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O Modernismo no Brasil aconteceu por influência de tendências estéticas europeias que acarretaram uma nova percepção da arte no século XX. Influenciados pelas correntes antiacadêmicas das novas produções artísticas europeias e engajados na consolidação de uma nova consciência criativa brasileira — que não se limitasse a copiar as escolas da Europa, mas que fosse comprometida com o estabelecimento de uma arte verdadeiramente nacional —, os artistas, músicos e escritores modernistas revolucionaram aquilo que se entendia por arte até então.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o modernismo brasileiro
- 2 - Contexto histórico do modernismo no Brasil
- 3 - Características do Modernismo
- 4 - Modernismo na Europa
- 5 - Modernismo no Brasil
- 6 - Fases do modernismo brasileiro
- 7 - Principais autores e obras do modernismo brasileiro
Resumo sobre o modernismo brasileiro
O Modernismo brasileiro:
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surgiu na Europa, no início do século XX;
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reformulou os parâmetros da arte para adequar-se ao contexto histórico;
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teve nas vanguardas artísticas o auge da experimentação de formas e técnicas;
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iniciou-se, no Brasil, na década de 1920, com a Semana de Arte Moderna de 1922;
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possui três fases distintas no Brasil;
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abordou a construção de uma identidade nacional no Primeiro Modernismo;
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apresentou, no Segundo Modernismo, uma prosa realista e temas sociais;
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abarcou a prosa de aspecto reflexivo e existencial, além de uma poesia vanguardista no Terceiro Modernismo.
Contexto histórico do modernismo no Brasil
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Na Europa
Desde o final do século XVIII, as transformações promovidas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa modificaram a cultura, a sociedade e os modos de existência humana. O surgimento da produção industrial, que se intensificou no século XIX, transformou uma Europa agrária em berço de grandes metrópoles, e as revoluções burguesas, que aboliram o absolutismo, também estipularam as noções de cidadania e de direitos, emancipando os homens de súditos a indivíduos.
O que se entende por sociedade moderna é, portanto, a sociedade industrializada. Todas as características associadas à ideia de modernidade estão relacionadas ao conjunto de mudanças gestado pela industrialização. E esse meio de produção industrial implica mudanças que vão muito além das áreas da economia ou da tecnologia: é o surgimento de um modo de vida que compreende também transformações políticas, sociais e culturais. É passando pelas modificações abrangentes da industrialização que as sociedades tornaram-se modernas.
As descobertas científicas dos 1900, como a teoria da relatividade, de Albert Einstein, e as teorias da psicanálise, de Sigmund Freud, também alteraram significativamente a maneira como o ser humano compreende o Universo e a si mesmo. A invenção da fotografia e do cinema também é um fator histórico que contribuiu para que a arte fosse reinventada.
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No Brasil
Ainda majoritariamente agrário, começavam a esboçar-se no país os primeiros sinais de industrialização, principalmente na capital paulista. Proclamada em 1889, a República mostrava-se uma sucessão pouco democrática das oligarquias e privilégios coloniais, agora expressos na política do café com leite. Na qual oscilavam presidentes ora mineiros, ora paulistas, mantendo-se os interesses da federação alinhados ao da burguesia industrial e dos latifundiários cafeicultores e leiteiros de ambos os estados, em clara concentração do poder na região Sudeste do país.
O início do século XX, no Brasil, foi marcado pela chegada de um enorme número de imigrantes, principalmente italianos e japoneses, que substituíram o trabalho escravo na lavoura. Os negros brasileiros, sem direito ao trabalho assalariado, foram marginalizados, evidência de que a abolição não resolveu o racismo estrutural do país, tampouco transformou os negros em cidadãos.
Com a Primeira Guerra Mundial, houve dificuldade em importar produtos manufaturados, o que tornou necessário o desenvolvimento de um parque industrial para atender as necessidades do país.
Características do Modernismo
Podemos citar como características do movimento mordernista:
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experimentação de formas e técnicas;
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liberdade de criação;
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frequente engajamento social propondo reflexões sobre a vida humana e o progresso;
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interesse nas adaptações que o indivíduo sofre no mundo modificado, que se apresenta como um desafio à integridade das personagens nas obras;
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valorização do cotidiano enquanto material para produção de arte;
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uso de símbolos para representar as diversas camadas da realidade.
