Notificações
Você não tem notificações no momento.
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Hipérbato

Hipérbato é uma figura de linguagem relacionada à mudança na sintaxe do enunciado, havendo maior intercalação entre os elementos que o compõem.

Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Hipérbato é o nome da figura de linguagem em que ocorre a quebra da estrutura lógica do enunciado e, por isso, também é conhecido como inversão. Seu nome vem do grego e significa “transposto” ou “ao contrário”, já que inverte a posição dos termos que compõem o enunciado. Essa inversão exige maior atenção do leitor para entender o discurso.

Leia também: Ironia – figura de linguagem responsável por sugerir o contrário do que se afirma

Tópicos deste artigo

Exemplos de hipérbato

O hipérbato é relativamente comum em músicas e poemas na busca por rimas, mas também é muito comum nos discursos orais do dia a dia, especialmente quando queremos enfatizar algo e, para isso, quebramos a estrutura rígida do enunciado devido à espontaneidade da fala. Vejamos alguns exemplos:

“Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus.” (Zé Ramalho)

Neste verso da canção composta por Zé Ramalho, o termo “quem sabe” interrompe o enunciado “Queria usar uma camisa de força ou de vênus”. Por isso, há hipérbato, ou seja, o período foi intercalado por outro elemento que normalmente não estaria ali ou que, nesse caso, não pertence àquele período.

“Seguiu-se um daqueles silêncios, a que, sem mentir, se podem chamar de um século, tal é a extensão do tempo nas grandes crises.” (Machado de Assis)

Nesse outro exemplo, vemos que o enunciado “a que se podem chamar de um século” foi intercalado pelo elemento “sem mentir”, que aparece entre vírgulas.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Hipérbato e anacoluto

Tanto o hipérbato quanto o anacoluto são figuras de linguagem relacionadas à mudança na sintaxe do enunciado, ou seja, na posição dos elementos que formam o discurso. No entanto, há uma diferença entre esses dois recursos de estilo.

O hipérbato é a separação de termos constituintes por meio da intercalação de outros elementos, como vimos anteriormente. Assim, configura-se hipérbato qualquer inversão ou transposição de elementos entre termos que normalmente viriam juntos no discurso.

O anacoluto, por sua vez, é um tipo de “topicalização” de um termo no início do enunciado para enfatizá-lo, omitindo qualquer conector. Assim, o termo fica sem função sintática, já que não está diretamente ligado ao enunciado. Veja, abaixo, um exemplo de anacoluto:

O Carlos, ele nunca sabe o que quer da vida.”

No exemplo acima, o elemento “O Carlos” é dito no início do enunciado, como se fosse um tópico, para realçar esse elemento. Porém, na sequência, o termo “ele” toma para si a função de sujeito. O elemento “O Carlos” fica, então, desconectado da oração e sem função sintática. Perceba que é muito comum utilizar o anacoluto na linguagem oral, quando mudamos o discurso no meio da fala. Vejamos mais um exemplo:

Uns livros que ficavam na estante, a gente estudava com eles.”

No enunciado acima, “uns livros” seria, inicialmente, o complemento do verbo “estudava”. Porém, “uns livros” foi alocado no início da oração e perdeu sua função quando o elemento “com eles” tomou o lugar de complemento.

Leia também: Hipérbole – figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero proposital

Anástrofe e sínquise

Anástrofe e sínquise são outras duas figuras de linguagem relacionadas à mudança na sintaxe do enunciado.

  • Anástrofe

A anástrofe refere-se à mudança na ordem de termos constituintes que se sucedem, ou seja, entre um termo determinado e o seu determinante. Normalmente, o termo determinante antecede o termo determinado por ele. Todavia, quando há anástrofe, essa ordem fica invertida ou é intercalada por outros elementos. Vejamos um exemplo:

“Melhor professor o fracasso é.”

A oração acima foi dita pelo Mestre Yoda, personagem da saga Star Wars, famoso por suas falas em sintaxe fora do comum, isto é, “fora de ordem”. Como podemos notar, o enunciado comum seria algo como “o fracasso é o melhor professor”, tendo “o fracasso” função de sujeito e “o melhor professor” função de predicativo do sujeito. A inversão da ordem dos elementos, colocando sujeito e verbo por último e predicativo do sujeito no início, é um exemplo de anástrofe.

Personagem da saga Star Wars, o Mestre Yoda é famoso por utilizar os recursos da anástrofe e da sínquise.
Personagem da saga Star Wars, o Mestre Yoda é famoso por utilizar os recursos da anástrofe e da sínquise.

Note que, diferentemente do anacoluto (cuja transposição acaba perdendo a função sintática e ficando desconectada do restante do enunciado), a anástrofe mantém a transposição conectada e com a mesma função sintática, sendo apenas uma mudança na posição dela dentro do enunciado.

A anástrofe também apresenta uma mudança de posição mais sutil do que a do hipérbato, já que este intercala elementos entre os enunciados, enquanto aquela tende a manter a estrutura sem intercalações, apenas transpondo o determinado que estaria no fim para o início, antes de seu determinante.

  • Sínquise

A sínquise é a mistura radical da posição de vários ou todos os elementos do enunciado, deixando de seguir qualquer ordenação sintática esperada. A sínquise pode tornar a interpretação tão difícil a ponto de o discurso parecer caótico e sem sentido. No exemplo abaixo, temos um caso clássico de sínquise:

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante”

O Hino Nacional Brasileiro causa muitas dúvidas de interpretação não só pelas expressões rebuscadas, mas também porque é repleto de sínquise, o que intensifica a sua expressão poética em detrimento do seu entendimento literal. Reorganizando o enunciado de acordo com a sintaxe comum, teríamos algo como: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.”

Veja que a sínquise apresenta uma reordenação muito mais brusca do que aquela presente na anástrofe e no hipérbato.

Acesse também: Metáfora – figura de linguagem que estabelece uma comparação implícita

Resumo

Vejamos a diferença prática entre essas quatro figuras de linguagem. Tenhamos como exemplo a seguinte construção e suas respectivas modificações:

“Eu decidi mudar de casa antes que as coisas ficassem mais difíceis.”

  • Hipérbato: “Eu decidi, antes que as coisas ficassem mais difíceis, mudar de casa.” – O trecho “Eu decidi mudar de casa” foi interrompido pela transposição “antes que as coisas ficassem mais difíceis”.

  • Anacoluto: A decisão, eu decidi mudar de casa antes que as coisas ficassem mais difíceis.” – O elemento “A decisão” perdeu sua função sintática e não se conectou ao restante do enunciado.

  • Anástrofe: “Eu decidi de casa mudar antes que as coisas ficassem mais difíceis.” – A transposição do elemento “de casa” (determinado) para antes de “mudar” (determinante) gerou a inversão do que seria “mudar de casa”.

  • Sínquise: De casa eu decidi antes que as coisas mais difíceis ficassem mudar.” – Muitos elementos realocados a tal ponto que a interpretação do enunciado ficou comprometida.

O hipérbato é uma figura de linguagem que pode gerar estranhamento por romper com a ordem comum da sintaxe.
O hipérbato é uma figura de linguagem que pode gerar estranhamento por romper com a ordem comum da sintaxe.

Exercícios resolvidos

Questão 1 - Identifique a figura de linguagem presente no trecho abaixo:

“E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante.”

A) Anástrofe

B) Sínquise

C) Hipérbato

D) Anacoluto

Resolução

Alternativa A. A sintaxe do enunciado aparece, em grande parte, dentro do esperado, não gerando muita dificuldade para interpretar o período em questão. Porém, há intercalação: o elemento “em raios fúlgidos” aparece entre o sujeito “o sol da liberdade” e seu complemento “brilhou no céu da pátria”. A ordem comum poderia ser “E o sol da liberdade brilhou em raios fúlgidos no céu da pátria nesse instante”. Assim, trata-se de anástrofe.

Questão 2 - Assinale a alternativa que contém a classificação correta das figuras de linguagem empregadas em cada enunciado:

( ) “De mim, você não precisa mais.”

( ) “Em mim tantos devaneios frustrações causando acabaram”

( ) “Não há espaço, na minha opinião, para tanta coisa.”

( ) “A mim, parece-me que o pior já passou.”

(1) Anacoluto

(2) Sínquise

(3) Hipérbato

(4) Anástrofe

A) 1, 2, 3, 4.

B) 1, 3, 2, 4.

C) 4, 2, 3, 1.

D) 4, 3, 2, 1.

Resolução

Alternativa C. O primeiro enunciado apresenta anástrofe, já que o elemento “de mim” foi transposto para o início da frase, mas manteve sua ligação com ela e a função sintática; o segundo enunciado apresenta sínquise, porque vários elementos foram trocados de lugar, gerando maior dificuldade para compreender o enunciado; o terceiro enunciado apresenta hipérbato, pois o elemento “em minha opinião” aparece no meio do enunciado “não há espaço para tanta coisa”, quebrando sua estrutura sintática; o quarto enunciado apresenta anacoluto, uma vez que o elemento “a mim” foi deslocado para o início do enunciado para destacá-lo e acabou perdendo sua função sintática devido à repetição com o uso do pronome “me” após “parece”, que já retoma a ideia de “a mim” (“parece a mim” ou “parece-me”).

 

Por Guilherme Viana
Professor de Gramática

Escritor do artigo
Escrito por: Guilherme Viana Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

VIANA, Guilherme. "Hipérbato"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/hiperbato.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

De estudante para estudante