Clara dos Anjos é um romance do escritor brasileiro Lima Barreto. Nessa narrativa, Clara dos Anjos, uma jovem negra do subúrbio carioca, é seduzida por Cassi Jones, branco e membro da classe média. O rapaz é mau-caráter, não tem profissão e tem por hábito abusar de jovens pobres para depois abandoná-las.
O livro foi escrito no início do século XX e está inserido no pré-modernismo. Assim, possui caráter realista e antirromântico, apresenta crítica sociopolítica, além de ser uma das primeiras obras de autores negros brasileiros a denunciarem o preconceito racial no país.
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O escritor brasileiro Lima Barreto nasceu no ano de 1881 e faleceu em 1922.
Clara dos Anjos é um dos livros mais conhecidos desse romancista.
Ele foi escrito no início do século XX e publicado após a morte do autor.
Esse romance pré-modernista conta a história de uma jovem negra e suburbana.
A obra faz crítica ao romantismo e mostra o racismo na sociedade brasileira.
Personagens da obra Clara dos Anjos
O tempo da narração é cronológico. Já o tempo da narrativa não está indicado no romance. No entanto, as características de seus personagens indicam que a ação transcorre no início do século XX.
A história se passa no subúrbio do Rio de Janeiro.
Os dois melhores amigos de Joaquim dos Anjos são Marramaque e Lafões. Eles são habituais frequentadores da casa do carteiro. É Lafões quem decide levar Cassi Jones (“mestre do violão e da modinha”) ao aniversário de Clara. Mas o poeta Marramaque, desde o início, se opõe, já que Cassi Jones, segundo ele, “não pode entrar em casa de família”.
Cassi é branco e de família burguesa. O rapaz, sem emprego e com deficiente instrução, já foi denunciado várias vezes por seduzir e abandonar moças virgens. Mas sempre conseguia se safar, pois tinha a proteção da mãe, que lhe arrumava advogados. E suas vítimas eram sempre “de humilde condição”.
Durante um jantar na casa do carteiro, Marramaque adverte o compadre sobre Cassi Jones. Clara, desde a primeira vez que ouviu o nome do rapaz, está atenta à conversa e cheia de curiosidade. Clara dos Anjos é negra, mas com uma pele um pouco mais clara, assim como a de seu pai.
Raramente sai de casa, a não ser para bordar na casa de dona Margarida. Foi criada cheia de cuidados e prevenções, o que fez dela uma jovem sonhadora. No entanto, os pais da moça acabam cometendo um erro ao permitirem que o violeiro compareça ao aniversário da jovem. Quando ela ouve Cassi Jones cantar uma modinha, logo se apaixona por ele.
Porém, na segunda visita que faz à casa da moça, Cassi não é bem tratado por Joaquim. Isso o faz querer ainda mais se aproximar dela. Mais tarde, descobre que Marramaque não gosta dele e que pode ser um grande obstáculo ao seu plano de seduzir Clara. Assim, Cassi suborna Menezes, o dentista, para que ele entregue cartas à jovem suburbana.
Dessa forma, os dois iniciam um namoro por correspondência. Quando ela conta esse segredo à dona Margarida, esta, para o bem da moça, conta tudo à mãe de Clara. A resistência dos pais e do padrinho faz Clara querer fugir e até se matar. Em carta, deixa Cassi ciente da influência de Marramaque.
Então, Cassi Jones planeja e executa (com Arnaldo) o assassinato de Marramaque. A morte do padrinho de Clara vira notícia no subúrbio onde mora o carteiro. A polícia começa a investigar o crime, mas sem sucesso. Logo o fato é esquecido. Clara, no entanto, suspeita que Cassi Jones está envolvido no assassinato.
Contudo, ela se convence de que as ameaças do rapaz a Marramaque não passaram de um ato de loucura, motivado pelo amor que sentia por ela. Cassi, por sua vez, decide ir embora do subúrbio e vai para a “cidade”, modo como ele se refere ao centro. Ali, ele encontra Inês, a sua primeira vítima, a qual está em total decadência.
Ele tenta fugir, mas a mulher pega-o pelo braço e faz um escândalo. Ele fica sabendo que o filho que teve com ela está preso, é um “pivete”. Por fim, Cassi consegue se desvencilhar e se afasta do tumulto causado pela mulher. Já Clara descobre que está grávida e pede ajuda à dona Margarida para fazer um aborto, assim sugere o narrador.
Então a vizinha convence Clara a contar tudo para dona Engrácia, que cai em lágrimas. Dona Margarida então decide ir, com Clara, à casa de Cassi para pedir providências à família do rapaz. A mãe de Cassi, como sempre, defende o filho, e, quando Clara exige que Cassi se case com ela, Salustina retruca: “Que é que você diz, sua negra?”.
Dona Margarida defende Clara, e dona Salustiana, fazendo-se de vítima, chama as filhas, que logo percebem que o motivo da confusão é Cassi. Dona Salustiana acha que Clara, por ser negra e pobre, é pouca coisa para o seu filho. No mais, o rapaz fugiu, como já relatamos. Então, Clara volta para casa e, finalmente, encara a realidade, ao dizer para sua mãe: “Nós não somos nada nesta vida”.|1|
A obra conta com um narrador onisciente, conhecedor de sentimentos e pensamentos íntimos dos personagens.
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O livro Clara dos Anjos está dividido em 11 capítulos. Apesar de apresentar um final satisfatório, é um romance inacabado, segundo o próprio autor. A obra está inserida no contexto do pré-modernismo. Assim, é realista, antirromântica, apresenta crítica sociopolítica, mostra a realidade do subúrbio, denuncia o preconceito racial e utiliza linguagem coloquial.
Lima Barreto (Afonso Henriques de Lima Barreto) nasceu em 13 de maio de 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Negro, filho de uma professora primária e de um tipógrafo, ficou órfão de mãe aos seis anos de idade. Mais tarde, começou a estudar Engenharia na Escola Politécnica, mas abandonou o curso, em 1902, devido a problemas familiares.
Após ser aprovado em um concurso, em 1903, passou a trabalhar como funcionário público. Anos depois, tornou-se alcoólatra e, por isso, foi internado mais de uma vez em um hospício. Em 1918, aposentou-se por invalidez, pois estava com a saúde bastante prejudicada. Faleceu em 1º de novembro de 1922, no Rio de Janeiro.
A República Velha, período histórico brasileiro, durou de 1889 a 1930. Essa época foi marcada pelo nacionalismo, fortalecido pelo fim da monarquia, mas também pela dominação econômica e política dos fazendeiros (ou coronéis), particularmente os dos estados de Minas Gerais e de São Paulo.
Se esses dois estados eram os mais ricos, devido à produção de café e do leite, estados do Nordeste enfrentavam a miséria, enquanto o Rio de Janeiro assistia ao aumento da exclusão social. Nesse contexto, o escritor Lima Barreto mostrava, em suas obras, a realidade dos subúrbios cariocas, que contribuíam para a formação de uma identidade nacional.
Nota
|1| LIMA BARRETO. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Mérito, 1948.
Créditos da imagem
[1] Editora FTD (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/literatura/lima-barreto.htm