Leia também: Modernismo em Portugal: Presencismo
Modernismo na Europa
O Modernismo surge na Europa e suas raízes remontam à segunda metade do século XIX, na poesia de Charles Baudelaire e na pintura de Édouard Manet, com o chamado avant-garde — denominação comum a produções que envolvem as primeiras tentativas de superar a tradição artística consolidada e o status quo.
Nos primeiros anos do século XX, consolidava-se a chamada arte moderna, principalmente com as vanguardas artísticas, movimentos de experimentação e reinvenção estética, que propulsionaram uma nova concepção de produção da arte. Por meio do repúdio a todas as tradições e escolas anteriores, os artistas de vanguarda promoveram o uso de novas técnicas e materiais e aboliram as fronteiras entre os vários gêneros da arte.
Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo tinham diferentes procedimentos, mas o mesmo objetivo: o rompimento com o passado, a burocracia e a moralidade burguesa.
Modernismo no Brasil
Quando nasce o Modernismo, a sociedade brasileira ainda não era modernizada. Não havia grandes capitais cosmopolitas, como nos países europeus. Grande parte da população habitava ainda as zonas rurais, e a estrutura social embasava-se no patriarcalismo. O desejo do Modernismo no Brasil partiu justamente dessa necessidade de modernização.
O Modernismo tem início no Brasil a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, que aconteceu em São Paulo, no centenário da Independência. Influenciados pelos “ismos” europeus — cubismo, futurismo, dadaísmo etc. — e pelas novas demandas da urbanização crescente da capital paulista, principal centro industrial do país, um grupo de artistas promoveu diversos eventos congregando música, dança, poesia e exposições de artes plásticas, em busca da construção de uma nova linguagem.
A proposta modernista brasileira envolvia a consolidação de uma inteligência nacional livre dos academicismos, consciente de si e das mudanças do mundo transformado pela rapidez dos novos meios de transporte, pela produção em larga escala industrializada etc. Em um movimento de ruptura com toda a tradição anterior, o Modernismo brasileiro importou da Europa a postura de destruição dos antigos padrões artísticos, mas deu-lhe uma roupagem nacional e nacionalista — mas de um nacionalismo consciente, cujo interesse era principalmente desenvolver um pensamento autônomo, livre das escolas artísticas e intelectuais do Velho Mundo.
A arte moderna consolidava-se então no Brasil, reverberando novas produções nas décadas seguintes. Pode-se dividir o Modernismo brasileiro em três fases:
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Primeiro Modernismo (1922-1930);
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Segundo Modernismo (1930-1945) e
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Terceiro Modernismo (1945-1960).
Fases do modernismo brasileiro
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Primeiro Modernismo ou Geração de 20: a fase heroica (1922-1930)
Caracterizada pela fusão de influências das vanguardas europeias com elementos brasileiros, a primeira geração de modernistas tinha como objetivo a consolidação de uma cultura nacional. Nossos artistas estavam preocupados em desenvolver o papel da vanguarda em nosso país, que não era cosmopolita como os europeus.
Como no Romantismo, procuravam integrar a estética literária internacional com os problemas e a cultura nacionais, no entanto, diferente da velha escola do século XIX, a proposta não é um ufanismo exacerbado, mas um olhar consciente para o Brasil e a busca pela independência mental da nação.
A proposta da arte moderna nessa primeira fase era a libertação do olhar por meio da destruição dos velhos tabus da inteligência nacional, em busca de uma renovação cultural. Os ideais da liberdade e do nacionalismo crítico são características importantes das produções do período.
Contrapondo-se veementemente ao academicismo e à elitização da arte defendida pelo movimento parnasiano, a Geração de 20 retomou o folclore nacional e propôs uma poesia de versos livres, sintaxe rebelde e repleta de tons confessionais, que valoriza a linguagem coloquial e incorpora a fala do povo.
“Lirismo puro + Crítica + Palavra = Poesia. [...] A impulsão lírica é livre, independe de nós, independe de nossa inteligência.”
