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Clara dos Anjos, de Lima Barreto

Clara dos Anjos é um livro do escritor brasileiro Lima Barreto. Ele conta a história de uma jovem negra e suburbana. Possui caráter realista e antirromântico.

Capa do livro “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto, publicado pela editora FTD.[1]
Capa do livro “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto, publicado pela editora FTD.[1]
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Clara dos Anjos é um romance do escritor brasileiro Lima Barreto. Nessa narrativa, Clara dos Anjos, uma jovem negra do subúrbio carioca, é seduzida por Cassi Jones, branco e membro da classe média. O rapaz é mau-caráter, não tem profissão e tem por hábito abusar de jovens pobres para depois abandoná-las.

O livro foi escrito no início do século XX e está inserido no pré-modernismo. Assim, possui caráter realista e antirromântico, apresenta crítica sociopolítica, além de ser uma das primeiras obras de autores negros brasileiros a denunciarem o preconceito racial no país.

Leia também: Triste fim de Policarpo Quaresma — outra grande obra de Lima Barreto

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Clara dos Anjos

  • O escritor brasileiro Lima Barreto nasceu no ano de 1881 e faleceu em 1922.

  • Clara dos Anjos é um dos livros mais conhecidos desse romancista.

  • Ele foi escrito no início do século XX e publicado após a morte do autor.

  • Esse romance pré-modernista conta a história de uma jovem negra e suburbana.

  • A obra faz crítica ao romantismo e mostra o racismo na sociedade brasileira.

Videoaula com a análise de Clara dos Anjos

Análise da obra Clara dos Anjos

  • Personagens da obra Clara dos Anjos

    • Alípio: frequentador da venda de Nascimento
    • Ataliba do Timbó: comparsa de Cassi
    • Antônio da Silva Marramaque: padrinho de Clara
    • Arnaldo: comparsa de Cassi
    • Cassi Jones: o vilão da história
    • Edmeia: filha de Lafões
    • Eduardo Lafões: amigo de Joaquim
    • Engrácia: mãe de Clara
    • Ernestina: esposa de Ataliba
    • Helena: tia de Marramaque
    • Inês: ex-criada de Salustiana
    • Joaquim dos Anjos: pai de Clara
    • Leonardo Flores: poeta
    • Manuel: pai de Cassi
    • Margarida: vizinha de Clara
    • Menezes: dentista
    • Nair: uma das vítimas de Cassi
    • Nascimento: dono da venda
    • Quick Shays: pastor americano
    • Salustiana: mãe de Cassi
    • Zezé Mateus: comparsa de Cassi

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  • Tempo da obra Clara dos Anjos

O tempo da narração é cronológico. Já o tempo da narrativa não está indicado no romance. No entanto, as características de seus personagens indicam que a ação transcorre no início do século XX.

  • Espaço da obra Clara dos Anjos

A história se passa no subúrbio do Rio de Janeiro.

  • Enredo da obra Clara dos Anjos

Os dois melhores amigos de Joaquim dos Anjos são Marramaque e Lafões. Eles são habituais frequentadores da casa do carteiro. É Lafões quem decide levar Cassi Jones (“mestre do violão e da modinha”) ao aniversário de Clara. Mas o poeta Marramaque, desde o início, se opõe, já que Cassi Jones, segundo ele, “não pode entrar em casa de família”.

Cassi é branco e de família burguesa. O rapaz, sem emprego e com deficiente instrução, já foi denunciado várias vezes por seduzir e abandonar moças virgens. Mas sempre conseguia se safar, pois tinha a proteção da mãe, que lhe arrumava advogados. E suas vítimas eram sempre “de humilde condição”.

Durante um jantar na casa do carteiro, Marramaque adverte o compadre sobre Cassi Jones. Clara, desde a primeira vez que ouviu o nome do rapaz, está atenta à conversa e cheia de curiosidade. Clara dos Anjos é negra, mas com uma pele um pouco mais clara, assim como a de seu pai.

Raramente sai de casa, a não ser para bordar na casa de dona Margarida. Foi criada cheia de cuidados e prevenções, o que fez dela uma jovem sonhadora. No entanto, os pais da moça acabam cometendo um erro ao permitirem que o violeiro compareça ao aniversário da jovem. Quando ela ouve Cassi Jones cantar uma modinha, logo se apaixona por ele.

Porém, na segunda visita que faz à casa da moça, Cassi não é bem tratado por Joaquim. Isso o faz querer ainda mais se aproximar dela. Mais tarde, descobre que Marramaque não gosta dele e que pode ser um grande obstáculo ao seu plano de seduzir Clara. Assim, Cassi suborna Menezes, o dentista, para que ele entregue cartas à jovem suburbana.

Dessa forma, os dois iniciam um namoro por correspondência. Quando ela conta esse segredo à dona Margarida, esta, para o bem da moça, conta tudo à mãe de Clara. A resistência dos pais e do padrinho faz Clara querer fugir e até se matar. Em carta, deixa Cassi ciente da influência de Marramaque.

Então, Cassi Jones planeja e executa (com Arnaldo) o assassinato de Marramaque. A morte do padrinho de Clara vira notícia no subúrbio onde mora o carteiro. A polícia começa a investigar o crime, mas sem sucesso. Logo o fato é esquecido. Clara, no entanto, suspeita que Cassi Jones está envolvido no assassinato.

Contudo, ela se convence de que as ameaças do rapaz a Marramaque não passaram de um ato de loucura, motivado pelo amor que sentia por ela. Cassi, por sua vez, decide ir embora do subúrbio e vai para a “cidade”, modo como ele se refere ao centro. Ali, ele encontra Inês, a sua primeira vítima, a qual está em total decadência.

Ele tenta fugir, mas a mulher pega-o pelo braço e faz um escândalo. Ele fica sabendo que o filho que teve com ela está preso, é um “pivete”. Por fim, Cassi consegue se desvencilhar e se afasta do tumulto causado pela mulher. Já Clara descobre que está grávida e pede ajuda à dona Margarida para fazer um aborto, assim sugere o narrador.

Então a vizinha convence Clara a contar tudo para dona Engrácia, que cai em lágrimas. Dona Margarida então decide ir, com Clara, à casa de Cassi para pedir providências à família do rapaz. A mãe de Cassi, como sempre, defende o filho, e, quando Clara exige que Cassi se case com ela, Salustina retruca: “Que é que você diz, sua negra?”.

Dona Margarida defende Clara, e dona Salustiana, fazendo-se de vítima, chama as filhas, que logo percebem que o motivo da confusão é Cassi. Dona Salustiana acha que Clara, por ser negra e pobre, é pouca coisa para o seu filho. No mais, o rapaz fugiu, como já relatamos. Então, Clara volta para casa e, finalmente, encara a realidade, ao dizer para sua mãe: “Nós não somos nada nesta vida”.|1|

  • Narrador da obra Clara dos Anjos

A obra conta com um narrador onisciente, conhecedor de sentimentos e pensamentos íntimos dos personagens.

Leia também: A representação do negro na literatura brasileira

Características da obra Clara dos Anjos

O livro Clara dos Anjos está dividido em 11 capítulos. Apesar de apresentar um final satisfatório, é um romance inacabado, segundo o próprio autor. A obra está inserida no contexto do pré-modernismo. Assim, é realista, antirromântica, apresenta crítica sociopolítica, mostra a realidade do subúrbio, denuncia o preconceito racial e utiliza linguagem coloquial.

Lima Barreto

Lima Barreto, em 1917.
Lima Barreto, em 1917.

Lima Barreto (Afonso Henriques de Lima Barreto) nasceu em 13 de maio de 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Negro, filho de uma professora primária e de um tipógrafo, ficou órfão de mãe aos seis anos de idade. Mais tarde, começou a estudar Engenharia na Escola Politécnica, mas abandonou o curso, em 1902, devido a problemas familiares.

Após ser aprovado em um concurso, em 1903, passou a trabalhar como funcionário público. Anos depois, tornou-se alcoólatra e, por isso, foi internado mais de uma vez em um hospício. Em 1918, aposentou-se por invalidez, pois estava com a saúde bastante prejudicada. Faleceu em 1º de novembro de 1922, no Rio de Janeiro.

Contexto histórico de Clara dos Anjos

A República Velha, período histórico brasileiro, durou de 1889 a 1930. Essa época foi marcada pelo nacionalismo, fortalecido pelo fim da monarquia, mas também pela dominação econômica e política dos fazendeiros (ou coronéis), particularmente os dos estados de Minas Gerais e de São Paulo.

Se esses dois estados eram os mais ricos, devido à produção de café e do leite, estados do Nordeste enfrentavam a miséria, enquanto o Rio de Janeiro assistia ao aumento da exclusão social. Nesse contexto, o escritor Lima Barreto mostrava, em suas obras, a realidade dos subúrbios cariocas, que contribuíam para a formação de uma identidade nacional.

Nota

|1| LIMA BARRETO. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Mérito, 1948.

Créditos da imagem

[1] Editora FTD (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Clara dos Anjos, de Lima Barreto"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/lima-barreto.htm. Acesso em 17 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

A produção literária de Lima Barreto foi marcada pela investigação das desigualdades sociais. Houve, por parte do escritor, uma leitura crítica sobre os homens e suas relações em uma sociedade provinciana e hipócrita. De acordo com essas afirmações, é correto dizer que Lima Barreto filiou-se à corrente literária denominada Pré-Modernismo, cujas principais características eram:

a) desencadeada tardiamente nos anos 20, foi fortemente influenciada pelas vanguardas europeias e possuiu amplo espectro cultural, cujo ápice foi a realização da Semana Nacional de Arte Moderna, em 1922.

b) movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do século XIX, suas principais características foram a abordagem de temas sociais, expondo as mazelas do homem e sua sociedade, além da retratação do homem através de uma visão objetiva.

c) Situada aproximadamente nas duas primeiras décadas do século XX, não é associada a nenhuma escola literária, visto que não correspondia às estéticas propagadas à época. Apresentou novas vertentes estilísticas e novas temáticas em nossa literatura.

d) Importante corrente de vanguarda iniciada em 1956, rompeu drasticamente com os padrões da arte tradicional ao apresentar uma literatura de caráter agressivo e experimental, influenciando poetas, artistas plásticos e músicos.

e) Influenciada pelos estudos da Biologia, Psicologia e Sociologia, propôs-se a analisar o comportamento humano e social, ocupando-se de temas obscuros relacionados com a alma humana sob uma perspectiva biológica (patologia).

Exercício 2

A obra literária de Lima Barreto foi permeada por altos níveis de criatividade e realização estética, assumindo muitas vezes um caráter panfletário ao abdicar-se de maiores preocupações artísticas em favor de uma literatura do tipo “documento social”, que denunciava problemas sociais e políticos. São obras de sua autoria:

a) Lucíola e Macunaíma.

b) Memórias Póstumas de Brás Cubas e Memórias Sentimentais de João Miramar.

c) O cortiço e O mulato.

d) Triste fim de Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos.

e) Memórias de um sargento de milícias e A moreninha.

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