Napoleão Bonaparte foi um líder militar e político francês da virada do século XVIII para o século XIX, nascido na ilha de Córsega, em 1769. Como general, defendeu a França do período da Revolução Francesa (1789-1799), notabilizando-se e angariando apoio político e popular para alçar ao poder em 1799, no Golpe do 18 de Brumário, em que assumiu o comando do país como cônsul e, depois, imperador dos franceses, até sua queda em 1815.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Napoleão Bonaparte
- 2 - Quem foi Napoleão Bonaparte?
- 3 - Carreira militar e política de Napoleão Bonaparte
- 4 - Napoleão Bonaparte e a Revolução Francesa
- 5 - Objetivos de Napoleão Bonaparte
- 6 - Napoleão e o Golpe de 18 de Brumário
- 7 - O império de Napoleão Bonaparte
- 8 - Conquistas de Napoleão Bonaparte
- 9 - Morte de Napoleão Bonaparte
- 10 - Linhagem de Napoleão Bonaparte
- 11 - Casamentos e filhos de Napoleão
- 12 - Frases de Napoleão Bonaparte
- 13 - Exercícios resolvidos sobre Napoleão Bonaparte
Resumo sobre Napoleão Bonaparte
- Napoleão Bonaparte foi um general, líder político e imperador francês, que se destacou durante a Revolução Francesa (1789-1799).
- Ele assumiu o controle do país em 1799 por meio de um golpe militar liderado por ele, o chamado Golpe do 18 Brumário, em que se tornou cônsul e, posteriormente, imperador dos franceses.
- Napoleão, membro de uma família da pequena nobreza da Córsega, dificilmente teria ascendido tanto militar quanto politicamente se não fossem as brechas abertas durante a Revolução Francesa (1789-1799).
- Sua capacidade estratégica militar, de liderança e de aproximação política com figuras importantes fez com que ele chegasse ao posto de general com apenas 24 anos de idade.
- Liderou campanhas militares decisivas para a defesa da França revolucionária, como a Campanha da Itália (1796-1797), a Campanha do Egito (1798-1799) e a Campanha da Síria (1799).
- Seu principal objetivo interno para a França era restaurar a ordem, unificando um país dividido após anos de conflitos. No âmbito externo, objetivava expandir a influência francesa e estabelecer um império capaz de rivalizar com o Império Romano da Antiguidade.
- Em 9 de novembro de 1799, por meio do Golpe do 18 Brumário, Napoleão chegou ao poder, liderando um golpe militar que deu fim ao Diretório, o regime instável que governava a França desde 1795, e à própria Revolução Francesa.
- Em 2 de dezembro de 1804, coroou-se imperador dos franceses na Catedral de Notre-Dame, em Paris, diante do papa Pio VII, em um gesto carregado de simbolismo, no qual ele expressava que seu poder não vinha da Igreja nem da nobreza, mas da própria autoridade e da vontade popular que ele afirmava representar.
- Napoleão morreu no dia 5 de maio de 1821, aos 51 anos de idade, na ilha de Santa Helena, na costa africana do Atlântico Sul, onde era mantido como prisioneiro pelos britânicos desde outubro de 1815, após sua derrota definitiva na Batalha de Waterloo.
Quem foi Napoleão Bonaparte?
Napoleão Bonaparte, nascido em 1769, na ilha de Córsega, então recém-incorporada à França, foi um general, líder político e imperador francês, que se destacou no contexto da Revolução Francesa (1789-1799) e assumiu o controle do país em 1799 por meio de um golpe militar liderado por ele, o chamado Golpe do 18 Brumário.
Napoleão era filho de Carlo Maria diBuonaparte e Maria Letizia RamolinoBuonaparte, que eram pertencentes à pequena nobreza local da ilha de Córsega, que foi incorporada de maneira subordinada ao Reino da França poucos meses antes do nascimento dele. Essa posição intermediária (nem plebeu, nem nobre destacado, nem italiano, nem francês de alta estirpe e tradição) marcou sua vida e se mostrou uma fonte de ambição no garoto que buscou, na carreira militar, um meio de ascender socialmente e se destacar na sociedade francesa.
Como oficial de artilharia do Exército francês, ele já se destacava entre os demais, mas dificilmente ascenderia muito socialmente nesse curso de vida se não fosse uma grande oportunidade histórica que ele soube aproveitar para realizar suas ambições: a Revolução Francesa (1789-1799).
Por meio da Revolução Francesa, com o colapso do Antigo Regime na França e a consequente reorganização das forças armadas, surgiram oportunidades para oficiais talentosos, mesmo sem origem nobre, que soubessem aproveitar uma aproximação com as novas forças revolucionárias no poder. Os revolucionários que assumiram a condução da França careciam de bons oficiais militares, pois muitos dos antigos militares de alta patente, de origem nobre, haviam emigrado junto com as elites aristocráticas francesas e planejavam, do exterior, retomar o controle do país. Napoleão soube bem aproveitar essas oportunidades e, aos 24 anos, já tinha alçado a general de brigada e conquistado respeito por sua habilidade estratégica e carisma diante das tropas.
Ao longo dos anos seguintes, tornou-se um símbolo de liderança, ambição e genialidade militar. Conduziu a França de um período de caos econômico, militar e político para um período em que estabilizou o país internamente e estabeleceu um império que se estendeu por grande parte da Europa.
No entanto, após alguns anos, toda essa estabilidade ruiu por meio de campanhas militares malsucedidas e custosas (em termos econômicos e humanos) contra a Inglaterra (derrotado na Batalha Naval de Trafalgar em 1805), contra a Espanha (o que levou a um grande levante do país contra as tropas francesas invasoras entre os anos de 1808 e 1814) e contra a Rússia, onde suas tropas amargaram uma terrível derrota no inverno russo, em 1812.
Sua figura e seu legado geraram e ainda geram controvérsias: para alguns, especialmente franceses, ele foi o herói que consolidou os ideais da revolução; para outros, ele foi um ditador militar que concentrou poderes e mergulhou o continente europeu em uma série de guerras intermináveis.
Carreira militar e política de Napoleão Bonaparte
A carreira militar de Napoleão Bonaparte foi marcada por uma ascensão meteórica, resultado de seu talento militar, sua capacidade de liderança e, especialmente, de sua habilidade política para perceber as profundas mudanças políticas à sua volta (contexto da Revolução Francesa) e se aproximar das pessoas certas nesse contexto, das novas lideranças revolucionárias, que careciam de bons comandantes leais em meio a tantas invasões estrangeiras por que passava o país.
Napoleão ingressou na vida militar em 1779, aos 10 anos de idade, na Escola Militar de Brienne-le-Château, na França, onde permaneceu por cinco anos. Ali se destacou em matemática e história, mas era reservado e sofria preconceito dos colegas, grande parte de origem nobre, por ser de origem italiana (Córsega) e de uma pequena nobreza menos prestigiada.
Em 1784, ele foi admitido na École Militaire de Paris (Escola Militar de Paris), a mais prestigiada academia militar da França. Estudou artilharia e completou o curso em apenas um ano, tempo recorde, pois a média era de dois anos, o que evidencia seu talento para a matemática (matéria central para estudantes de artilharia) e seu afinco para os estudos. Sua dedicação e desempenho excepcionais garantiram-lhe o posto de segundo-tenente de artilharia em fins de 1785, quando tinha apenas 16 anos de idade, sendo designado para o Regimento de Artilharia de La Fère, em Valence, França.
Entre 1785 e 1793, Napoleão serviu como oficial subalterno em Valence e Auxonne, adquirindo sólida formação técnica e disciplinar. Durante esse período, aprofundou seus estudos de tática, engenharia militar e filosofia política, lendo autores como Rousseau, Voltaire e Maquiavel, leituras que mais tarde influenciariam sua visão de governo.
Com o início da Revolução Francesa, em 1789, Napoleão apoiou o movimento, acreditando que ele traria igualdade de oportunidades entre os militares de origem nobre e não nobre (ou “menos nobres” como ele).
O primeiro grande marco em sua carreira militar se deu em 1793, durante o cerco de Toulon, cidade que havia se rebelado contra o governo republicano revolucionário francês e recebido ajuda da Marinha britânica. Napoleão, então capitão de artilharia, elaborou um plano decisivo que levou à retomada da cidade pelo governo revolucionário francês. Seu desempenho e liderança nesse momento delicado lhe renderam o título de ”herói de Toulon” e a promoção a general de brigada, com apenas 24 anos de idade.
Durante a consolidação da revolução, ele se destacou liderando diversas campanhas decisivas. As principais foram a Campanha da Itália (1796-1797), a Campanha do Egito (1798-1799) e a Campanha da Síria (1799).
Durante a Campanha da Itália, entre 1796 e 1797, Napoleão conduziu uma série de vitórias contra as forças austríacas e piemontesas, que consolidaram a influência francesa no norte da Itália e impuseram o Tratado de Formio (1797) à Áustria.
