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Raul Pompeia foi um autor brasileiro do século XIX, nascido em 12 de abril de 1863. Seu romance mais conhecido é O Ateneu (1888). Alguns críticos consideram que essa obra possui traços autobiográficos, já que o escritor passou pela experiência de estudar em um colégio interno, espaço central dessa narrativa. Assim, tal romance naturalista explora, principalmente, o aspecto determinista do meio em questão.
Além de romancista, o escritor exerceu também o jornalismo e posicionou-se politicamente a favor do governo de Floriano Peixoto (1839-1895). Essa sua postura política, contrária à da maioria dos escritores de sua época, provocou um desgaste em suas relações, o que abalou emocionalmente o autor, o qual atirou no próprio peito em 25 de dezembro de 1895.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Biografia de Raul Pompeia
- 2 - Estilo literário de Raul Pompeia
- 3 - Obras de Raul Pompeia
- 4 - O Ateneu
Biografia de Raul Pompeia
Raul Pompeia nasceu em 12 de abril de 1863, em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Seu pai era advogado, fato que influenciou o autor a fazer Direito. Em 1867, sua família mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde, com 11 anos de idade, o escritor ingressou em um internato, o Colégio Abílio, de propriedade do barão de Macaúbas (1824-1891).
Cinco anos depois, passou a estudar no colégio Pedro II. No ano seguinte, em 1880, publicou seu primeiro livro — Uma tragédia no Amazonas. Estudante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, a partir de 1881, ele começou a ter problemas com alguns de seus professores, pois mostrava-se abolicionista e republicano. Possivelmente devido a isso, ele foi reprovado no terceiro ano de faculdade, mas recorreu.
Acabou recebendo outra reprovação no ano seguinte, mas ele não estava só nessa possível perseguição ideológica, outros estudantes também foram reprovados. A solução que encontraram foi terminar o curso na Faculdade de Direito de Recife.
Contudo, Raul Pompeia não exerceu a profissão. Além de ter trabalhado como jornalista, usando, entre outros, o pseudônimo de Rapp, tornou-se professor da Escola de Belas Artes e também diretor da Biblioteca Nacional após a proclamação da república (1889).
Um ano antes, seu romance O Ateneu fora publicado, com sucesso de crítica. No entanto, no início da jovem república, o escritor decidiu dar apoio ao governo ditatorial de Floriano Peixoto. Tal postura gerou a inimizade de Olavo Bilac (1865-1918), Pardal Mallet (1864-1894) e Luís Murat (1861-1929), entre outros. Os contendores usaram os jornais para trocarem ofensas.
Assim, quando Prudente de Morais (1841-1902) assumiu a presidência, o autor perdeu o cargo de diretor da Biblioteca Nacional. Diante desse contexto de perseguições e declarações públicas carregadas de agressividade, Pompeia decidiu dar fim na própria vida com um tiro no peito, no Natal de 1895, no Rio de Janeiro. Entretanto, foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras ao ser nomeado como patrono da cadeira de número 33.
Estilo literário de Raul Pompeia
Raul Pompeia foi um escritor pertencente ao naturalismo brasileiro, portanto, suas obras apresentam a seguintes características:
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Objetividade
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Biologismo
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Zoomorfização
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Crítica sociopolítica
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Cientificismo
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Antirromantismo
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Ausência de idealizações
Assim, os personagens são construídos com base em um olhar objetivo, crítico e (pseudo)científico. Eles têm a vida determinada pelo meio em que vivem, pela raça à qual pertencem e pelo momento histórico em que estão inseridos. Além disso, suas características biológicas sobressaem-se aos elementos psicológicos. Dessa forma, os personagens naturalistas aproximam-se da animalidade (zoomorfização) e, portanto, são controlados por seus instintos, em detrimento da razão.
