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Cecília Meireles, poetisa brasileira, nasceu em 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro. Órfã de pai e mãe, foi criada pela avó materna. Em 1917, começou a trabalhar como professora primária. De 1936 a 1938, foi professora da Universidade do Distrito Federal. Da Academia Brasileira de Letras, recebeu o Prêmio Olavo Bilac, em 1938, e o Prêmio Machado de Assis, postumamente, em 1965.
Assim, a autora de Romanceiro da Inconfidência, falecida em 9 de novembro de 1964, fez parte da segunda geração do modernismo brasileiro, com livros marcados pela melancolia, sensorialidade e reflexão sobre o mundo contemporâneo, obras que trabalham temas como o amor, a solidão, o tempo, a eternidade, a saudade, o sofrimento, a religião e a morte.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Biografia de Cecília Meireles
- 2 - Características literárias de Cecília Meireles
- 3 - Obras de Cecília Meireles
- 4 - Poemas de Cecília Meireles
- 5 - Frases de Cecília Meireles
Biografia de Cecília Meireles
Cecília Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro. Não conheceu seu pai, que morreu antes de a filha nascer. Além disso, ficou órfã de mãe quando tinha dois anos de idade. Assim, foi criada pela avó materna. Em 1917, formou-se na Escola Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, quando iniciou o magistério como professora primária, além de estudar canto e violino no Conservatório Nacional de Música.
Seu primeiro livro — Espectros — foi escrito quando a poetisa tinha 16 anos de idade e publicado em 1919. Três anos depois, ela se casou com o artista plástico Fernando Correia Dias (1892-1935), com quem teve três filhas. Porém, o casal acabou passando por muitas dificuldades financeiras. Assim, além de seu trabalho como professora, a escritora escreveu artigos sobre educação para o Diário de Notícias, de 1930 a 1933.
A aproximação da autora com o movimento modernista ocorreu em 1927, por meio da revista católica e neossimbolista Festa. Já em 1934, Cecília criou a primeira biblioteca infantil do país, no Rio de Janeiro. Nesse ano, viajou com o marido para Portugal para dar palestras em universidades. No ano seguinte, como resultado da depressão, seu marido se suicidou. A partir daí, as dificuldades financeiras aumentaram. De 1936 a 1938, a escritora trabalhou como professora de Literatura Luso-Brasileira e também de Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal.
Em 1940, a poetisa casou-se com o médico Heitor Grilo, ano em que o casal viajou para os Estados Unidos, onde Cecília Meireles deu um curso de Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas, em Austin. Em seguida, participou de conferências sobre literatura, folclore e educação no México. No ano seguinte, além de escrever para A Manhã, dirigiu a revista Travel in Brazil, do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Mais tarde, em 1944, escreveu para a Folha Carioca e o Correio Paulistano.
A escritora aposentou-se como diretora de escola em 1951. Dois anos depois, foi convidada por Nehru (1889-1964), o primeiro-ministro da Índia, para fazer parte de um simpósio sobre a obra de Gandhi (1869-1948). Nesse mesmo ano, Cecília Meireles também escreveu para O Estado de S. Paulo. Já em 1958, foi convidada para participar de conferências em Israel. Em 1961, escreveu crônicas para o programa Quadrante, da Rádio Ministério da Educação e Cultura, e também para o programa Vozes da Cidade, da Rádio Roquette-Pinto, em 1963, um ano antes de morrer, em 9 de novembro de 1964.
A escritora Cecília Meireles recebeu os seguintes prêmios e homenagens:
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Medalha de ouro (1913) — das mãos de Olavo Bilac (1865-1918), poeta e inspetor escolar do Distrito Federal, pela conclusão, com distinção, do curso médio na Escola Estácio de Sá;
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Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1938);
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Grau de Oficial da Ordem do Mérito (1952) — Chile;
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Título de doutora honoris causa pela Universidade de Delhi (1954) — Índia;
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Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (1965) — póstumo.
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Características literárias de Cecília Meireles
Cecília Meireles é uma poetisa da segunda fase do modernismo brasileiro. Suas obras, portanto, apresentam as seguintes características:
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crise existencial;
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conflito espiritual;
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temática sociopolítica;
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reflexão sobre o mundo contemporâneo;
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resgate da poesia clássica;
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liberdade formal, com o uso de versos:
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regulares: com métrica e rima;
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brancos: com métrica e sem rima; e
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livres: sem rima e sem métrica.
Além disso, é recorrente nas obras da autora a melancolia, a fuga no sonho, o uso de sinestesia, a consciência da efemeridade da vida, da fugacidade do tempo, além de temáticas como o amor, a solidão, o tempo, a eternidade, a saudade, o sofrimento, a religião e a morte.
Obras de Cecília Meireles
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Espectros (1919)
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Criança, meu amor (1923)
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Nunca mais (1923)
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Poema dos poemas (1923)
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Baladas para el-rei (1925)
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O espírito vitorioso (1929)
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Saudação à menina de Portugal (1930)
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Batuque, samba e macumba (1933)
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A festa das letras (1937)
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Viagem (1939)
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Olhinhos de gato (1940)
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Vaga música (1942)
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Mar absoluto (1945)
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Rute e Alberto (1945)
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Rui: pequena história de uma grande vida (1948)
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Retrato natural (1949)
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Problemas de literatura infantil (1950)
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Amor em Leonoreta (1952)
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Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952)
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Romanceiro da Inconfidência (1953)
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Poemas escritos na Índia (1953)
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Pequeno oratório de Santa Clara (1955)
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Pistoia, cemitério militar brasileiro (1955)
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Panorama folclórico de Açores (1955)
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Canções (1956)
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Giroflê, giroflá (1956).
