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Adolf Hitler

Adolf Hitler foi uma das personalidades mais estudadas do século XX. Ficou conhecido por ter sido o líder do nazismo e um dos piores ditadores da história. Cometeu suicídio em 1945.

Adolf Hitler
Adolf Hitler foi o líder do nazismo e o responsável por conduzir a Alemanha à Segunda Guerra Mundial.
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Adolf Hitler foi o líder de um dos piores regimes totalitários existentes — o nazismo — e um dos que fundamentaram um dos maiores genocídios da história da humanidade: o Holocausto. Hitler, que era austríaco, lutou pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial e foi ascendendo no cenário político alemão, por meio de seu discurso radical, que se voltava para certos grupos da sociedade alemã, como os judeus, os social-democratas e os comunistas. Assumiu o poder em 1933 e conduziu a Alemanha para a Segunda Guerra Mundial.

Acesse também: Josef Stalin — o ditador que esteve à frente da União Soviética e se tornou adversário de Hitler

Tópicos deste artigo

Videoaula: Quem foi Adolf Hitler?

 

Nascimento e juventude de Hitler

Hitler era austríaco e nasceu em uma cidade do interior do país chamada Braunau am Inn, em 20 de abril de 1889. Os pais de Adolf Hitler chamavam-se Alois Hitler e Klara Pölzl, e ele foi o quarto filho desse casal (o primeiro a sobreviver em longo prazo). Os filhos de Alois e Klara que nasceram antes de Hitler e faleceram foram Gustav, Otto e Ida.

O pai de Hitler, anteriormente chamado Alois Schicklgruber (mudou seu nome na década de 1870), trabalhava como inspetor em um posto alfandegário de Braunau am Inn e, por isso, Hitler cresceu em um ambiente familiar de classe média e de condição financeira saudável. A boa condição financeira, porém, não fazia que a família de Hitler tivesse bom convívio, sobretudo pelo humor explosivo de seu pai. A relação de Hitler com sua mãe, por sua vez, era o inverso e bastante amorosa.

Os pais de Hitler morreram enquanto o futuro ditador alemão ainda era apenas um adolescente. Seu pai, Alois, faleceu, em 3 de janeiro de 1903, de um colapso enquanto estava tomando vinho. Acredita-se que ele tenha morrido de derrame pleural (acúmulo de líquido no interior do pulmão). Sua mãe, Klara, acabou falecendo de câncer em 21 de dezembro de 1907.

A morte de seu pai colocou fim a um grande problema para Hitler: sua carreira. O pai de Hitler queria que seu filho seguisse a carreira do funcionalismo público e tornasse-se funcionário da alfândega assim como ele havia sido. Hitler, no entanto, tinha outro desejo para sua vida e, depois que sua mãe morreu, mudou-se para Viena.

O historiador Ian Kershaw fala que, após a morte de sua mãe, Hitler tinha economias que conseguiriam sustentá-lo durante um ano em Viena|1|. Nessa cidade, ele tentou ingressar na Academia de Belas Artes, mas fracassou por duas vezes. Também tentou tornar-se arquiteto, mas não teve sucesso.

Em Viena, viveu como um desocupado, não fazendo questão de conseguir um emprego para sobreviver. Sua renda vinha inteiramente da pensão deixada por sua mãe e de um empréstimo que adquiriu de sua tia. Nisso, o ambiente político agitado de Viena teve papel crucial na moldagem dos preconceitos de Hitler, como sentencia Ian Kershaw|2|.

O forte antissemitismo de Hitler, por exemplo, começou a ser construído durante os anos em que morou em Viena, lá ele teve contato com publicações racistas e antissemitas. A situação da Áustria nesse sentido não era diferente da Alemanha, e em ambos locais o antissemitismo circulava nos debates políticos desde o século XIX.

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Hitler na Primeira Guerra Mundial

Em 16 de maio de 1913, Hitler teve acesso à herança que seu pai, falecido em 1903, deixara para ele. Ao todo, ele recebeu a quantia de 819 coroas e, uma vez na posse desse dinheiro, decidiu mudar-se para a cidade de Munique. Aos conhecidos ele justificou sua ida à Baviera para ingressar na Academia de Artes de Munique.

Os reais fatores de Hitler mudar-se para a Alemanha eram: primeiro, ele detestava a Áustria, e, segundo, estava fugindo do serviço militar obrigatório austríaco. Uma vez estabelecido em Munique, Hitler continuou levando a mesma rotina de desocupado que tinha em Viena. No entanto, sua vida mudou drasticamente quando estourou a Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Com a guerra, Hitler, “carregado de sentimento patriótico”, alistou-se no exército alemão, mesmo não podendo fazê-lo. Pelo exército da Alemanha foi convocado, em 16 de agosto de 1914, e ingressou no Segundo Batalhão Reserva do Segundo Regimento de Infantaria, e depois foi transferido para o 16º Regimento de Reserva de Infantaria da Baviera.

No exército chegou a ser apenas um cabo e desempenhou papel como mensageiro. Sua função era levar as mensagens do posto de comando para os comandantes no front de batalha. A experiência na guerra também moldou parte das visões radicais do austríaco, e, depois que os alemães foram derrotados, Hitler envolveu-se com movimentos de extrema-direita.

Quando a Alemanha rendeu-se, em 1918, Hitler estava internado na enfermaria em consequência de um ataque de gás mostarda. Ele nunca aceitou a derrota alemã e, daí em diante, abraçou teorias conspiratórias acerca dela. A mais conhecida delas era a da “punhalada nas costas”, que falava de uma conspiração de socialistas e judeus responsável por sabotar a Alemanha na guerra.

Durante esse conflito mundial, Hitler recebeu duas condecorações, uma das quais foi a Cruz de Ferro, por ter demonstrado bravura na entrega de uma mensagem importante. Essa condecoração de Hitler foi uma recomendação de seu oficial, ironicamente, um judeu, chamado Hugo Gutmann. 

Acesse também: Afinal, o que é fascismo?

Nascimento do nazismo

Depois da Primeira Guerra Mundial, a situação na Alemanha tornou-se crítica. A agitação popular era intensa e a economia do país sofria com a guerra. Depois da rendição, a situação piorou e o país afundou em uma crise econômica terrível, ficando à beira de uma revolução popular. As teorias conspiratórias e a ação dos grupos de extrema-direita disseminaram violência no território.

A Alemanha tornou-se uma democracia liberal, chamada República de Weimar, como consequência da derrota na guerra e da queda da monarquia, e foi nesse ambiente moderadamente democrático que Hitler começou a engajar-se e a crescer politicamente. Após o fim da guerra, ele se tornou um agitador político e realizava seus discursos em locais, como cervejarias.

Seus discursos atacavam consideravelmente os judeus, acusando-os de estarem por trás da “traição” que a Alemanha sofreu na guerra e por serem os responsáveis pela revolução bolchevique de 1917. Ele também atacava os social-democratas, o grupo que governava a Alemanha na República de Weimar. Foi nesse clima que nasceu o nazismo.

Em 1919, Hitler ingressou no Partido dos Trabalhadores Alemães e, em poucos anos, tornou-se uma pessoa importante dentro dele mas também entre os radicais da extrema-direita. O sucesso de Hitler é explicado, por Ian Kershaw, pelo fato de que ele era um ótimo propagandista e sua capacidade retórica destacava-se|3|.

O partido de que Hitler fazia parte era da extrema-direita alemã e possuía um discurso nacionalista, antissemita e antimarxista. Em fevereiro de 1920, o partido mudou seu nome para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. O partido de Hitler ainda pregava pôsteres vermelhos pela cidade, e o intuito dessas ações era o de atrair a atenção dos trabalhadores do país.

Quando o Partido Nazista foi inaugurado, seu programa contava com 25 pontos que resumiam sua ideologia. Nessa altura, Hitler já declarava os grandes grupos que ele procuraria combater: os judeus, os social-democratas e, em última instância, os comunistas. O historiador Richard J. Evans resume as visões de Hitler acerca do primeiro grupo:

Hitler declarou em numerosos discursos que os judeus eram uma raça de parasitas que só podia viver subvertendo outros povos, sobretudo a mais superior e melhor de todas as raças, a ariana […]. Os judeus deveriam 'ser exterminados' […]. A 'solução para a questão judaica', […] só poderia ser resolvida pela 'força bruta'. […] 'sabemos que, quando pusermos nossas mãos no poder: Que Deus então tenha piedade de vocês!'|4|.

