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Hilda Hilst

Hilda Hilst foi uma escritora brasileira da terceira geração modernista (ou pós-modernismo). Suas obras apresentam fluxo de consciência, questionamentos existenciais e erotismo.

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Hilda Hilst nasceu em 21 de abril de 1930, em Jaú, no estado de São Paulo. Em 1952, formou-se em direito, mas exerceu a profissão apenas por um ano e decidiu se dedicar exclusivamente à literatura. Mais tarde, casou-se como o escultor Dante Casarini, e foram morar na Casa do Sol, lugar que se tornou um ponto de encontro de artistas.

A escritora, que faleceu em 04 de fevereiro de 2004, em Campinas, teve uma vida dedicada, principalmente, à poesia, mas, também, escreveu narrativas e peças de teatro. Suas obras são caracterizadas pelo monólogo interior, erotismo e questionamentos existenciais.

Leia também: Cora Coralina – poeta goiana cuja obra não é atribuída a nenhuma escola literária

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Biografia de Hilda Hilst

Hilda Hilst, em 1970.
Hilda Hilst, em 1970.

Hilda Hilst nasceu em 21 de abril de 1930, em Jaú, no estado de São Paulo. Sua mãe — Bedecilda Vaz Cardoso — era portuguesa, e seu pai — Apolônio de Almeida Prado Hilst — era produtor de café e escritor. Quando o casal se separou, em 1932, a mãe da poetisa, com os filhos, mudou-se para a cidade de Santos. Três anos depois, Apolônio recebeu o diagnóstico de esquizofrenia.

A escritora começou a estudar, em regime de internato, no colégio de freiras Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937. Ao sair do internato, em 1944, passou a morar na casa da senhora Ana Ivanovna, ainda em São Paulo. No ano seguinte, iniciou seus estudos no Instituto Presbiteriano Mackenzie.

Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1948. No ano seguinte, conheceu a escritora e amiga Lygia Fagundes Telles. Em 1950, publicou seu primeiro livro de poesia: Presságio. Quando se tornou curadora do pai, em 1951, faltava um ano para concluir o curso de direito.

De 1953 a 1954, trabalhou em um escritório de advocacia, mas percebeu que não tinha talento para o direito e que devia se dedicar exclusivamente à literatura. Assim, depois de fazer uma viagem ao Chile e Argentina, voltou a morar com a mãe. Contudo, em 1957, decidiu morar em Paris durante seis meses, e, em 1960, esteve em Nova Iorque.

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Após conhecer o escultor Dante Casarini, em 1963, os dois iniciaram um relacionamento amoroso. No entanto, no ano seguinte, ocorreu o golpe militar, e a ditadura se instalou no país. Nesse mesmo ano, Hilda Hilst hospedou o físico Mário Schemberg (1914-1990) em sua casa, em São Paulo, já que ele estava sofrendo perseguições, por ser de esquerda.

Hilda decidiu, no ano de 1965, morar com Dante Casarini na fazenda de sua mãe, em Campinas. Batizou a casa que construiu ali de Casa do Sol. Assim, em 1968, casou-se com Casarini, por pressão da mãe, pois a escritora não acreditava na fidelidade conjugal nem queria ter filhos. Eles se divorciaram em 1985, mas o então ex-marido permaneceu na Casa do Sol até 1991, pois continuaram unidos pelos laços da amizade.

Foi em 1968 que Hilda Hilst conheceu o escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), com quem desenvolveu uma grande amizade. Além dele, outros artistas moraram na Casa do Sol, que se tornou um reduto cultural. Entre eles, José Luís Mora Fuentes (1951-2009), Olga Bilenky e Edson Costa Duarte.

A poetisa, antes de morrer, em 04 de fevereiro de 2004, em Campinas, ganhou diversos prêmios:

  • Pen Clube de São Paulo (1962)
  • Anchieta (1969)
  • APCA (1977)
  • APCA (1981)
  • Jabuti (1984)
  • Cassiano Ricardo (1985)
  • Jabuti (1994)
  • APCA (2003)

Leia também: Clarice Lispector – escritora que explorava a epifania em suas obras

Características literárias da obra de Hilda Hilst

Hilda Hilst é considerada uma autora pertencente à terceira geração modernista (ou pós-modernismo). Por isso, suas obras apresentam características como:

  • Fluxo de consciência
  • Questões existenciais
  • Caráter intimista
  • Fragmentação

No entanto, as obras da autora possuem algumas peculiaridades:

  • Ironia
  • Erotismo
  • Hermetismo
  • Linguagem obscena
  • Foco no universo feminino
  • Narrativa não linear
  • Mistura de gêneros literários
  • Uso de palavras de diversos idiomas

Obras de Hilda Hilst

  • Presságio (1950)
  • Balada de Alzira (1951)
  • Balada do festival (1955)
  • Roteiro do silêncio (1959)
  • Trovas de muito amor para um amado senhor (1961)
  • Ode fragmentária (1961)
  • Sete cantos do poeta para o anjo (1962)
  • A possessa (1967)
  • O rato no muro (1967)
  • O visitante (1968)
  • Auto da barca de Camiri (1968)
  • O novo sistema (1968)
  • Aves da noite (1968)
  • O verdugo (1969)
  • A morte do patriarca (1969)
  • Fluxo-floema (1970)
  • Qadós (1973)
  • Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974)
  • Ficções (1977)
  • Poesia (1980)
  • Da morte: odes mínimas (1980)
  • Cantares de perda e predileção (1980)
  • Tu não te moves de ti (1980)
  • A obscena senhora D (1982)
  • Poemas malditos, gozosos e devotos (1984)
  • Sobre a tua grande face (1986)
  • Com meus olhos de cão e outras novelas (1986)
  • Amavisse (1989)
  • Alcoólicas (1990)
  • O caderno rosa de Lori Lamby (1990)
  • Contos d’escárnio (1990)
  • Cartas de um sedutor (1991)
  • Bufólicas (1992)
  • Do desejo (1992)
  • Rútilo nada (1993)
  • Cantares do sem nome e de partidas (1995)
  • Estar sendo. Ter sido (1997)
  • Cascos e carícias (1998)
  • Do amor (1999)

A obscena senhora D

Capa do livro “A obscena senhora D”, de Hilda Hilst, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]
Capa do livro “A obscena senhora D”, de Hilda Hilst, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]

O livro A obscena Senhora D é considerado uma novela, devido ao seu tamanho, isto é, não é curto como um conto nem tão longo quanto um romance. A obra apresenta uma narradora-personagem cujo nome é Hillé. Ela inicia a narrativa assim:

“Vi-me afastada do centro de alguma coisa que não sei dar nome, nem por isso irei à sacristia, teófaga incestuosa, isso não, eu Hillé também chamada por Ehud A Senhora D, eu Nada, eu Nome de Ninguém, eu à procura da luz numa cegueira silenciosa, sessenta anos à procura do sentido das coisas. Derrelição Ehud me dizia, Derrelição — pela última vez Hillé, Derrelição quer dizer desamparo, abandono, e porque me perguntas a cada dia e não reténs, daqui por diante te chamo A Senhora D.”

O início da obra já mostra seu caráter poético, o trabalho cuidadoso com a linguagem, e também anuncia a complexidade da protagonista, que, aos 60 anos, está entregue ao desamparo, ao abandono. Desse modo, a obra é marcada pelo fluxo de consciência da personagem narradora, que mantém um diálogo com a memória de Ehud — o companheiro falecido — e a solidão.

Outra característica da novela são as infinitas perguntas da personagem, dúvidas existenciais, além dos períodos longos com que ela desenrola seus pensamentos:

“Suportaria o estar viva, recortada, um contorno incompreensível repetindo a cada dia passos, palavras, o olho sobre os livros, inúmeras verdades lançadas à privada, e mentiras imundas exibidas como verdades, e aparências do nada, repetições estéreis, farsas, o dia a dia do homem do meu século? e apesar dessa poeira de pó, de toda cegueira, do aborto dos dias, da não luz dentro da minha matéria, a imensa insuportável funda nostalgia de ter amado o gozo, a terra, a carne do outro, os pelos, o sal, o barco que me conduzia, umas manhãs de quietude e de conhecimento, umas tardes-amora brevíssimas espirrando sucos pela cara, rosada cara de juventude e vivez, e uma outra cara de mansa maturidade, absorvendo o que via, lenta, os ouvidos ouvindo sem ressentimento.”

Desse modo, a partir da morte do companheiro, Hillé acaba fazendo um resgaste de sua própria existência enquanto mulher, e, por meio das memórias, busca o sentido para a própria vida.

Leia também: Angústia: romance de Graciliano Ramos

Frases de Hilda Hilst

A seguir, vamos ler algumas frases de Hilda Hilst, retiradas de entrevista que a autora concedeu ao Correio Popular, em 1989:

  • “Quando você chega a um limite extremo, você procura alguns caminhos de salvação.”
  • “Todo homem de alguma forma quer ter alguma importância.”
  • “Não adianta ter importância e não ter ninguém para te olhar.”
  • “O ato de pensar provoca sempre um desgosto na própria pessoa.”
  • “Desde o começo, o homem fez de tudo para colocar uma máscara, para se enganar a si mesmo, como se não fosse um ser que caminha para a morte.”
  • “Quero escrever e só pude escrever tudo isso porque não falei, fiquei em casa escrevendo.”

Crédito da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura 

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Hilda Hilst"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/hilda-hilst.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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