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A terceira fase do modernismo brasileiro ou terceira geração modernista é como ficou conhecido o período da literatura nacional que vai de 1945 até os anos de 1970. As obras dessa fase são caracterizadas pelo seu caráter experimental, além da crítica sociopolítica e da metalinguagem. Elas estão inseridas no contexto da Guerra Fria, conflito que acabou estimulando o consumismo capitalista.
Veja também: Primeira fase do modernismo brasileiro — a fase modernista da destruição
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a terceira fase do modernismo
- 2 - Videoaula sobre a terceira fase do modernismo
- 3 - Características da terceira geração modernista
- 4 - Contexto histórico da terceira fase do modernismo brasileiro
- 5 - Autores da terceira geração modernista
- 6 - Obras da terceira fase do modernismo brasileiro
- 7 - Exercícios resolvidos sobre a terceira fase do modernismo brasileiro
Resumo sobre a terceira fase do modernismo
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A terceira fase do modernismo brasileiro durou de 1945 até a década de 1970.
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A poesia da terceira geração é marcada pelo seu caráter estrutural e experimental.
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A prosa pós-moderna possui fragmentação, fluxo de consciência e metalinguagem.
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Os autores da terceira fase modernista viveram no contexto da Guerra Fria após o fim da Segunda Guerra Mundial, e houve desenvolvimento econômico e aumento do consumo.
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A terceira geração modernista conta com poetas como João Cabral de Melo Neto e Haroldo de Campos.
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A prosa da terceira fase possui autores como Clarice Lispector e João Guimarães Rosa.
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Obras como Morte e vida severina, A hora da estrela e Grande sertão: veredas são destaques na produção literária da terceira fase do modernismo brasileiro.
Videoaula sobre a terceira fase do modernismo
Características da terceira geração modernista
A terceira fase do modernismo brasileiro, também conhecida como pós-modernismo, teve início em 1945 e se encerrou na década de 1970, dando espaço para a literatura contemporânea.
→ Características da poesia de 1945
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valorização da estrutura do poema;
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crítica sociopolítica;
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texto engajado;
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caráter realista;
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linguagem objetiva;
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uso de palavras do cotidiano;
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antissentimentalismo;
→ Características do concretismo de 1956
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poesia de caráter experimental;
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valorização do espaço da folha de papel;
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aspecto verbivocovisual — palavra, som e imagem.
→ Características do neoconcretismo de 1959
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maior interação com o leitor;
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poema não objeto — só existe na interação;
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obras com formas geométricas, dobras ou recortes.
→ Características da poesia práxis de 1962
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supervalorização da palavra;
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valorização do ritmo e do verso;
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presença do aspecto social;
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multivocidade ou plurissignificação;
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oposição ao concretismo (anticoncretismo).
→ Características do poema-processo de 1967
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caráter antidiscursivo — uso de letras ou palavras não são essenciais;
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utilização de signos gráficos — figuras ou perfurações.
→ Características da prosa pós-moderna
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fluxo de consciência;
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narrativa fragmentada;
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temas universais;
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metalinguagem;
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linguagem experimental;
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estrutura textual não convencional.
Contexto histórico da terceira fase do modernismo brasileiro
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a ameaça de uma guerra nuclear passou a pairar sobre o mundo inteiro. Assim, teve início a Guerra Fria, que dividiu o mundo em países capitalistas e socialistas, representados por duas grandes potências inimigas: Estados Unidos e União Soviética.
No Brasil:
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Getúlio Vargas (1882–1954) cometeu suicídio em 1954.
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Juscelino Kubitschek (1902–1976), em 1956, assumiu a presidência do país e decidiu construir Brasília, que seria a nova capital brasileira. Seu governo se centrou no desenvolvimento econômico.
No campo cultural, brasileiras e brasileiros idolatravam as estrelas do rádio. Além disso, a televisão chegou ao Brasil em 1950. O país também produzia cinema por meio de duas grandes produtoras: Atlântida e Vera Cruz. Ademais, os filmes de Hollywood já exerciam grande influência em todo o mundo.
Todo esse contexto propiciou o crescimento do consumismo, estimulado pelos veículos de comunicação. O materialismo e o individualismo começaram a fazer parte da cultura nacional. Daí a produção, na poesia, de uma arte mais material ou objetificada. Assim também se justifica, tanto na prosa como na poesia, a busca de interação com o leitor e a leitora.
No entanto, o caráter experimental das obras literárias não era uma característica de um produto cultural facilmente consumível. A partir da década de 1950, a valorização do produto de entretenimento começou a se fortalecer. Nesse sentido, as obras da terceira geração acabaram configurando uma forma de resistência ao produto cultural descartável.
Leia também: Segunda fase do modernismo brasileiro — a fase modernista da reconstrução
Autores da terceira geração modernista
→ Poetas da terceira geração modernista
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João Cabral de Melo Neto (1920–1999);
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Ferreira Gullar (1930–2016);
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Hilda Hilst (1930–2004);
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Décio Pignatari (1927–2012);
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Haroldo de Campos (1929–2003);
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Augusto de Campos (1931);
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Mário Chamie (1933–2011);
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Wlademir Dias-Pino (1927–2018).
→ Prosadores da terceira geração modernista
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João Guimarães Rosa (1908–1967);
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Clarice Lispector (1920–1977);
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José J. Veiga (1915–1999);
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Hilda Hilst (1930–2004);
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Lygia Fagundes Telles (1923);
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Murilo Rubião (1916–1991).
Obras da terceira fase do modernismo brasileiro
→ Poesia da terceira fase do Modernismo brasileiro
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Morte e vida severina (1955), de João Cabral de Melo Neto;
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A ave (1956), de Wlademir Dias-Pino;
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Lavra lavra (1962), de Mário Chamie;
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Linguaviagem (1967), de Augusto de Campos;
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Exercício findo (1968), de Décio Pignatari;
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Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974), de Hilda Hilst;
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Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar;
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Galáxias (1984), de Haroldo de Campos.
→ Prosa da terceira fase do modernismo brasileiro
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Ciranda de pedra (1954), de Lygia Fagundes Telles;
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Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa;
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A hora dos ruminantes (1966), de José J. Veiga;
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Fluxo-floema (1970), de Hilda Hilst;
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O pirotécnico Zacarias (1974), de Murilo Rubião;
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A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector.
Exercícios resolvidos sobre a terceira fase do modernismo brasileiro
Questão 1
(Enem 2016)
Antiode
Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude — em
disfarçados urinóis).
Flor é a palavra
flor; verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
Flor é o salto
da ave para o voo:
o salto fora do sono
quando teu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
A) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
B) um urinol, uma referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
C) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
D) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
E) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.
Resolução:
Alternativa A
A palavra “flor” é recriada poeticamente ao ser comparada, por exemplo, ao “salto da ave para o voo” ou a uma “explosão posta a funcionar”.
Questão 2
(Enem 2013) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
A) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
B) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
C) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
D) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
E) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
Resolução:
Alternativa C
O narrador de Clarice Lispector realiza reflexões existenciais (“Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever”) e metalinguísticas (“Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido”).
Crédito de imagem
[1] Editora Rocco (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura