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A hora da estrela é uma novela da escritora brasileira Clarice Lispector. É a obra mais famosa da autora e foi publicada pela primeira vez em 1977, no ano da morte de Clarice. Nesse livro, o narrador Rodrigo S. M. mostra a criação da personagem Macabéa, a pobre e resignada nordestina que protagoniza a história.
A datilógrafa Macabéa vive no Rio de Janeiro e namora com o ambicioso nordestino Olímpico. Ele abandona a moça para namorar com Glória, colega de trabalho de Macabéa. Após sair da casa da cartomante madama Carlota, a protagonista é atropelada e tem a sua hora da estrela, isto é, a morte.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo da obra A hora da estrela
- 2 - Videoaula sobre A hora da Estrela
- 3 - Análise da obra A hora da estrela
- 4 - Características da obra A hora da estrela
- 5 - Trechos de A hora da estrela
- 6 - Clarice Lispector
Resumo da obra A hora da estrela
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A novela A hora da estrela é narrada pelo narrador Rodrigo S. M.
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O narrador faz reflexões existenciais durante toda a obra.
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Antes de iniciar a narrativa, ele mostra o processo de criação de Macabéa.
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Macabéa, protagonista da história, é uma moça de origem nordestina.
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Ela trabalha como datilógrafa em uma empresa no Rio de Janeiro.
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A protagonista namora com Olímpico, um nordestino ambicioso.
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Ele a troca por Glória, colega de trabalho de Macabéa.
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Após consultar uma cartomante, Macabéa é atropelada e morre.
Videoaula sobre A hora da Estrela
Análise da obra A hora da estrela
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Enredo da obra A hora da estrela
A história começa com as palavras do narrador, ou seja, Rodrigo S. M. Ele se apresenta, faz profundas reflexões e mostra o processo de criação da protagonista Macabéa. Nesse ponto, o narrador abre mão de sua onisciência, afirma que “muito adivinhei ao seu respeito”, mas também diz que parece “conhecer nos menores detalhes essa nordestina”.
Segundo o narrador, “a datilógrafa não quer sair” dos seus ombros. Ele se refere a Macabéa e constata que “a pobreza é feia e promíscua”. Assim, ele vai construindo a personagem, sua história e personalidade. Por fim, inicia a narrativa da vida de Macabéa.
Ela trabalha, como datilógrafa, em uma firma de representante de roldanas. Porém, seu chefe anda insatisfeito, pois ela erra demais na datilografia e suja o papel. A pobre Macabéa não possui encantos. Afirma o narrador: “Só eu a vejo encantadora.” Então, fala do passado de Macabéa.
Ela nasceu raquítica no sertão nordestino e ficou órfã de pais quando tinha dois anos de idade. Em Maceió, passou a viver com a tia beata, que lhe dava cascudos na cabeça. Mais tarde, ela e a parenta se mudaram para a cidade do Rio de Janeiro. Após a morte da tia, Macabéa passou a morar num quarto compartilhado com outras quatro moças.
Em um mês de maio, ela encontra um rapaz, eles se olham “por entre a chuva” e se reconhecem como dois nordestinos. Olímpico convida Macabéa para passear. Nas próximas duas vezes em que se encontram, também está chovendo, o que leva o rapaz a afirmar: “Você também só sabe é mesmo chover!”.
Ele é operário, mas se diz “metalúrgico”. Olímpico é ambicioso, desonesto, se acha inteligente e quer ser deputado. Logo ele se mostra extremamente bruto e impaciente com a namorada, enquanto ela é sempre resignada. Até que ele conhece Glória, colega de trabalho da namorada, e abandona Macabéa.
A protagonista aceita a situação e um convite para um lanche na casa de Glória, que quer “compensar o roubo do namorado da outra”. No dia seguinte, uma segunda-feira, Macabéa passa mal e procura um médico barato indicado pela colega. Ele fica impressionado com sua magreza.
Macabéa revela que só come cachorro-quente e sanduíche de mortadela, só bebe café e refrigerante. É Glória que diz para Macabéa procurar a cartomante madama Carlota. A previsão é boa: a vida da nordestina vai mudar assim que ela sair da casa da cartomante. Ela vai conhecer um homem louro e estrangeiro.
Segundo a cartomante, ele vai lhe trazer “dinheiro grande” e também se casar com a nordestina. Porém, ao sair da casa da madama, quando está atravessando a rua, Macabéa é atropelada por um Mercedes amarelo. Em seguida, o narrador mostra os seus últimos momentos, até a protagonista ter a sua hora de estrela do cinema, ou seja, a morte.
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Personagens da obra A hora da estrela
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Rodrigo S. M.: narrador.
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Macabéa: protagonista.
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Raimundo Silveira: chefe de Macabéa.
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Glória: colega de trabalho da protagonista.
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Olímpico: namorado de Macabéa.
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Carlota: cartomante.
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Tempo da obra A hora da estrela
O narrador não especifica nem o tempo da narração nem o tempo da narrativa. Concluímos, portanto, que a história se passa na década de 1970, quando a obra foi escrita. Além disso, ele alterna entre os tempos cronológico (no relato dos fatos da vida de Macabéa) e psicológico (nas digressões do narrador).
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Espaço da obra A hora da estrela
A história se passa na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, também há referência ao Nordeste brasileiro, já que essa é a região de origem da protagonista.
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Narrador da obra A hora da estrela
O narrador de A hora da estrela tem nome e sobrenome: Rodrigo S. M. Ele não participa da história em si, mas se coloca como narrador-personagem e transita entre a observação e a onisciência.
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Características da obra A hora da estrela
A novela A hora da estrela não possui capítulos. No entanto, ela é dividida em blocos ou fragmentos de texto, que cumprem essa função. Publicado pela primeira vez em 1977, o mesmo ano da morte da autora, o livro faz parte da terceira geração modernista (ou pós-modernismo).
A prosa desse período é caracterizada pela presença do fluxo de consciência, que permite a análise psicológica dos personagens. A estrutura do texto não é convencional, e a narrativa, normalmente, é fragmentada. Também há o uso da metalinguagem. Já a temática costuma ser universal e, portanto, independe de características regionais.
Trechos de A hora da estrela
“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.”
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato.”
“Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino. Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?”
“É que ‘quem sou eu?’ provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.”
“Também esqueci de dizer que o registro que em breve vai ter que começar — pois já não aguento a pressão dos fatos — o registro que em breve vai ter que começar é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países. Aliás foi ele quem patrocinou o último terremoto em Guatemala. Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque — e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo — porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente.”
“(Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco desta moça. E ela tanto mais me incomoda quanto menos reclama. Estou com raiva. Uma cólera de derrubar copos e pratos e quebrar vidraças. Como me vingar? Ou melhor, como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem mais comida do que a moça. Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente.)”
“[...]. Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não sabia para quê, não se indagava.”
“[...]. Eu poderia resolver pelo caminho mais fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.”
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, na Ucrânia. Nesse ano, os pais vieram para o Brasil, trazendo suas três filhas. Em 1922, foram morar em Maceió, e Haia Lispector passou a se chamar Clarice Lispector. Mas ficou órfã de mãe em 1930. Cinco anos depois, ela e a família passaram a residir no Rio de Janeiro.
Em 1940, começou a trabalhar como redatora e repórter na Agência Nacional. Formou-se em Direito no ano de 1943. Nesse mesmo ano, publicou seu primeiro romance — Perto do coração selvagem. Era o início de uma carreira de sucesso como escritora, que só chegou ao fim em 9 de dezembro de 1977, com o falecimento da autora.
Créditos da imagem
[1] Editora Rocco (reprodução)
[2] Wikimedia Commons (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura