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Política do café com leite

A política do café com leite foi um arranjo político, do período da Primeira República, que uniu as oligarquias paulista e mineira para controlar as eleições presidenciais.

Quadro ilustrativo com o conceito da política do café com leite.
A política do café do leite foi uma das grandes características da Primeira República (ou República Velha).
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A política do café com leite foi um arranjo político entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais durante a Primeira República. Esse acordo uniu as duas oligarquias mais poderosas do Brasil com o objetivo de controlar as eleições presidenciais do Brasil, fazendo com que o governo federal permanecesse nas mãos de ambas.

Nessa política, paulistas e mineiros realizaram um esquema de revezamento, em que cada oligarquia indicaria um candidato na sua vez. Durante as eleições, ambas oligarquias usavam do voto de cabresto e da fraude eleitoral para garantir que seu esquema fosse vitorioso. Esse acordo político se encerrou com a Revolução de 1930, que também marcou o fim da Primeira República.

Leia também: Proclamação da República — fatos sobre o início do período republicano no Brasil

Tópicos deste artigo

Resumo sobre política do café com leite

  • A política do café com leite foi um arranjo político realizado entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais.
  • Esse acordo político esteve em vigor durante grande parte da Primeira República.
  • Seu objetivo principal era controlar as eleições presidenciais para garantir que as duas oligarquias se revezassem na presidência.
  • O voto de cabresto e as fraudes eleitorais eram fundamentais para que esse acordo funcionasse.
  • Encerrou-se quando o presidente Washington Luís quebrou o acordo, na eleição de 1930, motivando o início da Revolução de 1930.

O que foi a política do café com leite?

A política do café com leite foi um arranjo político estabelecido durante a Primeira República (1889-1930), sendo realizado pelas oligarquias dos estados de São Paulo e Minas Gerais, duas das mais poderosas nesse período. Essas oligarquias, juntas, detinham um grande poder econômico e um enorme colégio eleitoral.

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Esse acordo levou esse nome porque o estado de São Paulo era o maior produtor de café do Brasil, enquanto Minas Gerais era o maior produtor de leite. Nele, as duas oligarquias formaram uma aliança para determinar a escolha do presidente do Brasil. Ambas se uniram buscando revezar o candidato que ocuparia a presidência, ora um paulista, ora um mineiro.

As duas oligarquias se utilizam do seu poderio econômico, político e eleitoral para manipular as eleições, buscando mantê-las sob controle para que o candidato representante de uma das duas fosse eleito.

Mapa mental sobre a política do café com leite

Mapa mental sobre a política do café com leite, uma marca da República Velha. (Créditos: Gabriel Franco | Brasil Escola)
Mapa mental sobre a política do café com leite, uma marca da República Velha. (Créditos: Gabriel Franco | Brasil Escola)

Contexto histórico da política do café com leite

A política do café com leite foi fruto da Primeira República, período da história brasileira que ficou conhecido também como República Oligárquica justamente porque as oligarquias controlavam inteiramente a política brasileira. Esse período ficou marcado por arranjos políticos, como a política do café com leite, que tinha como objetivo acomodar a política brasileira.

Esses arranjos políticos mantinham as oligarquias em relativa harmonia, evitando que disputas muito violentas acontecessem pelo poderio político. Esses arranjos estiveram presentes durante toda a Primeira República (e não somente nela), período que se iniciou em 1889, quando aconteceu a Proclamação da República, evento que encerrou a monarquia no Brasil.

A república se consolidou nesse evento e teve suas bases acertadas por meio da Constituição de 1891, promulgada durante o governo do presidente Deodoro da Fonseca. Um dos políticos mais importantes desse período foi Campos Sales, presidente entre 1898 e 1902, ao ter estabelecido acordos políticos importantes.

Entre os acordos políticos importantes estavam a política dos governadores ou política dos estados, que definia um acordo entre o governo federal e as oligarquias estaduais para que os candidatos do governo fossem eleitos e para que as oligarquias estaduais tivessem passe livre para administrar seus estados.

Acordos como a política dos governadores e a própria política do café com leite foram uma forma para reduzir os conflitos entre as oligarquias, garantindo o mínimo de estabilidade política para o Brasil. O sistema político se organizou por meio de acordos que reforçavam a corrupção e a troca de favores entre as forças políticas dominantes.

