Denotação e conotação

Na linguagem denotativa, predomina-se o sentido literal das palavras, enquanto, na linguagem conotativa, predomina-se o sentido figurado. Ambas são importantes para a língua.

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A linguagem denotativa, denotação, e a linguagem conotativa, conotação, são formas distintas de expressão:

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  • na denotação, usamos o sentido dicionarizado das palavras para passar mensagens de maneira objetiva e literal;

  • na conotação, usamos o sentido figurado para transmitir mensagens de modo subjetivo e criativo.

Leia também: Função emotiva ou expressiva – função da linguagem em que o emissor é o foco

Tópicos deste artigo

O que é denotação?

Denotação ou linguagem denotativa é a linguagem caracterizada pelo uso de palavras com sentido literal. É o tipo de linguagem comumente usado em mensagens objetivas e em discursos que visam à transmissão precisa de fatos, opiniões ou argumentos.

A linguagem denotativa permeia alguns gêneros jornalísticos, materiais didáticos e científicos, manuais, entre outros materiais que exigem linguagem literal e objetiva.

  • Exemplos de denotação

Vejamos alguns enunciados que usam a linguagem denotativa:

  • Ontem, eu esqueci a minha mochila na escola. Precisei voltar até lá para buscar.

  • Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1920, e morreu no Brasil, em 1977. A escritora e jornalista é autora de diversos romances e contos.

  • Cientistas de todo o planeta seguem pesquisando a cura para a doença que se tornou uma epidemia.

  • Antes de assar o bolo, é necessário preaquecer o forno a 180 ºC.

  • Este remédio é contraindicado em caso de suspeita de dengue.

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O que é conotação?

Conotação ou linguagem conotativa é a linguagem caracterizada pelo uso de palavras com sentido figurado, isto é, que vai além do sentido literal e dicionarizado e, portanto, é mais livre para múltiplas interpretações, porque pode transmitir diversas mensagens ao mesmo tempo ou até diferentes mensagens, dependendo da compreensão de quem acessa seu conteúdo. É o tipo de linguagem comumente usado em mensagens subjetivas e enfáticas, em expressões poéticas, líricas ou que busquem estimular o interlocutor de alguma forma.

Na linguagem conotativa, é comum o uso de figuras de linguagem, especialmente da metáfora e da metonímia. A linguagem conotativa permeia materiais publicitários, obras literárias e artísticas em geral, diálogos e discursos que busquem estabelecer vínculo emocional ou de grande apelo entre interlocutores.

  • Exemplos de conotação

  • Muitos casos novos da doença saltavam aos olhos dos pesquisadores.

  • Ele ficou todo derretido com as declarações dela.

  •  Tem pavor de avião. Morre de medo quando vamos ao aeroporto.

  •  Que saudades! Não nos falamos há mil anos!

  •  Se a gente espremer esse jornal, sai sangue.

Conotação e denotação em textos não verbais

A denotação e a conotação também podem ser vistas na linguagem não verbal. No exemplo seguinte, vemos duas representações distintas de um coração:

- À esquerda, o coração pode ser interpretado de maneira denotativa, isto é, busca-se mostrar, no desenho, um coração como ele realmente é. Trata-se de uma representação típica de estudos anatômicos.

- À direita, o gesto das mãos tem sentido conotativo e busca representar um coração, que, por sua vez, passa a ideia de amor e afeto.

Leia também: Quais são as funções da linguagem?

Exercícios resolvidos sobre denotação e conotação

Questão 1 – (Fundação Sousândrade)

Texto A

O discurso foi excelente. Direto, sem ser raso. Técnico, sem ser chato. Sensível, sem ser piegas. No horário nobre da quarta-feira passada, o presidente Barack Obama falou durante 47 minutos em sessão conjunta do Congresso com o objetivo de virar o jogo a favor de sua proposta de reforma do sistema de saúde. Depois de promovê-la a prioridade número 1 de sua agenda doméstica, e vê-la ser estraçalhada nas inúmeras reuniões que deputados e senadores fizeram com eleitores no recesso parlamentar de agosto, Obama está sendo convidado a descer do palanque para ser apresentado à realidade. E a realidade é o avesso de sua utopia: a maioria, exatamente 51% na última pesquisa, é contra a reforma da saúde. Traduzindo: os americanos não querem um sistema público de saúde para competir com as empresas privadas e não gostam da ideia de o governo administrar o sistema atual para evitar abusos das seguradoras. Por trás disso, há uma mensagem cujas raízes remontam à história do país: a maioria dos americanos desconfia da honestidade, dos propósitos e da competência dos governos — qualquer governo.

Na superfície, o debate sobre a saúde nos Estados Unidos provoca divergências técnicas. Na proposta de Obama, todos os americanos serão obrigados a ter plano de saúde. Mas qual o leque mínimo dos benefícios? Obama promete que o governo vai subsidiar quem não puder comprar um plano. Mas de quanto será o subsídio? Obama disse, pela primeira vez, que o custo da reforma em dez anos será, no máximo, de 900 bilhões de dólares e o grosso do dinheiro virá da redução do desperdício e das fraudes. Mas de onde saiu o cálculo do que escorre pelo ralo do desperdício e das fraudes? Encerrado o discurso de Obama, a atenção da imprensa e dos políticos foi concentrada nessas dúvidas.

André Petry. In: Revista Veja, 16 de setembro de 2009.

A conotação é o lugar em que ecoam as experiências culturais da comunidade de uma língua, na medida em que o uso da expressão e palavras revela juízo de valor de maneira marcante. Considerando essa afirmação de J. Carlos Azeredo, identifique o emprego da linguagem conotativa, preservando o contexto, nas opções a seguir.

A) “[...] o presidente Barack Obama falou durante 47 minutos [...]”

B) “Técnico, sem ser chato.”

C) “[...] do que escorre pelo ralo do desperdício e das fraudes?”

D) “Obama promete que o governo vai subsidiar [...]”

E) “[...] a maioria dos americanos desconfia da honestidade, dos propósitos [...]”

Resolução

Alternativa C. O uso da metáfora “escorre pelo ralo do desperdício” não pode ser interpretado literalmente, sendo, portanto, característico da conotação.

Questão 2 – (FUNCAB)

Texto 1

Passe adiante

Tenho vários DVDs de shows, e houve uma época em que os assistia atenta ou simplesmente deixava rodando como um som ambiente enquanto fazia outras coisas pela casa. Até que os esqueci de vez. Conhecedor do meu acervo, meu irmão outro dia pediu:

— Posso pegar emprestado uns shows aí da tua coleção?

— Claro!

Ele escolheu quatro e levou com ele. E subitamente me deu uma vontade incontrolável de voltar a assistir aqueles shows. Aqueles quatro, não é estranho?

Logo a vontade passou, mas fiquei com o alerta na cabeça. Me lembrei de uma amiga que uma vez disse que havia comprado um vestido que nunca usara, ele seguia pendurado no guarda-roupa. Um dia ela me mostrou o tal vestido e intimou:

— Pega pra ti, me faz esse favor. Jamais vou usar.

Trouxe-o para casa. Muito tempo depois ela me confidenciou, às gargalhadas, que não havia dormido aquela noite. Passou a ver o vestido com outros olhos. Por que ela não dera uma chance a ele?

Maldita sensação de posse, que faz com que a gente continue apegada ao que deixou de ser relevante. Incluindo relacionamentos.

Uma outra amiga vivia reclamando do namorado, dizia que eles não tinham mais nada em comum e que ela estava pronta para partir para outra. E porque não partia?

— Porque não quero deixá-lo dando sopa por aí.

Como é que é?

Ela não terminava com o cara porque não queria que ele tivesse outra namorada, dizia que não suportaria. Reconhecia a mesquinhez da sua atitude, mas, depois de tantos anos juntos, ela ainda não se sentia preparada para admitir que ele não seria mais dela.

DVDs, roupas, amores: claro que não é tudo a mesma coisa, mas o apego irracional se parece. É a velha e surrada história de só darmos valor àquilo que perdemos. Será que existe solução para essa neura? Atribuir ao nosso egoísmo latente talvez seja simplista demais, porém, não encontro outra justificativa que explique essa necessidade de “ter” o que já nem levamos mais em consideração.

É preciso abrir espaço. Limpar a papelada das gavetas, doar sapatos e bolsas que estão mofando, passar adiante livros que jamais iremos abrir. É uma forma de perder peso e convidar a tão almejada “vida nova” para assumir o posto que lhe é devido. Fácil? Bref. Um pedaço da nossa história vai embora junto. Somos feitos — também — de ingressos de shows, recortes de jornal, fotos de formatura, bilhetes de amor.

Sem falar no medo de não reconhecermos a nós mesmos quando o futuro chegar, de não ter lá na frente emoções tão ricas nos aguardando, de a nostalgia vir a ser mais potente do que a tal “vida nova”.

Qual é a garantia? Um ano para geladeiras, três anos para carros 0 km, cinco anos para apartamentos. Pra vida, não tem. É se desapegar e ver no que dá, ou ficar velando para sempre os cadáveres das vontades que passaram.

(Medeiros, Martha. Revista O Globo, 20/05/2012.)

Assinale a opção em que foi utilizado o sentido denotativo da linguagem.

A) “Reconhecia a mesquinhez da sua atitude [...]”

B) “[...] não quero deixá-lo dando sopa por aí.”

C) “É a velha e surrada história de só darmos valor [...]”

D) “[...] pronta para partir para outra.”

E) “Passou a ver o vestido com outros olhos.”

Resolução

Alternativa A. A construção usa o sentido literal, ou seja, denotativo. Nas outras alternativas, há uso de sentido figurado e, portanto, conotativo.

Coração humano e coração feito com as mãos em alusão à denotação e conotação.
Denotação e conotação são usadas para estabelecer comunicação de modos distintos.
Escritor do artigo
Escrito por: Guilherme Viana Bacharel e licenciado em Letras e em Educomunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha com produção de conteúdo didático nas áreas de língua portuguesa, literatura e redação.
Deseja fazer uma citação?
VIANA, Guilherme. "Denotação e conotação"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/denotacao-conotacao.htm. Acesso em 05 de dezembro de 2025.
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Lista de exercícios


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Exercício 1

(Enem)

O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio, denotativo, ocorre em

A) “[...]

É de laço e de nó

De gibeira o jiló

Dessa vida, cumprida a sol [...]”

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos. setembro de 1992.)

B) “Protegendo os inocentes

é que Deus, sábio demais,

põe cenários diferentes

nas impressões digitais.”

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. s.n.b.)

C) “O dicionário-padrão da língua

e os dicionários unilíngues são

os tipos mais comuns de

dicionários. Em nossos dias,

eles se tornaram um objeto de

consumo obrigatório para as

nações civilizadas e

desenvolvidas.”

(Maria T. Camargo Biderman. O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)

D)

Tirinha do Menino Maluquinho em questão do Enem sobre denotação e conotação.
(O Globo. O menino maluquinho. agosto de 2002.)

(E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas

no raciocínio dos outros. Há duas

espécies de humorismo: o trágico e o

cômico. O trágico é o que não

consegue fazer rir; o cômico é o que é

verdadeiramente trágico para se fazer.”

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br. Acessado em julho de 2005.)

Exercício 2

(Ufam)

Assinale a alternativa que contém enunciado em sentido denotativo:

A) As estrelas de telenovelas são muito admiradas pelos brasileiros.

B) O desastre de ontem ocasionou a morte de três pessoas.

C) Ela acaba de completar quinze risonhas primaveras.

D) Por ser franzino, Wilsinho é sempre o cristo de sua turma.

E) Foi o seu olhar demasiado quente que me conquistou.

Exercício 3

(Unesp)

Os donos da comunicação

Os presidentes, os ditadores e os reis da Espanha que se cuidem porque os donos da comunicação duram muito mais. Os ditadores abrem e fecham a imprensa, os presidentes xingam a TV e os reis da Espanha cassam o rádio, mas, quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda tão por cima. Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e mandam no society que morre se o nome não aparecer nas colunas.

[...]

Pois é; tem gente que faz greve, faz revolução, faz terrorismo, todas essas besteiras. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de comunicação. Aí tua revolução fica xinfrim, teu terrorismo sai em corpo 6 e se você morre vai lá pro fundo do jornal em quatro linhas.

(Millôr Fernandes. Que país é este?, 1978.)

Millôr Fernandes emprega com conotação irônica o termo inglês society, para referir-se a

A) pessoas dedicadas ao desenvolvimento da sociedade.

B) pessoas que fazem caridade apenas para aparecer nos jornais.

C) sociedades de atores de teatro, cinema e televisão.

D) norte-americanos ou ingleses muito importantes, residentes no país.

E) indivíduos presunçosos da chamada alta sociedade.

Exercício 4

(Unimontes)

Trabalhar e sofrer

“O trabalho enobrece” é uma dessas frases feitas que a gente repete sem refletir no que significam, feito reza automatizada. Outra é “A quem Deus ama, ele faz sofrer”, que fala de uma divindade cruel, fria, que não mereceria uma vela acesa sequer. Sinto muito: nem sempre trabalhar nos torna mais nobres, nem sempre a dor nos deixa mais justos, mais generosos. O tempo para contemplação da arte e da natureza, ou curtição dos afetos, por exemplo, deve enobrecer bem mais. Ser feliz, viver com alguma harmonia, há de nos tornar melhores do que a desgraça. A ilusão de que o trabalho e o sofrimento nos aperfeiçoam é uma ideia que deve ser reavaliada e certamente desmascarada.

O trabalho tem de ser o primeiro dos nossos valores, nos ensinaram, colocando à nossa frente cartazes pintados que impedem que a gente enxergue além disso. Eu prefiro a velha dama esquecida num canto feito uma mala furada, que se chama ética. Palavra refinada para dizer o que está ao alcance de qualquer um de nós: decência. Prefiro, ao mito do trabalho como única salvação, e da dor como cursinho de aperfeiçoamento pessoal, a realidade possível dos amores e dos valores que nos tornariam mais humanos. Para que se trabalhe com mais força e ímpeto e se viva com mais esperança.

[...]

Assim como o sofrimento pode nos tornar amargos e até emocionalmente estéreis, o trabalho pode aviltar, humilhar, explorar e solapar qualquer dignidade, roubar nosso tempo, saúde e possibilidade de crescimento. Na verdade, o que enobrece é a responsabilidade que os deveres, incluindo os de trabalho, trazem consigo. O que nos pode tornar mais bondosos e tolerantes, eventualmente, nasce do sofrimento suportado com dignidade, quem sabe com estoicismo. Mas um ser humano decente é resultado de muito mais que isso: de genética, da família, da sociedade em que está inserido, da sorte ou do azar, e de escolhas pessoais (essas a gente costuma esquecer: queixar-se é tão mais fácil).

Quanto tempo o meu trabalho — se é que temos escolha, pois a maioria de nós dá graças a Deus se consegue trabalhar por um salário vil — me permite para lazer, ou o que eu de verdade quero, se é que paro para refletir sobre isso? Quanto tempo eu me dou para viver? Quanto sobra para meu crescimento pessoal, para tentar observar o mundo e descobrir meu lugar nele, por menor que seja, ou para entender minha cultura e minha gente, para amar minha família?

[...]

Lya Luft, Veja, 20/1/2010.

Em qual das alternativas abaixo há uma palavra ou expressão conotativa que se refere à Ética?

A) “...velha dama...”.

B) “...decência...”.

C) “...crescimento pessoal...”.

D) “...dignidade...”.