremos de quitar a casa [no] mês que vem.
-
Ela fitou-me silenciosa, [com] aquele olhar cheio de significado.
Diferença entre elipse e zeugma
Zeugma, assim como a elipse, também é uma figura de sintaxe caracterizada pela omissão de um termo.
Porém, na elipse, o elemento omitido fica subentendido pelo contexto. No zeugma, essa omissão se dá especificamente com um elemento que já apareceu explicitamente em momento anterior no enunciado. Portanto, o elemento omitido fica subentendido por se tratar de uma repetição no discurso.
“Eu adoro filmes de terror. Meu namorado, os de comédia.”
No caso acima, o zeugma ocorre ao se omitir o verbo “adorar”, que, pela estrutura repetida, pode ser facilmente subentendido no enunciado. Note a presença de pontuação (nesse caso, vírgula) para marcar a omissão.
Veja também: Hipérbato – figura de linguagem que diz respeito à inversão sintática do enunciado
Curiosidades sobre a elipse
-
O termo “elipse” vem do grego eleípsis, que significa “omissão”, “insuficiência”, “falta”.
-
Na Matemática, também existe o termo “elipse”, mas referindo-se a algo bastante diferente da elipse que conhecemos como recurso estilístico da linguagem.
Exercícios resolvidos
Questão 1 – (UFF)
TEXTO
Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra.
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição.
A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.
Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
(ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/INL, 1976.)
Assinale dentre as alternativas abaixo aquela em que o uso da vírgula marca a supressão (elipse) do verbo:
A) Ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor, as batatas.
B) A paz, nesse caso, é a destruição (…)
C) Daí a alegria da vitória, os hinos, as aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.
D) (…) mas, rigorosamente, não há morte (…)
E) Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se (…)
Resolução
Alternativa A. Na expressão, a vírgula indica a omissão do verbo “dar”, na voz passiva.
Questão 2 – (Quadrix) Para responder à questão, leia o texto abaixo.
Projeto leva moradores de rua para biblioteca pública em Icoaraci
Na tentativa de mudar a realidade de moradores em situação de rua, a Biblioteca Avertano Rocha, no distrito de Icoaraci, em Belém, desenvolveu o projeto "Tornar Visível os Invisíveis". A ação tem parceria da Prefeitura de Belém e do Centro Pop.
“Eu vinha andando na rua e eles sempre me abordavam pedindo dinheiro. Eu dizia bora para biblioteca, bora para biblioteca”, conta a coordenadora da biblioteca, Terezinha Lima.
Em um ano, o projeto já levou mais de 60 pessoas para a biblioteca. Em um ambiente totalmente diferente das ruas, eles começam a pensar em um futuro diferente. São as histórias dos livros, que os inspira a fazer uma história diferente para eles também.
O projeto deu tão certo que venceu a oitava edição do Prêmio Vivaleitura, do Ministério da Educação, uma iniciativa que reconhece as experiências que promovam o hábito de ler.
A leitura é lenta e cheia de dificuldades. É a consequência do pouco tempo que eles passaram na escola. Aos 31 anos de idade, Wellisson Almeida entrou pela primeira vez em uma biblioteca. “Eu imaginava que era uma sala pequena, poucos livros”, comenta.
E cheios de novos planos, com 40 anos de idade, Hernan Costa quer voltar a estudar e já escolheu a profissão que quer exercer. "Tem gente que termina a faculdade com 60, né? Tenho tempo. Quero ser um bom advogado, pretendo ser", conta.
(g1.globo.com)
A construção de um texto claro e conciso pode se dar por meio de diversos mecanismos, como a elipse, por exemplo. Em qual dos trechos a seguir ocorre elipse do sujeito?
A) O projeto deu tão certo que venceu a oitava edição do Prêmio Vivaleitura [...].
B) Tem gente que termina a faculdade com 60, né?.
C) Eu vinha andando na rua e eles sempre me abordavam pedindo dinheiro.
D) Em um ano, o projeto já levou mais de 60 pessoas para a biblioteca.
E) Quero ser um bom advogado, pretendo ser.
Resolução
Alternativa E. Há omissão do elemento “Eu” nas duas orações.
Por Guilherme Viana
Professor de Gramática