Hipérbato

Hipérbato é uma figura de linguagem relacionada à mudança na sintaxe do enunciado, havendo maior intercalação entre os elementos que o compõem.

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Hipérbato é o nome da figura de linguagem em que ocorre a quebra da estrutura lógica do enunciado e, por isso, também é conhecido como inversão. Seu nome vem do grego e significa “transposto” ou “ao contrário”, já que inverte a posição dos termos que compõem o enunciado. Essa inversão exige maior atenção do leitor para entender o discurso.

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Leia também: Ironia – figura de linguagem responsável por sugerir o contrário do que se afirma

Tópicos deste artigo

Exemplos de hipérbato

O hipérbato é relativamente comum em músicas e poemas na busca por rimas, mas também é muito comum nos discursos orais do dia a dia, especialmente quando queremos enfatizar algo e, para isso, quebramos a estrutura rígida do enunciado devido à espontaneidade da fala. Vejamos alguns exemplos:

“Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus.” (Zé Ramalho)

Neste verso da canção composta por Zé Ramalho, o termo “quem sabe” interrompe o enunciado “Queria usar uma camisa de força ou de vênus”. Por isso, há hipérbato, ou seja, o período foi intercalado por outro elemento que normalmente não estaria ali ou que, nesse caso, não pertence àquele período.

“Seguiu-se um daqueles silêncios, a que, sem mentir, se podem chamar de um século, tal é a extensão do tempo nas grandes crises.” (Machado de Assis)

Nesse outro exemplo, vemos que o enunciado “a que se podem chamar de um século” foi intercalado pelo elemento “sem mentir”, que aparece entre vírgulas.

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Hipérbato e anacoluto

Tanto o hipérbato quanto o anacoluto são figuras de linguagem relacionadas à mudança na sintaxe do enunciado, ou seja, na posição dos elementos que formam o discurso. No entanto, há uma diferença entre esses dois recursos de estilo.

O hipérbato é a separação de termos constituintes por meio da intercalação de outros elementos, como vimos anteriormente. Assim, configura-se hipérbato qualquer inversão ou transposição de elementos entre termos que normalmente viriam juntos no discurso.

O anacoluto, por sua vez, é um tipo de “topicalização” de um termo no início do enunciado para enfatizá-lo, omitindo qualquer conector. Assim, o termo fica sem função sintática, já que não está diretamente ligado ao enunciado. Veja, abaixo, um exemplo de anacoluto:

O Carlos, ele nunca sabe o que quer da vida.”

No exemplo acima, o elemento “O Carlos” é dito no início do enunciado, como se fosse um tópico, para realçar esse elemento. Porém, na sequência, o termo “ele” toma para si a função de sujeito. O elemento “O Carlos” fica, então, desconectado da oração e sem função sintática. Perceba que é muito comum utilizar o anacoluto na linguagem oral, quando mudamos o discurso no meio da fala. Vejamos mais um exemplo:

Uns livros que ficavam na estante, a gente estudava com eles.”

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No enunciado acima, “uns livros” seria, inicialmente, o complemento do verbo “estudava”. Porém, “uns livros” foi alocado no início da oração e perdeu sua função quando o elemento “com eles” tomou o lugar de complemento.

Leia também: Hipérbole – figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero proposital

Anástrofe e sínquise

Anástrofe e sínquise são outras duas figuras de linguagem relacionadas à mudança na sintaxe do enunciado.

  • Anástrofe

A anástrofe refere-se à mudança na ordem de termos constituintes que se sucedem, ou seja, entre um termo determinado e o seu determinante. Normalmente, o termo determinante antecede o termo determinado por ele. Todavia, quando há anástrofe, essa ordem fica invertida ou é intercalada por outros elementos. Vejamos um exemplo:

“Melhor professor o fracasso é.”

A oração acima foi dita pelo Mestre Yoda, personagem da saga Star Wars, famoso por suas falas em sintaxe fora do comum, isto é, “fora de ordem”. Como podemos notar, o enunciado comum seria algo como “o fracasso é o melhor professor”, tendo “o fracasso” função de sujeito e “o melhor professor” função de predicativo do sujeito. A inversão da ordem dos elementos, colocando sujeito e verbo por último e predicativo do sujeito no início, é um exemplo de anástrofe.

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Personagem da saga Star Wars, o Mestre Yoda é famoso por utilizar os recursos da anástrofe e da sínquise.
Personagem da saga Star Wars, o Mestre Yoda é famoso por utilizar os recursos da anástrofe e da sínquise.

Note que, diferentemente do anacoluto (cuja transposição acaba perdendo a função sintática e ficando desconectada do restante do enunciado), a anástrofe mantém a transposição conectada e com a mesma função sintática, sendo apenas uma mudança na posição dela dentro do enunciado.

A anástrofe também apresenta uma mudança de posição mais sutil do que a do hipérbato, já que este intercala elementos entre os enunciados, enquanto aquela tende a manter a estrutura sem intercalações, apenas transpondo o determinado que estaria no fim para o início, antes de seu determinante.

  • Sínquise

A sínquise é a mistura radical da posição de vários ou todos os elementos do enunciado, deixando de seguir qualquer ordenação sintática esperada. A sínquise pode tornar a interpretação tão difícil a ponto de o discurso parecer caótico e sem sentido. No exemplo abaixo, temos um caso clássico de sínquise:

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante”

O Hino Nacional Brasileiro causa muitas dúvidas de interpretação não só pelas expressões rebuscadas, mas também porque é repleto de sínquise, o que intensifica a sua expressão poética em detrimento do seu entendimento literal. Reorganizando o enunciado de acordo com a sintaxe comum, teríamos algo como: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.”

Veja que a sínquise apresenta uma reordenação muito mais brusca do que aquela presente na anástrofe e no hipérbato.

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Acesse também: Metáfora – figura de linguagem que estabelece uma comparação implícita

Resumo

Vejamos a diferença prática entre essas quatro figuras de linguagem. Tenhamos como exemplo a seguinte construção e suas respectivas modificações:

“Eu decidi mudar de casa antes que as coisas ficassem mais difíceis.”

  • Hipérbato: “Eu decidi, antes que as coisas ficassem mais difíceis, mudar de casa.” – O trecho “Eu decidi mudar de casa” foi interrompido pela transposição “antes que as coisas ficassem mais difíceis”.

  • Anacoluto: A decisão, eu decidi mudar de casa antes que as coisas ficassem mais difíceis.” – O elemento “A decisão” perdeu sua função sintática e não se conectou ao restante do enunciado.

  • Anástrofe: “Eu decidi de casa mudar antes que as coisas ficassem mais difíceis.” – A transposição do elemento “de casa” (determinado) para antes de “mudar” (determinante) gerou a inversão do que seria “mudar de casa”.

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  • Sínquise: De casa eu decidi antes que as coisas mais difíceis ficassem mudar.” – Muitos elementos realocados a tal ponto que a interpretação do enunciado ficou comprometida.

O hipérbato é uma figura de linguagem que pode gerar estranhamento por romper com a ordem comum da sintaxe.
O hipérbato é uma figura de linguagem que pode gerar estranhamento por romper com a ordem comum da sintaxe.

Exercícios resolvidos

Questão 1 - Identifique a figura de linguagem presente no trecho abaixo:

“E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante.”

A) Anástrofe

B) Sínquise

C) Hipérbato

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D) Anacoluto

Resolução

Alternativa A. A sintaxe do enunciado aparece, em grande parte, dentro do esperado, não gerando muita dificuldade para interpretar o período em questão. Porém, há intercalação: o elemento “em raios fúlgidos” aparece entre o sujeito “o sol da liberdade” e seu complemento “brilhou no céu da pátria”. A ordem comum poderia ser “E o sol da liberdade brilhou em raios fúlgidos no céu da pátria nesse instante”. Assim, trata-se de anástrofe.

Questão 2 - Assinale a alternativa que contém a classificação correta das figuras de linguagem empregadas em cada enunciado:

( ) “De mim, você não precisa mais.”

( ) “Em mim tantos devaneios frustrações causando acabaram”

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( ) “Não há espaço, na minha opinião, para tanta coisa.”

( ) “A mim, parece-me que o pior já passou.”

(1) Anacoluto

(2) Sínquise

(3) Hipérbato

(4) Anástrofe

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A) 1, 2, 3, 4.

B) 1, 3, 2, 4.

C) 4, 2, 3, 1.

D) 4, 3, 2, 1.

Resolução

Alternativa C. O primeiro enunciado apresenta anástrofe, já que o elemento “de mim” foi transposto para o início da frase, mas manteve sua ligação com ela e a função sintática; o segundo enunciado apresenta sínquise, porque vários elementos foram trocados de lugar, gerando maior dificuldade para compreender o enunciado; o terceiro enunciado apresenta hipérbato, pois o elemento “em minha opinião” aparece no meio do enunciado “não há espaço para tanta coisa”, quebrando sua estrutura sintática; o quarto enunciado apresenta anacoluto, uma vez que o elemento “a mim” foi deslocado para o início do enunciado para destacá-lo e acabou perdendo sua função sintática devido à repetição com o uso do pronome “me” após “parece”, que já retoma a ideia de “a mim” (“parece a mim” ou “parece-me”).

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Por Guilherme Viana
Professor de Gramática

Escritor do artigo
Escrito por: Guilherme Viana Bacharel e licenciado em Letras e em Educomunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha com produção de conteúdo didático nas áreas de língua portuguesa, literatura e redação.
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VIANA, Guilherme. "Hipérbato"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/hiperbato.htm. Acesso em 25 de dezembro de 2025.
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