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Realismo

O realismo foi uma tendência artística de expressões em diversas áreas, incluindo a literatura, que se valeu da arte de uma representação objetiva dos fatos do cotidiano.

Gustave Flaubert, responsável pela autoria da obra inaugural do realismo.
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Gustave Flaubert foi o responsável pela autoria da obra inaugural do realismo.
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O realismo, movimento estético predominante no mundo ocidental no último quartel do século XIX, surgiu como uma onda de oposição à subjetividade e ao individualismo da tendência artística anterior, o romantismo. Com a intenção de fazer da arte uma representação fidedigna e verossímil da realidade, escritores, pintores, escultores, músicos e dramaturgos privilegiaram a objetividade em suas obras, atentos à veracidade das situações cotidianas.

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o realismo

  • O realismo foi uma escola estética com expressões em diversos campos da arte, como a literatura, as artes plásticas e a dramaturgia.

  • Surgiu na segunda metade do século XIX, em oposição à estética do romantismo.

  • Valorizava a objetividade, o factual e as situações cotidianas.

  • Pretendia expor os fatos tais como eles são, sem idealizações.

  • Na literatura, o gênero realista por excelência foi a prosa.

  • São grandes nomes do realismo europeu: Gustave Flaubert, Charles Dickens, Fiódor Dostoiévski.

  • São grandes nomes do realismo brasileiro: Aluísio Azevedo, Raul Pompeia, Machado de Assis.

Veja também: Parnasianismo, movimento da poesia no final do século XIX

Características do realismo

  • Valorização da objetividade e dos fatos.

  • Impessoalidade, apagamento das ideias do autor.

  • Descrições de tipos sociais ou situações típicas.

  • Fim das idealizações: retratos de adultério, miséria e fracasso social.

  • Prevalência das formas do romance e do conto.

  • Frequentes críticas às hipocrisias da moralidade da nova classe dominante, a burguesia.

  • Aceitação da realidade tal como ela é, em oposição aos anseios de liberdade dos românticos.

  • Esteticismo: linguagem culta e estilizada, escrita com proporção e elegância.

  • Tentativa de explicar o real, recorrendo muitas vezes à ciência ou ao determinismo.

  • Abordagem psicológica das personagens como composição da realidade que veem.

Leia também: Segunda fase do modernismo brasileiro: a retomada do realismo

Contexto histórico do realismo

Madame Bovary, romance de Gustave Flaubert, publicado em 1857, é considerado pela crítica literária a obra inaugural do movimento realista. Nesse ano, morria Auguste Comte, fundador da filosofia positivista, a essa altura bastante popular na Europa.

O positivismo comteano teve grande influência nas obras do realismo e no pensamento da época de modo geral: tratava-se de uma concepção de mundo científica, que propunha que a apreensão da realidade deveria ser objetiva, empírica, como nos procedimentos de análise das ciências naturais. O progresso, ideal maior dos positivistas, só viria por meio da ciência.

O continente europeu vivenciava a chegada da Segunda Revolução Industrial, que trazia consigo uma urbanização massiva, bem como jornadas de trabalho extenuantes e um crescimento desordenado das cidades, além da sujeira proveniente dos resíduos da produção fabril. O salto tecnológico associado ao desenvolvimento industrial propiciou diversas descobertas e invenções que modificaram a maneira como os cidadãos viviam, tais como a lâmpada elétrica, o rádio e o automóvel moderno movido à gasolina.

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Foi nessa época que Charles Darwin publicou seu livro A origem das espécies (1859), cuja teoria evolucionista influenciou diversas áreas do saber, incluindo a literatura. A ideia de que os seres vivos passam por um processo de seleção natural, que determina as espécies que sobrevivem e as que são extintas, estendeu-se para a dimensão das relações humanas: é o chamado darwinismo social.

Essa concepção hierarquiza as sociedades, identificando os europeus como superiores intelectualmente graças ao desenvolvimento tecnológico e cultural, ao contrário de outras sociedades, como os povos ameríndios e do continente africano, reforçando, com um teor “científico”, a noção de “primitivo” e “civilizado” que já existia na mentalidade eurocêntrica há muitos séculos.

Outra teoria em voga na época era o determinismo científico, que entendia que o comportamento humano é determinado pelas condições do meio, outro pensamento preconceituoso à serviço da estratificação social.

Filhos de seu tempo, os realistas abraçaram a ciência como grande patrona do século XIX, substituindo as idealizações e anseios de liberdade do romantismo por uma postura analítico científica, dissecando a realidade que se via em constante transformação.

