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O Romantismo em Portugal teve início em 1825 e estendeu-se até o final do século, em três fases distintas, cada qual enfatizando determinada temática dentro das características da estética romântica, com importantes personalidades da literatura mundial.
Veja também: Romantismo no Brasil: conheça suas peculiaridades
Tópicos deste artigo
- 1 - Contexto histórico
- 2 - Características
- 3 - Gerações do romantismo em Portugal
- 4 - Obras
- 5 - Exercício resolvido
Contexto histórico
O século XVIII foi marcado, na Europa, pelo avanço dos ideais iluministas, pautados na busca pela liberdade e na consagração da razão. Herdeiros da Revolução Científica do século XVII, os iluministas acreditavam que o progresso da humanidade estava atrelado ao desenvolvimento do conhecimento, pautado na investigação científica.
O homem deveria ter a liberdade de conhecer, sem ser impedido por dogmas religiosos ou instituições políticas, de modo que o iluminismo atacou diretamente o poder clerical e os déspotas do Antigo Regime. Foram os ideais iluministas que impulsionaram a Revolução Francesa, transformando completamente a maneira de viver dos europeus.
Com a queda do Antigo Regime e o advento da Revolução Industrial, as nações europeias transformavam-se política e economicamente. A industrialização desencadeava o êxodo rural e o surgimento dos primeiros centros urbanos. A burguesia tornava-se a nova classe dominante, ao passo que a nobreza ia aceleradamente perdendo sua importância.
Em Portugal, havia também uma luta para derrubar o regime monárquico. Com a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, em fuga das tropas francesas e o fim do monopólio dos portos brasileiros, a nobreza portuguesa via-se enfraquecida.
Em 1820, eclodiu a Revolução Liberal na cidade de Porto. Os revolucionários, chamados de vintistas, conseguiram a vitória e convocaram assembleias para escrever uma nova Constituição cujos parâmetros fossem inspirados nos ideais democráticos da Revolução Francesa. Em 1821, a família real retornou a Portugal e, em 1822, promulgou-se a primeira Constituição portuguesa, que transformou o país absolutista em monarquia constitucional.
Com a morte de D. João VI, em 1826, teve início uma disputa pela sucessão do trono. As tensões entre liberais e conservadores deflagraram, em 1832, a Guerra Civil Portuguesa, conhecida como Guerra Miguelista, Guerra dos Dois Irmãos ou Guerras Liberais, que perduraria até 1834. Foi durante esse período, principalmente a partir de 1822, que o romantismo surgiu em Portugal.
Veja mais: Poesia, Poema e Prosa
Características
- Culto à sensibilidade e exaltação da natureza em oposição à supervalorização do cientificismo, da cultura e da industrialização: em lugar do homem racional e da razão como principal atributo humano, os românticos descreveram o homem sentimental, movido pelo sentimento. As paisagens românticas frequentemente interagem com os personagens e seus estados de espírito e representam, também, uma válvula de escape da civilização incipiente.
- Obras subjetivas, individualistas e egocêntricas: o “eu” tem papel central nas obras românticas, centradas no ponto de vista individual, parte da valorização romântica da liberdade.
- Nacionalismo e exaltação patriótica: Napoleão Bonaparte espalhava pela Europa os ideais liberais da Revolução Francesa. Contudo, os povos dominados pela empreitada napoleônica recusavam-se a viver sob jugo francês, ainda que moderno ou democrático. A herança nacionalista nas obras românticas, portanto, tem origem principalmente nessa resistência antinapoleônica.
- Idealização: o herói, o amor e a mulher aparecem frequentemente idealizados em obras românticas. Suas qualidades são exageradas e os defeitos, suprimidos.
- Escapismo: seja pela loucura, seja pela arte, pelo amor ou pela fuga à natureza, o escape da realidade é um tema recorrente do romantismo.
