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Silepse é uma figura de linguagem. Ela também é chamada de “concordância ideológica”. Isso porque a silepse se refere à concordância entre um termo da oração e a ideia expressa no enunciado. Assim, ela diverge da concordância gramatical, a qual ocorre entre os termos da oração. A silepse pode ser de número, de pessoa e de gênero.
Leia também: Lista com todas as figuras de linguagem
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre silepse
- 2 - O que é silepse?
- 3 - Exemplos de silepse
- 4 - Tipos de silepse
- 5 - Como identificar a silepse?
- 6 - Silepse x anacoluto
- 7 - Exercícios sobre silepse
Resumo sobre silepse
- A silepse é uma figura de sintaxe ou construção associada à concordância ideológica.
- Ela apresenta concordância de um termo da oração com a ideia expressa no enunciado, em vez de ocorrer entre os termos da oração.
- Existem três tipos de silepse:
- de número;
- de gênero;
- de pessoa.
O que é silepse?
Silepse é uma figura de sintaxe ou construção. Essa figura de linguagem é caracterizada pela concordância ideológica, ou seja, algum termo do enunciado concorda com a ideia expressa, em vez de ocorrer uma concordância gramatical.
Como exemplo de concordância gramatical, temos:
A multidão estava agitada. Ela gritava, furiosa.
Agora vejamos uma concordância ideológica, ou seja, a silepse:
A multidão estava agitada. Eles gritavam, furiosos.
Observe que o enunciador privilegiou a ideia de que a multidão é composta de muitos indivíduos. Assim, em vez de usar “ela gritava”, utilizou “eles gritavam”, em concordância com os indivíduos que compõem a multidão.
Exemplos de silepse
Exemplo 1:
Vimos alguém entre as árvores e a chamamos.
Em vez de:
Vimos alguém entre as árvores e o chamamos.
Exemplo 2:
A população queriam que os direitos fossem respeitados.
Em vez de:
A população queria que os diretos fossem respeitados.
Exemplo 3:
Vossa excelência é muito educado.
Em vez de:
Vossa excelência é muito educada.
Exemplo 4:
Os estudantes precisamos de tempo para o lazer.
Em vez de:
Os estudantes precisam de tempo para o lazer.
Leia também: Regras e casos de concordância verbal
Tipos de silepse
-
Silepse de gênero
O adjetivo apresenta gênero distinto daquele indicado pelo substantivo:
Vossa majestade é simplório.
Em vez de:
Vossa majestade é simplória.
No exemplo, “majestade” é um substantivo feminino. Mas, na concordância ideológica, o adjetivo fica no masculino. Assim, o enunciador demonstra que a “majestade” é uma pessoa do gênero masculino, como um rei, por exemplo.
-
Silepse de número
O pronome apresenta número distinto do substantivo a que se refere:
O elenco foi vaiado, então os ajudamos a fugir do teatro.
Em vez de:
O elenco foi vaiado, então o ajudamos a fugir do teatro.
No exemplo, “elenco” é um substantivo singular. Mas, na concordância ideológica, o pronome “os”, apesar de se referir a esse substantivo, está no plural. Isso porque o enunciador evidencia o fato de que um “elenco” é composto por vários atores.
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Silepse de pessoa
O verbo apresenta pessoa distinta daquela indicada pelo sujeito:
Os espanhóis somos passionais.
Em vez de:
Os espanhóis são passionais.
No exemplo, “os espanhóis” equivale ao pronome “eles”, ou seja, está relacionado à terceira pessoa do plural. Mas a concordância ideológica é feita com “nós”, isto é, a primeira pessoa do plural. Desse modo, o enunciador se inclui na categoria de “espanhóis”.
Como identificar a silepse?
Para identificar a silepse, é preciso ficar atento(a) à concordância verbal e nominal. Se o enunciado não apresentar concordância gramatical, mas sim concordância ideológica, ali existe uma silepse. A concordância ideológica está relacionada com a ideia e não com a estrutura sintática do enunciado.
Veja este enunciado:
A turma estava agitada, pois queriam sair de férias.
Nessa frase, quem é o sujeito do verbo “queriam”? Entendemos que quem queria sair de férias era a “turma”. Porém, tal substantivo está no singular. Desse modo, a concordância gramatical deve ser:
A turma estava agitada, pois queria sair de férias.