A capacidade oratória de Hitler fez seu partido crescer. Entre 1920 e 1921, seus discursos chamaram a atenção e fizeram o número de membros do partido aumentar consideravelmente. Em 1922, Hitler já era uma personalidade importante entre os nacionalistas e, em 1923, tornou-se conhecido nacionalmente por envolver-se no Putsch da Cervejaria.

Esse acontecimento consistiu basicamente em uma tentativa de golpe realizada pelos nazistas na Baviera. O golpe fracassou, e Hitler acabou sendo preso e permanecendo um ano na cadeia. Nesse período, ele organizou a ideologia nazista no livro chamado Mein kampf, que significa “minha luta” em português.

Hitler como líder do nazismo

Mesmo antes de ser preso, Hitler havia se convencido da ideia de seu papel como líder do nazismo, e até por isso conduziu o golpe na Baviera. Depois que ele saiu da prisão, assumiu a liderança do nazismo e tomou a frente dos movimentos nacionalistas de extrema-direita na Alemanha.

Ian Kershaw fala que o primeiro discurso de Hitler, após sair da cadeia, contou com a presença de três mil pessoas, e só não teve mais público porque mais duas mil foram proibidas de entrar, pois o local estava abarrotado|5|. Esse acontecimento teve importância simbólica, pois comprovou o papel destacado de Hitler entre os movimentos da extrema-direita.

A partir daí, Hitler procurou ampliar a popularidade do nazismo na Alemanha. Para isso começou a desenvolver ações para divulgar as ideias nazistas entre diversos grupos da sociedade, tais como médicos, juristas, professores, mulheres, estudantes e, claro, trabalhadores empobrecidos. Hitler conseguia então amplificar o alcance de seu discurso nacionalista, antissemita e radical.

Nesse período de crescimento do partido, alguns nomes começaram a despontar como lideranças no interior do nazismo, tais como Rudolf Hess, Hermann Göring e Joseph Goebbels. O nazismo também começou a tornar-se popular entre classes como a de camponeses. O crescimento do partido fez com que a saudação “Heil Hitler” (“Salve Hitler”, em português) fosse popularizada.

Pessoas reunidas fazendo a saudação a Hitler.
O braço empunhado à frente seguido de um “Heil Hitler” era a saudação oficial dos nazistas ao seu líder.[2]

O crescimento do nazismo sob a liderança de Hitler ficou patente pelos resultados eleitorais. Em 1928, os nazistas conquistaram 12 assentos no Reichstag (o Parlamento alemão); em 1930, o número de assentos saltou para 107; e, em 1932, os nazistas conquistaram 230 assentos. Assim, o Partido Nazista tornou-se o maior da Alemanha.

Em 1932, Hitler conseguiu sua nacionalidade alemã, e isso lhe permitiu concorrer à eleição presidencial nesse país. Nessa eleição, Hitler concorreu contra o presidente em exercício, Paul von Hindenburg. No primeiro turno, Hitler recebeu 30% dos votos, e no segundo, 37%.

Hitler perdeu, mas sua expressiva votação deixava claro a forte posição do partido e difundiu mais ainda a propaganda nazista pela Alemanha. A derrota reverteu-se em vitória para os nazistas, uma vez que uma forte pressão popular sobre Hindenburg fê-lo nomear Adolf Hitler como chanceler da Alemanha.

Hitler no poder

A ascensão de Hitler marcou o início da jornada alemã rumo ao totalitarismo. Nomeado como chanceler, Hitler atuou abertamente para consolidar-se como figura absoluta na política alemã e agiu para acabar com o regime democrático que marcava a República de Weimar. A perseguição contra os opositores do nazismo iniciou-se de imediato.

Algumas de suas primeiras ações foram acabar com a Constituição de Weimar e impor a perseguição a social-democratas e comunistas. Para isso, Hitler contou com a sorte. Em fevereiro de 1933, os nazistas tiveram a desculpa perfeita para iniciar sua guinada autoritária: o incêndio do Reichstag.

Na noite de 27 de fevereiro de 1933, um anarcossindicalista holandês, chamado Marinus van der Lubbe, invadiu o Reichstag e incendiou o prédio. As autoridades policiais alemãs e os nazistas sabiam que o holandês tinha agido por conta própria, mas acabaram aproveitando-se da situação e   passaram a propagandear que a ação fazia parte de um grande complô comunista.

Isso acabou sendo utilizado de justificativa para os nazistas radicalizarem. No dia seguinte, foi aprovado o Documento para a Proteção do Povo e do Estado, um decreto que acabou com todas as liberdades individuais garantidas pela Constituição de Weimar e que garantiu direito ao governo de intervir nas federações da Alemanha (estados) para “restaurar a ordem”.

Soldados reunidos na década de 1930 para assistir uma das aparições de Hitler.
Na década de 1930, Hitler era o líder absoluto da Alemanha e suas aparições eram assistidas por milhares de pessoas.[2]

Ainda em 1933, Hitler deu início à perseguição contra os social-democratas e comunistas, aprisionando-os e enviando-os para o campo de concentração de Dachau, o primeiro campo de concentração nazista. Além disso, ele dissolveu o Parlamento naquele ano e proibiu outros partidos políticos de atuarem — só o Partido Nazista tinha autorização para funcionar.

Na economia, Hitler tinha como grande missão recuperar a economia do país. A sua política, nesse sentido, teve altos e baixos e atuou por meio da tomada de bens de muitos judeus, do incentivo à produção de papel-moeda e da promoção de obras públicas como forma de combater o altíssimo nível de desemprego no país.

Hitler atuou contra a Liga das Nações retirando a Alemanha dessa organização e passou a questionar os princípios do Tratado de Versalhes. Entre as ações estão a reconstrução do exército alemão, a formação de marinha e aviação de guerra, a remilitarização da Renânia (região fronteiriça com a França) e o fim do pagamento das indenizações estipuladas no tratado.

Os poderes de Hitler ampliaram-se consideravelmente em 1934, quando o presidente da Alemanha, Hindenburg, faleceu aos 86 anos. A morte do presidente fez Hitler mobilizar os ministros alemães a aprovarem a Lei sobre o Chefe de Estado do Reich Alemão. Com isso, Hitler absorveu os poderes presidenciais e passou a ser chefe de governo e de Estado, possuindo poderes ilimitados.

  • Perseguição aos judeus

Uma vez estabelecido no poder, Hitler fez com que seu discurso contra os judeus fosse praticado. Após anos de retórica permeada de ódio contra esse grupo, não foi difícil para que ele o perseguisse. Entre 1933 e 1939, uma série de medidas foi realizada para excluir progressivamente esse grupo da sociedade alemã.

Os judeus foram inicialmente excluídos do serviço público alemão, e a violência contra eles começou a aumentar com milícias (sobretudo as tropas de assalto) atacando famílias judias e com parte da sociedade boicotando negócios geridos por judeus. Em 1935, Hitler autorizou a consolidação de leis que impunham juridicamente a segregação dos judeus na Alemanha.

Conhecidas como Leis de Nuremberg, essas foram um conjunto de ordenamentos jurídicos que tratavam da miscigenação e da cidadania alemã, por exemplo. Casamentos entre judeus e não judeus foram proibidos na Alemanha, assim como aqueles ficaram proibidos de terem relações sexuais com não judeus.

Os nazistas também estipularam conceitos que definiam a cidadania alemã. Assim, decidiu-se quem tinha e quem não tinha direito a receber a cidadania. Os judeus, naturalmente, foram excluídos. A exclusão jurídica fomentava a violência física, e, em 1938, a situação tomou uma nova dimensão.

Em 1938, em represália ao assassinato de um alemão por um judeu em Paris, Hitler autorizou a realização de um pogrom (ataque físico) contra os judeus na Alemanha. Na virada de 9 para 10 de novembro de 1938, nazistas de toda a Alemanha foram mobilizados para atacar judeus. As casas destes foram invadidas, pessoas foram espancadas, lojas e sinagogas foram incendiadas. Esse acontecimento ficou conhecido como Noite dos Cristais.

Especula-se que nesse ataque milhares de pessoas tenham morrido, embora o número oficial de mortos seja de 91 pessoas, e milhares de lojas e sinagogas foram destruídas em todo o país. Outro acontecimento importante é que, durante esse pogrom, cerca de 30 mil judeus em toda a Alemanha foram presos e enviados para os campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen.

Leia também: Solução final: o plano nazista de extermínio dos judeus na Europa

Hitler na guerra

Ao longo de sua vida, Hitler deu inúmeras demonstrações de exaltação à guerra. Ao longo da década de 1930, como mencionado, ele fortaleceu o exército alemão com o intuito de formar o seu almejado Terceiro Reich. Esse reich era a construção de um novo império alemão, baseado no que ele defendia como lebensraum, o “espaço vital”.

Espaço vital era um conceito que defendia a construção de um grande império alemão por meio da ocupação de terras que historicamente tinham sido ocupadas pela população germânica. Nessa terra, os alemães poderiam prosperar com base na exploração de povos entendidos como “inferiores”, como os eslavos.

Uma vez garantida a força do exército alemão, Hitler passou para a fase expansionista. Ele atuou abertamente para promover a expansão do território alemão sobre a Áustria e a Checoslováquia. Ambos territórios foram unificados à Alemanha em 1938 e 1939, respectivamente. A unificação da Checoslováquia, inclusive, deu início a uma crise diplomática entre Alemanha, França e Reino Unido, que resultou na chamada Conferência de Munique.

Nessa conferência, Hitler assumiu um compromisso não reivindicar novos territórios na Europa, mas isso foi um grande blefe do ditador alemão. Seu próximo alvo já estava definido: a Polônia, país surgido em grande parte do território da antiga Prússia e que, até o começo do século XX, tinha grande número de habitantes etnicamente alemães.

A Polônia, por sua vez, tinha acordos de cooperação com franceses e britânicos, e Hitler, mesmo recebendo ultimatos das duas grandes nações da Europa Ocidental, resolveu seguir em frente. Organizou uma operação de bandeira falsa e invadiu a Polônia em 1º de setembro de 1939. Dois dias depois, franceses e britânicos declaravam guerra à Alemanha.

A declaração de guerra de franceses e britânicos chocou Hitler (e a Alemanha). Ele não esperava a reação de seus adversários e, segundo Ian Kershaw, seu plano era lutar contra  franceses e britânicos entre 1943 e 1945 e não antes disso. O historiador também afirma que a pressão da cúpula nazista e suas próprias ambições fizeram Hitler dar o arriscado passe de invadir a Polônia|6|. Ele sabia dos riscos e pôs tudo a perder.

Ian Kershaw também estabelece muito bem o que a guerra representava para Hitler. Na visão do líder nazista, “o futuro da Alemanha […] só poderia ser determinado por meio da guerra. Em sua visão dualista, a vitória garantiria a sobrevivência, a derrota significaria a erradicação total, o fim do povo alemão. Para ele, a guerra era inevitável”|7|.

Hitler, porém, esqueceu-se (ou ignorou) das limitações do país que comandava, pois uma guerra contra toda a Europa era impossível de ser sustentada em longo prazo. As vitórias iniciais da Alemanha na guerra obscureceram mais ainda a visão de Hitler, que a levou às últimas consequências. O resultado disso para a Alemanha foi desastroso.

De 1939 a 1941, Hitler entusiasmou-se com a conquista da Polônia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica, França, Iugoslávia e Grécia. Os nazistas ainda lutaram no norte da África e procuraram derrotar os britânicos na Batalha do Atlântico. Hitler, então, decidiu pôr em prática o ousado plano de invasão da União Soviética.

De junho a novembro de 1941, os alemães invadiram e avançaram rapidamente no território soviético. No final de novembro, os alemães perderam força, e Hitler foi avisado de que era necessário finalizar a guerra por meio de um acordo político, pois a capacidade industrial dos Aliados era superior à alemã.

Hitler também foi informado que, para garantir a sustentação do país na guerra de maneira a conduzir a Alemanha para a vitória, era necessário que o país gastasse 150 bilhões de dólares só na produção de armamentos. Esse informe não levava em consideração outros gastos que o país teria com alimentos e produção de veículos, por exemplo|8|. Hitler ignorou os avisos.

A continuidade alemã na guerra arrastou o país para a ruína. A partir de 1942, Hitler lutava para adiar o inevitável. Progressivamente os alemães foram sendo derrotados, e, à medida que a derrota aproximava-se, mais transtornado ele ficava. O stress causado pela aproximação da derrota refletia-se diretamente na sua saúde.

Entre 1944 e 1945, seus exames apontavam pressão alta, problemas cardíacos, e problemas estomacais e intestinais. Em 1944, Hitler também sofreu de icterícia, chegando a perder algumas reuniões por conta do agravamento de sua condição. Seu humor também se tornou cada vez mais explosivo, e o ditador tornou-se hipocondríaco e dependente de doses de metanfetamina.

Tentativa de assassinato contra Hitler

Com aval de Hitler, os alemães espalharam terror pela Europa. Grupos de extermínio mataram mais de um milhão de judeus no continente, guetos foram formados e colocaram os judeus para viverem em condições deploráveis, e, por fim, vieram os campos de extermínio. Seis campos nazistas foram criados para serem máquinas da morte: Auschwitz-Birkenau, Sobibor, Belzec, Treblinka, Chelmno e Majdanek.

O envolvimento da Alemanha em uma guerra que arrasaria o país e o horror praticado na Europa por meio do Holocausto convenceram pessoas nesse país de que era necessário livrar-se do líder  para interromper a guerra e a barbárie provocadas por ele. Uma dessas pessoas era o oficial do exército alemão chamado Claus Schenk Graf von Stauffenberg.

Stauffenberg decidiu que era necessário assassinar Hitler no final de 1942, e, em 1943, ele já estava envolvido com outros conspiradores. Junto de Henning von Tresckow e Hans Oster, por exemplo, foi elaborada a Operação Valquíria, um plano que visava a tomada do Estado alemão por meio da execução de Hitler e de outros líderes nazistas.

Stauffenberg tentou mobilizar pessoas interessadas em realizar os atentados, mas muitos se recusaram ou não puderam realizá-los por força das circunstâncias. Em 1º de julho de 1944, Stauffenberg passou a ter acesso direto a Hitler e decidiu que ele próprio o mataria.

Bunker nazista localizado em Rastenburg.
A Operação Valquíria foi realizada em um bunker nazista localizado em Rastenburg, atual território polonês.[3]

Após três tentativas que precisaram ser abortadas, Stauffenberg teve a chance de assassinar Hitler em 20 de julho de 1944. Em um bunker localizado em Rastenburg, Stauffenberg tentou realizar um ataque à bomba contra Hitler, mas acabou errando na hora de armar as bombas, e só armou uma das duas que possuía. A bomba explodiu, mas Hitler só teve ferimentos leves.

Stauffenberg e outros conspiradores foram denunciados por um de seus cúmplices chamado Friedrich Fromm. No dia 21 de julho, Stauffenberg foi executado pelos nazistas e seu delator, Fromm, também o foi meses depois. O fracasso do atentado fez Hitler mobilizar uma reação violenta contra seus opositores e mais de cinco mil pessoas foram mortas por isso.

Morte de Hitler

Em abril de 1945, os soviéticos cercaram a cidade de Berlim e iniciaram a conquista da capital alemã. Foi a última batalha lutada pelos nazistas e estendeu-se ao longo de todo aquele mês. Hitler e toda a alta cúpula nazista permaneceram escondidos no bunker subterrâneo. Na medida em que os soviéticos entravam na capital alemã, as autoridades nazistas recomendavam Hitler a fugir, mas ele recusava essa possibilidade.

Hitler e sua esposa Eva Braun.
Um dia antes de cometerem suicídio, Hitler e Eva Braun casaram-se.[2]

No dia 29, Hitler casou-se com sua companheira, Eva Braun. No dia 30, os soviéticos entraram no Reichstag e estavam a menos de 500 metros do bunker em que ele se escondia. No mesmo dia, Hitler e sua esposa suicidaram-se. Eva Braun ingeriu ácido cianídrico e Hitler matou-se com um tiro no crânio.

O ditador alemão, responsável pelo Holocausto e por arrastar o mundo para a pior guerra da história, havia morrido. Momentos depois, seu corpo foi levado para a superfície e foi incendiado por guardas do bunker. Ian Kershaw fala, a respeito disso, que o “fim do líder cuja presença, poucos anos antes, eletrizava milhões não foi testemunhado por nem um único de seus seguidores, inclusive os mais próximos”|9|.

Acesse também: A arte nazista e o combate ao modernismo

Holocausto

Como citado, o antissemitismo de Hitler nasceu durante sua juventude no cenário agitado de Viena e consolidou-se com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra, pois o país começou a abraçar teorias conspiratórias para explicá-la. A sociedade alemã era abertamente antissemita, mas Hitler, quando se tornou uma figura pública influente, contribuiu para aumentar mais ainda o ódio contra os judeus naquele país.

Já vimos que, após assumir o poder em 1933, ele começou a realizar medidas que segregavam os judeus da sociedade alemã e incentivou abertamente a violência contra eles. Depois que a guerra  iniciou-se e a derrota começou a tornar-se uma possibilidade real, os nazistas deram início ao plano de extermínio dos judeus com o aval de Hitler.

Hitler foi o arquiteto do antissemitismo na sociedade alemã, e, com base nisso, essa sociedade, envenenada, levou esse ódio às últimas consequências. A forma encontrada para exterminar os judeus foi planejada por membros da alta cúpula do Partido Nazista e ficou conhecida como Solução Final. Por meio deles, construiu-se e estruturou-se que conhecemos como Holocausto.

O Holocausto matou seis milhões de pessoas entre judeus, homossexuais, ciganos, negros, comunistas etc. As mortes aconteceram por meio de fuzilamentos em massa nos guetos e nos campos de concentração e extermínio construídos para escravizar a matar os judeus. Em certos locais do Leste Europeu, a população judia foi integralmente exterminada.

Notas

|1| KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 50.

|2| Idem, p. 51.

|3| Idem, p. 113.

|4| EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016, pp. 229-230.

|5| KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 196.

|6| Idem, p. 545-546.

|7| Idem, p.545.

|8| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p.177-178.

|9| KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 992.

Créditos das imagens

[1] Roman Nerud e Shutterstock

[2] Everett Historical e Shutterstock

[3] Karolis Kavolelis e Shutterstock

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Adolf Hitler"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/adolf-hitler.htm. Acesso em 28 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(Ameosc – adaptado) Em diversos países, durante a década de 1920 e 1930, ocorreu a ascensão de movimentos classificados como fascistas, cujas características, de acordo com os historiadores, é a preocupação obsessiva com a comunidade, vista como vítima de humilhações e que necessita de uma purificação imediata. São práticas fascistas utilizadas para chegar ao poder nesse período:

I. culto à violência e à vontade como meios de obtenção de sucesso;

II. ênfase em um líder, masculino, que é considerado o único capaz de acabar com a crise e a dirigir a comunidade rumo ao seu destino;

III. foco nas políticas socialistas e liberais, que são utilizadas como ferramentas de atuação;

IV. prega o desenvolvimento do indivíduo e de suas qualidades, que deve se destacar frente à horda coletiva.

Estão corretos:

a) apenas o item II está correto.

b) apenas os itens I e II estão corretos.

c) todos os itens estão corretos.

d) apenas os itens I, III e IV estão corretos.

e) todos itens estão incorretos.

Exercício 2

(Ibade) Sobre o pacto germano-soviético de não agressão (1939), é correto afirmar que:

a) assinado entre Alemanha e União Soviética, garantia que o território da Polônia ficaria com os nazistas.

b) assinado em Moscou pelo ministro soviético Viacheslav Molotov e pelo ministro das Relações Exteriores alemão Joachim Von Ribbentrop, dividia a Polônia entre as duas potências e evitava um confronto direto entre elas.

c) assinado pessoalmente por Adolf Hitler e Josef Stalin, em uma cerimônia secreta na Polônia, o acordo permitiu que a Alemanha lutasse a guerra em apenas uma frente e ficasse com metade da Polônia.

d) assinado em Berlim com a presença dos principais políticos russos, o acordo estabelecia a divisão da Polônia entre os dois países.

e) assinado na Itália, estabelecia que os soviéticos entrariam na guerra, auxiliando a Alemanha.