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A rima é um recurso de estilo de linguagem muito utilizado nos gêneros discursivos estruturados em versos, como poemas e músicas, com o objetivo de atribuir ao texto maior sonoridade, ritmo e musicalidade.
De maneira geral, a rima consiste na associação entre os fonemas das palavras que podem ser consideradas como pares nos textos. Isso significa que a rima ocorre entre um verso e outro, designando a repetição de sons idênticos ou semelhantes, geralmente, na sílaba final das palavras.
Leia uma estrofe do poema do poeta romântico Gonçalves Dias e observe os efeitos de sentido sonoros causados pela rima:
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, Primeiros cantos, 1846.)
Embora a utilização das rimas seja frequente nos gêneros discursivos que apresentam função poética da linguagem, há poemas e músicas que não as apresentam. Quando isso ocorre, temos o que chamamos de versos brancos ou versos soltos.
Leia o poema do poeta modernista Manuel Bandeira, “Poema tirado de uma notícia de jornal”, e observe sua construção a partir de versos brancos:
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.)
CLASSIFICAÇÃO DAS RIMAS:
RIMAS POBRES
As rimas pobres ocorrem entre palavras de mesma classe gramatical: substantivo com substantivo, verbo com verbo etc.
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coração, razão;
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beleza, tristeza;
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amando, cantando;
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bondoso, carinhoso;
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amar, pular, cantar.
Também são consideradas pobres as rimas das palavras finalizadas em sons corriqueiros, triviais:
-
Evidentemente, certamente, simplesmente.
-
amar, pular, cantar.
As rimas pobres não devem ser desdenhadas ou desmerecidas pela adjetivação pejorativa que carregam no nome. Isso porque há muitas obras literárias construídas a partir desse recurso estilístico.
RIMAS RICAS
São consideradas ricas as rimas entre palavras pertencentes a classes gramaticais diferentes. De maneira geral, essa diferença de classes causa experiências de leitura distintas da leitura dos textos com rimas pobres, surpreendendo pela novidade.
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maravilhosa – babosa (adjetivo - substantivo)
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idade – nade (substantivo - verbo)
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dela – bela (pronome - adjetivo)
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suba – Cuba (verbo - substantivo)
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fostes – postes (verbo - substantivo)
Leia alguns versos do poema “A um Poeta”, do poeta parnasiano Olavo Bilac, e observe os efeitos causados pelas rimas ricas:
A um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
(...)
(BILAC, Olavo. Tarde. 1919.)
RIMAS RARAS
A rima rara ocorre entre palavras que permitem poucas possibilidades de aproximação fonética (sonora).
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Cisne - tisne
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estirpe - extirpe
Leia alguns versos do poema “Argila”, do poeta carioca Raul de Leoni, e observe os efeitos de sentido causados pela rima rara:
Argila
(...)
É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que ouço ao longe o oráculo de Elêusis.
Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...
(LEONI, Raul de. Ode a um poeta morto. Florianópolis: EDUSC, 2002.)
RIMAS PRECIOSAS
As rimas preciosas são rimas artificiais que foram construídas a partir da combinação de palavras distintas no que se refere à classe e à aproximação fonética:
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calúnia - resume-a
-
tome-a - sonha
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pântanos - quebranta-nos
-
Ásia – alague-a
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luxúria - ature-a
Leia o poema de Augusto dos Anjos, “Monólogo de uma sombra”, e observe os efeitos de sentido causados pela rima preciosa, sobretudo entre a palavra apodrece e a letra [s]:
Monólogo de uma sombra
(...)
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s.
(...)
(ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.)
Por Ma. Luciana Kuchenbecker Araújo