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Campo geral é uma novela de João Guimarães Rosa. Ela conta a história do menino Miguilim, que mora, com a família, em Mutúm, no estado de Minas Gerais. Ali, ele vive sua infância em meio à natureza. Apesar de ter outros irmãos, Miguilim tem um carinho especial por Dito.
O narrador relata os fatos pela perspectiva de Miguilim, de forma a mostrar que o protagonista é um indivíduo complexo e que, apesar de criança, carrega em si questões existenciais. Assim, o menino, como bom observador, consegue perceber a tensão existente entre seu pai e sua mãe.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo da obra Campo geral
- 2 - Videoaula sobre Campo geral
- 3 - Análise da obra Campo geral
- 4 - Adaptações de Campo geral
- 5 - Guimarães Rosa
- 6 - Contexto histórico de Campo geral
Resumo da obra Campo geral
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Campo geral é uma novela de João Guimarães Rosa.
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A narrativa conta a história do menino Miguilim.
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A história se passa em algum momento da República Velha.
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O narrador relata os fatos pela perspectiva do protagonista.
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Principais características: lirismo e regionalismo.
Videoaula sobre Campo geral
Análise da obra Campo geral
→ Personagens da obra Campo geral
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Irmãos de Miguilim:
- Chica ou Maria Francisca Cessim Caz
- Dito ou Expedito José Cessim Caz
- Drelina ou Maria Adrelina Cessim Caz
- Liovaldo
- Tomézinho ou Tomé de Jesus Cessim Caz
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José Lourenço
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Luisaltino
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Mãe ou Nhanina: mãe de Miguilim
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Mãitina
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Majéla ou Patorí: filho do Seo Deográcias
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Maria Pretinha
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Miguilim: protagonista
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Osmundo Cessim: irmão de Nhanina
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Pai, Bero, Berno ou Bernardo Caz: pai de Miguilim
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Rosa
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Seo Aristeu
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Seo Deográcias
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Tio Terêz: tio de Miguilim
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Vaqueiro Jé
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Vaqueiro Salúz
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Vó Benvinda: mãe de Nhanina
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Vovó Izidra: tia de Nhanina
→ Tempo da obra Campo geral
Tudo indica que o tempo da narrativa está situado em algum momento durante a República Velha, isto é, entre 1889 e 1930. Isso é sugerido quando o narrador descreve a personagem Mãitina:
“Era tão velha, nem sabia que idade. Diziam que ela era negra fugida, debaixo de cativeiro, que acharam caída na enxurrada, num tempo em que mamãe nem não era nascida.”
→ Espaço da obra Campo geral
A narrativa se passa no estado de Minas Gerais. O narrador menciona alguns lugares, como Vila-Risonha-de-São-Romão, Vereda-do-Côcho, Tabuleiro Branco e, principalmente, Mutúm, onde vive o protagonista.
→ Enredo da obra Campo geral
O narrador inicia a novela com a apresentação do protagonista: Miguilim. O menino mora “com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais [...]”.
Miguilim tem oito anos. Quando tinha sete, saiu do Mutúm pela primeira vez. Nessa ocasião, o Tio Terêz levou o menino para “ser crismado no Sucurijú”. Durante tal viagem, Miguilim ouviu alguém dizer que o Mutúm era um lugar bonito. Em seguida, o narrador fala de quando a família foi morar ali.
Também se descreve os irmãos de Miguilim, como o Dito, que “era menor, mas sabia o sério, pensava ligeiro as coisas, Deus tinha dado a ele todo juízo”. É o Dito quem tenta evitar que Miguilim se envolva em uma briga entre o pai e a mãe. No entanto, Miguilim tenta proteger a mãe, leva uma surra do pai e fica de castigo.
Quando Tio Terêz volta da caça, Vovó Izidra diz para ele ir embora, pois a briga entre os pais de Miguilim havia sido por causa dele. Tio Terêz é irmão do pai de Miguilim e, ao que parece, está interessado na mãe do menino. Então, o narrador revela que Vovó Izidra não gosta muito de Nhanina, mãe de Miguilim.
Vovó Izidra é irmã de Vó Benvinda, a mãe de Nhanina. Vó Benvinda já está morta e, quando moça, foi prostituta. Miguilim vai sabendo dessas coisas, imerso em seu universo infantil, cercado pelas histórias, crenças e superstições do sertão, onde a religiosidade tem grande importância.
Seo Deográcias vai pedir um dinheiro a Bernardo, e leva com ele o seu filho Patorí, mas Miguilim não gosta desse garoto, tem “nôjo daquelas conversas do Patorí, coisas porcas, desgovernadas”. Na sequência, Miguilim adoece. Ele pensa que está com tuberculose e que logo vai morrer, mas Seo Aristeu vai ver o menino:
“— […]. Sucede como eu, que também uma vez já morri: morri sim, mas acho que foi morte de ida-e-volta… Te segura e pula, Miguilim, levanta já!
Miguilim, dividido de tudo, se levantava mesmo, de repente são, não ia morrer mais, enquanto Seo Aristeu não quisesse. Todo ria. Tremia de alegrias.”
Em outra ocasião, quando está voltando para casa, depois de levar comida para o pai na roça, Miguilim encontra Tio Terêz no caminho. O homem, então, pede para o sobrinho entregar um bilhete para Nhanina, mas Miguilim, no dia seguinte, devolve o bilhete ao tio.
Luisaltino, amigo do pai de Miguilim, vai morar na roça com eles, para ajudar a plantar, e traz com ele o papagaio Papaco-o-Paco. Logo depois, Miguilim fica sabendo que Patorí morreu de fome. Na sequência, Dito corta o pé “num caco de pote”, fica muito doente e acaba morrendo também.
Miguilim começa a ajudar o pai na roça. Quando Liovaldo vai visitar a família, Miguilim não se dá bem com o irmão. Depois que Liovaldo vai embora, o menino fica muito doente. Para complicar a situação, o pai mata Luisaltino, provavelmente por ciúmes, e depois se enforca com um cipó.
Então, Tio Terêz volta a morar com eles, Miguilim melhora, e, quando o doutor José Lourenço, de Curvêlo, aparece na sua casa, descobre que o menino precisa usar óculos. Assim, com o consentimento da família, o doutor leva Miguilim para a cidade, onde o garoto vai estudar e aprender um ofício.
→ Narrador da obra Campo geral
O narrador de Campo geral apresenta certa complexidade, já que a história é narrada da perspectiva de Miguilim, sem, contudo, ser contada por ele. Isso porque o narrador não usa o pronome “eu”, que o caracterizaria como narrador-personagem. Ele, portanto, é onisciente em relação ao protagonista, já que conhece a história e os pensamentos do menino, mas também é observador, quando, pela perspectiva de Miguilim, relata os fatos que envolvem a família do personagem.
→ Características da obra Campo geral
A novela Campo geral não possui capítulos e apresenta as características da terceira fase do modernismo brasileiro (ou pós-modernismo). Desse modo, é possível apontar uma linguagem lírica, elementos regionais e neologismos (como as palavras “desexclamava” e “dechover”).
No entanto, a obra está fundada em um tema universal, ou seja, a infância, mesmo que vivida no sertão de Minas Gerais. É, portanto, com base no conflito existencial de Miguilim que a história se mostra em sua complexidade. Assim, o narrador evidencia a profundidade do universo infantil.
Adaptações de Campo geral
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Mutum (2007) — filme dirigido por Sandra Kogut
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Campo geral (2015) — peça teatral da Semente Companhia de Teatro
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Miguilim Mutum (2018) — peça teatral da Companhia Azul Celeste
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Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, no estado de Minas Gerais. Mais tarde, em 1930, formou-se em medicina, na cidade de Belo Horizonte. Já em 1946, publicou seu primeiro livro de contos — Sagarana — e, em 1956, seu romance Grande sertão: veredas, sua obra mais conhecida.
O escritor também foi cônsul na Alemanha, de 1938 a 1942, secretário de embaixada em Bogotá até 1944, e chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura (1887-1963), entre 1946 e 1951. Anos depois, em 1963, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre a vida e obra desse importante autor brasileiro, leia o texto: Guimarães Rosa.
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Videoaula sobre Guimarães Rosa
Contexto histórico de Campo geral
O período histórico conhecido como República Velha ou Primeira República começou, em 1889, com a Proclamação da República, e terminou, em 1930, com o início da Era Vargas. Durante esse período, predominou um governo oligárquico, isto é, comandado por grandes proprietários de terras, os coronéis.
Os estados mais influentes eram Minas Gerais e São Paulo, que se alternavam no poder. Daí o nome República do Café com Leite. Além disso, foi um período marcado pelo autoritarismo e pela violência, de forma a permitir privilégios para poucos e inibir direitos para a maioria da população.
Crédito da imagem
[1] Grupo Editorial Global (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura