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O desmatamento do Cerrado é um problema ambiental que devastou pelo menos metade da área de cobertura nativa desse que é o segundo maior bioma do Brasil e decorre principalmente da abertura de novas áreas para o desenvolvimento de atividades econômicas como a agropecuária. Um levantamento do MapBiomas mostrou que a maior parte da área agrícola do Brasil está no Cerrado, e o principal cultivo desenvolvido é a soja.
Habitat para dezenas de milhares de espécies animais e vegetais e abrigo de importantes nascentes de rios e aquíferos, o Cerrado é atualmente um dos biomas mais devastados do país. A continuidade do desmatamento tem graves consequências para o meio ambiente, como a perda da biodiversidade, o aumento da poluição e o sumiço de nascentes.
Leia também: Queimadas na Amazônia — o problema ambiental intensificado devido às práticas econômicas regionais
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o desmatamento do Cerrado
- 2 - Causas do desmatamento do Cerrado
- 3 - Desmatamento do Cerrado nos últimos 30 anos
- 4 - Desmatamento do Cerrado na atualidade
- 5 - Gráfico do desmatamento do Cerrado
- 6 - Consequências do desmatamento do Cerrado
Resumo sobre o desmatamento do Cerrado
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A principal causa do desmatamento do Cerrado é a abertura de novas áreas para o desenvolvimento de atividades agropecuárias, o que inclui o plantio de commodities agrícolas como a soja.
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O Cerrado já perdeu metade de sua cobertura vegetal nativa.
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Somente entre 1985 e 2020 foram desmatados 26,5 milhões de hectares.
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A maior perda aconteceu nos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso.
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Entre 2021 e 2022, o desmatamento do Cerrado saltou de 680 mil para 815 mil hectares, mantendo uma tendência de crescimento identificada para o período recente.
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O desequilíbrio ambiental, a perda de biodiversidade e a alteração na dinâmica dos rios e aquíferos inseridos no Cerrado são algumas das consequências do desmatamento desse bioma.
Causas do desmatamento do Cerrado
O desmatamento do Cerrado é um problema ambiental que tem promovido a destruição do segundo maior bioma brasileiro em ritmo acelerado. Antes ocupando uma área correspondente a 22% de toda a superfície do território do Brasil, sabe-se que o Cerrado já perdeu pelo menos a metade de toda a sua cobertura vegetal, e as causas que levaram a essa devastação estão atreladas à reestruturação produtiva do país que aconteceu a partir da segunda metade do século XX.
As inovações técnicas promovidas pela Revolução Verde e os incentivos governamentais para a ocupação de áreas no interior do Brasil durante a década de 1970 fizeram com que muitos produtores rurais, principalmente da região Sul e da região Sudeste, se deslocassem em direção aos estados da região Centro-Oeste, onde novas áreas destinadas ao plantio e à criação de animais foram abertas. Tinha início o processo conhecido como expansão da fronteira agropecuária do Brasil, que avançou em direção ao Cerrado.
Os monocultivos de soja, milho e algodão baseados no modelo produtivo do agronegócio e as pastagens rapidamente substituíram a paisagem natural do Cerrado em áreas onde, até então, predominava a agricultura de subsistência. Novas áreas agropecuárias foram abertas também nos estados da região Norte e da região Nordeste do país, com destaque para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que formam a região agrícola do Matopiba.
Portanto, o desmatamento do Cerrado brasileiro tem como principal causa a abertura de novas áreas para a atividade agropecuária. De acordo com o MapBiomas, 42% da área agrícola do Brasil estão situados no Cerrado, o que representa 23,4 milhões de hectares. Esse valor absoluto é maior até do que a área ocupada com a atividade agrícola na Amazônia (6 milhões de hectares).
Outra atividade econômica que contribui negativamente para o problema é o extrativismo (mineral e vegetal). Além disso, a ação antrópica de modo geral e a urbanização podem ser elencadas como causadoras do desmatamento desse bioma.
Desmatamento do Cerrado nos últimos 30 anos
O Cerrado perdeu uma área de 26,5 milhões de hectares entre os anos de 1985 e 2020, de acordo com os dados apurados pelo MapBiomas. As áreas destinadas ao cultivo agrícola aumentaram em mais de quatro vezes no Cerrado (464%) em um intervalo de 35 anos.
É preciso considerar, no entanto, que em 1985 o Cerrado já havia perdido uma parcela significativa de sua cobertura nativa, que era de aproximadamente 33%. Nas três décadas seguintes, quase 20% a mais foram perdidos, totalizando um desmatamento acumulado de mais de metade da área total do bioma.
A principal região onde ocorreu a remoção da vegetação nativa do Cerrado para a destinação de áreas à agropecuária foi no Matopiba, para onde se expandiu a fronteira agrícola durante as últimas décadas do século XX. Além disso, o levantamento do MapBiomas mostra também que as áreas plantadas com soja no Cerrado representavam 0,7% em 1985 e saltaram para aproximadamente 10% trinta anos mais tarde.|1|
Considerando os dados acumulados do projeto Prodes, do Inpe, a maior perda do Cerrado brasileiro a partir de 2001 aconteceu no estado do Tocantins, onde foram desmatados 48.293,33 km² de área. Na sequência estão Goiás, Maranhão, Mato Grosso e Minas Gerais, que, junto a Tocantins, somam uma parcela de 76,15% de toda a área desmatada do bioma.
Desmatamento do Cerrado na atualidade
A área desmatada no Cerrado aumentou em 20% no período entre 2021 e 2022, de acordo com informações levantadas pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado). A superfície descoberta saltou de 680 mil hectares em 2021 para 815.532 hectares no ano seguinte. O comparativo somente do mês de dezembro indicou que a área desmatada para esse intervalo de tempo praticamente dobrou de 2021 para 2022.
O estado mais atingido pelo recente aumento no desmatamento do Cerrado foi o Maranhão, com registros de desmatamento na região de expansão da fronteira agrícola no sul do estado, seguido por municípios do oeste da Bahia.
Esse crescimento também foi detectado pelo Prodes. As informações do Inpe mostram que após um período de queda e relativa estagnação, a retirada da cobertura vegetal do Cerrado voltou a subir a partir de 2019.
As principais causas para a retomada do desmatamento no Cerrado são as mesmas apontadas anteriormente, isto é, a constituição de novas áreas para a agricultura comercial e para a pecuária. Soma-se a isso a flexibilização das leis ambientais e menor índice de fiscalização dos biomas, que resultaram em um aumento da retirada da cobertura nativa também em outras áreas do país.
Veja também: Desmatamento na Caatinga — um problema ambiental associado ao processo de desertificação do Nordeste
Gráfico do desmatamento do Cerrado
O gráfico da imagem a seguir mostra como se deu a evolução anual do desmatamento do Cerrado nas últimas duas décadas. Como analisamos, é possível identificar um novo movimento crescente na área desmatada nos anos mais recentes. Os dados utilizados para a composição do gráfico são do Prodes – Inpe, atualizados em 14 de dezembro de 2022.
Consequências do desmatamento do Cerrado
Algumas das consequências do desmatamento do Cerrado são:
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Desequilíbrio ambiental, que afeta a fauna, a flora e as populações que vivem na área de cobertura desse bioma.
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Morte de animais e plantas, o que pode levar muitas espécies à extinção e provocar a perda da biodiversidade do Cerrado, que é a terceira maior do Brasil.
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Maior suscetibilidade dos solos à erosão, fragilizando a sua estrutura, e à lixiviação.
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Poluição dos solos e dos corpos hídricos (rios e aquíferos), o que se deve também ao aumento da atividade agropecuária.
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Poluição atmosférica pela menor retenção de carbono e pelas queimadas provocadas pela ação humana.
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Extinção de nascentes (ou cabeceiras) de rios e menor recarga dos aquíferos.
Notas
|1| REDAÇÃO. Cerrado brasileiro perde mais de 20% da vegetação nativa que tinha na década de 1980. Jornal da Globo, 13 set. 2022. Disponível aqui.
Crédito de imagem
[1] lourencolf / Shutterstock
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia