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Grande sertão: veredas é o livro mais famoso de Guimarães Rosa e conta a história de amor entre Riobaldo e Diadorim (ou Reinaldo). O ex-jagunço Riobaldo relata, para um interlocutor não nomeado na obra, fatos de sua juventude em meio a um bando de jagunços. Ele revela também seu conflito por estar apaixonado por um homem.
Pertencente à terceira fase do modernismo brasileiro (ou pós-modernismo), a obra possui caráter experimental. Sem capítulos, ela se configura em um longo monólogo do protagonista narrador. Para reproduzir a fala do homem do sertão, o autor desconstrói, poeticamente, a língua portuguesa.
Veja também: Os sertões — obra pré-modernista de Euclides da Cunha
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Grande sertão: veredas
- 2 - Análise da obra Grande sertão: veredas
- 3 - Guimarães Rosa, o autor de Grande sertão: veredas
- 4 - Contexto histórico da obra Grande sertão: veredas
Resumo sobre Grande sertão: veredas
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Grande sertão: veredas é um romance do escritor mineiro João Guimarães Rosa.
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A obra foi publicada, pela primeira vez, em 1956, e conta a história de amor entre Riobaldo e Diadorim.
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A narrativa se passa durante a República Velha, no sertão de Minas Gerais, Goiás e Bahia.
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O livro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista da obra: o ex-jagunço Riobaldo.
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O romance faz parte da terceira fase do modernismo brasileiro, também chamada de pós-modernismo.
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A obra de Guimarães Rosa é caracterizada pelo fluxo de consciência e presença de neologismos.
Análise da obra Grande sertão: veredas
→ Personagens da obra Grande sertão: veredas
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Riobaldo: jagunço, protagonista e narrador
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Bigri: mãe do protagonista
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Diadorim ou Reinaldo: jagunço e melhor amigo de Riobaldo
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Chefes de bando:
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Hermógenes
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João Goanhá
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Joca Ramiro
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Marcelino Pampa
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Ricardão
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Só Candelário
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Titão Passos
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Zé Bebelo
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Otacília: namorada de Riobaldo
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Nhorinhá: prostituta e amante do protagonista
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Quelemém: compadre do narrador
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Selorico Mendes: fazendeiro e padrinho de Riobaldo
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Seô Habão: fazendeiro
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Ana Duzuza: mãe de Nhorinhá
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Principais jagunços:
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Acauã
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Alaripe
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Fafafa
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Jesualdo
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João Concliz
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João Vaqueiro
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Jõe Bexiguento
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Medeiro Vaz
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Nélson
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Pacamã-de-Presas
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Paspe
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Quipes
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Sesfredo
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→ Tempo da obra Grande sertão: veredas
A história de Grande sertão: veredas se passa em algum momento da República Velha. Nesse período histórico, que vai de 1889 a 1930, predominou o coronelismo, ou seja, um sistema político em que fazendeiros possuíam grande influência nas decisões do Estado.
→ Espaço da obra Grande sertão: veredas
O espaço da ação em Grande sertão: veredas é o sertão brasileiro. Estudiosos defendem que os lugares mencionados na obra — alguns de caráter fictício, segundo alguns críticos — se referem aos estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia.|1|
→ Enredo da obra Grande sertão: veredas
Publicado em 1956, o romance Grande sertão: veredas relata a história de Riobaldo. O narrador-personagem conta para um interlocutor não identificado as aventuras e desventuras vividas durante o tempo em que fez parte de um bando de jagunços. Assim, o agora fazendeiro Riobaldo, com sua linguagem peculiar, relembra o seu tempo de juventude.
Ele participou de uma guerra entre jagunços no sertão mineiro. No começo, o protagonista integrava o bando de Zé Bebelo. Depois, se juntou aos jagunços de Joca Ramiro, quando conheceu (ou reencontrou) Diadorim. Unidos contra Zé Bebelo, estavam os chefes Joca Ramiro, Ricardão e Hermógenes.
No entanto, quando Zé Bebelo foi capturado, recebeu o apoio de Joca Ramiro. Então, Joca Ramiro foi morto pela traição por Hermógenes e Ricardão. Diante desse fato, Riobaldo e Diadorim, que era filho do chefe assassinado, decidiram se juntar a Zé Bebelo para, assim, conseguirem a vingança contra “os judas”.
A vingança primeiro atingiria Ricardão, que seria morto antes de Hermógenes. Mas, até lá, os laços de amizade entre Riobaldo e Diadorim se fortaleceram. Desse modo, a travessia do sertão e os combates servem de pano de fundo para uma história de amor entre Riobaldo e Diadorim (também chamado de Reinaldo).
Porém, Riobaldo vive o conflito de estar apaixonado por um homem. Ele não sabe que, Diadorim, na verdade, é uma mulher que se faz passar por homem. A descoberta só acontecerá no fim do romance, de forma que, em grande parte da narrativa, Riobaldo experimenta a paixão por um homem.
É no que acredita também o interlocutor de Riobaldo, que só no final da história vai saber da verdade sobre Diadorim. E foi no que acreditaram os primeiros leitores da obra, pois não sabiam ainda do desfecho do romance. Assim, o livro está mais centrado na dificuldade de Riobaldo lidar com tal desejo do que na ação propriamente dita.
O desejo que Riobaldo sente por Diadorim permanece apenas no campo platônico, pois é impossível de se realizar em um meio violento e machista como o dos jagunços. Aliás, Diadorim só é respeitado porque todos acreditam que ela é um homem. Para fugir do desejo que sente, Riobaldo ocupa sua mente com Nhorinhá e Otacília.
Assim, quando Riobaldo se relaciona sexualmente com a prostituta Nhorinhá, Diadorim sente ciúmes, mas não pode ainda revelar seu segredo. Isso, no entanto, não elimina o forte desejo que Riobaldo sente pelo amigo. Nem Otacília, com quem o jagunço pretendia se casar, tem o poder de desfazer o amor entre os dois amigos.
Além das interdições morais em torno de sua sexualidade, o narrador precisa conviver com outro conflito, também de caráter universal: a luta entre o bem e o mal. Afinal, Riobaldo acreditava ter feito um pacto com o diabo para fechar o corpo e, assim, se proteger das balas de seus inimigos. O protagonista também revela que conheceu Diadorim quando ainda eram crianças.
Diadorim, desde criança, se vestia de homem e já se chamava Reinaldo. Aliás, só a Riobaldo era permitido chamar Reinaldo de Diadorim, na intimidade entre os dois. Mas essa história de amor impossível entre os dois amigos acaba em tragédia, pois Diadorim morre em seu embate final contra Hermógenes. Riobaldo então descobre que o nome verdadeiro de Diadorim é Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins.
→ Narrador da obra Grande sertão: veredas
O livro possui um narrador-personagem, que é o protagonista da história, isto é, o ex-jagunço Riobaldo.
→ Características da obra Grande sertão: veredas
Guimarães Rosa é um autor da terceira fase do modernismo brasileiro, também conhecida como pós-modernismo. Assim, o romance apresenta caráter experimental, de forma que não possui capítulos. Ele pode ser considerado um extenso monólogo do personagem Riobaldo.
Porém, esse monólogo é direcionado a um interlocutor não identificado, chamado de “senhor” pelo narrador da obra. Portanto, Riobaldo conta a sua história para esse ouvinte, que alguns leitores e leitoras gostam de pensar que é o próprio Guimarães Rosa. Assim, quando Riobaldo narra sua história, ele já não é mais um jagunço.
A obra mais famosa de Guimarães Rosa apresenta fluxo de consciência, além de uma narrativa fragmentada. Mas, principalmente, sobressai nela a experimentação no campo da linguagem, uma característica própria do autor. Ele, poeticamente, cria vários neologismos para retratar o espaço seco e místico do sertão.
Veja também: Campo geral — outra obra de Guimarães Rosa
Guimarães Rosa, o autor de Grande sertão: veredas
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, no estado de Minas Gerais. Ele estudou medicina na cidade de Belo Horizonte e se tornou médico em 1930. O autor também exerceu carreira diplomática e viveu na Alemanha entre 1938 e 1942.
Seu primeiro livro de contos, Sagarana, foi publicado em 1946, mas o escritor só foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1963. A posse, no entanto, ocorreu em 16 de novembro de 1967. Três dias depois, em 19 de novembro de 1967, o contista e romancista faleceu, no Rio de Janeiro.
→ Videoaula sobre Guimarães Rosa
Contexto histórico da obra Grande sertão: veredas
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou dividido entre duas potências:
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os Estados Unidos (capitalista);
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a União Soviética (socialista).
Assim, a Guerra Fria durou de 1947 até 1991, e, durante esse período, todos viveram sob a ameaça de um conflito nuclear, enquanto o consumismo era estimulado pelos veículos de comunicação.
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No Brasil, o governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (1902–1976) durou de 1956 a 1961. Mas, com o golpe militar de 1964, novamente foi implantada uma ditadura no país. Nesse contexto, os autores da terceira fase do modernismo brasileiro deixaram transparecer em seus textos o individualismo de sua época, além de utilizarem a desconstrução da linguagem para refletir um tempo de incertezas.
Nota
|1| SANTOS, Joubert Antônio dos. Paisagem e paixão em Grande sertão: veredas. 2010. 101 f. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2010.
Crédito de imagem
[1] Editora Companhia das Letras (reprodução)
[2] Luis War / Shutterstock
Por Warley Souza
Professor de Literatura