Já na Campanha do Egito, entre 1798 e 1799, o general foi enviado pelo Diretório (cúpula executiva do poder da França de então) para uma área sensível aos maiores rivais dos franceses, os britânicos, e tinha como objetivo ameaçar os domínios ingleses no Oriente e abrir caminho para a presença francesa no Mediterrâneo e na Ásia. Napoleão venceu as tropas locais no Egito, na Batalha das Pirâmides (1798), mas sua frota naval foi destruída pelos britânicos na Batalha do Nilo, sob o comando do almirante Nelson, o mesmo que iria liderar a maior derrota naval de Napoleão, a Batalha de Trafalgar, sete anos depois.
A terceira das grandes campanhas de Napoleão ainda como general foi a Campanha da Síria (1799), em que o general tentou expandir o controle francês até o Oriente Médio, mas enfrentou uma resistência muito forte e muitas doenças que acometeram suas tropas, o que o levou a recuar após o cerco malsucedido de Acre.
As conquistas militares posteriores, bem como suas derrotas, já são reputadas ao Napoleão chefe de Estado, não somente o militar, e, portanto, serão tratadas nos tópicos posteriores.
Napoleão Bonaparte e a Revolução Francesa
A Revolução Francesa foi o grande palco que permitiu a ascensão de Napoleão Bonaparte, que soube aproveitar as brechas abertas nesse contexto para escalar ao poder. A revolução abriu espaço para novos talentos, derrubando privilégios de nascimento. Sem o colapso da monarquia francesa e a grande transformação social que se seguiu a 1789, o jovem oficial de origem estrangeira e baixa estirpe muito dificilmente teria alcançado o topo do poder.
Napoleão, apesar de beneficiado pelo ambiente revolucionário, tinha uma relação ambígua com os ideais da revolução. Enquanto, por um lado, promoveu alguns ideais da revolução, como a igualdade civil e a liberdade religiosa, bem como o ideal de uma França guiada pela razão e pela força do Estado, por outro lado, ele concentrou poderes imensos, reprimiu liberdades políticas na França, enquanto oprimia outras nações por meio de suas diversas campanhas militares.
Quando assumiu o poder, em 1799, ele foi, ao mesmo tempo, coveiro e consolidador da Revolução Francesa. Isso porque sua ascensão ao poder representou o fim da Revolução Francesa (1789-1799), mas também a consolidação de alguns ideais revolucionários que teriam sido perdidos com um retorno imediato da monarquia Bourbon.
No sentido de consolidador dos ideais revolucionários, Napoleão, no poder, buscou estabilizar o país, que estava desgastado por anos de crises, guerras e disputas internas. Em seu governo, consolidou medidas como a criação do Código Civil Napoleônico (1804), um marco jurídico que garantiu propriedade privada, Estado laico e igualdade de todos perante a lei (isonomia). Com isso, ele deu à França uma base legal moderna que influenciou todo o mundo ocidental.
Por outro lado, no sentido de coveiro da Revolução Francesa, Napoleão desmontou o sistema republicano, instituindo um regime de poder pessoal e autoritário, que culminou na sua coroação como imperador em 1804. Como imperador, ele transformou o ideal de “liberdade” em “ordem” e o de “igualdade” em “hierarquia”. Napoleão soube transformar o sonho revolucionário de uma França renovada e moderna em uma máquina de poder centralizado, um império guiado pela glória e pelo mito do salvador da Pátria, no caso, ele mesmo.
As duas facetas de Napoleão confundiam e geravam admiração e animosidade por parte de muitos intelectuais de seu tempo, em toda a Europa. Alguns o viam como um arauto da modernidade e do futuro, enquanto outros viam nele um homem vaidoso, violento e ambicioso. Um exemplo foi o maior músico de seu tempo e um dos maiores da história, o alemão Ludwig van Beethoven, que não escondia sua admiração pelo líder corso e chegou a compor toda uma sinfonia em sua homenagem, que pretendia chamar de “Napoleônica”. Ao saber da notícia de que Napoleão havia se coroado imperador, ele perdeu toda a admiração pelo francês e mudou o nome de sua sinfonia para Eroica (Sinfonia n.º 3), publicada em 1804.
A relação de Napoleão com a Revolução Francesa é, portanto, uma síntese das próprias contradições do período: entre a busca da liberdade e a necessidade de estabilidade, entre a promessa de igualdade e o desejo de glória pessoal do próprio Napoleão.
Objetivos de Napoleão Bonaparte
Napoleão pode ser compreendido, em parte, como um arrivista (aquele que pretende vencer a todo custo), um alpinista social, mas também como um militar pragmático e ambicioso e como alguém que cultivava ideais políticos de grandeza para si e para seu país.
Seu principal objetivo interno para a França era restaurar a ordem, unificando um país dividido após anos de conflitos. Para isso, modernizou a administração do país, reformou o sistema tributário, investiu na educação pública, criando os liceus franceses em 1801, que serviram de modelo educacional no mundo todo, e criou o Banco da França em 1800, com o objetivo de fortalecer e modernizar a economia francesa. Ele buscava um Estado racional e eficiente e um funcionalismo público guiado pelo mérito e pela disciplina, valores que marcaram suas reformas e aparecem claramente no Código Civil Napoleônico, de 1804.
No âmbito externo, Napoleão objetivava expandir a influência francesa e estabelecer um império capaz de rivalizar com o Império Romano da Antiguidade. Não por outro motivo, ele ostentava símbolos do antigo Império Romano, como o Arco do Triunfo, no centro de Paris, que ele ordenou a construção em 1806. Os arcos triunfais eram símbolos importantes no império dos césares.
A escolha do modelo institucional de um consulado com três cônsules, em 1799, também é uma clara referência aos célebres triunviratos de Júlio César e Otávio Augusto. A substituição do consulado por um império também repete o modelo de Otávio Augusto, o primeiro imperador romano. Essas referências ilustram o que Napoleão pretendia para a Europa: um continente unido sob a liderança francesa e Paris alçada a uma nova Roma.
No entanto, essa reunião, na sua visão, seria baseada em princípios modernos, como a igualdade civil e a centralização administrativa, ou seja, esse projeto tinha um duplo caráter paradoxal: pretendia difundir os ideais revolucionários, mas, também, consolidar um sistema de dominação que submeteria as demais nações europeias ao poder de Paris.
Por trás de tantos objetivos internos para a França e externos para uma expansão de poder na Europa, Napoleão trazia, em todas as suas ações, também um desejo pessoal de glória imortal. Ele acreditava que os grandes homens moldam a história e que a posteridade os julga por suas realizações. A partir disso, ele construiu o mito de si mesmo como o “salvador da Pátria”, como alguém enviado pela história para restaurar o orgulho nacional francês.
Napoleão e o Golpe de 18 de Brumário
O Golpe do 18 Brumário, ocorrido em 9 de novembro de 1799, foi o momento em que Napoleão chegou ao poder, liderando um golpe militar que deu fim ao Diretório, o regime instável que governava a França desde 1795, e à própria Revolução Francesa.
Por meio desse golpe, os antigos conselhos legislativos, bem como o Diretório, foram dissolvidos e foi instaurado, em seu lugar, o Consulado, composto por três cônsules com grandes poderes executivos. Napoleão foi nomeado como primeiro-cônsul, concentrando a maior parte do poder.
A princípio, o consulado tinha um mandato de 10 anos, mas, em 1802, uma nova reforma tornou Napoleão cônsul vitalício. Dois anos depois, em 1804, ele foi coroado imperador dos franceses, completando sua escalada ao poder.
O Golpe de 18 de Brumário encerrou a Revolução Francesa e inaugurou uma nova fase na história do país, a Era Napoleônica, em que o poder estava concentrado nas mãos dessa figura carismática, legitimada pela glória militar e pela promessa de ordem em meio ao caos herdado dos muitos conflitos do período anterior.
O império de Napoleão Bonaparte
O império napoleônico foi proclamado em 2 de dezembro de 1804, quando Napoleão se coroou imperador dos franceses na Catedral de Notre-Dame, em Paris, diante do papa Pio VII e da nata da sociedade francesa. Em um gesto carregado de simbolismo, ele próprio tomou a coroa e a colocou sobre sua cabeça, em vez de o papa o fazer, como fazia com reis Bourbon. Dessa maneira, ele expressava uma mensagem clara: seu poder não vinha da Igreja nem da nobreza, mas da própria autoridade e da vontade popular que ele afirmava representar.
O período imperial de Napoleão foi marcado por uma busca incessante por glória e domínio. Por meio de uma série de campanhas militares vitoriosas, ele conquistou quase toda a Europa continental, derrotando austríacos, prussianos e russos em batalhas lendárias como a de Austerlitz (1805) e Jena (1806).
Enfrentou um sério revés no seu avanço sobre o principal rival da França, o Reino Unido, quando suas marinhas combinadas de França e Espanha (então aliada/submissa à França) foram derrotadas pela poderosa Marinha Real Britânica na decisiva Batalha de Trafalgar (1805).
Lidou com esse revés militar bolando um plano de pressão econômico-comercial sobre a rival: o Bloqueio Continental, em que proibiu todos os países da Europa continental, então sob sua influência, de continuarem comercializando com os britânicos, como forma de tentar sufocar economicamente os ingleses. Contudo, esse plano não funcionou e representou o gérmen do que viria a ser sua derrocada.
A ambição desmedida de Napoleão exigia recursos e lealdades que o império não conseguiu sustentar no longo prazo. Entre 1807 e 1812, as tropas francesas pareciam invencíveis, mas sua invasão à Rússia, em 1812, marcou o início do seu declínio. A campanha da Rússia foi realizada como forma de punição ao czar por romper com o Bloqueio Continental imposto pelos franceses, que já vinha tendo, há anos, consequências econômicas penosas para a economia russa, já que os ingleses eram seus principais parceiros comerciais.
Os russos usaram seu imenso território e seu terrível inverno a seu favor: foram atraindo as tropas para o coração da Rússia e só deram realmente combate com a chegada do inverno. Enquanto isso, os russos destruíram tudo o que pudesse alimentar os franceses numa estratégia chamada de “terra arrasada”, o que colocou os soldados da gloriosa Grande Armée (grande Exército) francesa numa situação de fome extrema, frio extremo e uma distância gigantesca de casa.
Napoleão não teve outra opção senão ordenar uma retirada desesperada, sob o rigor do inverno russo, que devastou seu exército e abalou o mito de invulnerabilidade que o cercava. Entre 400 mil e 615 mil soldados de Napoleão invadiram a Rússia em 1812, mas apenas entre 30 mil e 100 mil sobreviveram, dependendo da fonte. Seu exército não era mais o mesmo e, pouco depois, novas derrotas sucessivas, como na Batalha de Leipzig (1813), abriram caminho para sua queda, em 1814.
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Conquistas de Napoleão Bonaparte
Napoleão construiu, no início do século XIX, um dos maiores impérios da história europeia, mas também, mediante essa expansão militar, ajudou a difundir ideias que moldaram o mundo contemporâneo.
No plano militar, as conquistas de Napoleão fizeram dele um estrategista incomparável, pois ele venceu batalhas que são consideradas obras-primas da arte da guerra, como a Batalha de Austerlitz (1805), em que derrotou os exércitos combinados de Áustria e Rússia; a Batalha de Jena (1806), contra a Prússia; e a Batalha de Wagram (1809), novamente contra os austríacos.
Em seu auge, entre 1807 e 1811, ele controlava, diretamente ou por meio de aliados, quase toda a Europa continental, incluindo Itália, Espanha, Alemanha e partes do que hoje é a Polônia. Suas conquistas o gabaritam para ser colocado entre os maiores líderes militares de todos os tempos.
No entanto, as conquistas de Napoleão não se limitaram ao âmbito militar, mas também tiveram lugar no campo político e institucional. Em 1804, promulgou o Código Civil Napoleônico, que modernizou o sistema jurídico francês, instituindo a igualdade perante as leis (isonomia), o direito de propriedade privada e o Estado laico. Esse código serviu de referência para países no mundo todo e é até hoje lembrado como um dos maiores legados do líder francês.
Além disso, Bonaparte reformou a administração francesa, estabelecendo uma burocracia mais eficiente e racionalizada, com servidores selecionados com base no mérito, reforma que também inspirou outros países e sobreviveu à queda do seu criador. Napoleão deu corpo à modernidade estatal, tornando o Estado francês uma máquina racional e meritocrática.
No âmbito cultural e simbólico, a grande conquista de Napoleão foi elevar a França ao centro das atenções mundiais no campo da cultura. Fez isso incentivando as artes, a ciência e a educação como instrumentos de prestígio nacional. Em 1803, por exemplo, Bonaparte procedeu a uma reorganização do Musée Central des Arts (atual Museu do Louvre), renomeando-o como Musée Napoleón e expandindo-o com muitas obras trazidas de suas conquistas militares na Itália e no Egito.
Além disso, ele patrocinou importantes artistas, como o pintor Jacques-Louis David, autor de quadros emblemáticos para seu regime, como A Coroação de Napoleão (1807). Na arquitetura, encomendou obras monumentais, como o Arco do Triunfo, o Panteão e a Coluna Vendôme, todos inspirados na Roma imperial.
No âmbito do incentivo à ciência, ele criou a Société d’Arcueil, que foi um influente círculo de cientistas franceses que se reuniam regularmente entre 1806 e 1822 para discutir e colaborar em pesquisas nas áreas de física e químicaNo âmbito educacional, Bonaparte promoveu a criação dos liceus (lycées) a partir de 1802, que eram escolas públicas secundárias voltadas para a formação da elite administrativa e militar do país e que possuíam currículo laico, racionalista e científico, contrastando com as escolas de currículo católico de até então. Em suma, a grande influência cultural francesa nos séculos XIX e primeira metade do século XX devem muito à administração napoleônica, que deixou um legado duradouro.
