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Tipos de narrador

Os tipos de narrador fazem referência ao foco da narração, isto é, dizem respeito ao ponto de vista do narrador sobre uma determinada história.

Definir um tipo de narrador é determinar sob qual ângulo ou ponto de vista a história será contada.
Definir um tipo de narrador é determinar sob qual ângulo ou ponto de vista a história será contada.
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Os tipos de narrador correspondem ao ponto de vista da história contada, isto é, a uma perspectiva particular. Assim, uma determinada história pode ser contada de forma mais subjetiva, aproximando o leitor das alegrias ou angústias da personagem, ou ainda de maneira distante e objetiva, tratando os acontecimentos da trama de maneira neutra, sem interferências.

Há também narradores que participam da história, mas não são protagonistas, e há aqueles que sabem o que a personagem pensa no seu íntimo. Dessa forma, saber qual o tipo de narrador presente em uma história é fundamental para que se compreenda o foco ou direcionamento dado.

Uma narrativa intimista opta por um narrador em primeira pessoa ou um narrador onisciente intruso, que entende as nuances dos pensamentos das personagens e expõe tudo ao leitor. Por outro lado, uma história focada na trama pode conter um narrador observador ou narrador onisciente neutro, que não interfere no juízo de valor de seus leitores.

Leia também: Crônica narrativa — gênero marcado pela brevidade de ações

Tópicos deste artigo

Resumo sobre os tipos de narrador

  • Os tipos de narrador dizem respeito ao ponto de vista que o narrador tem sobre uma determinada história ou acontecimento.

  • Para definir o foco narrativo, é preciso definir:

    • quem conta a história;

    • qual a posição ou ângulo de quem conta;

    • quais os canais de informação utilizados;

    • qual o distanciamento entre leitor e narrador.

  • Os tipos de narrador se dividem em

    • narrador em primeira pessoa:

      • narrador personagem protagonista: possui relação íntima com a narrativa.

      • narrador personagem testemunha: conta a história de outra pessoa e possui relação próxima com ela.

    • narrador em terceira pessoa:

      • narrador observador: conta uma história como alguém que a percebe de fora.

      • narrador onisciente neutro: conhece intimamente todas as personagens e expõe fatos com distanciamento.

      • narrador onisciente intruso: conhece as emoções e pensamentos das personagens e expõe sua opinião a respeito.

Videoaula sobre os tipos de narrador

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O que é foco narrativo?

De acordo com o linguista José Luiz Fiorin, o foco narrativo é a maneira de se narrar. Em um texto narrativo, é o narrador quem determina o foco, isto é, o ponto de vista. Por exemplo, na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, o narrador (Bentinho) é quem determina:

  • relações de proximidade do leitor com as personagens;

  • ações, percepções e sentimentos expostos.

No entanto, explica Fiorin, há fundamentalmente dois modos de se narrar: em primeira pessoa ou em terceira pessoa. É possível observar em diferentes obras formas diversas de expressão do ponto de vista.

→ Como definir o foco narrativo?

É fundamental que haja a definição do foco narrativo, e, para isso, o crítico literário Norman Friedman estabeleceu as seguintes questões a serem feitas:

  • Quem conta a história? E como ela é contada? — Para Friedman, essas perguntas são importantes, pois definirão se o narrador será participante da história e de que forma ele participará dela (sendo personagem ou testemunha, por exemplo).

  • Qual é a posição ou ângulo assumido por quem conta a história? — A posição ou ângulo assumido pela personagem dá indícios do envolvimento dela com a narrativa. Ela vê os acontecimentos de cima? — posição privilegiada que concede uma visão ampla, porém superficial. Na periferia? — posição à margem, mas profunda. São essas algumas perguntas que complementam as indagações iniciais. Dentro da lógica exposta, o narrador personagem é mais intenso em seus anseios, enquanto o narrador observador, por falta de acesso ao conteúdo interno das outras personagens, é mais superficial.

  • Quais são os canais de informação utilizados para comunicar a história ao leitor? — O objetivo dessa pergunta é saber se há um ponto de vista embasado em frases ditas ou pensamentos. O narrador onisciente consegue acessar pensamentos e emoções. Por outro lado, o observador ou o personagem testemunha não tem essa capacidade.

  • Qual é a distância estabelecida entre o leitor e o narrador? — O narrador está próximo ou distante do leitor? Quanto mais subjetivo ele for, maior a possibilidade de se estabelecer proximidade com o leitor. Por outro lado, quanto menos subjetivo, mais distante o narrador fica do leitor. O narrador personagem protagonista, por exemplo, consegue estabelecer uma aproximação muito maior do que o narrador observador.

Com base nas perguntas acima, é possível definir os tipos de narrador ou, conforme Friedman, os modos e pontos de vista apresentados no texto narrativo.

Quais são os tipos de narrador?

O texto narrativo pode apresentar dois tipos de narrador.

→ Narrador em primeira pessoa

Existem dois tipos de narrador em primeira pessoa. Veremos cada um deles a seguir.

  • Narrador personagem protagonista

  • Possui relação íntima com a narrativa, pois ela gira em torno do narrador.

  • Sua visão é subjetiva, isto é, traz a opinião, as emoções, os sentimentos e os pensamentos do narrador.

  • Estabelece uma relação de proximidade e, em consequência, de parcialidade. O narrador apresenta ao leitor situações particulares que outras personagens desconhecem. Nesse aspecto, o texto é também parcial, pois só se tem acesso à opinião do narrador protagonista, não havendo espaço para o outro ângulo da situação.

Exemplo:

A voz era a mesma de Escobar, o sotaque era afrancesado. Expliquei-lhe que realmente pouco diferia do que era, e comecei um interrogatório para ter menos que falar e dominar assim a minha emoção. Mas isto mesmo dava animação à cara dele, e o meu colega do seminário ia ressurgindo cada vez mais do cemitério. Ei-lo aqui, diante de mim, com igual riso e maior respeito; total, o mesmo obséquio e a mesma graça. (Machado de Assis)

O trecho acima foi retirado do livro Dom Casmurro. Percebe-se, logo de início, o uso de alguns marcadores de primeira pessoa (“expliquei-lhe”, “minha emoção”) que proporcionam uma relação de confissão entre narrador e leitor. O trecho diz respeito às dúvidas que Bentinho, o protagonista e narrador, tem a respeito da traição de sua amada, Capitu.

Uma das pistas da traição, segundo o narrador, seria a semelhança de seu filho com o seu amigo Escobar. O excerto evidencia esse pensamento e a parcialidade das informações, visto que não há uma visão alternativa (de Capitu ou de Escobar).

Saiba mais: Capitu traiu Bentinho?

  • Narrador personagem testemunha

  • A narrativa gira em torno de outra personagem, e quem narra é um coadjuvante que evidencia a protagonista. A narrativa é construída, portanto, sob o ponto de vista de uma personagem que, dada a sua proximidade com a protagonista, consegue aproximá-la do leitor.

  • Há, assim como no caso do narrador personagem protagonista, um fator de parcialidade. A testemunha ou coadjuvante descreve a outra personagem a partir do seu olhar. Ela pode achar o outro inteligente e sagaz, por exemplo, e, como não existe um contraponto, o leitor constrói a mesma imagem parcial feita pela testemunha.

Exemplo:

Passando os olhos na série um tanto incoerente de casos com que procurei ilustrar algumas das peculiaridades mentais de meu amigo Sherlock Holmes, impressionou-me a dificuldade que tive em escolher exemplos que atendessem a meu propósito sob todos os aspectos. Pois naqueles casos em que Holmes realizou algum tour de force de raciocínio analítico e demonstrou o valor de seus métodos peculiares de investigação, os próprios fatos foram muitas vezes tão insignificantes ou banais que não pude me sentir justificado em expô-los perante o público. (Arthur Conan Doyle)

Em O paciente residente, o narrador é Watson, amigo do detetive Sherlock Holmes. Ele define um ponto de vista que caracteriza Holmes: uma personagem dotada de raciocínio analítico que faz uso de uma série de métodos peculiares.

Ele ressalta, portanto, elementos que descrevem a inteligência e capacidade acima do normal do seu companheiro. Sendo assim, a narrativa é feita por uma testemunha (Watson) que define o protagonista (Sherlock Holmes) de forma parcial, atribuindo-lhe adjetivos elogiosos.

→ Narrador em terceira pessoa

Existem três tipos de narrador em terceira pessoa. Veremos cada um deles a seguir.

  • Narrador observador

  • Conta uma história como alguém que a percebe de fora, sem participar ativamente dela.

  • Por estar distante, a relação não é íntima. Prevalece certa neutralidade.

  • O distanciamento entre narrador e personagens acaba direcionando um foco maior aos acontecimentos da narrativa (enredo) e menor às emoções e anseios das personagens. O conhecimento das personagens por esse tipo de narrador é mais superficial, com poucos detalhes.

Exemplo:

Em pouco tempo a força do rei Polícrates cresceu imensamente, e ele se tornou famoso na Jônia e em toda a Hélade; aonde quer que se dirigisse para guerrear, era em tudo bem-sucedido. Acumulou cem navios de cinquenta remos, e mil arqueiros. Atacava e saqueava a todos, sem fazer distinção de ninguém. De fato, dizia que faria algo mais grato a um amigo restituindo-lhe o que lhe tomara, do que se nunca lhe tivesse roubado coisa nenhuma. Conquistou numerosas ilhas, e também muitas cidades do continente. Entre outros ilhéus que venceu em batalhas navais, conquistou também os lésbios, que haviam acorrido com todas as suas forças em socorro aos milésios; esses, como prisioneiros, escavaram todo o fosso que há em volta das muralhas de Samos. (O anel de Polícrates, Heródoto)

O narrador observador descreve os feitos do rei Polícrates com certo distanciamento. Não se sabe, por exemplo, o que o narrador pensa da característica de conquistador do rei (não há juízo de valor), e, dessa forma, é mantida a neutralidade. Com esse ponto de vista estabelecido, cabe ao leitor formar sua opinião acerca da personagem, que, nesse texto narrativo, é descrita de forma superficial.