Realismo na Europa

Nascido na França, herdeiro dos romances de Balzac e Stendhal, o realismo consolidou-se como movimento literário a partir da obra de Gustave Flaubert. Flaubert é considerado o pai do realismo. Sua Madame Bovary (1857) foi um escândalo à época, pois centrava o enredo em Emma, uma moça sonhadora que esperava encontrar no matrimônio a grande realização de sua vida, mas, ao desposar Charles Bovary, desencanta-se rapidamente com o casamento e com a mediocridade do rapaz, um jovem cirurgião sem talentos e de mentalidade obtusa.

As longas descrições de Flaubert, muito pormenorizadas e em linguagem trabalhada com excepcional afinco, revelam então Emma em busca de algo que a interesse, o que a leva a jogos de sedução e ao adultério. Trata-se de uma dessacralização do casamento enquanto encontro de almas do amor romântico.

Em Portugal, entende-se que o movimento tem início em 1865, com a Questão Coimbrã, que começa com um prefácio do romântico Feliciano de Castilho criticando avidamente a nova tendência literária que aparecia na poesia de Antero de Quental. Para ele, a nova geração carecia de bom senso e de bom gosto.

Antero de Quental, por sua vez, respondeu-lhe em uma carta aberta, em defesa da liberdade de expressão e de existência da nova escola. Castilho não respondeu; Ramalho Ortigão tomou suas dores, e a história acabou em um duelo, vencido por Antero de Quental (que mal sabia segurar um florete). A Questão Coimbrã apareceu em páginas e páginas da imprensa portuguesa, funcionando como um divisor de águas da literatura, pois o realismo tornou-se também a tendência estética vencedora a partir de então.

O principal romancista do realismo português foi Eça de Queirós, que além de escritor era diplomata, tendo viajado para diversos lugares, como Cuba, Egito e América do Norte. Sua obra pode ser dividida em três fases: uma de preparação, composta majoritariamente por produções veiculadas na imprensa (1866-1867) e alguns textos ainda de cunho romântico; uma de realismo agudo, quando escreve os grandes romances críticos O crime do padre Amaro (1875/1876/1880), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888); e uma de maturidade, caracterizada por um humanismo saudosista, época em que publica A ilustre casa de Ramires (1900) e A cidade e as serras (1901).

Eça de Queiroz, um dos autores do realismo.
Eça de Queiroz é o realista português de maior renome.[1]

A principal característica de Eça de Queirós é seu trabalho com a linguagem. “Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia” é uma de suas célebres frases, e reflete o esmero com que se dedicou à estilização de sua prosa. Os cenários vulgares ou muitas vezes degradantes do realismo são trazidos à tona por meio de uma descrição luminosa, rítmica, feita com esmero. Veja um exemplo:

“Depois dos primeiros desesperos, desabafos em patadas no soalho e blasfêmias de que pedia logo perdão a Nosso Senhor Jesus Cristo, quis serenar, estabelecer a razão das coisas. Aonde o levava aquela paixão? Ao escândalo. E assim, casada ela, cada um entrava no seu destino legítimo e sensato — ela na sua família, ele na sua paróquia. Depois, quando se encontrassem, um cumprimento amável; e ele poderia passear a cidade com a sua cabeça bem direita, sem medo dos apartes da Arcada, das insinuações da gazeta, das severidades de sua excelência e das picadinhas da consciência! E a sua vida seria feliz. — Não, por Deus! a sua vida não poderia ser feliz sem ela! Tirado à sua existência aquele interesse das visitas à Rua da Misericórdia, os apertozinhos de mão, a esperança de delícias melhores — que lhe restava a ele? Vegetar, como um dos tortulhos nos cantos úmidos da Sé! E ela, ela que o entontecera com os seus olhinhos e as suas maneirinhas, voltava-lhe as costas mal lhe aparecia outro, bom para marido, com 25$000 por mês! Todos aqueles suspiros, aquelas mudanças de cor — chalaça! Mangara com o senhor pároco!”

(Eça de Queiroz, O crime do padre Amaro)

No trecho acima, o autor descreve os acontecimentos que se dão logo depois de padre Amaro tomar conhecimento de que Amélia, moça com quem se via envolvido, quebrando o celibato, tinha marcado casamento com João Eduardo. A cadência da linguagem é bela e ordenada, trabalhada com afinco, descrevendo com minúcias o pensamento do pároco, desde a preocupação com sua posição na Igreja até as “picadinhas na consciência”. 

Destacam-se ainda no contexto do realismo europeu as obras dos ingleses Charles Dickens, George Eliot (pseudônimo de Mary A. Evans) e Henry James; do norueguês Henrik Ibsen; do sueco August Strindberg; e dos russos Fiódor Dostoiévski, Liev Tolstói e Anton Tchekhov.

Leia também: Manuel Antônio de Almeida: um romântico com características realistas

Realismo no Brasil

Enquanto o movimento europeu era norteado pelas mudanças do avanço industrial, que já alçava sua segunda etapa, o Brasil, por sua vez, iniciava um lento processo de modernização, atravancado pelo ranço colonial que se mantinha na política do Segundo Reinado e na manutenção da mão de obra escrava. Em sua maioria, os escritores realistas brasileiros foram republicanos e abolicionistas, não raro abordando em suas obras esses ideais.

O realismo brasileiro tem início com os círculos literários nordestinos: primeiramente em Fortaleza (CE), com os grupos Fênix Estudantil (1870), Academia Francesa (1872) e Padaria Espiritual (1892), que geraram autores célebres como Capistrano de Abreu, Rodolfo Teófilo, Paula Nei, entre outros. Também nos anos de 1870 surge a chamada Escola do Recife, movimento intelectual pernambucano liderado por Tobias Barreto e Sílvio Romero, grandes influenciadores do pensamento realista nacional.

Os três principais nomes do realismo brasileiro são o maranhense Aluísio Azevedo, o carioca Machado de Assis e o angrense Raul Pompeia. Se quiser aprofundar-se nesse tema, acesse: Realismo no Brasil.

  • Aluísio Azevedo

Aluísio Azevedo, contudo, diferencia-se dos outros dois por sua estética de tendência naturalista. Corrente literária fundada pelo francês Émile Zola, que, embora se assemelhe ao realismo e intente uma visão objetiva da realidade, tem características próprias: no Naturalismo prevalecem as descrições animalescas da personalidade humana, a abordagem patológica das personagens, a ênfase nos instintos, perversões e comportamentos sexuais, bem como a explicação dos fatos apoiada no determinismo científico. É o caso das obras Casa de pensão (1883) e O cortiço (1890), célebres produções de Azevedo.

No trecho a seguir, o autor narra o amanhecer no cortiço. A caracterização de homens e mulheres como machos e fêmeas, aglomerados num “zunzum”, molhando o pelo, bem como a escolha dos verbos “fossando e fungando” e as crianças “se despachando ali mesmo”, sem uso das latrinas, remete ao comportamento humano relacionado às excrescências, elemento natural que nos aproxima da vida animal.

“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao

trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.”

(Aluísio Azevedo, O cortiço)

  • Raul Pompeia

Outro é o universo de Raul Pompeia, autor que morreu prematuramente, deixando poucas obras em vida. Seu romance mais aclamado, O Ateneu (1888), escrito em primeira pessoa, versa sobre as memórias de Sérgio, que recorda o período adolescente em que esteve no colégio interno. Já adulto, o narrador-personagem vê-se confuso e rebela-se pela incapacidade de modificar o passado, ou de reagir de outra forma.

O universo opressor do colégio mostra a Sérgio uma infinidade de novas existências, desconhecidas de sua vivência doméstica — cada personagem é um tipo social, uma caricatura, desde o diretor Aristarco, cujo interesse único é o lucro, até Franco, menino esquecido pelos pais, que não pagavam o colégio, fazendo com que sofresse perseguições de alunos e mestres.

As técnicas narrativas de Pompeia aproximam a forma do texto da forma mesma da lembrança: esfumaçada, incerta, interrompida, ao mesmo tempo que a linguagem também é muito expressiva; alguns críticos consideram haver traços do impressionismo e do expressionismo na obra. No entanto talvez a grande novidade seja a presença da homoafetividade nas novas relações que a vida no colégio desdobra, temática que aparece diversas vezes ao longo do romance, revelando uma prática socialmente ignorada e propositalmente encoberta: a das relações homossexuais entre rapazes em regime de internato.

A seguir, trecho que ilustra os dizeres do diretor Aristarco ao interceptar uma carta de um aluno para outro, revelando também a condenação moral a que estava submetida a prática homossexual na época:

“Tenho a alma triste. Senhores! A imoralidade entrou nesta casa! Recusei-me a dar crédito, rendi-me à evidência... [...] Uma carta cômica e um encontro marcado no Jardim. Está em meu poder um papel, monstruoso corpo de delito! Assinado por um nome de mulher! Há mulheres no Ateneu, meus senhores!’ Era uma carta do Cândido, assinada Cândida. ‘Esta mulher, esta cortesã fala-nos da segurança do lugar, do sossego do bosque, da solidão a dois... um poema de pouca-vergonha! É muito grave o que tenho a fazer. Amanhã é o dia da justiça! Apresento-me agora para dizer somente: serei inexorável, formidando! E para prevenir: todo aquele que direta ou indiretamente se acha envolvido nesta miséria... [...] será reputado cúmplice e como tal: punido! [...] Aristarco ufanava-se de perspicácia de inquisidor.”

