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Primeira geração do Romantismo

A primeira geração do Romantismo, também conhecida como indianista, foi um dos principais movimentos literários brasileiros do século XIX.

Embarque da família real portuguesa no cais de Belém, em 29 de novembro de 1807.
Embarque da família real portuguesa no cais de Belém, em 29 de novembro de 1807.
Crédito da Imagem: Shutterstok
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O Romantismo foi um importante movimento cultural e estético que revolucionou as bases da arte no século XVIII e XIX. No Romantismo no Brasil, é possível perceber várias tendências românticas em diversas artes. Especificamente na poesia, existiram três gerações de escritores que devem ser lidos por aqueles que pretendem conhecer tal movimento – os indianistas (1ª geração), os ultrarromânticos (2ª geração) e os condoreiros (3ª geração romântica). Conheça, a seguir, algumas das principais informações para compreender a primeira geração do Romantismo brasileiro. 

Tópicos deste artigo

Características

 As principais características da primeira geração romântica são:

  • Nacionalismo;
  • Presença do índio como herói nacional;
  • Descrição do encontro entre índios e europeus como representação do mito da criação do Brasil;
  • Natureza brasileira exaltada como exuberante e confidente do sujeito lírico dos poemas;
  • Egocentrismo;
  • Idealização do amor e da mulher.

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Contexto histórico

O Romantismo brasileiro teve como marco inicial a publicação do livro Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. Não obstante, especificamente para a primeira geração romântica, os indianistas, um fato histórico tem importância fundamental para a consolidação do movimento: a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808. A transferência da corte imperial lusitana para o Brasil promoveu, em terras tupiniquins, uma série de reformas, entre as quais vale ressaltar:

  • Reclassificação do Brasil, que deixou de ser uma colônia de exploração e passou a ser um reino unido a Portugal;
  • Criação da imprensa nacional, antes proibida;
  • Consolidação do Rio de Janeiro como sede administrativa da Corte portuguesa;
  • Fundação do Banco do Brasil, do Museu Nacional (incendiado em 2018), da Casa de Suplicação do Brasil (futuramente, transformada em Supremo Tribunal Federal), etc.

Com tais mudanças na estrutura social, política e administrativa do país, o Brasil passa a ser encarado como, de fato, uma nação. Na linha dessas modernizações do Estado brasileiro, a primeira geração romântica surgiu como uma resposta poética a questões identitárias que passaram a surgir, procurando responder a questões como “o que é ser brasileiro?” ou ainda “qual é a origem mitológica do Brasil?”.

Leia mais: Saiba mais sobre a escola literária que antecedeu o Romantismo no Brasil

Autores

A primeira geração do Romantismo brasileiro tem como principal autor Gonçalves Dias, que escreveu poemas célebres como “I-Juca Pirama”, “Canção do exílio”, “Leito de folha verdes” ou ainda “Marabá”. José de Alencar, apesar de ser um prosador, também escreveu romances que dialogavam com as bandeiras indianistas, tais quais a exaltação do índio e da natureza nacional. Os romances “Iracema” e “O guarani” são considerados indianistas.

Poemas

Leia, a seguir, dois poemas indianistas:

Texto 01.

I-Juca Pirama

IV

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo Tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

[...]

(Gonçalves Dias)

Na leitura atenta desse trecho de I-Juca Pirama, percebemos a exaltação da natureza brasileira (“Sou filho das selvas, / Nas selvas cresci”) e do índio como herói (“Guerreiros, descendo / da tribo Tupi.” [...] “Sou bravo, sou forte / sou filho do Norte”).

Texto 02.

Leito de folha de verdes

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu, sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d`alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

(Gonçalves Dias)

No poema “Leito de folhas verdes”, também há a presença do índio como figura central (tanto o sujeito lírico quanto Jatir, seu interlocutor amoroso, pertencem a um grupo indígena). Além disso, percebe-se a idealização amorosa (“Meus olhos outros olhos nunca viram, / não sentiram meus lábios outros lábios, / nem outras mãos, Jatir, que não as tuas / a arazóia na cinta me apertaram”).

Obras

As principais obras da primeira geração romântica são:

  • Gonçalves Dias

“Segundos Cantos” (1848)

“Últimos Cantos” (1851)

“Os Timbiras” (1857)

“Cantos” (1857)

  • José de Alencar

“O guarani” (1857)

“Iracema” (1865)

Acesse também: Conheça a Literatura de cordel, estética tipicamente nordestina

Curiosidades

Um dos mais conhecidos poemas brasileiros foi escrito durante a primeira geração romântica: Canção do exílio, de Gonçalves Dias:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 

Uma curiosidade sobre esse clássico poema da literatura brasileira é que ele, de fato, foi escrito no exílio. Segundo pesquisadores da vida do autor, é possível que o poeta tenha redigido seus versos na cidade de Coimbra, em Portugal.

O escritor fora mandado para lá para estudar Direito na universidade da cidade portuguesa. Cheio de saudades, Gonçalves Dias escreveu “Canção do exílio” em 1843 para ressaltar a exuberância brasileira em detrimento da vida solitária que vivia nas terras dos colonizadores do Brasil.

 

Por Me. Fernando Marinho

Escritor do artigo
Escrito por: Fernando Marinho Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MARINHO, Fernando. "Primeira geração do Romantismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/primeira-geracao-romantismo-no-brasil.htm. Acesso em 17 de abril de 2025.

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Lista de exercícios


Exercício 1

São todas características da primeira geração do Romantismo brasileiro, exceto:

a) ( ) valorização do elemento indígena, visto como herói nacional.

b) ( ) exagero pelo subjetivismo e emocionalismo.

c) ( ) regionalismo.

d) ( ) fuga da realidade.

Exercício 2

Leia atentamente e responda:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias

De acordo com as características da primeira geração romântica e do poema de Gonçalves Dias, julgue os itens em verdadeiro ou falso:

a) ( ) O poema de Gonçalves Dias é ufanista, ou seja, expressa um orgulho exagerado pela pátria.

b) ( ) A primeira geração romântica expressa um culto à figura do índio e a exaltação da natureza.

c) ( ) A primeira fase do romantismo brasileiro foi caracterizada por uma atitude individualista ou subjetiva, quando predominou a temática pessimista.

d) ( ) O poema de Gonçalves Dias mostra uma valorização da pátria, característica da fase condoreira na qual se insere.

e) ( ) É possível notar no poema a presença da religiosidade, que é característica da primeira fase romântica.

Exercício 3

Observe o seguinte trecho do livro Iracema, de José de Alencar:

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

[...] Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.

[...] Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.

[...] O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.

Marque verdadeiro ou falso:

a) ( ) Iracema é retratada na obra como uma selvagem, inferior ao elemento branco com quem se encontra pela primeira vez, mostrando a valorização do elemento estrangeiro nas produções literárias dessa geração do Romantismo.

b) ( ) A idealização do herói nacional pode ser comprovada no exagero da descrição de Iracema feita por José de Alencar, todos os seus atributos eram maiores e melhores do que a natureza com que foi comparada.

c) ( ) Há uma clara separação do elemento indígena e a natureza, colocando esta última apenas como pano de fundo da narração.

d) ( ) A valorização da natureza faz dela participante efetivo do romance.

Exercício 4

(Cespe/Ceducam – 2011)

O processo de formação da literatura brasileira, como adaptação da palavra culta do Ocidente, que precisou assumir novos matizes, desenvolveu-se para descrever e transfigurar a realidade nova. Do seu lado, a sociedade nascente desenvolveu sentimentos diversos e novas maneiras de ver o mundo, que resultaram em uma variante original da literatura portuguesa.

A história da literatura brasileira é, em grande parte, a história de uma imposição cultural que foi, aos poucos, gerando uma expressão literária diferente, embora em correlação estreita com os centros civilizadores da Europa.

Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira. São
Paulo: Humanitas, 1999, p. 13 (com adaptações)

Com base no trecho acima, no qual Antonio Candido expõe a lógica histórico-literária segundo a qual se desenvolveu a literatura brasileira, e na dinâmica dos períodos literários brasileiros, julgue o item a seguir.

( ) No Romantismo, o esforço em se realizar uma literatura brasileira diferente da produzida nos centros culturais europeus atingiu seu ápice, quando a ideia da cor local se tornou verdadeira obsessão dos autores e foi colocada em prática, por exemplo, nas manifestações da prosa indianista e regionalista.