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Expressionismo

O expressionismo é um movimento artístico de vanguarda ocorrido no início do século XX. Seu principal representante é Edvard Munch, autor da famosa obra O grito.

O grito, tela de Edvard Munch, obra clássica do expressionismo.
O grito, tela de Edvard Munch.
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O expressionismo é um movimento artístico de vanguarda ocorrido no início do século XX, no contexto que envolveu a Primeira Guerra Mundial. Em franca oposição ao impressionismo, esse movimento é caracterizado pela irracionalidade e pelo individualismo, além de apresentar uma visão pessimista da realidade, de forma a realizar uma deturpação do real.

A estética expressionista pode ser identificada em variados tipos de expressão artística, porém, na pintura, ela foi mais marcante. Na Europa, seu principal representante é Edvard Munch, com sua famosa obra O grito. No Brasil, pintores modernistas, como Candido Portinari e Tarsila do Amaral, também produziram obras com influência expressionista. Já na literatura, nomes como Thomas Mann e Mário de Andrade escreveram obras com traços expressionistas.

Leia também: Dadaísmo – vanguarda que previa a ruptura total com a estrutura tradicional

Tópicos deste artigo

Contexto histórico e origem do expressionismo

O início do século XX foi marcado pelo uso de inovações tecnológicas, como o telefone, o telégrafo sem fio, o automóvel e o avião, que permitiam uma comunicação e um transporte mais rápidos. Um novo mundo, caracterizado pela tecnologia e pela velocidade, era apresentado à população. A teoria da relatividade, de Albert Einstein (1879-1955), e o surgimento da psicanálise, com Sigmund Freud (1856-1939), ampliavam a forma como até então eram entendidos o tempo, o espaço e a mente humana.

O estudo sobre o inconsciente, realizado por Sigmund Freud, influenciou os artistas expressionistas.
O estudo sobre o inconsciente, realizado por Sigmund Freud, influenciou os artistas expressionistas.

Portanto, era uma época de incertezas, caracterizada pelo questionamento de verdades até então consideradas inquestionáveis, o que sugeria que havia muito mais ainda a ser descoberto e que o novo século era um mar de possibilidades. Porém, além desse movimento científico e intelectual, havia também a tensão entre as grandes potências, que buscavam manter, cada uma, a sua hegemonia.

Nesse contexto, surgiram as vanguardas europeias, isto é, movimentos de que questionavam os valores acadêmicos até então defendidos na arte. Cada um desses movimentos pretendia trazer uma nova perspectiva artística, um jeito novo de se fazer arte, em oposição àquele considerado tradicional. Entre eles, estava o expressionismo, nascido na Alemanha, em 1910, mas que acabou sendo influenciado, também, pelos eventos da Primeira Guerra Mundial.

Como outros movimentos de vanguarda, o expressionismo também lançou um manifesto. O Manifesto Expressionista foi divulgado em 1918 e assinado por Kasimir Edschmid (1890-1966). Nesse documento, ele defende que a estética expressionista é resultado da experiência pessoal do artista associada à busca por algo novo. A originalidade da obra, então, está na percepção individual (portanto, única) da realidade.

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Características do expressionismo

O expressionismo é um movimento artístico que se opõe ao impressionismo e defende a perda do controle consciente no ato da criação para que a realidade seja transformada pela expressão (visão) particular do artista. Assim, apresenta estas características:

  • Focaliza o lado obscuro da humanidade;

  • Revela angústia existencial e medo;

  • É antipositivista, pois defende o irracionalismo;

  • Valoriza a intuição em vez da razão;

  • Expressa uma percepção individual da realidade;

  • Valoriza a subjetividade em vez da objetividade;

  • Tem caráter pessimista e trata de temas como a solidão;

  • Realiza a distorção da realidade;

  • Defende a liberdade individual;

  • Procura mostrar a miséria da espécie humana;

  • Valoriza o aspecto metafísico.