(Mario de Andrade, A escrava que não é Isaura)
Os primeiros modernistas fazem uso frequente da paródia e da ironia não sentimental, e não raro as produções do período são cômicas ou alegres. As técnicas do Cubismo e do Cubofuturismo também foram incorporadas e aparecem por meio de alomorfias geométricas, representação de múltiplas perspectivas do objeto em um único plano, colagens, metonímias, cortes e montagens cinematográficas.
Artistas de todas as áreas interessaram-se pelo primitivismo e por vivências pré-civilizatórias, como as dos indígenas, que representam ao mesmo tempo a nudez cultural e humana, em busca de novos caminhos para refazer o Brasil.
Os primitivistas, liderados por Oswald de Andrade, redigiram o chamado Manifesto Pau-Brasil, defendendo a autonomia da arte brasileira, que nada devia à arte europeia. Nesse sentido, a poesia nacional deveria ser natural, “caipira”, identitária. A radicalização do primitivismo do grupo Pau-Brasil culminou no Manifesto Antropofágico (ou Antropófago), que entendia que devemos mastigar todas as influências estrangeiras para que as incorporemos de maneira próspera. Na antropofagia, seríamos nós e, ao mesmo tempo, os outros.
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Segundo Modernismo ou Geração de 30: a consolidação do movimento (1930-1945)
A segunda fase modernista encontra-se numa encruzilhada entre o presente e o futuro. Já consolidada a ideia de uma cultura nacional e de uma estrutura modernista, a Geração de 30 não precisava ser tão combativa e voltou-se para os temas da crise contemporânea, como a existência do ser humano no mundo, a angústia inerente à condição humana, a vida cotidiana, a miséria agrária, a alienação das massas e a incompetência dos órgãos políticos.
É comum aos artistas desse período um espírito de contemporaneidade, absorvendo as teorias do existencialismo, da psicanálise e do marxismo. Cuidam essencialmente de problemas do tempo presente, direcionam o olhar para a compreensão do ser humano moderno em meio ao mundo modificado, desfigurado pelas guerras e desigualdades e em constante transformação.
A poesia da Geração de 30 mantém as invenções rítmicas, a paródia e o humor da geração anterior, bem como a oralidade, o verso livre e a valorização do cotidiano. No entanto, desvincula-se dos desvarios de 1920 e substitui-os por uma lírica mais reflexiva, fazendo uso da metalinguagem e de elementos da tradição simbolista, revisitando também as formas clássicas do soneto e do madrigal, sem que isso, contudo, representasse um retrocesso na empreitada modernista.
A retomada de formas também teve lugar na prosa, que, sob muitos aspectos, revisitou o romance realista do século XIX, dando-lhe uma nova roupagem. Em vez das visões deterministas e positivistas, a prosa realista da Geração de 30 entende a miséria, a desigualdade e a opressão como um sintoma das pouco equânimes relações sociais. É sobretudo este o tema elegido pela prosa: a realidade da sociedade brasileira contemporânea, seus problemas, disparidades e crises. São produzidos romances regionalistas, urbanos e intimistas, obras de engajamento político-social e que abordam as personagens pelo viés psicológico, trazendo à tona fluxos de memória e mergulhos na psique.
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Terceiro Modernismo ou Geração de 45: o Pós-Modernismo (1945-)
Nascida no contexto do final da II Guerra Mundial, dos destroços da bomba atômica, da criação da ONU e do fim do Estado Novo de Getúlio Vargas, a terceira fase modernista tende à metafísica e ao hermetismo. Diversas correntes literárias convivem ao mesmo tempo, e é nesse período que há um crescente desenvolvimento do teatro e de uma tradição de crítica literária brasileira.
Divagações místicas, infindáveis buscas metafísicas, a pergunta pela essência do ser e do mundo, e a angústia diária e existencial são temas frequentes da prosa do período. O mal-estar trazido pelos destroços da guerra e do desenvolvimento tecnológico utilizado de maneira destrutiva reflete-se na literatura, que reverbera questões — o que fazer? Qual é a essência humana diante de tantas falências da cultura e da civilização? Onde está Deus?
A poesia, por sua vez, incorporou uma retomada à métrica regular e ao trabalho com as rimas, ao contrário da proposta anárquica da primeira fase. Há um retorno à gramática tradicional e ao formalismo — mais trabalho intelectual, menos emoção e inspiração, reforçando as correções e trabalhos de reescrita. Foi também um momento de poesia de vanguarda, abrindo espaço para os movimentos do Concretismo (1956) e Neoconcretismo (1959).
Veja também: Tropicalismo — movimento de ruptura dos anos 1960
Principais autores e obras do modernismo brasileiro
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Primeiro Modernismo
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Mario de Andrade (1893-1945) - obras principais: Pauliceia desvairada, 1922 (poesia); A escrava que não é Isaura, 1925 (ensaio); Amar, verbo intransitivo, 1927 (romance); Macunaíma, 1928 (rapsódia); Lira paulistana, 1945 (poesia); Contos novos, 1947 (contos - publicação póstuma).
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Oswald de Andrade (1890-1954) - obras principais: Memórias sentimentais de João Miramar, 1924 (romance); Manifesto Pau-Brasil, 1925; Poesia Pau-Brasil, 1925; Manifesto Antropófago, 1928; Serafim Ponte Grande, 1933 (romance); O rei da vela, 1937 (teatro).
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Manuel Bandeira (1886-1968) - obras principais (poesia): A cinza das horas, 1917; Carnaval, 1919; O ritmo dissoluto, 1924; Libertinagem, 1930; Estrela da manhã, 1936; Lira dos cinquent’anos, 1940; Estrela da tarde, 1960; Estrela da vida inteira, 1966.
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Segundo Modernismo
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Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) - obras principais (poesia): Alguma poesia, 1930; Brejo das almas, 1934; O sentimento do mundo, 1940; José, 1942; A rosa do povo, 1945; Claro enigma, 1951; Fazendeiro do ar, 1954; A vida passada a limpo, 1959; Lição de coisas, 1962.
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Jorge de Lima (1893-1953) - obras principais (poesia): Tempo e eternidade, 1935; Invenção de Orfeu, 1952.
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Cecília Meireles (1901-1964) - obras principais (poesia): Viagem, 1939; Vaga música, 1942; Mar absoluto, 1945; Romanceiro da Inconfidência, 1953; Canções, 1956; Solombra, 1963; Ou isto ou aquilo, 1964 (infantil).
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Rachel de Queiroz (1910-2003) - obras principais (romance): O quinze, 1930; João Miguel, 1932; As três Marias, 1939.
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José Lins do Rego (1901-1957) - obras principais (romance): Menino de engenho, 1932; Doidinho, 1933; Bangué, 1934; O moleque Ricardo, 1935; Fogo morto, 1943.
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Jorge Amado (1912-2001) - obras principais (romance): Cacau, 1933; Jubiabá, 1935; Mar morto, 1936; Capitães de areia, 1936; Gabriela, cravo e canela (1958); Dona Flor e seus dois maridos, 1966; Tieta do agreste, 1977.
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Graciliano Ramos (1892-1953) - obras principais (romance): Caetés, 1933; São Bernardo, 1934; Angústia, 1936; Vidas secas, 1938; Memórias do cárcere, 1953.
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Érico Veríssimo (1905-1975) - obras principais (romance): Olhai os lírios do campo, 1938; O tempo e o vento: “I. O continente”, 1949, “II. O retrato”, 1951, “III. O arquipélago”, 1961; Incidente em Antares, 1971.
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Terceiro Modernismo
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Guimarães Rosa (1908-1967) - obras principais: Sagarana, 1946 (contos); Corpo de baile, 1956 (contos); Grande sertão: veredas, 1956 (romance); Primeiras estórias, 1962 (contos); Tutameia, 1967 (contos).
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Clarice Lispector (1920-1977) - obras principais: Perto do coração selvagem, 1943 (romance); O lustre, 1946 (romance); A cidade sitiada, 1949 (romance); Laços de família, 1960 (contos); A maçã no escuro, 1961 (romance); A paixão segundo G.H., 1964 (romance); Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, 1969 (romance); Água viva, 1973 (monólogo); A hora da estrela, 1977 (romance).
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João Cabral de Melo Neto (1920-1999) - obras principais (poesia): Pedra do sono, 1942; O engenheiro, 1945; Psicologia da composição, 1947; O cão sem plumas, 1950; O rio, 1954; Morte e vida severina, 1956; A educação pela pedra, 1966; Auto do frade, 1984; Agrestes, 1985.
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Por Luiza Brandino
Professora de Literatura