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Memórias póstumas de Brás Cubas

Memórias póstumas de Brás Cubas é o romance de Machado de Assis que inaugurou o Realismo no Brasil.

Capa do exemplar do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”
Exemplar do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas” dedicado à Biblioteca Nacional pelo próprio Machado de Assis.
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Memórias póstumas de Brás Cubas”, publicado em 1881, é uma das principais obras do escritor Machado de Assis. A publicação desse romance é considerada o marco inicial do Realismo no Brasil,  e seu autor, por consequência, é reconhecido como o pai de tal movimento em terras brasileiras.

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Memórias póstumas de Brás Cubas

  • Publicado em 1881, inaugurou o Realismo no Brasil.
  • Trata-se de uma narrativa feita em primeira pessoa, com o inusitado de o narrador já ter morrido quando começou a escrever.
  • Narra-se, de maneira breve, a infância do protagonista.
  • São contados os diversos amores de Brás Cubas, protagonista da história.
  • Descreve-se a vida adulta de Cubas, suas diversas tentativas de trabalho e de invenção (tal qual o emplasto).
  • Por fim, o narrador descreve sua vida como um conjunto de negativas que acabam com um único saldo positivo: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

Acesse também: Eça de Queiroz — importante nome do Realismo português

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Contexto histórico de Memórias póstumas de Brás Cubas

O contexto histórico que dialoga com o romance Memórias póstumas de Brás Cubas é o de um Brasil construindo sua urbanidade, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, capital nacional no período. De modo geral, a obra de Machado de Assis retrata os tipos e cenas comuns dessa sociedade carioca.

 A libertação dos escravos , em 1888, e seus efeitos na vida urbana, assim como a reestruturação política brasileira a partir da Proclamação da República, em 1889, são alguns dos fatos históricos que permeiam o livro machadiano. Veja, a seguir, um trecho do romance em que o narrador retrata sua relação com os escravos na infância:

Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas vezes gemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala a boca, besta!”

Memórias póstumas de Brás Cubas,

Machado de Assis

Para saber mais sobre Machado de Assis, bem como sobre as particularidades de sua obra, leia: Machado de Assis: trajetória, características e obras.

Análise da obra Memórias póstumas de Brás Cubas

O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é uma obra complexa, e os diversos detalhes presentes no seu enredo só podem ser apreendidos a partir da leitura, na íntegra, do livro de Machado de Assis. Não obstante, a seguir descrevemos alguns dos pontos fundamentais para a compreensão da narrativa.

Machado de Assis é um dos maiores nomes da Literatura brasileira.
Machado de Assis é um dos maiores nomes da Literatura brasileira.

O romance machadiano é narrado em primeira pessoa, possuindo, portanto, um narrador em primeira pessoa e, nessa estruturação, há duas questões fundamentais:

  • Primeiramente, essa escolha afasta a obra das narrativas realistas europeias – ali se usava o narrador onisciente para transferir à obra maior grau de objetividade;
  • Em segundo lugar, para além do uso de um personagem narrando sua vida a partir de uma visão particular – e subjetiva, portanto –, Brás Cubas, antes de começar a contar sua história, morre. Nesse sentido, a personagem intitula-se não um autor defunto, mas sim um defunto autor – haja vista que a morte ocorre antes da escrita de suas memórias póstumas.
  • Infância

A infância de Brás Cubas é contada brevemente nos primeiros capítulos do romance. Ali, percebemos a representação de uma infância não idealizada e, em muitos casos, até cruel – conforme se pode ver na descrição da relação entre o narrador e um escravo, transcrita anteriormente.

Feito dessa forma, o retrato dos anos de criança afasta o romance de Machado de Assis do Romantismo, movimento em que a mocidade é vista como ideal e motivo de saudade. 

  • Amores

O amor é outro elemento que afasta o romance Memórias póstumas de Brás Cubas da estética romântica  – movimento que foi sucedido pelo Realismo.

Para os românticos, tais quais José de Alencar  e Álvares de Azevedo , o sentimento amoroso era representado como maior meta da vida e, em muitos casos, inatingível. Além disso, a figura da amada era idealizada e única.

No romance de Machado de Assis, entretanto, não há idealização do amor ou da mulher. De fato, Brás Cubas tem uma grande paixão na vida, a personagem Virgília. Entretanto, ela nem é única e tampouco completamente correspondida e eterna. Outros amores do protagonista são Marcela, Eugênia e Nhã-Loló.      

Veja um trecho do romance em que Brás Cubas descreve seu maior amor, Virgília:

Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois?... A mesma; era justamente a senhora, que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que ia lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, — devoção, ou talvez medo; creio que medo.

Memórias póstumas de Brás Cubas,

Machado de Assis

  • Emplasto Brás Cubas

Já no final da vida, Brás Cubas assume para si a responsabilidade de criar um medicamento capaz de curar todas as doenças do mundo. Tal projeto, obviamente, não dá certo e torna-se mais uma das frustrações do narrador. Leia, a seguir, o momento em que o narrador conta da ideia do remédio, intitulado “Emplasto Brás Cubas”:

Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.

Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade.

Memórias póstumas de Brás Cubas,

Machado de Assis

  • O capítulo das negativas

O último capítulo do romance tornou-se célebre por resumir a ironia e o pessimismo típicos da escrita de Machado de Assis. Nele, Brás Cubas faz uma espécie da ponderação acerca da própria vida, que, segundo ele, pode ser resumida como uma sucessão de negativas. Não obstante, um saldo positivo acaba restando para o narrador, conforme se lê a seguir:

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Memórias póstumas de Brás Cubas,

Machado de Assis

Saiba mais: Leia um pouco mais sobre a obra de Machado de Assis

Personagens de Memórias póstumas de Brás Cubas

O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é longo – conta-se toda a vida e morte do protagonista. Por isso, não é curta a lista de personagens presentes na obra. Não obstante, alguns deles são de fundamental importância e vale a lembrança:

  • Brás Cubas, protagonista da história;
  • Virgília, maior paixão de Brás Cubas;
  • Lobo Neves, marido de Virgília e político;
  • Marcela, prostituta e primeiro amor de Brás Cubas;
  • Eugênia, segundo amor do narrador;
  • Nhã-Loló, que se casaria com Brás Cubas, mas falece vitimada pela febre amarela;
  • Quincas Borba, amigo de infância de Brás Cubas. Esse específico personagem teve seu próprio romance também publicado por Machado de Assis.


 

Escritor do artigo
Escrito por: Fernando Marinho Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MARINHO, Fernando. "Memórias póstumas de Brás Cubas"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/memorias-postumas-bras-cubas.htm. Acesso em 19 de dezembro de 2024.

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