Leia mais: O período romântico na literatura mundial
Gerações do romantismo em Portugal
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Primeira geração: nacionalismo e aspirações liberais (1825-1840)
A primeira geração do romantismo português foi marcada pelas temáticas nacionalistas e ideais do liberalismo. Houve a retomada da história portuguesa, com personagens medievais, e a tendência ao estilo do classicismo, principalmente na forma da poesia, com o uso da métrica e da rima. A situação política da época em Portugal tornou difícil a afirmação de uma nova literatura, que nesse momento convivia com os padrões do classicismo.
Destaca-se nessa geração o autor Almeida Garrett, autor do poema “Camões”, de 1825, marco inicial do romantismo português. Trata-se de um manifesto de independência, em estrutura de epopeia, que retrata o poeta Luís Vaz de Camões como um herói romântico, perseguido e envergonhado da conjuntura política de seu país.
Também marcam a primeira geração de românticos portugueses os autores Alexandre Herculano e Antonio Feliciano de Castilho.
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Segunda geração: ultrarromantismo (1840-1860)
De cunho exageradamente sentimental, as obras ultrarromânticas exaltam a sensibilidade e costumam ter enredos passionais e trágicos. As temáticas ganham um tom melodramático, melancólico e soturno, caracterizadas pelo exagero, pela idealização amorosa, pelo pessimismo e morbidez. Trata-se de uma mudança formal, influenciada por autores estrangeiros, principalmente o inglês Lord Byron e o alemão Johann Wolfgang von Goethe.
Herdeiros da crise estabelecida após o fim da guerra civil, que deu origem a uma oligarquia de barões, a produção literária da segunda geração de românticos portugueses afastou-se dos ideais liberais e revolucionários. Apática e contaminada pelo pessimismo, escreveu ao gosto da burguesia já consolidada no poder.
O principal autor dessa geração é Camilo Castelo Branco (1825-1890), característico por ter sido um virtuose do discurso. Autor de vocabulário excessivo e intenso, Castelo Branco ganhou fama com o romance Amor de Perdição (1846), tragédia passional, de explosões familiares, que se tornou um Romeu e Julieta português.
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Terceira geração: renovação romântica (1860-1870)
Os românticos dessa última geração podem ser considerados pré-realistas. Abandonaram os excessos da geração anterior, bem como as personagens idealizadas, em prol de um contato mais próximo com a realidade.
A terceira geração do romantismo português manteve o horizonte da liberdade e da autonomia da arte, mas voltou-se contra as hipérboles e o pessimismo degenerado da segunda geração. É chamada também “romantismo social”, pois rompeu com a estética narcisista do período anterior. Influenciados pelo autor francês Victor Hugo (1802-1885), os românticos da terceira geração pretendiam uma renovação da linguagem poética, orientados pelo princípio da modernidade que se estabelecia.
Antero de Quental (1842-1891) foi o grande nome do período, considerado o segundo maior sonetista de Portugal. Poeta e pensador, dotado de uma postura inquieta e interrogante, pretendia devolver à literatura o espírito revolucionário da primeira geração do romantismo. Defensor da modernidade, intentava conciliar ciência e metafísica por meio da filosofia, que expressava em forma de poesia.
Obras
⇒ Poesia
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Almeida Garrett
O retrato de Vênus (1821)
Catão (1821)
Camões (1825)
D. Branca ou A conquista do Algarve (1826)
Lírica de João Mínimo (1829)
Mérope (1841)
Flores sem fruto (1845)
Folhas caídas (1853)
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Alexandre Herculano
Poesias: I. A harpa do crente; II. Poesias várias; III. Versões (1850)
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Camilo Castelo Branco
Os pundonores desagravados (1845)
O sonho do inferno (1845)
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Antero de Quental
Sonetos (1861)
Beatrice e Fiat Lux (1863)
Odes modernas (1865)
Primaveras românticas (1872)
Sonetos (1881)
Raios de extinta luz (1892)
Teatro
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Almeida Garrett
Um auto de Gil Vicente (1838)
O alfageme de Santarém (1842)
Frei Luís de Sousa (1844)
D. Filipa de Vilhena (1846)
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Camilo Castelo Branco
Agostinho de Ceuta (1847)
O Marquês de Torres Novas (1849)
Romance
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Almeida Garret
O arco de Sant’Ana (1845-1850, 2 volumes)
Viagens na minha terra (1846)
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Alexandre Herculano
Eurico, o presbítero (1844)
O monge de Cister (1848)
O bobo (1878)
Contos e novelas
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Alexandre Herculano
Lendas e narrativas (1851)
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Camilo Castelo Branco
Anátema (1851)
Livro negro de Padre Dinis (1855)
Onde está a felicidade? (1856)
Carlota Ângela (1858)
Amor de perdição (1862)
Coração, cabeça e estômago (1862)
Amor de salvação (1864)
Memórias de Guilherme do Amaral (1865)
A queda dum anjo (1866)
A doida do Candal (1867)
Novelas do Minho (1875-1877, 2 volumes)
Eusébio Macário (1879)
Prosa em outros formatos (cartas, polêmicas, opúsculos, textos filosóficos)
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Camilo Castelo Branco
O clero e o sr. Alexandre Herculano (1850)
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Antero de Quental
Bom senso e bom gosto (1865)
A dignidade das letras e das literaturas oficiais (1865)
Defesa da carta encíclica de Sua Santidade Pio IX (1865)
Portugal perante a Revolução de Espanha (1868)
Causas da decadência de povos peninsulares (1871)
Considerações sobre a filosofia da história literária portuguesa (1872)
A poesia na atualidade (1881)
A filosofia da natureza dos naturistas (1886)
Tendências gerais da filosofia na segunda metade do século XIX (1890)
Exercício resolvido
Leia um trecho do poema “Arrábida”*, escrito em 1830 pelo poeta Alexandre Herculano:
I.
Salve, ó vale do sul, saudoso e belo!
Salve, ó pátria da paz, deserto santo,
Onde não ruge a grande voz das turbas!
Solo sagrado a Deus, pudesse ao mundo
O poeta fugir, cingir-se ao ermo,
Qual ao freixo robusto a frágil hera,
E a romagem do túmulo cumprindo,
Só conhecer, ao despertar na morte,
Essa vida sem mal, sem dor, sem termo,
Que íntima voz contínuo nos promete
No trânsito chamado o viver do homem.
[...]
XIII
[...]
Bem negra avulta aqui, na paz do vale,
A imagem desse povo, que reflui
Das moradas à rua, à praça, ao templo;
Que ri, e chora, folga, e geme, e morre,
Que adora Deus, e que o pragueja, e o teme;
Absurdo misto de baixeza extrema
E de extrema ousadia; vulto enorme,
Ora aos pés de um vil déspota estendido,
Ora surgindo, e arremessando ao nada
As memórias dos séculos que foram,
E depois sobre o nada adormecendo.
[...]
*Arrábida remete à Serra da Arrábida, lugar paradisíaco por suas belezas naturais, localizado no distrito de Setúbal, em Portugal.
Identifique, no poema
a) duas características da estética romântica;
b) uma característica que o localize enquanto obra da primeira geração do Romantismo português.
Resolução comentada:
a) São características tipicamente românticas expressas no poema:
- exaltação da natureza, presente nos três primeiros versos, bem como no título do poema, dedicado a uma região de preservação natural: “Salve, ó vale do sul, saudoso e belo!/Salve, ó pátria da paz, deserto santo,/Onde não ruge a grande voz das turbas!”
- escapismo, como se vê no desejo de fuga do poeta: “Solo sagrado a Deus, pudesse ao mundo/O poeta fugir, cingir-se ao ermo” .
b) A primeira geração do Romantismo português tem como característica as aspirações nacionalistas e liberais, como se pode perceber na representação negativa do absolutismo no verso “Ora aos pés de um vil déspota estendido”.
Crédito de imagem:
Professora de Literatura