Leia também: Clientelismo — a prática de troca de favores muito comum na República Velha

Quais os objetivos da política do café com leite?

A política do café com leite era um acordo que buscava, principalmente, controlar a política brasileira, garantindo o predomínio para as oligarquias paulista e mineira nas eleições presidenciais. Os objetivos desse acordo eram:

  • Controlar as eleições presidenciais: o grande objetivo da política do café com leite era o controle das eleições presidenciais, pois isso permitiu que ambas oligarquias estivessem no controle do governo federal.
  • Atender aos seus interesses econômicos: ocupar o governo federal era a principal forma para que essas oligarquias tivessem os seus interesses atendidos. Elas tinham sua riqueza, em grande parte, baseada na terra e agricultura. Sendo assim, estar no poder permitiria com que elas alcançassem a prosperidade dos seus negócios, como no caso do negócio cafeeiro, muito importante para a lado paulista.
  • Consolidar o poder: a política do café com leite era também um meio para garantir que ambas oligarquias se mantivessem de maneira definitiva no poder, evitando que outras conquistassem a presidência.

Como funcionava a política do café com leite?

Basicamente, a política do café com leite estabelecia um revezamento entre as duas oligarquias, determinando que ora paulistas indicariam um candidato a presidência, ora os mineiros o fariam. Como já pontuado, a união aliou a oligarquia mais rica do Brasil (São Paulo) com a oligarquia que controlava o maior colégio eleitoral (Minas Gerais).

Por meio dessa aliança, as duas oligarquias acionavam os seus coronéis durante as eleições para garantir que o candidato indicado por uma delas fosse eleito. O voto de cabresto e a manipulação das eleições eram fundamentais para que esse esquema funcionasse. Assim as duas oligarquias conseguiram eleger grande parte dos presidentes de toda a Primeira República.

Apesar da importância desse acordo político para a história da Primeira República, os historiadores têm questionado bastante até que ponto esse acordo político foi dominante nela. Isso porque, durante um tempo, se estabeleceu a ideia de que a política do café com leite foi dominante durante toda a Primeira República, mas sabemos que havia uma intensa disputa entre as oligarquias pelo poder e que a paulista e a mineira precisavam barganhar com outras regiões poderosas, como a gaúcha, a pernambucana, a baiana e a fluminense, para se sustentar no poder sem maiores conflitos.

A política do café com leite e o voto de cabresto

O voto de cabresto era essencial para que a política do café com leite se sustentasse. Isso porque, para garantir que o candidato das oligarquias paulista e mineira fosse eleito, era necessário manipular as eleições. Essa era uma marca da Primeira República — a fraude eleitoral —, e todas as eleições do período contaram com ela.

O voto de cabresto era o voto obtido por meio da intimidação do eleitor ou então pela compra do seu voto com base em alguma vantagem. Esse voto intimidatório era realizado pelos coronéis e seus jagunços (figuras fundamentais nos acordos mantidos pelas oligarquias), que contavam com o fato de que o voto não era secreto.

Por meio do voto de cabresto e de outras ações, como a manipulação de atas eleitorais, as eleições eram fraudadas para garantir os interesses das duas oligarquias que formavam a política do café com leite. Para saber mais sobre o voto de cabresto, clique aqui.

Fim da política do café com leite

Washington Luís, o presidente que pôs fim à política do café com leite.
O presidente Washington Luís quebrou o acordo com Minas Gerais ao indicar um candidato paulista para a eleição de 1930.

A política do café com leite se encerrou na disputa pela presidência que aconteceu na eleição de 1930. O então presidente do Brasil, Washington Luís, deveria indicar o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mas ele desrespeitou o acordo indicando outro paulista, Júlio Prestes.

A oligarquia mineira rompeu com São Paulo e juntou-se com a gaúcha para lançar Getúlio Vargas para a presidência. O candidato gaúcho foi derrotado por Júlio Prestes na eleição de 1930, e a chapa de Getúlio Vargas, chamada Aliança Liberal, começou a conspirar para tomar o poder à força.

Essa conspiração deu início a um levante armado chamado Revolução de 1930, que resultou na deposição do presidente Washington Luís e no impedimento da posse de Júlio Prestes. A Revolução de 1930 foi uma consequência da quebra do acordo na política do café com leite, colocando fim na aliança entre as oligarquias paulista e mineira bem como no período da Primeira República.

Leia também: Era Vargas — o período iniciado após o fim da República Velha

Consequências da política do café com leite

A política do café com leite foi um acordo político que foi parte importante da Primeira República, deixando algumas consequências, como:

  • Fortalecimento das oligarquias: esse acordo foi parte de um esquema entre duas oligarquias poderosas do país para se fortalecerem, ocupando o poder de maneira permanente.
  • Fraudes eleitorais: a política do café com leite foi um acordo que se baseou na fraude eleitoral para se sustentar.
  • Fortalecimento da troca de favores: esse acordo só fortaleceu a troca de favores como característica marcante da política brasileira.
  • Enfraquecimento das instituições: como a política se baseava em acordos e negociatas, as instituições (as poucas que existiam) não funcionavam da maneira correta, fazendo com que não houvesse uma democracia no país.

Exercícios sobre política do café com leite

Questão 01

Qual dos presidentes mencionados abaixo não foram eleitos com base na política do café com leite:

a) Washington Luís

b) Rodrigues Alves

c) Artur Bernardes

d) Hermes da Fonseca

e) Afonso Pena

Resposta: Letra D

A campanha eleitoral que marcou a eleição de Hermes da Fonseca foi uma das mais acirradas e tensas da Primeira República, marcando uma grande derrota para as oligarquias paulista e mineira, que viram o candidato gaúcho sair vencedor, enquanto Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Minas Gerais, foi derrotado.

Questão 02

O evento que marcou o fim da política do café com leite foi:

a) Revolta do Forte de Copacabana

b) Revolta Paulista de 1924

c) Revolução Constitucionalista de 1932

d) Revolução de 1930

e) Intentona Comunista

Resposta: Letra D

A Revolução de 1930 foi o evento que encerrou oficialmente a aliança entre as oligarquias mineira e paulista, marcando o fim da política do café com leite. Essa ruptura aconteceu porque São Paulo desrespeitou o acordo, indicando um paulista e não um mineiro para disputar a eleição presidencial de 1930.

Fontes

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.

LESSA, Renato. A invenção republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.

VISCARDI, Cláudia. O teatro das oligarquias: uma revisão da “política do café com leite”. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Política do café com leite"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/politica-cafe-com-leite.htm. Acesso em 30 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

(ENEM)

Até que ponto, a partir de posturas e interesses diversos, as oligarquias paulista e mineira dominaram a cena política nacional na Primeira República? A união de ambas foi um traço fundamental, mas que não conta toda a história do período. A união foi feita com a preponderância de uma ou de outra das duas frações. Com o tempo, surgiram as discussões e um grande desacerto final. (FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EdUSP, 2004 [adaptado]).

A imagem de um bem-sucedido acordo café com leite entre São Paulo e Minas, um acordo de alternância de presidência entre os dois estados, não passa de uma idealização de um processo muito mais caótico e cheio de conflitos. Profundas divergências políticas colocavam-nos em confronto por causa de diferentes graus de envolvimento no comércio exterior. (TOPIK, S. A presença do estado na economia política do Brasil de 1889 a 1930. Rio de Janeiro: Record, 1989 [adaptado]).

Para a caracterização do processo político durante a Primeira República, utiliza-se com frequência a expressão Política do Café com Leite. No entanto, os textos apresentam a seguinte ressalva sobre a sua utilização:

a) A riqueza gerada pelo café dava à oligarquia paulista a prerrogativa de indicar os candidatos à presidência, sem necessidade de alianças.

b) As divisões políticas internas de cada estado da federação invalidavam o uso do conceito de aliança entre estados para esse período.

c) As disputas políticas do período contradiziam a suposta estabilidade da aliança entre mineiros e paulistas.

d) A centralização do poder no executivo federal impedia a formação de uma aliança duradoura entre as oligarquias.

e) A diversificação da produção e a preocupação com o mercado interno unificavam os interesses das oligarquias.

Exercício 2

A oligarquia paulista na época da República Velha era um dos dois pontos de apoio da “política do café com leite”, por conta do grande potencial econômico movimentado pelos fazendeiros produtores de café. É correto dizer que a economia cafeeira paulista dessa época:

a) limitou-se a suprir o mercado interno brasileiro.

b) auxiliou o desenvolvimento industrial do Brasil.

c) não sofreu nenhum impacto com a Crise de 1929.

d) sofreu intensa rejeição por parte do presidente Washington Luís.

e) não tinha grande importância do ponto de vista político.

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