Leia também: Cubismo – vanguarda que valorizou as formas geométricas

Principais artistas do expressionismo

O expressionismo exerceu influência sobre vários autores, em diversas áreas artísticas, tais como:

Arquitetura:

  • Bruno Taut (1880-1938): Pavilhão de vidro (1914).

  • Erich Mendelsohn (1887-1953): Complexo Woga (1926-1931).

  • Fritz Höger (1877-1949): Chilehaus (1922-1924).

Escultura:

  • Ernst Barlach (1870-1938): Tenham piedade! (1919).

  • Wilhelm Lehmbruck (1881-1919): Mulher ajoelhada (1911).

Pintura:

  • Edvard Munch (1863-1944): O grito (1893)|1|.

  • Käthe Kollwitz (1867-1945): A viúva I (1921).

Literatura:

  • Thomas Mann (1875-1955): Doutor Fausto (1947).

  • James Joyce (1882-1941): Ulysses (1922).

  • Alfred Döblin (1878-1957): Berlin Alexanderplatz (1929).

  • Rainer Maria Rilke (1875-1926): Cartas a um jovem poeta (1929).

  • Georg Kaiser (1878-1945): Os burgueses de Calais (1913).

Cinema:

  • Robert Wiene (1873-1938): O gabinete do Dr. Caligari (1920).

  • Fritz Lang (1890-1976): Metrópolis (1927).

  • Friedrich Wilhelm Murnau (1888-1931): Nosferatu (1922).

Artes expressionistas

O movimento expressionista exerceu influência sobre várias formas de manifestação artística. No entanto, a sua relação com a pintura é a mais marcante e original, até pela sua oposição ao impressionismo.

A pintura O grito, obra mais famosa de Edvard Munch e principal representante do expressionismo, traz a angústia existencial estampada no rosto e no grito de um personagem disforme. Como plano de fundo, um pôr do sol em Oslo, na Noruega. É possível observar, na tela, os traços distorcidos e agressivos, com cores fortes e irreais, de maneira a expressar, emotivamente, a visão individual do artista em relação à realidade.

Por sua vez, a literatura expressionista aborda a decadência do mundo burguês e capitalista, aponta os desequilíbrios da realidade e a impotência do ser humano diante dela. Assim, recorre a imagens grotescas e distorcidas do real, a partir de uma perspectiva negativista.

Tendo isso em vista, em Doutor Fausto, de Thomas Mann, a partir da desculpa de fazer a biografia de um compositor, o narrador reflete sobre o artista inserido na (e em conflito com a) sociedade burguesa alemã em sua inevitável catástrofe ao vender a alma ao diabo (ao nazismo).

Já na sétima arte, O gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, é um exemplar do cinema mudo de terror, cujo cenário e fotografia privilegiam o disforme. Caligari é doutor em sonambulismo (hipnotismo). Sua chegada a um povoado alemão é acompanhada de assassinatos misteriosos e previsões do futuro. No final, a história acaba sendo caracterizada pela irracionalidade da loucura.

Pôster do filme O gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene.
Pôster do filme O gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene.

Expressionismo no Brasil

A pintura do modernismo brasileiro sofreu influência das vanguardas europeias. Dessa forma, é possível verificar traços desses movimentos em várias obras, incluindo, entre eles, o expressionismo. Como exemplo, podemos apontar:

  • Anita Malfatti (1889-1964): A ventania (1915-1917).

  • Candido Portinari (1903-1962): Retirantes (1944).

  • Di Cavalcanti (1897-1976): Amigos (1921).

  • Ismael Nery (1900-1934): Retrato de Murilo Mendes (1922).

  • Lasar Segall (1889-1957): Autorretrato I (1911).

  • Tarsila do Amaral (1886-1973): Retrato de Oswald de Andrade (1922).

  • Ernesto de Fiori (1884-1945): As amigas (s. d.).

  • Flávio de Carvalho (1899-1973): Retrato de Jorge Amado (1945).

As amigas, obra de Ernesto de Fiori.
As amigas, obra de Ernesto de Fiori.

Quanto à literatura brasileira, não existem, propriamente, obras expressionistas. Alguns críticos, no entanto, apontam características desse movimento em algumas obras da literatura modernista brasileira (e até mesmo da pré-modernista), cujos autores teriam sofrido influências do expressionismo. Como exemplo, é possível citar:

No poema “Queixas noturnas” (1906), do livro Eu, de Augusto dos Anjos, é possível perceber um tom mais agressivo quando o eu lírico fala da humanidade.|2| Como sabemos, o expressionismo caracteriza-se por essa agressividade, além da deformação do real, pois se configura na visão particular do autor da obra:

Queixas Noturnas

[...]
As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais,

Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!

A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,

A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!
[...]

Que dentro de minh’alma americana
Não mais palpite o coração — esta arca,

Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!
[...]

Em Angústia, de Graciliano Ramos, o protagonista é Luís da Silva, um homem próximo da meia-idade, funcionário público, solitário e melancólico. A angústia que dá título ao livro se refere ao estado de espírito desse personagem. O narrador-personagem tem sua visão particular, portanto, distorcida da realidade. É justamente esse mundo interior de Luís da Silva que dá à obra o seu caráter expressionista: “Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos, que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram.”

Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, conta a história de Fräulein Elza, uma alemã contratada supostamente para ser governanta em uma casa da elite burguesa paulistana do início do século XX, mas que, na verdade, é uma “professora de amor”, paga para tirar a virgindade e a inocência do jovem Carlos, um adolescente de quinze anos. Nessa obra, estão evidentes a decadência do mundo burguês e a visão distorcida que a personagem alemã tem em relação à sua profissão e também à cultura brasileira:

“Fräulein, pelos dias adiante, pensou duas vezes longamente no caso. Seriamente. [...]. A missão dela não consistia em dirigir um ato: ensinava o amor integral, tão desnaturado nos tempos de agora!... Amor calmo, etc. Com a frequência do ideal escrito pelo deus encarcerado, com certeza discípulo de Hans Sachs, Fräulein pouco a pouco mecanizara a sua concepção pobre do amor. Ali o homem-da-vida e o homem-do-sonho vinham se confundir na pregação duma verdade só e, bem mais engraçado ainda, na visão do mesmo quadro. Professora de amor... porém não nascera pra isso, sabia. As circunstâncias é que tinham feito dela a professora de amor, se adaptara. Nem discutia se era feliz, não percebia a própria infelicidade. Era, verbo ser.”

Veja também: Futurismo – vanguarda com forte tonalidade patriótica e tecnológica

Exercícios resolvidos sobre expressionismo

Questão 1

Imagem 1
Imagem 2
Imagem 3
Imagem 4
Imagem 5
Imagem 5 [1]

Todas essas imagens possuem traços do expressionismo, exceto:

a) Imagem 1

b) Imagem 2

c) Imagem 3

d) Imagem 4

e) Imagem 5

Resolução

Alternativa E.

A imagem 5 é uma pintura cubista, pois privilegia as formas geométricas. Já as quatro primeiras possuem marcas do expressionismo, isto é, traços mais densos e retorcidos, não objetivos, portanto mais associados à emoção.

Questão 2 - Aponte a alternativa que apresenta uma característica expressionista:

a) Nonsense.

b) Individualismo.

c) Geometrismo.

d) Mecanização.

e) Onirismo.

Resolução

Alternativa B.

O individualismo caracteriza o expressionismo, já que esse movimento defende que a arte é a visão particular, subjetiva e irracional do artista.

Crédito de imagem

[1] tichr / Shutterstock

Notas

|1| O ano de 1910 marcou, oficialmente, o surgimento do expressionismo. No entanto, O grito é uma das obras expressionistas mais famosas e, como se vê, foi produzida bem antes da formalização do movimento.

|2| Tese defendida por José Maria Pinto de Figueiredo, mestre em Estudos Literários.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Expressionismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/artes/expressionismo.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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