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Nacionalismo

O nacionalismo é um conceito que explica a valorização da nação e a defesa dos interesses nacionais. Constrói o senso de identidade nacional e de pertencimento dos indivíduos.

Pintura de Jean-Victor Schnetz que retrata o levante contra o rei francês Carlos X, em alusão ao nacionalismo.
Pintura de Jean-Victor Schnetz que retrata o levante contra o rei francês Carlos X, em alusão ao nacionalismo.
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O nacionalismo é a definição de um movimento ou uma ideologia política que discursa a favor dos interesses da nação, defendendo a soberania dela por meio de um Estado. Muito ligado à ideia de patriotismo, o nacionalismo luta, em alguns casos, pela autodeterminação nacional, isto é, o direito de um povo garantir sua autonomia por meio de uma nação.

O nacionalismo enquanto ideologia se estabeleceu com a Revolução Francesa, espalhando-se pela Europa e pelos outros continentes, incluindo a América. Trata-se de uma ideologia que, com frequência, se torna radicalizada, incorporando elementos como racismo e xenofobia em seu discurso.

Leia também: Origem dos termos direita e esquerda para designar posicionamento político

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o nacionalismo

  • O nacionalismo é uma ideologia ou movimento político que discursa em defesa dos interesses da nação.

  • Tem relação com o direito de autodeterminação dos povos.

  • Sua construção passa pela valorização de uma história, cultura, etnia e língua em comum que um povo pode ter.

  • Em situações extremas, o nacionalismo pode se tornar uma ideologia radicalizada.

  • No Brasil, regimes como o Estado Novo e a Ditadura Militar fizeram forte uso dele.

Videoaula sobre o nacionalismo

O que é e características do nacionalismo

O nacionalismo pode ser entendido como um movimento político que defende os interesses da nação, estabelecendo que um grupo (nação) tem a soberania sobre um território (Estado). Nesse sentido, ele pode se enquadrar como um movimento que busca ressaltar as qualidades históricas e culturais de um povo, exaltando esses valores, bem como pode ser definido como um movimento em que uma nação luta por sua autodeterminação.

Dentro desse conceito é comum que haja uma valorização excessiva com os símbolos nacionais, como uma bandeira ou um hino nacional, assim como a valorização de valores e tradições da cultura de um povo. O nacionalismo também procura traçar uma origem histórica em comum para a nação, associando mitos de origem às tradições nacionais.

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O nacionalismo procura construir o sentimento de identidade de um povo, despertando nos indivíduos a ideia de pertencimento por meio de diversos elementos, como o idioma, as tradições, a religião, a etnia, a história e demais fatores que formam a cultura de um povo. Com base nesses elementos, ele constrói a obediência e lealdade dos indivíduos em relação à nação, garantindo a coesão nacional.

Além disso, o nacionalismo se estabeleceu no processo de autodeterminação dos povos, isto é, o direito dos povos de se autodeterminarem enquanto nação, podendo exigir o direito à formação de um Estado nacional. Essa autodeterminação é parte importante do nacionalismo, pois expressa o desejo de que a soberania de um povo se converta em poder para controlar um território nacional, com fronteiras estabelecidas.

A formação do Estado nacional dentro da autodeterminação precisa fundamentalmente do nacionalismo, pois é ele que constrói a identidade nacional dos indivíduos, o sentimento de pertencimento, e garante coesão para que o Estado se estabeleça de maneira concreta.

Leia também: O que é o Estado?

Como se constrói o nacionalismo?

O nacionalismo é entendido como uma tradição inventada que, como mencionado, atua para construir a identidade nacional dos indivíduos que formam uma nação, garantindo coesão social e permitindo a formação de um governo que estruture e comande o Estado.

O nacionalismo, dessa forma, é resultado da utilização de diversos símbolos, como os símbolos nacionais (a bandeira e o hino nacional), é a criação de uma história em comum que liga os indivíduos por meio de um “laço histórico”. Apesar da criação de tradições ser um elemento forte do nacionalismo, a etnia pode ser fundamental na autodeterminação nacionalista.

É importante pontuar que a educação pode ser usada para construção do nacionalismo, uma vez que pode ser aplicada na doutrinação das massas. A propaganda e o uso da mídia também são fundamentais nisso.

História do nacionalismo

A historiografia aponta que o nacionalismo se estruturou a partir da Revolução Francesa, espalhando-se pelo continente europeu mas também influenciando outros continentes. No contexto revolucionário, o nacionalismo não era relacionado com a questão étnica e cultural, como se associou a partir do século XIX, e sim tinha relação com os interesses comuns.

Embora a questão cultural tivesse importância, o fundamental no contexto revolucionário eram os valores que uniam os cidadãos e que garantiam o bem comum. Nesse sentido, o que importava era a luta contra os privilégios e os interesses individuais que predominavam na sociedade absolutista, por exemplo.

Quadro “A Liberdade guiando o povo” em referência à definição de nacionalismo.
Quadro “A Liberdade guiando o povo”, símbolo da Revolução Francesa e uma forma de criar valores nacionalistas.

Essa luta pelo bem comum se materializou na luta contra o absolutismo, regime em que o poder se sustentava nas mãos do monarca, emanando diretamente dele sob a justificativa de que era essa a vontade de Deus. Com a Revolução Francesa e os ideais iluministas, o poder passa a emanar do povo, entidade soberana do Estado.

O nacionalismo surge, portanto, como a ideologia que sustenta e explica essa inversão do poder. O povo, isto é, a população de um território possui o poder enquanto comunidade política, e essa nação se forma porque existe uma unidade dentro dessa comunidade, pois há uma ligação histórica, uma identidade nacional e um desejo de se autodeterminar (conquistar autonomia).

A partir daí, o nacionalismo se desenvolveu e se desdobrou na luta dos povos por sua autodeterminação (outro princípio estabelecido durante a Revolução Francesa), sendo que os casos mais simbólicos na Europa, durante o século XIX, foram da Alemanha e Itália, países que se formaram nesse século por meio de um processo de unificação territorial.

O nacionalismo, no entanto, foi fundamental na luta de independência dos países da América (embora muitos deles ainda não tivessem uma identidade nacional devidamente formada), também manifestando-se na Ásia, na virada do século XIX para o XX, e ainda foi bastante forte no processo de descolonização das nações da África no século XX.

Leia também: A relação entre o nacionalismo e a ocorrência da Primeira Guerra Mundial

Riscos do nacionalismo

O nacionalismo é uma ideologia potencialmente etnocêntrica porque, em muitos casos, defende a ideia de uma superioridade étnica ou cultural. Isso acontece em contextos em que o nacionalismo passa por uma radicalização, dialogando diretamente com a xenofobia, o etnocentrismo e o racismo.

Nesses casos, o nacionalismo pode dar origem a grupos com ideologias extremistas que defendem ideias como a supremacia racial (bastante frequente em populações caucasianas), a pureza étnica e racial, entre outras. Grupos com ideologia nacionalista radicalizada, com alta frequência, se utilizam de mitos e deturpação da história para justificar seu preconceito.

Esse tipo de manifestação do nacionalismo se deu em grupos conservadores, sobretudo de extrema-direita, e o nazismo foi um dos exemplos mais claros e evidentes da história nesse sentido. O nazismo defendia um nacionalismo extremado que se baseava na ideia da superioridade racial dos germânicos.

Essa suposta superioridade racial e uma construção histórica mitificada eram usadas como justificativas para que os povos germânicos passassem ao controle da Alemanha Nazista por meio de um processo de expansão territorial para formação do que era entendido como “espaço vital” para os germânicos. O nazismo também defendia a ideia de purificação da raça, procurando livrar a Alemanha de outros grupos étnicos, como os judeus e os ciganos.

Soldados nazistas em ação discriminatória contra judeus, em referência aos riscos do nacionalismo.
Soldados nazistas colando uma placa em loja com os dizeres: “Alemães! Defendam-se! Não comprem de judeus”.[1]

Estado e nação

O nacionalismo se associa diretamente com os conceitos de Estado e nação. Segundo o dicionário Priberam, o termo nação pode ser definido como “conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua” e como “Estado que se governa por leis próprias”. Nesse sentido, a nação é o corpo que possui autonomia e governo próprio, além de ser entendida como um espaço onde convivem indivíduos com os mesmos costumes e língua.

Esse último sentido de nação se liga com a questão étnica, cultural e linguística, e isso pode ser entendido como um reflexo do nacionalismo, que fez essa aproximação. Entretanto, nem sempre foi assim.

O historiador Eric Hobsbawm trouxe evidências de que, até o final do século XIX, a palavra nação era usada apenas para referir-se ao agregado de habitantes de um local, sem nenhum tipo de relação com a cultura ou etnia.|1| O Estado, por sua vez, é a estrutura que administra uma nação, delimitando a proteção das fronteiras (e do território), estabelecimentos das leis etc.

Nacionalismo no Brasil

O Brasil tem e já teve diferentes movimentos nacionalistas, sendo que um dos mais recentes foi o nacionalismo bolsonarista, entendido pelos cientistas políticos como um movimento nacionalista conservador e de extrema-direita. Entretanto, esse não foi o único movimento desse tipo no Brasil.

Talvez o movimento mais famoso em nosso país tenha sido o de Getúlio Vargas, durante os anos em que ele esteve no poder, especialmente durante o Estado Novo. A Ditadura Militar também explorou o nacionalismo, principalmente como forma de mascarar os crimes cometidos pelos militares no poder e de garantir o apoio da população, mesmo sob um regime autoritário.

Nota

|1| HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. São Paulo: Paz e Terra, 2016. p. 27.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. São Paulo: Paz e Terra, 2016.

JAGUARIBE, Hélio. O nacionalismo na atualidade brasileira. Brasília: FUNAG, 2013.

FACHIN, Patrícia e AZEVEDO, Wagner Fernandes de. Nacionalismo: a ideologia política do século XXI. Entrevista especial com Tatiana Vargas – Maia. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/612132-nacionalismo-a-ideologia-politica-do-%20seculo-xxi-entrevista-especial-com-tatiana-vargas-maia.

SOBRINHO, Alexandre José Barbosa Lima. Nacionalismo. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/NACIONALISMO.pdf.

DICIONÁRIO PRIBERAM. Nação. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/na%C3%A7%C3%A3o.

MERELES, Carla. Nacionalismo: o que é? Disponível em: https://www.politize.com.br/nacionalismo/.

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Nacionalismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/nacionalismo.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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