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O arsênio é um ametal (muitas vezes referido como semimetal) do grupo 15 da Tabela Periódica. Em sua forma pura mais estável, apresenta coloração cinza, sendo quebradiço e cristalino. É um elemento amplamente conhecido por sua grande toxicidade. Estima-se que 130 mg de arsênio são suficientes para serem fatais ao ser humano. Não à toa, foi um dos venenos mais usados na humanidade.
Contudo, o arsênio é bastante utilizado por conta de suas propriedades semicondutoras, estando presente em células solares e LEDs, e sendo muito útil para o ramo de telecomunicações. É um elemento que quimicamente se assemelha mais aos elementos mais pesados do grupo 15, como bismuto (Bi) e antimônio (Sb).
Leia também: Mercúrio — outro elemento químico que possui alta toxicidade
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre arsênio
- 2 - Propriedades do arsênio
- 3 - Características do arsênio
- 4 - Onde o arsênio é encontrado?
- 5 - Obtenção do arsênio
- 6 - Para que serve o arsênio?
- 7 - Precauções com o arsênio
- 8 - História do arsênio
Resumo sobre arsênio
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O arsênio é um elemento de número atômico 33, pertencente ao grupo 15 da Tabela Periódica.
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Sua forma alotrópica mais estável é a forma cinza, a qual é quebradiça e cristalina.
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Assemelha-se mais aos elementos mais pesados do grupo 15, antimônio (Sb) e bismuto (Bi).
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É conhecido por sua elevada toxicidade, e, por isso, precauções devem ser tomadas em relação a ele.
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É o 20º elemento mais abundante da crosta terrestre, sendo principalmente encontrado em minérios como arsenopirita, realgar e ouropigmento.
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O arsênio é muito explorado por conta de suas propriedades semicondutoras, sendo empregado na fabricação de painéis solares, LEDs, entre outros produtos.
Propriedades do arsênio
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Símbolo: As.
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Número atômico: 33.
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Massa atômica: 74,92160 u.m.a.
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Eletronegatividade: 2,18.
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Ponto de sublimação: 616 °C.
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Temperatura do ponto triplo: 817 °C.
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Densidade: 5,75 g.cm-3 (forma cinza).
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Configuração eletrônica: [Ar] 4s2 3d10 4p3.
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Série química: grupo 15, ametal, semimetal, metaloide, elementos representativos, elementos do bloco p.
Características do arsênio
O arsênio é um elemento químico cuja química mais se aproxima dos elementos mais pesados do grupo 15, no caso o antimônio (Sb) e o bismuto (Bi). É um elemento que apresenta mais de uma forma alotrópica, sendo as mais comuns a cinza (ou metálica), que é mais estável, e a amarela. Assim, em temperatura ambiente, o arsênio se apresenta como um sólido cinza com estrutura laminar, sendo quebradiço e cristalino. Na sua forma de vapor, é possível perceber moléculas As4.
A forma alotrópica cinza sublima aos 616 °C, apresentando um ponto triplo (coexistência dos estados sólido, líquido e gasoso) aos 817 °C. Aos 1400 °C, o arsênio atinge sua temperatura crítica (acima dessa temperatura não pode mais ser liquefeito, mesmo com alteração de pressão).
É comum na literatura ver o arsênio ser chamado de metal, assim como de metaloide ou até semimetal. Contudo, cada vez mais essa designação vem sendo discutida, até mesmo caindo em desuso. A Sociedade Brasileira de Química (SBQ) classifica o arsênio como um ametal. De fato, elementos metaloides, como o arsênio, podem ter propriedades em comum com os metais, porém, no geral, as propriedades químicas remetem mais aos ametais.
Assim como o Sb e o Bi, o arsênio queima em contato com o ar, produzindo As2O3 com um cheiro que remete ao alho. Além disso, combina-se com os halogênios. O arsênio não é atacado por ácidos não oxidantes, mas reage com ácido nítrico, HNO3, concentrado para dar origem ao H3AsO4 (As2O5 hidratado), e com o ácido sulfúrico, H2SO4, concentrado para dar origem ao As4O6.
Uma diferença química em relação ao Bi e ao Sb é que o arsênio é atacado por hidróxido de sódio, NaOH, fundido, para produzir arsenito de sódio:
2 As + 6 NaOH → 2 Na3AsO3 + 3 H2
Onde o arsênio é encontrado?
O arsênio é o 20º elemento mais abundante da crosta terrestre. Esse elemento pode ser encontrado na forma pura, mas é obtido comercialmente por meio da arsenopirita (FeAsS), realgar (As4S4) e ouropigmento (As2S3). Peru, China e Marrocos lideram entre os principais produtores de arsênio no planeta, destacando-se também as produções na Rússia e na Bélgica.
Veja também: Estrôncio — o 15º elemento mais abundante da crosta terrestre
Obtenção do arsênio
O arsênio pode ser obtido de seus minerais por meio de aquecimento e condensação do elemento após sua sublimação. A operação deve ocorrer na ausência de gás oxigênio. Da arsenopirita, por exemplo, obtemos:
FeAsS → FeS + As
Uma outra forma de obter arsênio é por meio de sua oxidação em contato com o ar, para produzir As2O3 (trióxido de diarsênio). O As2O3, aliás, é o principal produto primário desse elemento, sendo majoritariamente produzido pelos principais países produtores.
Além dessas duas formas, o arsênio também pode ser obtido pela redução do As2O3 com carvão.
Para que serve o arsênio?
O principal uso do arsênio está na indústria de semicondutores. Os de arseneto de gálio (GaAs) são empregados em células solares, biomedicina, computadores, eletrônicos, pesquisas espaciais e telecomunicações. Além disso, o GaAs é empregado na fabricação de alguns tipos de LEDs (diodos emissores de luz). Outros compostos de arsênio empregados nessa área são o arseneto de índio e gálio (InGaAs). Com o início do 5G em 2022, houve um aumento na comercialização de dispositivos de GaAs.
Aproveitando-se da toxicidade do arsênio, muitos compostos de arsênio também foram empregados em herbicidas para atividades agrícolas. Outro uso comum é como conservante do couro e da madeira. O arsênio também é empregado em ligas metálicas, inclusive tendo a capacidade de melhorar propriedades mecânicas do chumbo (Pb), e em baterias.
Saiba mais: Moscóvio — um dos últimos elementos incluídos na Tabela Periódica
Precauções com o arsênio
O maior problema do arsênio é que ele se trata de um elemento extremamente tóxico para os seres humanos quando na sua forma inorgânica. A dose letal é da ordem de 130 mg. Sendo muito encontrado em minerais, é normal que o contato da água com rochas contendo arsênio aumente a sua concentração em alguns corpos hídricos. Quando dissolvido, o arsênio está na forma dos íons arseneto, AsO33-, e, principalmente, arsenato, AsO43-.
No estado indiano de Bengala Ocidental e em Bangladesh, os moradores começaram a obter água limpa e potável de poços profundos, contudo percebeu-se que nessa região havia grande concentração de arsênio nas águas de profundidade entre 30 e 40 metros. Consequentemente, muitos moradores dessa região sofrem com doenças crônicas relacionadas a esse elemento. Em Bangladesh, por exemplo, estima-se que mais de 39 milhões de pessoas estão expostas a níveis elevados de arsênio, sendo este responsável por cerca de 43.000 mortes por ano.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o arsênio é uma das dez substâncias de maior preocupação para a saúde pública. Sua principal via de exposição se dá pela ingestão de alimentos e bebidas contaminadas.
A exposição aguda ao arsênio causa dor abdominal, vômitos, diarreia, vermelhidão na pele, dor muscular e fraqueza. Já a exposição crônica, conhecida como arseniose, arsenismo ou arsenicismo, motivada pelo consumo frequente e gradual de fontes contaminadas com arsênio, causa lesões dérmicas, neuropatia periférica, câncer de pele, bexiga e pulmão, além de doença vascular periférica.
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) classifica o arsênio e seus compostos inorgânicos como cancerígenos para o ser humano (grupo 1).
Como é comum a presença de arsênio inorgânico em grãos de arroz, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece níveis máximos seguros para arsênio no arroz, que é de 0,3 mg/kg de arroz. Essa presença causou grande desconfiança entre os brasileiros, visto que o Brasil é o principal produtor não asiático do grão. Bangladesh, que sofre com altos níveis de arsênio, é de fato um grande exportador de arroz, contudo no Brasil boa parte do consumo advém da produção nacional, principalmente do Rio Grande do Sul, responsável por 72% da origem do arroz consumido.
Ocorre que o solo do Rio Grande do Sul é de uma formação diferente, não vulcânica, sendo que as rochas originárias não possuem arsênio em sua composição. Estudos feitos no Brasil apontam que o arsênio presente no arroz produzido e consumido aqui é da faixa de poucos microgramas por quilograma de arroz, valores cerca de 100 a 1000 vezes menores que o estabelecido como limite pela Anvisa.
História do arsênio
O arsênio elementar foi identificado inicialmente em 1649, mas seus minérios já eram conhecidos desde o século IV a.C., quando Aristóteles os descreveu. Algumas fontes também indicam que o arsênio foi descoberto por volta de 1250, pelo escolástico alemão Albertus Magnus.
Os romanos, também por volta do século IV a.C., usavam arsênio como veneno, principalmente por questões envolvendo política. O uso foi tão indiscriminado que no ano 82 a.C., o ditador romano e reformador constitucional Lucius Cornelius Sulla criou a Lex Cornelia, provavelmente a primeira lei da história da humanidade contra o envenenamento.
A relação entre arsênio, veneno e política continuou pela Idade Média europeia. A histórica família italiana Bórgia, durante a Idade Média, foi amplamente acusada de ser envenenadora frequente.
Contudo, durante a era vitoriana, houve um fascínio por esse elemento, havendo, inclusive, automedicação por meio deste. Alguns também acreditavam que o arsênio poderia ser um afrodisíaco. Diz-se até que o lendário cientista Charles Darwin usou arsênio para tratar de eczema.
O arsênio chegou a ser utilizado para a produção de um corante verde, muito empregado em papéis de parede e outros artefatos. Porém, fungos presentes em casas com umidade convertiam o arsênio presente no corante em compostos voláteis de arsênio, resultando em diversos casos de intoxicação. Essa forma de contaminação com arsênio foi, recentemente, ligada à morte de Napoleão Bonaparte.
Crédito de imagem
[1] Pixparts / Shutterstock
Por Stéfano Araújo Novais
Professor de Química