PUBLICIDADE
A macrocefalia urbana é um fenômeno urbano caracterizado pela concentração de serviços, atividades econômicas e população em uma determinada cidade ou área urbana. Ocorre principalmente nos países subdesenvolvidos, como o Brasil.
Suas causas estão atreladas a um rápido processo de urbanização e intensificação dos deslocamentos populacionais do campo para a cidade e à formação dos grandes centros urbanos. Entre as consequências do inchaço das cidades estão a favelização e o aprofundamento da segregação socioespacial.
Leia também: Hierarquia urbana mundial — forma de organização e classificação das cidades
Tópicos deste artigo
- 1 - O que é macrocefalia urbana?
- 2 - O que causa a macrocefalia urbana?
- 3 - Consequências da macrocefalia urbana
- 4 - Milton Santos e a macrocefalia urbana
- 5 - Exercícios resolvidos
O que é macrocefalia urbana?
A macrocefalia urbana é um fenômeno que acontece em grandes cidades, sobretudo de países ou regiões subdesenvolvidas do mundo, e que pode ser descrito como a concentração espacial desigual de pessoas e de serviços dos mais variados tipos em uma determinada cidade ou aglomeração urbana. Está associada diretamente ao processo de formação das metrópoles, mas o seu acontecimento não se restringe apenas às regiões metropolitanas|1|.
A distribuição não homogênea de infraestrutura, tecnologias, atividades econômicas e produtivas, serviços e, por conseguinte, da população acarreta consequências para os indivíduos que ali vivem e que constroem diariamente o espaço urbano, para o meio ambiente e, de um modo geral, para o tecido urbano. Essas consequências estão atreladas à falta de estrutura das cidades para receber novos contingentes populacionais.
Em suma, a macrocefalia urbana é caracterizada pelo crescimento urbano intenso e desordenado e pela ausência de estrutura física e econômica para comportar essas transformações.
O que causa a macrocefalia urbana?
A macrocefalia urbana remonta à maneira como se deu o processo de urbanização nos países subdesenvolvidos e à ausência ou ineficiência de planejamento urbano e de gestão por parte do poder público.
O crescimento das áreas urbanas em países como o Brasil teve início a partir da industrialização, que ocorreu tardiamente em comparação às nações desenvolvidas. Esse processo se acelerou a partir da segunda metade do século XX, impulsionado pela modernização do campo e intensificação do fluxo migratório da zona rural para a zona urbana (êxodo rural). Ademais, condicionados por fatores históricos e econômicos, as atividades produtivas, os serviços e a infraestrutura distribuem-se de forma desigual no espaço, concentrando-se em determinados centros urbanos.
Os eventos acima descritos levaram a um crescimento rápido e desordenado das grandes cidades, as quais não possuem estrutura para comportar e atender adequadamente a toda a sua população. Instala-se, portanto, um quadro macrocefálico.
Consequências da macrocefalia urbana
O inchaço urbano observado principalmente nas grandes cidades e metrópoles resultam em consequências sociais, econômicas e ambientais. Uma das mais flagrantes é a marginalização de uma parcela da população urbana, o que é decorrente de diversos fatores, como a falta de oportunidades no mercado de trabalho ou baixa qualificação, fazendo crescer o número de trabalhadores informais e também de desempregados. Há, com isso, o aumento de habitações precárias, por vezes em áreas irregulares, gerando o processo de favelização e a intensificação da segregação urbana.
Diante desse quadro, ficam evidentes outros problemas infraestruturais das grandes cidades, como o acesso a serviços básicos como saneamento, cujas redes não atendem a toda a população, a precariedade dos transportes públicos e a falta de uma rede de transporte mais abrangente que promova maior integração entre os diversos pontos da cidade e outras questões ligadas à mobilidade urbana.
Muitos desequilíbrios ambientais são provocados, ainda, pela falta de planejamento urbano e pela infraestrutura precária, como os diversos tipos de poluição, sobretudo dos rios e do solo.
Milton Santos e a macrocefalia urbana
Milton Santos é um dos principais nomes da Geografia brasileira e um dos maiores pensadores do país. Em sua vasta bibliografia, o geógrafo discorreu sobre o tema da organização territorial dos países subdesenvolvidos, discutindo o processo de urbanização pautado pela distribuição espacial desigual que aconteceu nos países subdesenvolvidos.
Em seus escritos, Milton Santos deixa clara a noção de que a concentração da produção, consequentemente de capitais e da tecnologia em algumas cidades, assim como a concentração populacional estão no cerne do fenômeno da macrocefalia urbana. Em obras como Economia Espacial e Por Uma Geografia Nova, o autor descreve a macrocefalia urbana como resultado da modernização técnica e da concentração espacial que elas ocasionam em algumas cidades selecionadas|1| — ou que dispõem de vantagens locacionais.
Em O Espaço Dividido, Santos apresenta uma definição para a macrocefalia urbana amplamente utilizada nos textos acadêmicos que se voltam ao estudo dos fenômenos urbanos. A concentração técnica e produtiva que ocorre em determinadas cidades se torna, além de um atrativo para uma maior diversidade de agentes econômicos e produtivos, um atrativo populacional, redirecionando, assim, o fluxo de pessoas para esses centros. A partir desse movimento, desencadeia-se uma série de problemas característicos de áreas com inchaço urbano, que vão do desemprego às ocupações precárias e questões relacionadas à segurança pública|2|.
Veja também: Qual é a função das cidades?
Exercícios resolvidos
Questão 1 – A macrocefalia urbana é um fenômeno característico de países subdesenvolvidos. São exemplos de cidades que podem ser consideradas macrocefálicas São Paulo, Cidade do México e Lima. Alguns fatores são elencados como os responsáveis pelo inchaço urbano, exceto:
A) a falta de infraestrutura dos centros urbanos para comportar o novo fluxo populacional.
B) o processo de favelização e aprofundamento da segregação espacial.
C) a intensificação do êxodo rural.
D) a distribuição desigual das atividades produtivas no espaço.
E) a urbanização acelerada impulsionada pela industrialização.
Resolução
Alternativa B. O aprofundamento da segregação espacial é apontado como uma das consequências relacionadas ao crescimento rápido e desordenado dos grandes centros urbanos.
Questão 2 – (Unifal) Leia as afirmativas a seguir.
I – O êxodo rural é uma das causas da urbanização acelerada que acarreta, entre outros problemas, o aumento do desemprego e o crescimento do setor informal das cidades nos países de industrialização tardia.
II – O crescimento da taxa de urbanização implica uma acentuada melhoria nas condições de vida da população dos países subdesenvolvidos.
III – O aumento das favelas, dos loteamentos clandestinos e da população sem-teto pode ser apontado como consequência do êxodo rural e da crescente urbanização.
Com base nessas afirmativas sobre urbanização, marque a alternativa correta.
A) Apenas I e II estão corretas.
B) Apenas I e III estão corretas.
C) Todas as alternativas estão corretas.
D) Apenas III está correta.
Resolução
Alternativa B. A única afirmação incorreta é a segunda. O rápido crescimento da taxa de urbanização nos países subdesenvolvidos acarretou o aprofundamento dos problemas socioeconômicos nas cidades e o processo de exclusão de uma parte da população.
Notas
|1| SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. (Coleção Milton Santos; 2)
|2| SANTOS, Milton. O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, 2ª edição.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia