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Ironia

A ironia é uma figura de linguagem que pode ser assim classificada: oral, dramática ou de situação. Ela depende muito da enunciação para ser identificada.

Homem com expressão de ironia.
O sarcasmo é uma declaração ofensiva, em tom de zombaria.
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Ironia é uma figura de linguagem que consiste em sugerir o contrário do que se afirma. Pode também ser entendida como uma zombaria. Em ambos os casos, para ser identificada, ela depende do contexto (da situação) e do conhecimento do interlocutor. Na linguagem oral, os gestos do enunciador também são importantes para o seu entendimento. Existem basicamente três tipos de ironia:

  • oral ou verbal;

  • dramática, teatral ou satírica;

  • de situação.

Leia também: O que é metonímia?

Tópicos deste artigo

Tipos de ironia e exemplos

  • Ironia oral ou verbal

Quando a afirmação do enunciador contraria a sua intenção.

  • Exemplo 1

Contexto: Laura empurra Giovana para entrar primeiro no ônibus.

Fala irônica de Giovana: Você é mesmo muito gentil!

Portanto, quando Giovana diz que Laura é muito gentil, na verdade, ela tem a intenção de dizer o contrário.

  • Exemplo 2

Contexto: Pablo é um homem musculoso, e Leandro diz que vai bater nele.

Fala irônica de Pablo: Estou morrendo de medo de você!

Assim, quando Pablo diz que está morrendo de medo de Leandro, na verdade, ele tem a intenção de dizer o contrário.

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  • Ironia dramática, teatral ou satírica

É um tipo de ironia específica do teatro e da literatura. É, portanto, uma forma de interlocução com o público ou com os leitores, que devem perceber a ironia. Assim, ela ocorre quando o personagem de uma narrativa ou peça de teatro desconhece algumas informações que são de conhecimento dos leitores ou do público.

Um exemplo desse tipo de ironia pode ser retirado de um romance de Machado de Assis: Quincas Borba (1891). Como se pode ver neste trecho que narra a morte do protagonista:

“Poucos dias depois morreu... Não morreu súdito nem vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa na cabeça, — uma coroa que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde os espectadores palpassem a ilusão. Não, senhor; ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de brilhantes e outras pedras preciosas. O esforço que fizera para erguer meio corpo não durou muito; o corpo caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma expressão gloriosa.

— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor...

A cara ficou séria, porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito horrível, e estava assinada a abdicação.”

O personagem ignora que está louco, mas a leitora e o leitor sabem disso. Sabem também que o protagonista acredita ser Luís Napoleão Bonaparte. Daí o tom irônico, de franca zombaria, principalmente quando o narrador diz que “estava assinada a abdicação”. Abdicar é renunciar a algo, no caso, ao posto de imperador que o personagem julgava ocupar.

  • Ironia de situação

Quando se obtém um resultado contrário ao desejado em uma situação. Um exemplo desse tipo de ironia envolve o famoso naufrágio do Titanic. Supostamente, pois não há registros sobre o fato, o construtor do navio teria dito a seguinte frase:

Nem Deus pode afundar o Titanic.

Crenças à parte, se essa frase foi mesmo dita, ela precedeu uma indesejável ironia de situação, pois, no dia 15 de abril de 1912, o navio se chocou contra um iceberg e afundou, matando cerca de 1.500 pessoas. Assim, quando o construtor do navio disse essa frase, ele estava afirmando que seu navio jamais afundaria; mas, como sabemos, ocorreu o contrário.

Veja também: O que são figuras de pensamento?

O que é o sarcasmo?

No mais, além desses três tipos principais, existe também o sarcasmo, que é uma espécie de ironia ofensiva.

Veja a frase seguinte:

Você é muito bonito, parece até um tamanduá.

Nesse exemplo, o enunciador, de forma ofensiva, desmente sua afirmação original – ou seja, “Você é muito bonito” – ao dizer que o interlocutor se parece com um tamanduá.

Exercícios resolvidos sobre ironia

Questão 1- (Enem)

Cidade grande

Que beleza, Montes Claros.

Como cresceu Montes Claros.

Quanta indústria em Montes Claros.

Montes Claros cresceu tanto,

ficou urbe tão notória,

prima-rica do Rio de Janeiro,

que já tem cinco favelas

por enquanto, e mais promete.

Carlos Drummond de Andrade.

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a

a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.

b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.

c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.

d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.

e) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

Resolução:

Alternativa C.

A ironia está presente no texto quando o eu lírico parece elogiar Montes Claros, ao dizer: “Que beleza, Montes Claros”, “ficou urbe tão notória”, “prima-rica do Rio de Janeiro”. No entanto, no final, ele afirma que a cidade já tem cinco favelas, por enquanto, e terá mais no futuro. Portanto, os elogios não passavam de ironias.

Questão 2 - (Enem)

As histórias em quadrinhos, por vezes, utilizam animais como personagens e a eles atribuem comportamento humano. O gato Garfield é exemplo desse fato.

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza.

Van Gogh, pintor holandês nascido em 1853, é um dos principais nomes da pintura mundial. É dele o quadro abaixo.

VAN GOGH.  Autorretrato de orelha cortada.
VAN GOGH. Autorretrato de orelha cortada.

O 3o quadrinho sugere que Garfield:

a) desconhece tudo sobre arte, por isso faz a sugestão.

b) acredita que todo pintor deve fazer algo diferente.

c) defende que para ser pintor a pessoa tem de sofrer.

d) conhece a história de um pintor famoso e faz uso da ironia.

e) acredita que seu dono tenha tendência artística e, por isso, faz a sugestão.

Resolução:

Alternativa D.

No terceiro quadrinho, quando Garfield diz “Corte uma orelha”, ele está se referindo a Van Gogh. Nesse caso, a ironia se configura em uma zombaria. Como Garfield acha que seu dono não tem talento, ele brinca com a possibilidade de este virar um pintor famoso caso corte uma orelha, pois essa seria a única forma de ele se assemelhar a um grande pintor.

Questão 3 - (Enem)

TEXTO I

Onde está a honestidade?

Você tem palacete reluzente
Tem joias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança ou parente
Só anda de automóvel na cidade...

E o povo pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?

O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e felicidade...

Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente...

ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.

TEXTO II

Um vulto da história da música popular brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI.

Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.

Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio

a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns.

b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança.

c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade.

d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade.

e) da insistência em promover eventos beneficentes.

Resolução

Alternativa A.

A ironia está presente quando o eu lírico diz que determinada pessoa acha anéis, dinheiro e felicidade nas ruas diariamente, mas sugere que a riqueza dessa pessoa, na verdade, é fruto da desonestidade.

 

Por Warley Souza
Professor de Português 

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Ironia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/ironia.htm. Acesso em 25 de abril de 2024.

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