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Romance de Santa Cecília (1957).
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A rosa (1957).
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Metal rosicler (1960)
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Poemas de Israel (1963)
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Solombra (1963)
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Ou isto ou aquilo (1964)
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Escolha o seu sonho (1964)
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Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam (1965)
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O menino atrasado (1966)
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Poemas italianos (1968)
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Flor de poemas (1972)
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Elegias (1974)
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Flores e canções (1979)
Romanceiro da Inconfidência é considerada a principal obra da autora e se configura em um longo poema narrativo e histórico, pois fala da Inconfidência Mineira e seus personagens, além de mostrar fatos e personagens precedentes. O poema é dividido em 85 romances, escritos em versos regulares, isto é, com metrificação e rimas.
No “Romance VII ou Do negro nas catas,” por exemplo, com versos em redondilha maior (sete sílabas poéticas), o narrador fala sobre a vida do negro escravo em Minas Gerais.
Já se ouve cantar o negro,
mas inda vem longe o dia.
Será pela estrela-d’alva,
com seus raios de alegria?
Será por algum diamante
a arder, na aurora tão fria?
[...]
Já se ouve cantar o negro.
Por onde se encontrarão
essas estrelas sem jaça
que livram da escravidão,
pedras que, melhor que os homens,
trazem luz no coração?
Já se ouve cantar o negro.
Chora neblina, a alvorada.
Pedra miúda não vale:
liberdade é pedra grada...
(A terra toda mexida,
a água toda revirada...
Deus do céu, como é possível
penar tanto e não ter nada!)
No “Romance XIV ou Da Chica da Silva”, com versos em redondilha menor (cinco sílabas poéticas), o narrador apresenta Chica da Silva (1732-1796) — personagem histórica de Diamantina (Minas Gerais) —, uma ex-escrava com poder econômico incomum para pessoas negras da época.
Que andor se atavia
naquela varanda?
É a Chica da Silva:
é a Chica-que-manda!
Cara cor da noite,
olhos cor de estrela.
Vem gente de longe
para conhecê-la.
[...]
Escravas, mordomos
seguem, como um rio,
a dona do dono
do Serro do Frio.
[...]
Contemplai, branquinhas,
na sua varanda,
a Chica da Silva,
a Chica-que-manda!
(Coisa igual nunca se viu.
Dom João Quinto, rei famoso,
não teve mulher assim!)
E, por fim, no “Romance LX ou Do caminho da forca”, com versos em redondilha maior, o narrador mostra o herói Tiradentes (1746-1792) a caminho da sua condenação à morte:
Os militares, o clero,
os meirinhos, os fidalgos
que o conheciam das ruas,
das igrejas e do teatro,
das lojas dos mercadores
e até da sala do Paço;
e as donas mais as donzelas
que nunca o tinham mirado,
os meninos e os ciganos,
as mulatas e os escravos,
os cirurgiões e algebristas,
leprosos e encarangados,
e aqueles que foram doentes
e que ele havia curado
— agora estão vendo ao longe,
de longe escutando o passo
do Alferes que vai à forca,
levando ao peito o baraço,
levando no pensamento
caras, palavras e fatos:
as promessas, as mentiras,
línguas vis, amigos falsos,
coronéis, contrabandistas,
ermitões e potentados,
estalagens, vozes, sombras,
adeuses, rios, cavalos...
[...]
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Poemas de Cecília Meireles
A seguir, vamos ler dois poemas de Cecília Meireles. O primeiro é “Retrato”, do livro Viagem. Nesse poema, o eu lírico faz um autorretrato, em que demonstra as mudanças que sofreu no decorrer do tempo, pois seu rosto se tornou “calmo”, “triste” e “magro”, seus olhos ficaram “vazios” e seu sorriso ou voz, amargo. Além disso, suas mãos não têm mais força, e o eu lírico reprime os próprios sentimentos:
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Já no poema “Encomenda”, do livro Vaga música, o eu lírico demonstra seu desejo de eternizar um momento. Para isso, ele encomenda uma fotografia, na qual ele está rindo, usa um vestido de festa, e seu rosto está iluminado e com “ar de sabedoria”. Em companhia do eu poético, será eternizada uma cadeira vazia, que pode sugerir a ausência de alguém:
Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
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Frases de Cecília Meireles
Vamos ler, a seguir, algumas frases da poetisa Cecília Meireles, retiradas de entrevista concedida a Pedro Bloch (1914-2004), em 1964:
“Meu vício é gostar de gente.”
“Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.”
“Olhando para trás me sinto uma criança extremamente poética.”
“Tenho muito medo da literatura que é só literatura e que não tenta comunicar.”
“Vivo constantemente com fome de acertar.”
“Cultura, para mim, é emoção sempre nova.”
“Poesia se pode criar até numa viagem de bonde.”
“No inventar, há uma certa dose de vaidade.”
“O que me fascina é a palavra que descubro.”
“Acho que cada ser humano é sagrado.”
“Sou amiga até dos mortos.”
“Tenho pena de ver uma palavra que morre.”
“Viagem é alongamento de horizonte humano.”
“Não estudo idiomas para falar, mas para melhor penetrar a alma dos povos.”
“A passagem do mundo mágico para o mundo lógico me encanta.”
“Tenho muita pena dos poemas que não escrevo.”
Créditos das imagens
|1| Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
|2| Editora L&PM / Reprodução