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Obras de Raul Pompeia
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Uma tragédia no Amazonas (1880)
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Um réu perante o futuro (1880)
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Canções sem metro (1881)
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As joias da Coroa (1882)
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O Ateneu (1888)
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Alma morta (1888)
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Agonia (1895)
O Ateneu
O romance O Ateneu é um representante do naturalismo brasileiro. Publicada em 1888, a obra é baseada no determinismo, em particular, na influência do meio sobre os indivíduos. O autor, portanto, elegeu o ambiente escolar como espaço de análise dos comportamentos coletivos. Assim, o narrador deixa transparecer que a “educação” que os internos recebem no Ateneu vai além do currículo formal.
O Ateneu é um colégio interno que recebe os filhos da elite carioca do século XIX. Seu proprietário e diretor é Aristarco Argolo de Ramos, um “pedagogo”, que busca fazer de seu colégio um modelo de educação. No entanto, é perceptível que seus interesses principais são a posição social e o dinheiro. É no Ateneu que Sérgio vai estudar aos 11 anos de idade, fato que coincide com a vida de Raul Pompeia, o qual também ingressou em um colégio interno com essa mesma idade.
Isso fez com que a crítica considerasse o livro como autobiográfico e Sérgio, por conseguinte, o alter ego de Pompeia. Assim como o pai do autor, o pai de Sérgio é quem o leva até o colégio. Sérgio, além de personagem, é também o narrador da história e pretende descrever o Ateneu como um espaço de transição para a vida adulta, onde o protagonista depara-se com o fim da ingenuidade e dos sonhos da infância.
O romance de Raul Pompeia apresenta semelhanças com outro romance naturalista, isto é, O cortiço, de Aluísio Azevedo (1857-1913), publicado em 1890, portanto, dois anos depois de O Ateneu. Se, na obra de Azevedo, o cortiço é o meio corruptor; na de Pompeia, é o colégio interno. Se, n’O cortiço, João Romão é a figura do capitalista que pretende enriquecer a qualquer custo, n’O Ateneu, Aristarco cumpre essa função. Aliás, em ambas as obras, o meio corruptor é, simbolicamente, destruído por um incêndio.
Até lá, Sérgio mostra sua trajetória no colégio, em que é, na prática, educado para viver em sociedade, pois o Ateneu nada mais é do que a representação da própria sociedade corrupta daquele tempo. Está presente, portanto, a ideia de que “os mais fortes sobrevivem”, base da ideologia capitalista e imperialista do século XIX. Sérgio precisa provar, então, que é digno da posição social que seus pais ocupam.
Sérgio conhece Rebelo — um estudante dedicado, protetor, desconfiado e que aconselha o protagonista a ter cuidado. Por ser mais velho do que Sérgio, Rebelo não é mais ingênuo e sabe dos “perigos morais” que os cercam. Já Sanches possui uma “pegajosa ternura”, que, a princípio, incomoda Sérgio. O narrador quer demonstrar, com isso, que, instintivamente, percebeu em Sanches uma “ameaça”, isto é, Sérgio apresenta uma aversão instintiva à homossexualidade.
O personagem Franco é melancólico e tem dificuldade em expressar-se. Vai mal nos estudos, além de ser alvo do desprezo de todos, que o consideram uma má influência para Sérgio. Ainda, o protagonista também sofre da influência de Barreto — religioso e supersticioso, que “falava da morte, da outra vida, rezava muito, tinha figas de pau, bentinhos, [...]” — e de Bento Alves — um jovem forte e corajoso, que se torna uma espécie de herói para Sérgio, pois é capaz de sujeitar um adversário e, devido a isso, é respeitado tanto por alunos quanto por professores.
Já ao ingressar no colégio, Sérgio é aconselhado por Rebelo a defender-se, a não se deixar dominar por outro estudante. Assim, a condenação à homossexualidade é mais uma característica dos romances naturalistas presente também em O Ateneu. Além disso, a obra mostra o instinto como norteador das decisões humanas, seja o instinto sexual, seja o instinto de sobrevivência, no caso, do mais forte, como bem demonstra a morte do fraco e melancólico Franco.
Crédito da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura