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Soneto é um poema de forma fixa que tem 14 versos. Ele foi criado pelo poeta italiano Giacomo da Lentini, no século XIII. O soneto italiano apresenta dois quartetos e dois tercetos. O inglês, três quartetos e um dístico. O monostrófico possui apenas uma estrofe. Já o estrambótico apresenta uma estrofe extra de até três versos.
Normalmente, os versos de um soneto são decassílabos ou alexandrinos, podendo a métrica variar de acordo com as preferências do poeta. Os grandes sonetistas europeus foram o italiano Francesco Petrarca e o português Luís Vaz de Camões. No Brasil, Olavo Bilac e Vinicius de Moraes são exemplos de conhecidos sonetistas nacionais.
Leia também: O que é poesia?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre soneto
- 2 - Quais são os principais tipos de soneto?
- 3 - Qual a estrutura do soneto?
- 4 - A métrica dos sonetos
- 5 - Principais sonetistas brasileiros
- 6 - Exemplo de soneto
- 7 - Principais sonetistas portugueses
- 8 - Origem do soneto
Resumo sobre soneto
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Os principais tipos de soneto são: petrarquiano, shakespeariano, monostrófico e estrambótico.
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O soneto é uma forma fixa de 14 versos, distribuídos em estrofes que variam de acordo com o tipo de soneto.
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O verso decassílabo e o alexandrino são as duas métricas mais utilizadas na construção de um soneto.
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O Brasil conta com grandes sonetistas, como Olavo Bilac, Cruz e Sousa, e Vinicius de Moraes.
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Os sonetistas portugueses mais famosos são Luís Vaz de Camões e Manuel Maria du Bocage.
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O soneto surgiu, no século XIII, como criação do poeta Giacomo da Lentini.
Quais são os principais tipos de soneto?
→ Soneto italiano ou petrarquiano
O soneto italiano ou petrarquiano apresenta dois quartetos e dois tercetos:
Soneto CCLXXII
(Petrarca)
A vida foge e não recua um passo
E a morte, em grande marcha, vai em frente;
As coisas do passado e do presente,
Ao futuro reclamam meu espaço.
A jornada que nesta vida eu traço
Na espera e na lembrança inutilmente,
Por pena de mim mesmo descontente
Este caminho que ora fiz, desfaço.
Se à lembrança me vem algum desejo
Do peito que a alegria abandonou,
Ao navegar em alto-mar eu vejo
O porto onde meu barco desistiu,
A nave que lá fora naufragou
E o fogo que dos olhos teus fugiu.
→ Soneto inglês ou shakespeariano
O soneto inglês ou shakespeariano possui três quartetos e um dístico:
Soneto XII
(Shakespeare)
Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir no carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
→ Soneto monostrófico
O soneto monostrófico possui apenas uma estrofe:
Pauvre Léllian
(Mario Quintana)
Pobre Léllian! Vieram contar-me que caíste
muito fundo... E, até nisso, foste quase genial...
Também! Um fauno à luz artificial
dos bares, onde esta vida consumiste,
só podia ter sido um fauno triste
e ter mesmo acabado muito mal
— exilado do mundo em que a mortal
angústia do pecado não existe —
pois o teu mundo se esvaiu um dia
diante da mágica do Sinal da Cruz...
e ficaste entre nós, fauno converso!
Mas vá a gente ler um só teu verso...
e a batalha entre os deuses e Jesus
de novo em nossas almas principia!
→ Soneto estrambótico
O soneto estrambótico apresenta até três versos além dos 14 versos tradicionais:
Estrambótico melancólico
(Carlos Drummond de Andrade)
Tenho saudade de mim mesmo,
saudade sob a aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência em meu redor.
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos
violentos. Mas se esquivam no inventário,
e meu amor é triste como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho carinho
por toda perda minha na corrente
que de mortos a vivos me carreia
e a mortos restitui o que era deles
mas em mim se guardava. A estrela-d’alva
penetra longamente seu espinho
(e cinco espinhos são) na minha mão.
Veja também: Qual a diferença entre poesia, poema e prosa?
Qual a estrutura do soneto?
O soneto apresenta 14 versos assim distribuídos:
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soneto petrarquiano: dois quartetos e dois tercetos;
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soneto shakespeariano: três quartetos e um dístico;
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soneto monostrófico: somente uma estrofe.
Já o soneto estrambótico ultrapassa os 14 versos tradicionais, podendo apresentar mais uma estrofe final de até três versos. No entanto, independentemente do tipo de soneto, o último verso apresenta a “chave de ouro”, uma conclusão para a ideia desenvolvida no decorrer do poema.
Por fim, vale lembrar que uma estrofe é composta por versos. Desse modo, o dístico é uma estrofe com dois versos. O terceto, com três versos. Já o quarteto é uma estrofe com quatro versos.
A métrica dos sonetos
Tradicionalmente, um soneto apresenta versos decassílabos (10 sílabas poéticas) ou alexandrinos (12 sílabas poéticas). No entanto, poetisas e poetas não são obrigados a seguir tal regra. Assim, pode haver sonetos com outro tipo de metrificação, a critério de seu criador.
Principais sonetistas brasileiros
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Gregório de Matos (1636-1696)
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Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
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Olavo Bilac (1865-1918)
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Francisca Júlia (1871-1920)
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Cruz e Sousa (1861-1898)
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Augusto dos Anjos (1884-1914)
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Jorge de Lima (1893-1953)
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Mario Quintana (1906-1994)
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Vinicius de Moraes (1913-1980)
Exemplo de soneto
Vamos ler, a seguir, o famoso “Soneto de fidelidade”, do poeta Vinicius de Moraes:
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Nesse poema, composto em versos decassílabos, o eu o lírico afirma que será atento ao seu amor mesmo que surja um “maior encanto” (outra pessoa). Ele quer viver esse amor “em cada vão momento”, espalhar seu canto em louvor a ele, rir e chorar diante de “seu pesar ou seu contentamento”.
Desse modo, quando, mais tarde, chegar a solidão (que é o destino de quem ama) ou a morte (que é a “angústia de quem vive”), o eu lírico poderá dizer sobre o amor que viveu: que esse amor não seja imortal, pois é efêmero como uma chama, mas que, enquanto dure, pareça ser infinito.
Saiba mais: Cinco poemas considerados obras-primas do “príncipe dos poetas brasileiros”
Principais sonetistas portugueses
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Manuel Maria du Bocage (1765-1805)
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Antero de Quental (1842-1891)
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Cesário Verde (1855-1886)
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António Nobre (1867-1900)
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Camilo Pessanha (1867-1926)
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Florbela Espanca (1894-1930)
→ Videoaula sobre Os sonetos, de Luiz Vaz de Camões
Origem do soneto
O soneto surgiu no século XIII, e seu criador foi o poeta italiano Giacomo da Lentini (1210-1260). Ele idealizou esse poema de forma fixa, que caiu nas graças de Petrarca e depois se espalhou por toda a Europa.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2015.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Estrambote melancólico. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Fazendeiro do ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
BIZ, Ricardo. A escrita psicanalítica e a psicanálise da escrita. Jornal de Psicanálise, São Paulo, v. 50, n. 92, jun. 2017.
BUARQUE, Jamesson. Soneto como variação fixa formal. Revista Texto Poético, v. 19, jul./ dez. 2015.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 13. ed. São Paulo: Ática, 2001.
MORAES, Vinicius de. Soneto de fidelidade. In: MORAES, Vinicius de. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
PETRARCA, Francesco. Soneto CCLXXII. Tradução de Afonso Teixeira Filho. Cadernos de Literatura em Tradução, n. 4, 2001.
PIRES, Antônio Donizeti. Fios da trama poética de Adriano Espínola. Revista Texto Poético, v. 19, jul./ dez. 2015.
QUINTANA, Mario. Pauvre Léllian. In: QUINTANA, Mario. Apontamentos de história sobrenatural. São Paulo: Globo, 2005.
SHAKESPEARE, William. Soneto XII. In: SHAKESPEARE, William. 50 sonetos. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
Por Warley Souza
Professor de Literatura