Porém, a ideia expressa na concordância ideológica é de que a “turma” é composta por várias pessoas, daí o uso de “queriam” (no plural). Nesse caso, a concordância ideológica é o que chamamos de “silepse de número”, já que está relacionada a uma divergência entre singular e plural.
Observe esta frase:
A criança chorava quando o peguei no colo.
Nesse enunciado, a quem se refere o pronome “o”? Entendemos que o enunciador pegou a criança no colo, sendo “o” um pronome referente à criança. Mas tal pronome está no masculino. Assim, a concordância gramatical deve ser:
A criança chorava quando a peguei no colo.
Contudo, a ideia expressa na concordância ideológica é de que a criança é do gênero masculino, daí o uso de “o”. Nesse caso, a concordância ideológica é o que chamamos de “silepse de gênero”, pois está relacionada a uma divergência entre masculino e feminino.
Analise esta oração:
Os artistas somos questionadores.
Nessa oração, quem é o sujeito do verbo “somos”? Entendemos que quem é questionador são os “artistas”. Tal substantivo pode ser substituído pelo pronome “eles”, na terceira pessoa do plural. Desse modo, a concordância gramatical deve ser:
Os artistas são questionadores.
Mas a ideia expressa na concordância ideológica é de que o enunciador da oração também é um artista, daí o uso de “somos”, verbo que concorda com o pronome “nós” (na primeira pessoa do plural). Nesse caso, a concordância ideológica é o que chamamos de “silepse de pessoa”, já que está relacionada a uma divergência entre a primeira e a terceira pessoa do plural.
Silepse x anacoluto
SILEPSE |
ANACOLUTO |
Figura de sintaxe caracterizada pela concordância ideológica, em vez da concordância gramatical. |
Figura de sintaxe caracterizada pela falta de conexão sintática entre o início da frase e a sequência de ideias. |
EXEMPLO |
EXEMPLO |
A família estamos felizes. |
A família quem sabe o que aconteceu com o Agenor. |
ENTENDA O EXEMPLO |
ENTENDA O EXEMPLO |
Observe que tanto o verbo “estar” quanto o adjetivo “feliz” se referem ao sujeito “família”. Nesse caso, a concordância ideológica indica que o enunciador faz parte dessa família, já que “estamos” concorda com “nós”. |
Note que o enunciado começa com a expressão “a família”. Em seguida, há uma quebra sintática, já que família fica sem função. Assim, temos o sujeito “quem”, o verbo “sabe” (concordando com tal sujeito) e uma oração subordinada substantiva objetiva direta, ou seja, “o que aconteceu com o Agenor”. Só podemos concluir que o enunciador acredita que a família saiba do paradeiro do Agenor. |
Para saber mais sobre o anacoluto, clique aqui.
Exercícios sobre silepse
Questão 1 (Vunesp)
Na frase: “O pessoal estão exagerando, me disse ontem um camelô”, encontramos a figura de linguagem chamada:
A) silepse de pessoa.
B) elipse.
C) anacoluto.
D) hipérbole.
E) silepse de número.
Resolução:
Alternativa A.
A expressão “O pessoal estão” se configura em uma silepse de número, já que o verbo está no plural, enquanto o sujeito se encontra no singular.
Questão 2
Analise as frases abaixo e marque a alternativa que apresenta uma silepse de gênero.
A) O público estava inquieto, por isso o diretor mandou dar água para eles.
B) Todos os mexicanos ficamos solidários com o avô da menina Marta.
C) A estrela de cinema foi fotografado quando entrava em uma igreja.
D) O grupo fugiram assim que a polícia chegou e começou a perseguição.
E) Os fãs de séries sul-coreanas somos fiéis aos ídolos que as protagonizam.
Resolução:
Alternativa C.
São silepse de número as alternativas A (“público”/ “eles”) e D (“grupo”/ “fugiram”). São silepse de pessoa as alternativas B (“os mexicanos”/ “ficamos”) e E (“os fãs”/ “somos”). Por fim, é silepse de gênero: “A estrela de cinema foi fotografado...”. Afinal, a “estrela” é um substantivo feminino, mas o particípio “fotografado” é uma palavra masculina, de forma que indica que a estrela de cinema é uma pessoa do gênero masculino.
Fontes
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.