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Violência urbana é um fenômeno social que ocorre nas cidades e tem como causas problemas de ordem estrutural como as desigualdades socioeconômicas, a segregação urbana e a falta de oportunidades para a garantia de uma vida digna no espaço urbano. Os índices de violência urbana no Brasil cresceram consideravelmente a partir da segunda metade do século XX, e a sua ocorrência é registrada em cidades de todas as regiões do país. A solução para esse problema demanda medidas de curto, médio e longo prazo do poder público, principalmente aquelas capazes de assegurar cidades mais justas e seguras.
Confira no nosso podcast: Países mais e menos violentos do mundo
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre violência urbana
- 2 - Causas da violência urbana
- 3 - Tipos de violência urbana
- 4 - Violência urbana no Brasil
- 5 - Consequências da violência urbana
- 6 - Possíveis soluções para a violência urbana
Resumo sobre violência urbana
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A violência urbana é um fenômeno social causado por problemas estruturais como as desigualdades socioeconômicas, a segregação urbana, a falta de oportunidades de trabalho e também de acesso a outros direitos básicos do cidadão, como moradia digna, saúde e educação.
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De acordo com a OMS, a violência pode ser autoinfligida, interpessoal (familiar ou comunitária) ou coletiva.
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No Brasil, a violência urbana se intensificou a partir da segunda metade do século XX e é observada tanto nas pequenas cidades quanto nos grandes centros urbanos.
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Somente em 2021 foram registrados mais de 65 mil homicídios no país, os quais vitimaram principalmente a população negra e jovem.
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Aumento da insegurança, piora na qualidade de vida, desvalorização de imóveis e prejuízos econômicos são algumas das consequências da violência urbana.
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As soluções desse problema demandam ação imediata e contínua do poder público, o que inclui melhorias no setor de segurança pública e políticas sociais.
Causas da violência urbana
A violência urbana é, ao mesmo tempo, um fenômeno social e um problema de ordem estrutural que pode ser observado em cidades de todo o mundo, sejam elas metrópoles globais, cidades médias ou cidades pequenas.
Por essa razão, muitas das causas da violência urbana estão enraizadas no processo histórico de formação daquele determinado grupo social, incluindo a constituição socioterritorial de um país. Também figuram como causas a maneira como a urbanização e, consequentemente, a segregação do espaço urbano contribuíram para o aprofundamento das desigualdades socioeconômicas e para a exclusão de uma parcela da população, exclusão essa que é refletida no modo de organização do tecido urbano.
A principal causa da violência urbana é a desigualdade socioeconômica que caracteriza diversas sociedades, inclusive a brasileira, e se expressa principalmente por meio da má distribuição de renda entre a população, que acarreta outros problemas mais graves, como a fome, a miséria e a falta de acesso a serviços e direitos básicos do cidadão que asseguram a ele uma vida digna, como moradia, saneamento, saúde e educação.
Tais desigualdades foram ainda reforçadas com o processo de urbanização, em especial nos países subdesenvolvidos e nos países emergentes, nos quais o crescimento das cidades aconteceu em um período mais recente, a partir de meados do século XX, e se deu de forma rápida e sem planejamento, causando o que chamamos de macrocefalia urbana.
Como consequência, há um crescimento dos bolsões de pobreza nas cidades, áreas onde a infraestrutura urbana é deficitária ou ausente, e as ações de melhoria raramente visam ao incremento da qualidade de vida daquela parcela da população.
É importante lembrarmos que a segregação espacial urbana perpassa a segregação étnica, que tem como exemplo a história brasileira e a forma como se deu a formação das favelas nos principais centros urbanos do país.
Retomando a discussão sobre a violência nos centros urbanos, podemos citar também o tráfico de armas e de drogas, que intensifica a insegurança nas cidades e contribui para o aumento dos índices de violência. Outros fatores como a falta de oportunidades, a exemplo das elevadas taxas de desemprego e subemprego, e a ausência de políticas públicas do Estado focadas na solução dos problemas estruturais urbanos são fatores que condicionam a elevação da violência urbana.
Tipos de violência urbana
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a violência em três tipos, os quais são muito utilizados nas análises a respeito do tema e podem se estender para o nosso estudo sobre a violência nos centros urbanos.
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Violência autoinfligida: a violência que o indivíduo comete contra si mesmo, sem o envolvimento de terceiros. São exemplos desse tipo de violência o suicídio e a automutilação.
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Violência interpessoal: a violência que o indivíduo comete contra outros indivíduos que são parte ou não do seu círculo social. No segundo caso, recebe o nome de violência comunitária. A violência doméstica, que é aquela que ocorre dentro de uma mesma família e cometida contra mulheres, crianças, idosos, os roubos seguidos de morte (latrocínio), os homicídios e os atos violentos que acontecem no trânsito são todos exemplos dessa categoria de violência.
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Violência comunitária: a violência praticada por grupos sociais, políticos e também econômicos. A atuação de facções criminosas, os crimes de ódio e as disputas por territórios se encaixam nessa categoria.
Violência urbana no Brasil
A violência urbana é uma realidade nos centros urbanos brasileiros e tem se tornado uma preocupação não somente nas grandes cidades e áreas metropolitanas, mas também nas cidades médias e pequenas de várias regiões do país.
Esse fenômeno se intensificou a partir da segunda metade do século XX, quando o crescimento das áreas urbanas passou a acontecer de maneira acelerada em função da modernização no campo e do avanço da industrialização.
No entanto, a expansão das cidades se deu na ausência de planejamento, o que resultou em um espaço segregado e cujos serviços e atividades não atendem a todos os seus cidadãos, aprofundando as desigualdades socieconômicas.
O Atlas da Violência produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que foram registrados 45.503 homicídios no país em 2021, uma taxa de aproximadamente 21,7 a cada 100 mil habitantes. Desse total, 77% correspondem a pessoas negras.
É significativa também a violência contra populações indígenas nos municípios onde há terras demarcadas, contra a população LGBTQIA+, que registrou aumento de 9,8% entre 2018 e 2019, e a violência de gênero, que vitimou mais de 50 mil mulheres entre 2009 e 2019.
A pesquisa mostrou ainda o crescimento da violência no trânsito, colocando o Brasil na quinta posição mundial entre os países com o maior número de mortes no trânsito em todo o mundo. Segundo o Ipea, foram 22 mortes a cada 100 mil habitantes.|1|
A violência nas cidades brasileiras acontece de maneira desigual entre as regiões, com índices maiores registrados nas cidades do Norte e do Nordeste do país quando consideramos os pequenos municípios, notadamente aqueles classificados como “rurais” pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Abaixo apresentamos uma lista das dez cidades mais violentas do Brasil de acordo com o Anuário de Segurança Pública publicado em 2022 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública|2|.
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São João do Jaguaribe (Ceará)
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Jacareacanga (Pará)
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Aurelino Leal (Bahia)
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Floresta do Araguaia (Pará)
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Umarizal (Rio Grande do Norte)
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Guaiúba (Ceará)
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Jussari (Bahia)
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Rodolfo Fernandes (Rio Grande do Norte)
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Extremoz (Rio Grande do Norte)
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Aripuanã (Mato Grosso)
Veja também: Pobreza no Brasil — um problema cujas origens remontam ao período colonial
Consequências da violência urbana
A violência urbana é um problema que apresenta consequências não somente para as pessoas que são vítimas dela cotidianamente, mas também para a economia, para a estrutura do município e para a sua população em geral, que passa a conviver com um estado de medo e insegurança que resultam em uma piora na qualidade de vida.
Apontamos abaixo algumas das consequências da violência urbana.
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Aumento no número de mortes, o que ocasiona uma mudança a longo prazo no perfil demográfico da população. No Brasil, por exemplo, as principais vítimas de homicídios são as pessoas negras e jovens.
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Agravamento dos problemas estruturais já existentes, como as desigualdades socioeconômicas e territoriais.
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Prejuízos econômicos para o comércio e o varejo, o que pode afetar o desenvolvimento econômico de um determinado município.
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Desvalorização dos imóveis (residenciais e comerciais) nas áreas de maior recorrência da violência, isto é, de maior vulnerabilidade em função da insegurança.
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Aumento do medo e da insegurança para circular na cidade e aproveitar o espaço urbano.
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Deterioração da saúde física e mental dos habitantes das cidades que registram grandes índices de violência, levando ao desenvolvimento de quadros de ansiedade, angústia e até mesmo depressão.
Possíveis soluções para a violência urbana
A falta de controle da violência urbana é um sério problema para a população, como vimos anteriormente, e gera uma enorme falta de confiança nas autoridades e gestores públicos responsáveis pela administração do espaço urbano. Solucionar essa questão de forma rápida é uma tarefa bastante difícil e delicada, tendo em vista as diferentes formas de violência urbana e a escala que ela atingiu no período recente.
A compreensão do fenômeno em cada uma das cidades e a elaboração de novos planos de gestão voltados para melhoria na segurança pública são algumas das medidas que podem ser tomadas em médio e longo prazo.
Soma-se a isso o desenvolvimento de políticas de cunho social para garantir os direitos básicos de toda a população urbana, assegurando o acesso aos serviços fundamentais e a oportunidades de trabalho, assim como medidas de inclusão que auxiliarão na transformação das cidades em espaços justos e mais seguros.
Notas
|1| REDAÇÃO. Veja a lista das 30 cidades mais violentas do Brasil, segundo anuário. Folha de S.Paulo, 28 jun. 2022. Disponível aqui.
|2| BRUM, Gabriel. Brasil é o quinto no ranking mundial de vítimas de trânsito. Agência Brasil, 03 fev. 2022. Disponível aqui.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia