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O Romantismo foi um importante movimento cultural e estético que revolucionou as bases da arte no século XVIII e XIX. No Romantismo no Brasil, é possível perceber várias tendências românticas em diversas artes. Especificamente na poesia, existiram três gerações de escritores que devem ser lidos por aqueles que pretendem conhecer tal movimento – os indianistas (1ª geração), os ultrarromânticos (2ª geração) e os condoreiros (3ª geração romântica). Conheça, a seguir, algumas das principais informações para compreender a primeira geração do Romantismo brasileiro.
Tópicos deste artigo
Características
As principais características da primeira geração romântica são:
- Nacionalismo;
- Presença do índio como herói nacional;
- Descrição do encontro entre índios e europeus como representação do mito da criação do Brasil;
- Natureza brasileira exaltada como exuberante e confidente do sujeito lírico dos poemas;
- Egocentrismo;
- Idealização do amor e da mulher.
Contexto histórico
O Romantismo brasileiro teve como marco inicial a publicação do livro Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. Não obstante, especificamente para a primeira geração romântica, os indianistas, um fato histórico tem importância fundamental para a consolidação do movimento: a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808. A transferência da corte imperial lusitana para o Brasil promoveu, em terras tupiniquins, uma série de reformas, entre as quais vale ressaltar:
- Reclassificação do Brasil, que deixou de ser uma colônia de exploração e passou a ser um reino unido a Portugal;
- Criação da imprensa nacional, antes proibida;
- Consolidação do Rio de Janeiro como sede administrativa da Corte portuguesa;
- Fundação do Banco do Brasil, do Museu Nacional (incendiado em 2018), da Casa de Suplicação do Brasil (futuramente, transformada em Supremo Tribunal Federal), etc.
Com tais mudanças na estrutura social, política e administrativa do país, o Brasil passa a ser encarado como, de fato, uma nação. Na linha dessas modernizações do Estado brasileiro, a primeira geração romântica surgiu como uma resposta poética a questões identitárias que passaram a surgir, procurando responder a questões como “o que é ser brasileiro?” ou ainda “qual é a origem mitológica do Brasil?”.
Leia mais: Saiba mais sobre a escola literária que antecedeu o Romantismo no Brasil
Autores
A primeira geração do Romantismo brasileiro tem como principal autor Gonçalves Dias, que escreveu poemas célebres como “I-Juca Pirama”, “Canção do exílio”, “Leito de folha verdes” ou ainda “Marabá”. José de Alencar, apesar de ser um prosador, também escreveu romances que dialogavam com as bandeiras indianistas, tais quais a exaltação do índio e da natureza nacional. Os romances “Iracema” e “O guarani” são considerados indianistas.
Poemas
Leia, a seguir, dois poemas indianistas:
Texto 01.
I-Juca Pirama
IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
[...]
(Gonçalves Dias)
Na leitura atenta desse trecho de I-Juca Pirama, percebemos a exaltação da natureza brasileira (“Sou filho das selvas, / Nas selvas cresci”) e do índio como herói (“Guerreiros, descendo / da tribo Tupi.” [...] “Sou bravo, sou forte / sou filho do Norte”).
Texto 02.
Leito de folha de verdes
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu, sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d`alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!
(Gonçalves Dias)
No poema “Leito de folhas verdes”, também há a presença do índio como figura central (tanto o sujeito lírico quanto Jatir, seu interlocutor amoroso, pertencem a um grupo indígena). Além disso, percebe-se a idealização amorosa (“Meus olhos outros olhos nunca viram, / não sentiram meus lábios outros lábios, / nem outras mãos, Jatir, que não as tuas / a arazóia na cinta me apertaram”).
Obras
As principais obras da primeira geração romântica são:
- Gonçalves Dias
“Segundos Cantos” (1848)
“Últimos Cantos” (1851)
“Os Timbiras” (1857)
“Cantos” (1857)
- José de Alencar
“O guarani” (1857)
“Iracema” (1865)
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Curiosidades
Um dos mais conhecidos poemas brasileiros foi escrito durante a primeira geração romântica: Canção do exílio, de Gonçalves Dias:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Uma curiosidade sobre esse clássico poema da literatura brasileira é que ele, de fato, foi escrito no exílio. Segundo pesquisadores da vida do autor, é possível que o poeta tenha redigido seus versos na cidade de Coimbra, em Portugal.
O escritor fora mandado para lá para estudar Direito na universidade da cidade portuguesa. Cheio de saudades, Gonçalves Dias escreveu “Canção do exílio” em 1843 para ressaltar a exuberância brasileira em detrimento da vida solitária que vivia nas terras dos colonizadores do Brasil.
Por Me. Fernando Marinho