A prosa romântica é composta por narrativas produzidas durante o romantismo. De forma geral, ela é marcada pelo sentimentalismo e caráter idealizador. Ela pode ser indianista, urbana, regionalista ou histórica. No Brasil, o romance A Moreninha é um marco na prosa romântica nacional. Já Os sofrimentos do jovem Werther, do alemão Johann Wolfgang von Goethe, é destaque na prosa romântica europeia.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre prosa romântica
- 2 - O que é a prosa romântica?
- 3 - Características da prosa romântica
- 4 - Tipos de prosa romântica
- 5 - Obras da prosa romântica
- 6 - Autores da prosa romântica
- 7 - Prosa romântica no Brasil
- 8 - Origem da prosa romântica
- 9 - Exercícios resolvidos sobre prosa romântica
Resumo sobre prosa romântica
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A prosa romântica é composta por narrativas com características românticas.
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A prosa romântica apresenta linguagem subjetiva, idealização amorosa e apelo emocional.
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Os tipos de prosa romântica são: indianista, urbana, regionalista e histórica.
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A prosa indianista tem indígenas como protagonistas.
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A prosa urbana tem como cenário a cidade e evidencia os costumes burgueses.
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A prosa regionalista mostra personagens e costumes do meio rural.
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A prosa histórica possui personagens e fatos históricos, mesclados a personagens e a fatos fictícios.
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Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, é o marco da prosa romântica europeia.
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A Moreninha, romance de Joaquim Manuel de Macedo, é o primeiro romance de destaque da literatura brasileira.
O que é a prosa romântica?
A prosa romântica são as narrativas com características românticas, produzidas no final do século XVIII e no século XIX.
Características da prosa romântica
De maneira geral, a prosa romântica apresenta linguagem subjetiva, sentimentalismo e forte adjetivação. Nessa narrativa melodramática, é recorrente o uso de exclamações, de forma a marcar seu caráter emotivo. Outra característica comum aos diversos tipos de prosa romântica é a idealização do amor e da mulher.
A prosa romântica reflete os ideais burgueses, de forma a valorizar conceitos como “família”, “casamento”, “fé”, “honra” e “pátria”. Esse tipo de narrativa é antirrealista, possui caráter idealizador e realiza a fuga da realidade por meio de temáticas como amor, sonho e morte. Além disso, enaltece a liberdade.
Tipos de prosa romântica
→ Prosa indianista
A prosa indianista é uma narrativa que tem como protagonistas personagens indígenas. Apesar de alguns elementos da cultura indígena serem usados para dar certa verossimilhança à trama, o que predomina são os valores burgueses típicos de obras românticas, em vez da cultura dos povos originários.
Por meio desse tipo de prosa, ocorre a valorização da identidade nacional, já que ela apresenta caráter nacionalista e ufanista. Os personagens são heroicos e têm a natureza como cenário para suas ações. A história de amor inter-racial é marcada pela vassalagem amorosa, em que o(a) indígena assume o papel de vassalo, enquanto o(a) europeu(eia) é o(a) suserano(a).
→ Prosa regionalista
A prosa regionalista é uma narrativa que possui elementos regionais, de forma a valorizar a conservadora cultura interiorana. Personagens do meio rural são os protagonistas. Tal prosa, portanto, apresenta personagens e costumes típicos de regiões de um país. Assim, a “cor local” consiste na descrição de características culturais e geográficas da região em destaque.
Por ser regional, a prosa também é nacionalista, já que enaltece os costumes tradicionais de um povo. Desse modo, evidencia elementos da identidade nacional. No mais, a idealização do amor e da mulher não impede certo realismo ao retratar o severo regime patriarcal do meio rural. Apesar disso, no centro da narrativa, está a história de amor.
→ Prosa histórica
A prosa histórica é uma narrativa que apresenta destacadamente personagens e fatos históricos, mesclados a personagens e a fatos fictícios. Portanto, é uma narrativa ficcional com abordagem histórica. Assim como os outros tipos de prosa romântica, ocorre a idealização do amor e da mulher. É comum também haver crítica social e um olhar um pouco mais realista, tendo em evidência os conflitos dos membros da burguesia, ou seja, do indivíduo comum, mediano.
→ Prosa urbana
A prosa urbana é uma narrativa ambientada em uma cidade importante do país, como, por exemplo, o Rio de Janeiro, que era a capital do Brasil no século XIX e sede do Império. Nesse caso, os costumes da elite burguesa são evidenciados. Prosa melodramática, a narrativa urbana apresenta uma dificuldade a ser vencida pelo par amoroso.
Desse modo, os costumes e os valores morais urbanos são evidenciados, distintos dos costumes e dos valores rurais. Os personagens, no espaço urbano, possuem conflitos específicos. Prevalece o final feliz em relação ao herói e à heroína. A idealização do amor e da mulher estão presentes.
Obras da prosa romântica
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O castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole
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Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Goethe
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Waverley (1814), de Walter Scott
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Frankenstein (1818), de Mary Shelley
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O espião (1821), de James Fenimore Cooper
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Os noivos (1827), de Alessandro Manzoni
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O filho do pescador (1843), de Teixeira e Sousa
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Eurico, o presbítero (1844), de Alexandre Herculano
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Os três mosqueteiros (1844), de Alexandre Dumas
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A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo
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Memórias de um sargento de milícias (1854), de Manuel Antônio de Almeida
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Noite na taverna (1855), de Álvares de Azevedo
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O guarani (1857), de José de Alencar
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Simá (1857), de Lourenço da Silva Araújo
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Histórias extraordinárias (1859), de Edgar Allan Poe
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Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis
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Amor de perdição (1862), de Camilo Castelo Branco
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Lucíola (1862), de José de Alencar
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Os miseráveis (1862), de Victor Hugo
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Iracema (1865), de José de Alencar
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As pupilas do Senhor Reitor (1867), de Júlio Dinis
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A luneta mágica (1869), de Joaquim Manuel de Macedo
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Inocência (1872), de Visconde de Taunay
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Ubirajara (1874), de José de Alencar
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Senhora (1875), de José de Alencar
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A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães
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O Cabeleira (1876), de Franklin Távora
Autores da prosa romântica
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Horace Walpole (1717-1797) — inglês
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Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) — alemão
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Walter Scott (1771-1832) — escocês
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Alessandro Manzoni (1785-1873) — italiano
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James Fenimore Cooper (1789-1851) — estado-unidense
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Mary Shelley (1797-1851) — inglesa
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Alexandre Dumas (1802-1870) — francês
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Victor Hugo (1802-1885) — francês
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Lourenço da Silva Araújo (1803-1864) — brasileiro
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Edgar Allan Poe (1809-1849) — estado-unidense
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Alexandre Herculano (1810-1877) — português
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Teixeira e Sousa (1812-1861) — brasileiro
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Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) — brasileiro
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Maria Firmina dos Reis (1822-1917) — brasileira
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Bernardo Guimarães (1825-1884) — brasileiro
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Camilo Castelo Branco (1825-1890) — português
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José de Alencar (1829-1877) — brasileiro
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Manuel Antônio de Almeida (1830-1861) — brasileiro
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Álvares de Azevedo (1831-1852) — brasileiro
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Júlio Dinis (1839-1871) — português
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Franklin Távora (1842-1888) — brasileiro
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Visconde de Taunay (1843-1899) — brasileiro
Prosa romântica no Brasil
A prosa romântica foi inaugurada no Brasil com o romance O filho do pescador, de Teixeira e Sousa, em 1843. No entanto, é o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, que fez imenso sucesso e ficou em evidência no século XIX. Assim, o país passou a contar com uma prosa nacional.
A prosa romântica no Brasil possui caráter nacionalista, pois foi responsável por mostrar elementos caracterizadores da identidade brasileira nas obras de ficção. Até então, a prosa europeia era a única opção para leitoras e leitores brasileiros. O projeto nacionalista da prosa romântica brasileira também contou com dois importantes romances indianistas.
Estamos falando de O guarani (o nosso primeiro romance indianista) e Iracema (além de indianista, também é um romance histórico), de José de Alencar. Na prosa urbana, são destaques o romance Senhora, também de José de Alencar, e Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
Já Inocência, de Visconde de Taunay, é o principal romance regionalista. Mas a prosa regionalista de maior sucesso foi o livro A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Também vale destacar o romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, a qual teve reconhecimento póstumo, já que foi ignorada por muitas décadas.
Todas essas obras foram utilizadas na construção de uma literatura nacional. Isso porque o romantismo brasileiro surgiu em 1836, poucos anos após a Independência do Brasil, em 1822. Dessa forma, a prosa romântica brasileira está inserida no contexto do Segundo Reinado (1840-1889), período em que houve uma política de fortalecimento da identidade e de união nacionais.
Acesse também: Como foi o romantismo no Brasil?
Origem da prosa romântica
Não há consenso sobre a origem da prosa romântica. Contudo, o livro Os sofrimentos do jovem Werther, de 1774, de autoria do alemão Johann Wolfgang von Goethe, é a primeira narrativa romântica a fazer sucesso e pode ser considerada o marco do romantismo europeu. A partir dessa narrativa, a prosa romântica ganhou força em toda a Europa.
No entanto, o livro O castelo de Otranto, de 1764, de Horace Walpole, é o primeiro romance gótico. Como elementos góticos estão associados ao romantismo, pode ser que esta seja a primeira narrativa romântica, ou pelo menos, uma precursora do romantismo. Se for esse o caso, a origem da prosa romântica está na Inglaterra. Já o romance histórico tem como principal criador o escocês Walter Scott.
Exercícios resolvidos sobre prosa romântica
Questão 1
(Enem)
Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indômito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção:
— Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.
GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.
O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a
A) referência a elementos da natureza local.
B) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.
C) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.
D) representação idealizada do cenário descrito.
E) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.
Resolução:
Alternativa A.
O romance O ermitão de Muquém apresenta traços da prosa indianista e regionalista. No fragmento da questão, o narrador destaca elementos da natureza local. Isso aponta o caráter nacionalista da obra, já que elementos da natureza de uma região do Brasil são destacados, como a flor do manacá, por exemplo.
Questão 2
(Enem)
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua vontade, do que a velha parenta.
ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.
O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875. No fragmento transcrito, a presença de D. Firmina Mascarenhas como “parenta” de Aurélia Camargo assimila práticas e convenções sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois
A) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar a condição feminina na sociedade brasileira da época.
B) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos sociais no enredo de seu romance.
C) as características da sociedade em que Aurélia vivia são remodeladas na imaginação do narrador romântico.
D) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da mulher, financeiramente independente.
E) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito avançados para a sociedade daquele período histórico.
Resolução:
Alternativa D.
O romance Senhora apresenta características da prosa urbana, com destaque para os costumes burgueses. No fragmento, o narrador mostra o cerceamento sofrido pela mulher burguesa do século XIX. Apesar de a personagem ser financeiramente independente, não possui autonomia para se deslocar desacompanhada.
Créditos de imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
[2] Editora Moderna (reprodução)
Fontes
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