(Raul Pompéia, O Ateneu)

  • Machado de Assis

Machado de Assis, um dos autores do realismo.
Machado de Assis é um expoente da literatura brasileira.[2]

Machado de Assis, por sua vez, é aclamado como o maior escritor brasileiro de todos os tempos, principalmente pela riqueza com que explora as técnicas narrativas e pelo retrato apurado da psique humana. Autor de romances, contos, crônicas, peças de teatro e textos de crítica literária e teatral, além de poesias, sua prosa realista, que lhe rendeu o posto de glória na literatura brasileira, passou a ser produzida a partir de 1870.

Em linguagem direta, mas elaborada, as obras machadianas conduzem à reflexão a partir de cenas do cotidiano. Não é a história que se apresenta como novidade, mas o modo de narrar. Geralmente os personagens e situações são banais, mas a maneira como Machado relata-os é que traz consigo a novidade genial: trata-se de um realismo que leva em consideração a condição psicológica das personagens enquanto modo como elas apreendem a realidade.

Desse modo, a realidade, matéria-prima da estética realista, não é feita apenas de fatos, mas de como as pessoas percebem esses fatos. Assim, a narrativa machadiana é repleta de interferências, fluxos de pensamento, memórias, digressões de todos os tipos, o que aproxima a prosa da maneira como a mente de fato funciona.

Machado também é dono de um humor peculiar e de uma ironia sutil, presentes em boa parte de sua obra, dando a situações críticas uma certa leveza, e faz uso frequente da metalinguagem, ou seja, refere-se à elaboração do livro no próprio livro, como no exemplo a seguir:

“Vim... Mas não; não alonguemos este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escrever, e a pena vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor. Capítulos compridos quadram melhor a leitores pesadões; e nós não somos um público in-folio, mas in-12, pouco texto, larga margem, tipo elegante, corte dourado e vinhetas... Não, não alonguemos o capítulo.”

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

Exercícios resolvidos sobre realismo

1) (Enem 2013)

Capítulo LIV - A pêndula

Sai dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-los assim:

Outra de menos..

Outra de menos..

Outra de menos..

Outra de menos..

O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.

Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS. M Memórias de Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. (Fragmento)

O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque

a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros.

b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo.

c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas.

d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas.

e)  o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.

2) (FGV-SP) No romance O cortiço, Aluísio Azevedo estabelece uma forte ligação entre o meio em que vivem as personagens e sua vida material, moral e psicológica. Tal relação apoia-se nos princípios

a) do livre-arbítrio religioso.

b) do determinismo científico.

c) do sentimentalismo romântico.

d) do culto à natureza.

e) do ideário modernista.

3) (PUC-RS) Sobre O Ateneu, de Raul Pompéia, é correto afirmar que:

a) apresenta todas as características do realismo, exceto a influência do meio sobre o comportamento do indivíduo.

b) tem como matéria-prima as recordações e impressões da personagem principal.

c) constitui-se num documento fotográfico da realidade objetiva.

d) segue uma ordem cronológica apoiando-se no real.

e) não se atém a reflexões críticas em relação ao contexto social.

4) (Enem 2001) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...

b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...

c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno...

d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...

e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

Resolução comentada:

  1. Alternativa d: A presença do relógio, instrumento em que o tempo aparece de maneira objetiva, desfaz a sensação idealista ou subjetiva do tempo comum aos paradigmas românticos quando se trata da descrição de um encontro amoroso.

  2. Alternativa b: Aluísio Azevedo foi bastante influenciado pelo determinismo científico, que entendia que o meio em que dada pessoa vive direciona o seu comportamento.

  3. Alternativa b: O romance é escrito em primeira pessoa e consiste  no exercício de lembrança do narrador-personagem Sergio, já adulto, a respeito de seus anos no colégio.

  4. Alternativa a: Sobredourar a realidade significa idealizar, justamente aquilo que o autor não quer fazer.

Créditos das imagens

[1] Domínio público/ Biblioteca Nacional de Portugal

[2] Domínio público / Marc Ferrez

Escritor do artigo
Escrito por: Luiza Brandino Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

BRANDINO, Luiza. "Realismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/realismo.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

Assinale a alternativa que apresenta uma característica do realismo.

A) Objetividade

B) Subjetividade

C) Sentimentalismo

D) Religiosidade

E) Transcendentalismo

Exercício 2

(Enem)

Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa numa expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao

A) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.

B) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.

C) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.

D) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.

E) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.

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