Veja também: Apólogo — texto narrativo curto que apresenta histórias fantásticas

  • Narrador onisciente neutro

  • De forma distinta do narrador observador, este conhece intimamente todas as personagens. Ele sabe de todas as emoções e pensamentos das personagens, mas procura agir de forma neutra, não os revelando repentinamente.

  • É imparcial e não tem intenção de influenciar o leitor, ou seja, prevalece a neutralidade.

  • Por possuir acesso ao que é íntimo (emoções e pensamentos), ele sai da superficialidade e vai mais a fundo, provocando maior imersão do leitor na condição das personagens.

Exemplo:

O rosto de Spade estava calmo. Quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos amarelo-pardos brilhavam por um instante com malícia e depois tornaram-se de novo inexpressivos — Foi você que fez isso? — perguntou Dundy à moça, mostrando com a cabeça a testa ferida de Cairo. Ela olhou de novo para Spade, que não correspondeu absolutamente ao apelo dos seus olhos. Encostado ao batente, observava os circunstantes com ar educado e desprendido de um espectador desinteressado. (O falcão maltês, Dashiel Hammett)

No excerto, a característica de narrador onisciente neutro se faz presente quando observamos, principalmente, os seguintes trechos:

  • o rosto de Spade estava calmo (I);

  • quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos amarelo-pardos brilhavam por um instante com malícia (II).

Em I, o narrador fornece algumas informações ao leitor sobre o estado da personagem Spade (ele estava calmo, como analisa o narrador a partir de suas feições). A malícia, elemento presente em II, é outra característica que compõe o pensamento de Spade, exposta a partir do olhar (o narrador faz uso de um movimento concreto, o de olhar, e fornece ao leitor uma emoção, a malícia).

  • Narrador onisciente intruso

  • Assim como o narrador onisciente neutro, conhece as emoções e pensamentos das personagens

  • Dá profundidade às personagens. No entanto, de forma distinta do narrador onisciente neutro, emite opinião e procura induzir o leitor a concordar com ele. Prevalece, portanto, a parcialidade.

Exemplo:

Outra observação. O mundo das meretrizes, dos ladrões e dos assassinos, os galés e as prisões comportam uma população sessenta e oito mil indivíduos, machos e fêmeas [...] Não será extravagante constatar que a justiça, os gendarmes e a política oferecem um número de pessoal quase correspondente? Esse antagonismo de gente que se procura e que reciprocamente se evita, constitui um imenso duelo, eminentemente dramático, esboçando no presente estudo. Com o roubo e o meretricio sucede o mesmo que com o teatro, a polícia, o sacerdócio e a gendarmaria. Nessas seis condições, o indivíduo toma o caráter indelével. Não pode mais ser o que é. (Balzac)

Em Esplendores das cortesãs, o narrador onisciente intruso descreve uma série de nuances e elementos sociais que influenciam no comportamento das personagens. Elas são apresentadas com suas inconstâncias e desespero por condições de vida melhores, por conta do contexto sócio-histórico em que vivem.

Dessa forma, além de apresentar o estado de sofrimento das personagens, o narrador dá sua opinião, atribuindo a elas a condição social desfavorável da época. O recurso utilizado é uma maneira de convencer o leitor, o que caracteriza um narrador onisciente intruso parcial.

Videoaula sobre narração

 

Por Rafael Camargo de Oliveira
Professor de Redação

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Camargo de Oliveira Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

OLIVEIRA, Rafael Camargo de. "Tipos de narrador"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/narracao-tipos-narrador.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(FUVEST)

“(...) Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava-as, para me não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.

O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o principal irá. E o principal é que os nossos temporais eram agora contínuos e terríveis. Antes de descoberta aquela má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se fizesse azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos levavam às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento desbaratava tudo, e nós, postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era tardia nem dúbia, antes total, próxima e firme (...)”.

(Fragmento do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis)

A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela apresenta-se:

a) fiel aos fatos e perfeitamente adequada à realidade;
b) viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador;
c) perturbada pela interferência de Capitu que acaba por guiar o narrador;
d) isenta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade;
e) indecisa entre o relato dos fatos e a impossibilidade de ordená-los.

Exercício 2

(UFV) Considere o texto:

"O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (...) Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma ideia mais clara do palco, do cenário e principalmente dos personagens principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana.”

(Fragmento do livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo)

Assinale a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima:

a) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal.
b) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963.
c) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x ou y em tal lugar ou tal hora.
d) Fala de maneira exemplar ao leitor porque considera sua visão a mais correta.
e) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.