Morte de Napoleão Bonaparte
Napoleão morreu no dia 5 de maio de 1821, aos 51 anos de idade, na ilha de Santa Helena, na costa africana do Atlântico Sul, onde era mantido como prisioneiro pelos britânicos desde outubro de 1815, após sua derrota definitiva na Batalha de Waterloo.
A causa de sua morte foi provavelmente em decorrência de um câncer de estômago, embora teorias sobre um suposto envenenamento, nunca comprovado, por arsênico tenham circulado por décadas.
Para entender como Napoleão foi parar em Santa Helena, seu leito de morte, precisamos relembrar seu declínio e queda, que remontam à derrota na Rússia e culminam em Waterloo, em 1815.
Após a malsucedida invasão da Rússia em 1812, que aniquilou pelo menos três quintos das tropas do até então vitorioso exército de Napoleão, a França ficou em posição vulnerável diante de seus inimigos e, em 1813, sofreu mais uma derrota importante, a da Batalha de Leipzig. A insatisfação popular interna na França e a oposição política ao seu comando cresceram após essas derrotas e ele decidiu se retirar do jogo político francês e se exilar na ilha de Elba, no Mediterrâneo, em 1814. A vida era boa para ele em Elba, onde era tratado como um monarca de um microestado.
No entanto, as ambições intrínsecas à personalidade de Napoleão e o aparente desarranjo político interno da França na sua ausência o levaram a se aventurar em mais uma (sua última) empreitada política: em março de 1815, desembarcou na França, alavancou aliados imediatamente e retornou rapidamente ao poder para iniciar um breve governo, que ficou conhecido como o Governo dos Cem Dias.
Imediatamente, todas as grandes potências europeias, que estavam então reunidas no Congresso de Viena para reorganizar a Europa após a queda de Napoleão, uniram-se sob a mesma bandeira de derrotá-lo definitivamente. Foi então que ele foi derrotado na Batalha de Waterloo, em junho de 1815.
Dessa vez, ele não foi para um exílio viver com um “pequeno rei” como em Elba, agora ele seria preso por tropas do Reino Unido, o país que foi seu principal rival durante toda a sua carreira e que agora lhe serviria de algoz em seus últimos dias. Os britânicos não quiseram dar margem para um novo retorno de Napoleão e o enviaram para bem longe da França, para uma ilha no Atlântico Sul, de onde só sairia morto seis anos depois.
Linhagem de Napoleão Bonaparte
Napoleão Bonaparte, ao nascer, não pertencia a uma família de grande estirpe na nobreza europeia. Pelo contrário, seus pais faziam parte da pequena nobreza local da Córsega, uma pequena ilha no Mediterrâneo, muito vinculada cultural e historicamente à Itália, e que só havia sido incorporada à França poucos meses antes do nascimento de Napoleão.
No entanto, a escalada ao poder de Bonaparte e a maneira como ele manejou para colocar alguns de seus parentes em reinos importantes durante o auge do poder de seu império, bem como a ambição de alguns de seus descendentes, transformaram a família Bonaparte em uma verdadeira dinastia imperial e uma das mais influentes da história moderna no século XIX.
Os principais membros da família Bonaparte que ascenderam ao poder com a ajuda de Napoleão foram:
- José (Joseph) Bonaparte: irmão mais velho de Napoleão, coroado rei de Nápoles (1806-1808) e depois rei da Espanha (1808-1813);
- Luís (Louis) Bonaparte: irmão mais novo de Napoleão, nomeado rei da Holanda (1806-1810);
- Jerônimo (Jérôme) Bonaparte: irmão caçula dos Bonaparte, tornou-se rei da Vestfália, um reino criado por Napoleão na Alemanha (que ainda era um conjunto de países não unificado);
- Carolina Bonaparte: irmã mais nova de Napoleão, casada com o importante general francês Joachim Murat, foi rainha de Nápoles.
Em 1810, Napoleão se casou com Maria Luísa da Áustria, filha do imperador Francisco I, numa aliança política que aproximava esses dois poderosos impérios. Dessa união, nasceu Napoleão II, conhecido como Rei de Roma, que foi, por breve tempo, imperador dos franceses, entre junho e julho de 1815, após a abdicação e prisão de Napoleão pelas tropas inglesas.
Um dos sobrinhos de Napoleão, Luís Napoleão Bonaparte, filho de Luís Bonaparte, irmão mais novo de Napoleão, teve uma importante carreira política, tornando-se imperador dos franceses entre 1852 e 1870, com o título de Napoleão III.
Casamentos e filhos de Napoleão
Napoleão se casou duas vezes e teve três filhos reconhecidos por ele, embora apenas um fosse nascido dentro do casamento.
Seu primeiro casamento se deu em 9 de março de 1796, com Joséphine de Beauharnais, viúva do general Alexandre de Beauharnais, guilhotinado durante a Revolução Francesa. Seis anos mais velha que Bonaparte, ela era uma mulher refinada e influente nos círculos sociais de Paris.
Há muitas histórias de cronistas que destacam uma paixão intensa de Napoleão por ela. Um ponto que cabe destacar é que, apaixonado ou não, Napoleão escolhia suas mulheres também levando em consideração seu cálculo político como arrivista, valorizando o que elas poderiam lhe proporcionar em termos de ascensão social.
Josephine teve uma participação primordial tanto na ascensão quanto na manutenção do poder de Napoleão. Enquanto Bonaparte vencia campanhas na Itália e no Egito, Josephine mantinha contatos e relações políticas que foram essenciais para a ascensão do marido ao centro do poder. Era uma mulher dada à política e muito bem relacionada politicamente, que compartilhava com o marido o desejo de ascensão social e percebia o quanto o momento que viviam era favorável a essa ascensão.
Por meio de recepções e bailes organizados por ela no Palácio de Tulherias e Malmaison, Josephine “amaciava” os traços duros do poder de Napoleão, dando ao império um verniz de legitimidade social de que precisava. Ela fazia isso também por meio do patrocínio a artistas e cientistas, que reforçava a ideia de um império moderno e “civilizado”.
No entanto, o casamento enfrentou diversas crises por conta dos diversos casos de infidelidade conjugal, tanto por parte dele como por parte dela. Outro ponto que selou o destino do casal foi a ausência de filhos, o que impediria a continuidade da dinastia imperial que então se formava. Em 10 de janeiro de 1810, Napoleão e Josephine se divorciaram oficialmente, embora tenham mantido um grande afeto e respeito mútuos até o fim da vida dela, que se deu em 1814.
No segundo casamento de Napoleão, a importância do matrimônio como instrumento para seus objetivos políticos e ambições pessoais ficou ainda mais evidente. Em 2 de abril de 1810, Napoleão se casou com a filha do imperador Francisco I da Áustria, a princesa Maria Luísa de Habsburgo.
O casamento foi claramente um gesto diplomático calculado para legitimar o Império Napoleônico diante das casas reais europeias. A cerimônia de casamento, realizada em Paris com grande pompa e alarde, foi pensada para simbolizar uma espécie de reconciliação entre as antigas e tradicionais monarquias europeias com a nova dinastia imperial francesa.
Maria Luísa assumiu, na condução dos negócios do império, um papel mais oficial e administrativo que o assumido anteriormente por Josephine. Representando Napoleão, ela participava de cerimônias oficiais, viagens de Estado e inaugurações de obras públicas. No âmbito administrativo, assumia o controle quando Napoleão estava fora do país em campanha militar, como em 1813, na Campanha da Alemanha, em que Napoleão a nomeou regente do império. Nessa posição, assinava decretos, despachava documentos e recebia conselhos dos ministros, desempenhando de fato um papel administrativo de supervisão.
Dessa segunda união de Napoleão, nasceu, em 20 de março de 1811, o único filho “legítimo” de Napoleão, Napoleão François Charles Joseph Bonaparte, intitulado por seu pai como “Rei de Roma”. A criança foi recebida como o herdeiro do império e se tornou símbolo da continuidade do regime. No entanto, com a queda de Napoleão em 1814 e seu exílio em Elba, Maria Luísa retornou à Áustria levando o filho do casal, que foi criado em Viena como um legítimo Habsburgo, com o título de Duque de Reichstadt. O filho, por vezes chamado de Napoleão II, nunca mais veria o pai e morreu jovem de tuberculose em 1832, aos 21 anos de idade, sem deixar herdeiros.
Além desse único filho “legítimo”, Napoleão também reconheceu dois outros filhos, nascidos de relações extraconjugais. O primeiro foi Charles Léon, nascido em 1806, filho da condessa Éleonore Denuelle de La Plaigne. O segundo foi Alexandre Walewski, nascido em 1810, filho da condessa Maria Walewski, uma aristocrata polonesa que o imperador conheceu durante suas campanhas militares na Polônia. Ambos esses filhos foram reconhecidos pelo pai e receberam dele títulos e proteção financeira.
Alexandre Walewski teria mais destaque na carreira política e chegou a ser ministro das relações exteriores de Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte e que foi imperador na França entre 1852 e 1970.
Como tudo na vida de Napoleão, seu casamento e seus filhos foram também instrumentos de poder e expressão da busca de Bonaparte pelo poder, pelo prestígio e pela glória.
Frases de Napoleão Bonaparte
Entre as muitas frases de Napoleão que se tornaram famosas, podemos destacar algumas:
- “A imaginação governa o mundo.”
- “O impossível é uma palavra que só existe no dicionário dos tolos.”
- “Uma tropa de leões comandada por um cervo será sempre derrotada, uma tropa de cervos comandada por um leão será sempre vitoriosa.”
- O poder é minha amante. Eu fiz muito por ela e não direi que ela me abandonou.”
- A glória é efêmera, mas a obscuridade é eterna.”
Essas frases revelam um estilo pessoal de oratória de Napoleão e ajuda a compreender por que ele era conhecido como um grande orador, capaz de encantar tanto seus soldados quanto plateias de civis. Seu estilo é parte de uma estratégia consciente de autopromoção. Ele sabia que, para permanecer ne memória coletiva, precisaria controlar também sua narrativa. Assim, ele se fez ouvir não só pelas armas, mas também pela força de suas palavras, que, ainda hoje, inspiram estudantes, intelectuais, líderes políticos e militares.
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Exercícios resolvidos sobre Napoleão Bonaparte
Questão 1
O período napoleônico marcou uma guinada na organização do Estado francês e na política europeia. Entre as medidas internas adotadas por Napoleão Bonaparte, aquela que melhor expressa a institucionalização de princípios da Revolução — como igualdade civil, propriedade e laicidade — e que influenciou diversos ordenamentos jurídicos ao redor do mundo foi:
A) a restauração dos privilégios da nobreza por meio de títulos vitalícios.
B) a criação de milícias municipais autônomas para defender as comunas.
C) o estabelecimento do Código Civil (1804), base legal moderna da cidadania.
D) a abolição integral dos impostos indiretos e do Banco da França.
E) a substituição das escolas públicas por colégios confessionais administrados pela Igreja.
Gabarito: C.
C. Correta — o Código Civil (1804) consolidou a igualdade civil, a proteção da propriedade e a laicidade, impactando a França e diversos países (legado duradouro).
A. Incorreta — Napoleão criou nova nobreza de Estado por mérito e serviço, não restaurou privilégios feudais.
B. Incorreta — a lógica foi de centralização, não de autonomia municipal armada.
D. Incorreta — houve reforma fiscal e Banco da França (1800), não sua abolição.
E. Incorreta — Napoleão centralizou a educação com liceus e a Universidade Imperial (1808), sem repassar o sistema à Igreja.
Questão 2
Além do campo militar, o governo napoleônico utilizou artes, ciência e educação como instrumentos de poder e modernização. Assinale a alternativa que melhor evidencia essa estratégia:
A) Transformação do Museu do Louvre em Musée Napoléon, encomendas a artistas como Jacques-Louis David e monumentos cívicos (Arco do Triunfo, Coluna Vendôme), articulando estética clássica e legitimação política.
B) Extinção do Institut de France e substituição por academias provinciais independentes, para reduzir custos e controle estatal.
C) Proibição de expedições científicas no exterior, para evitar gastos com estudos “inúteis” à guerra.
D) Descentralização do ensino secundário para corporações privadas, sem currículo nacional.
E) Suspensão das escolas técnicas e de engenharia, priorizando somente a instrução militar básica.
Gabarito: A.
A. Correta — Napoleão usou as artes para construir o mito imperial; incentivou o Louvre (Musée Napoléon) e monumentos; fomentou uma estética cívica legitimadora.
B. Incorreta — ocorreu o oposto: fortalecimento do Institut de France e centralização cultural.
C. Incorreta — a Expedição ao Egito levou cientistas e resultou na Description de l’Égypte.
D. Incorreta — a educação foi centralizada (liceus, 1802; Universidade Imperial, 1808) com currículo padronizado.
E. Incorreta — houve fortalecimento da formação técnica e de engenharia (École Polytechnique).
Créditos da imagem
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[3]Guilhem Vellut / Wikimedia Commons
Fontes
LYONS, Martyn. Napoleon Bonaparte and the Legacy of the French Revolution. Houndmills, Basingstoke: Macmillan Press; New York: St. Martin’s Press, 1994.
ROBERTS, Andrew. Napoleon: A Life. New York: Viking, 2014.
TULARD, Jean. Napoléon ou lemythedusauveur. Paris: Fayard, 1977.