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A contaminação por mercúrio é um tipo grave de contaminação que ocasiona diversos sintomas que incluem: fadiga, falta de sensibilidade em mãos e pés, distúrbios no sistema digestivo e danos ao sistema nervoso, causando confusão mental, alteração da coordenação motora e quadros psicóticos.
Isso ocorre porque o mercúrio é um elemento metálico tóxico em razão da capacidade de bioacumulação, não sendo eliminado pelo organismo e se acumulando ao longo da vida. As formas de contaminação por mercúrio podem ser no ambiente de trabalho ou por meio do consumo de alimentos contaminados.
Leia também: Chumbo — um metal tóxico que afeta principalmente o sistema nervoso
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre contaminação por mercúrio
- 2 - O que é mercúrio?
- 3 - Quais são as formas de contaminação por mercúrio?
- 4 - Consequências da contaminação por mercúrio
- 5 - Tragédias ocorridas pela contaminação por mercúrio
- 6 - Possíveis medidas para evitar a contaminação por mercúrio
Resumo sobre contaminação por mercúrio
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O mercúrio é um elemento metálico tóxico que ocorre na natureza em diversas rochas e em depósitos de carvão.
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As principais formas de contaminação por mercúrio são a contaminação ocupacional e a contaminação ambiental.
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A contaminação por mercúrio afeta os sistemas nervoso, digestivo e renal, podendo levar à morte.
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A contaminação em Minamata é a maior tragédia mundial relacionada à contaminação por mercúrio.
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No Brasil, a exposição de populações indígenas aos resíduos tóxicos gerados pela ação de garimpos ilegais já é um desastre ambiental.
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Descartar adequadamente os objetos que possuem mercúrio e melhorar as técnicas de extração são algumas das medidas que devem ser tomadas para evitar a contaminação por mercúrio.
O que é mercúrio?
O mercúrio é um elemento químico de ocorrência natural, encontrado em alguns tipos de rocha, inclusive em depósitos de carvão.
Trata-se de um metal, com símbolo Hg na Tabela Periódica e com número atômico igual a 80. Possui aspecto prateado brilhante e é o único elemento metálico encontrado sob a fase líquida em temperatura ambiente.
O mercúrio era utilizado em termômetros, em razão de seu alto coeficiente de dilatação térmica. A partir de 2019, a comercialização desses termômetros foi proibida devido ao fato de ser um metal que possui elevada toxicidade. Outros usos desse elemento são em lâmpadas fluorescentes e alguns interruptores elétricos.
Devido às características e propriedades químicas que possui, o mercúrio é um elemento químico que possui capacidade de bioacumulação e biomagnificação. Isso significa que ele é acumulado nos organismos vivos e pode ser transmitido pela cadeia alimentar.
Quais são as formas de contaminação por mercúrio?
A principais formas de contaminação por mercúrio são a ocupacional e a ambiental.
→ Contaminação ocupacional por mercúrio
Na contaminação ocupacional, o ambiente de trabalho é a principal fonte de contaminação, podendo acontecer em ambientes industriais, como fábricas de cloro-soda, de lâmpadas fluorescentes, de processamento de metais, consultórios odontológicos e regiões de garimpo de ouro. Nesses ambientes, a contaminação ocorre através das vias respiratórias, podendo ser identificada e quantificada por exame de urina. Compostos inorgânicos de mercúrio são os principais envolvidos na contaminação ocupacional.
→ Contaminação ambiental por mercúrio
Na contaminação ambiental, a fonte de contaminação é a alimentação e normalmente ocorre pelo consumo de peixes de água doce ou salgada contaminada por mercúrio. Por esse motivo, as populações ribeirinhas, indígenas, crianças, gestantes e lactantes são o público mais vulnerável à contaminação por mercúrio.
A contaminação ambiental por mercúrio interfere diretamente no sistema nervoso central e pode ser identificada por exames de sangue ou de amostra de cabelo. Compostos orgânicos de mercúrio, como o metil mercúrio, são uma das principais formas de contaminação ambiental.
Importante: Outra forma de exposição que pode levar à contaminação por mercúrio é o uso de sabonetes, cremes e outros produtos que contenham cloreto de mercúrio.
Veja também: Cádmio — um metal tóxico que pode contaminar o ar, o solo e as águas
Consequências da contaminação por mercúrio
O mercúrio possui capacidade de se depositar nos tecidos biológicos, promovendo lesões no sistema nervoso central e em órgãos como rins e fígado. Dentro do organismo, o mercúrio pode ser transformado em metil mercúrio, forma orgânica e de alta afinidade com gorduras, aumentando a capacidade de bioacumulação.
A contaminação por meio da inalação de vapores contribui para a ocorrência de anorexia, fadiga, perda de peso e até mesmo perfurações de órgãos do sistema digestivo. No caso de ingestão de compostos contendo mercúrio, úlceras e necroses podem se manifestar no trato gastrointestinal.
Além disso, o contato com o mercúrio afeta o sistema nervoso, desencadeando alucinações e delírios, isto é, quadros psicóticos. A contaminação por mercúrio também pode afetar os sistemas cardiovascular e renal. O mercúrio tem efeito teratogênico e mutagênico.
Importante: A intensidade dos sintomas está relacionada à forma química do mercúrio responsável pela contaminação, da dose, da via de exposição e das características da própria pessoa.
Tragédias ocorridas pela contaminação por mercúrio
Uma das maiores tragédias da história relacionadas à contaminação por mercúrio ocorreu no Japão, em 1956, na cidade de Minamata. Desde 1930, uma indústria local de fabricação de PVC e acetaldeído lançava na Baía de Minamata enormes quantidades de resíduos contendo mercúrio, sem qualquer tipo de tratamento.
Os sintomas iniciais de contaminação apenas foram identificados 20 anos depois. Estima-se que centenas de toneladas de metil mercúrio foram descartadas de forma irregular.
Os primeiros casos de contaminação foram identificados em aves, que perdiam a coordenação motora, voando de forma aleatória, e acabavam caindo. A intensa morte de peixes e moluscos também era incomum. Algum tempo depois, sintomas similares começaram a se manifestar em pessoas, principalmente em pescadores e suas famílias.
A partir disso, levantou-se a suspeita de que a contaminação estaria relacionada com o consumo de peixes e frutos do mar da Baía de Minamata. A doença desencadeada pela contaminação por mercúrio se manifesta como uma síndrome neurológica, apresentando sintomas iniciais como dores de cabeça, irritabilidade, falta de sensibilidade em partes do corpo e dificuldade de engolir alimentos. Com o agravamento, surgem sintomas que afetam a visão e audição, fraqueza, paralisia e morte.
O mal de Minamata ou Doença de Minamata, como ficou conhecido, só foi totalmente desvendado pelos médicos cerca de dez anos após os primeiros casos. Cerca de 20 mil pessoas foram afetadas, entre mortes e sequelas permanentes.
Como vimos, regiões de garimpo de ouro são locais onde há muitos casos de contaminação de mercúrio, como o Brasil, Tanzânia, Filipinas, Indonésia e China.
→ Contaminação por mercúrio no Brasil
No Brasil, existem muitas regiões de exploração de ouro, principalmente na região Norte. O mercúrio metálico é empregado ao longo do procedimento de extração de ouro, sendo descartado ao final sob a forma de vapores e de resíduos. Esses resíduos são despejados em cursos d’água, como os rios.
Portanto, regiões de garimpo possuem alta taxa de mercúrio no ambiente. O alerta sobre uma contaminação generalizada da região amazônica foi dado na década de 90. Com o passar dos anos, as atividades de garimpo ilegais se ampliaram, estendendo-se por regiões de proteção ambiental e afetando as reservas indígenas e os pescadores de diversas regiões dos estados de Roraima, Pará, Mato Grosso, Amazonas, Minas Gerais e Bahia.
No início de 2023, a situação do povo yanomami em Roraima se destacou pela intensa gravidade no índice de pessoas contaminadas por mercúrio, além dos severos problemas de saúde e de nutrição. Essa situação foi ocasionada pela presença de garimpos ilegais em regiões próximas às aldeias, contaminando em grande escala a água dos rios e os alimentos, como peixes e plantas. De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, nos últimos quatro anos, cerca de 570 crianças yanomami morreram por complicações do envenenamento por mercúrio, desnutrição e fome.
Um laudo técnico da Polícia Federal de 2022 apontou que quatro rios da região amazônica estão com altíssimas taxas de contaminação por mercúrio atualmente, chegando a valores 8600% superiores ao tolerados para águas de consumo humano.
É importante esclarecer que tal situação teve seu início na década de 70 e foi piorando com o avanço da área ocupada pelos garimpos ilegais. Mudanças de legislação recentes impulsionaram a ampliação de áreas exploradas.
Possíveis medidas para evitar a contaminação por mercúrio
A melhor forma para se evitar a contaminação por mercúrio é estar atento para não entrar em contato com esse metal. No cotidiano, utilizamos alguns objetos e produtos que contêm mercúrio em sua composição, como, por exemplo, termômetros, lâmpadas fluorescentes, tintas, pilhas e baterias. Esses itens que possuem mercúrio devem ser descartados adequadamente, principalmente se estiverem quebrados ou com vazamentos. Em caso de dúvida, é possível consultar o setor de gestão de resíduos da prefeitura municipal.
Alguns cosméticos, como rímel, cremes e sabonetes clareadores costumam possuir mercúrio em sua composição. Portanto, consultar os rótulos antes da compra de cosméticos e evitar produtos com mercúrio também é importante para evitar contaminação.
Uma das principais formas de envenenamento por mercúrio é pelo consumo de peixes e frutos do mar criados em regiões contaminadas pelo metal. Em relação a isso, peixes grandes como tubarões, espadartes e atuns tendem a ser ricos em mercúrio, uma vez que esse metal sofre bioacumulação na cadeia alimentar. Isso significa que espécies maiores que se alimentam de peixes menores são capazes de absorver as doses de mercúrio, elevando os níveis do metal no próprio organismo. Portanto, é bom conhecer a procedência do alimento originário do mar que se está comprando para se proteger.
Além disso, melhorar as técnicas de extração de metais da natureza também é importante, de modo que as práticas de extração podem ser mais bem implementadas, visando à redução de liberação de mercúrio para o ambiente. Algumas práticas que poderiam ser adotadas seria realizar o aquecimento da amálgama (solução entre ouro e mercúrio) em equipamento de exaustor de gases e fazer a recuperação do mercúrio por meio do resíduo gerado.
Créditos de imagem
[1] Senderistas / Shutterstock
[2] hyolee2 / Wikimedia Commons (reprodução)
Por Ana Luiza Lorenzen Lima
Professora de Química