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O romance é um longo texto narrativo, portanto apresenta:
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narrador;
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personagens;
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ação;
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espaço; e
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tempo.
Surgido no século XVIII, ele se diferencia da epopeia, pois narra os eventos em forma de prosa, e não mais em verso (estrutura típica dos poemas épicos). Além disso, pode ser classificado como monofônico, polifônico, fechado, aberto, linear, vertical ou psicológico.
Leia também: Crônica narrativa – gênero que conta histórias ágeis sobre fatos cotidianos
Tópicos deste artigo
O que é romance?
A origem do romance está no século XVIII, quando esse gênero textual adquiriu popularidade e substituiu a antiga forma de narrativa conhecida como epopeia ou poema épico. Esse tipo de narrativa era escrito em versos e apresentava a figura de um herói. Já o romance é escrito em prosa e a figura heroica pode ser dispensada.
Além disso, ele se diferencia da novela e do conto no que se refere à sua extensão, pois é a narrativa mais longa. Um conto é uma narrativa curta, e a novela possui uma extensão intermediária entre o conto e o romance. Isso significa que o romance, por ser mais amplo, possui também a chance de apresentar tramas e personagens mais complexos.
Quanto à temática, o romance pode ser classificado de diversas formas: infantojuvenil, policial, romântico, realista, naturalista, modernista, regionalista, homoerótico, erótico, de aventura, de ficção científica, de terror, de fantasia. Enfim, são inúmeras as possibilidades temáticas desse gênero de texto literário.
Principais características do romance
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Ação: acontecimentos.
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Espaço: lugar da ação.
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Tempo:
- cronológico: associado ao espaço, logo linear;
- psicológico: relacionado ao mundo interior das personagens, aos seus pensamentos e reflexões; portanto, não linear.
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Personagem:
- plana: simples e previsível;
- redonda ou esférica: complexa e imprevisível.
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Enredo: a história.
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Narrador:
- personagem: participa da história e narra em primeira pessoa;
- observador: não possui conhecimento de todos os fatos e narra em terceira pessoa;
- onisciente ou onipresente: narra em terceira pessoa e conhece todos os fatos, além dos pensamentos e desejos íntimos de cada personagem.
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Tipos de romance
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Romance monofônico
A narrativa está centrada em uma personagem, como no romance Senhora, de José de Alencar (1829-1877), que conta a história de Aurélia Camargo:
“Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa.
[...]
Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia.”
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Romance polifônico
A narrativa não está centrada em uma personagem apenas, mas em várias, como no romance Capitães da areia, de Jorge Amado (1912-2001), que mostra o drama de cada uma destas crianças de rua: Pedro Bala, Sem-Pernas, Boa-Vida, Dora, Volta Seca, Gato, Pirulito e Professor.
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Romance fechado
O narrador não deixa lacunas para serem preenchidas pelo(a) leitor(a). Como exemplo desse tipo de romance, é possível citar algumas obras da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976), em que o narrador, ao final, revela sempre a identidade do assassino ou assassina:
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Assassinato no campo de golfe;
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Assassinato no expresso do Oriente;
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Morte no Nilo;
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Morte na praia e tantos outros.
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Romance aberto
O narrador deixa lacunas para serem preenchidas pelo(a) leitor(a). Como exemplo desse tipo de romance, é possível citar o livro Orlando, da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), em que o personagem Orlando nasce homem, mas se transforma em mulher, além de viver durante séculos. Em nenhum momento, o narrador nos explica por que Orlando vive tanto tempo ou o motivo de sua transformação repentina:
“Ficamos então agora inteiramente sozinhos no quarto com o adormecido Orlando e os trombeteiros. Os trombeteiros, organizando-se lado a lado, sopram um terrível toque: — “A VERDADE!” — e com isso Orlando despertou.
Espreguiçou-se. Levantou-se. Ficou de pé completamente despido diante de nós, e enquanto as trombetas soavam Verdade! Verdade! Verdade! não temos escolha senão confessar — ele era uma mulher.”|1|
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Romance linear ou progressivo
Esse tipo de romance está centrado na ação, e não na reflexão, como bem ilustra a obra Cartas na rua, do escritor estado-unidense Charles Bukowski (1920-1994):
“Dei a volta pela lateral da igreja e topei com uma escada que descia. Atravessei uma porta aberta. Você sabe o que eu vi? Uma fila de banheiros. E chuveiros. Mas estava escuro. Todas as luzes apagadas. Como, diabos, esperam que um homem encontre uma caixa de correspondência no escuro? Então avistei o comutador. Apertei a chave e as luzes da igreja se acenderam, dentro e fora. Avancei até a sala seguinte e havia batinas de padres estendidas numa mesa. Havia também uma garrafa de vinho.”|2|
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Romance vertical ou analítico
Nesse tipo de romance, a ação leva a uma reflexão, como podemos observar no livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908):
“[...]. Talvez por isso entraram os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro cobriu tudo, — menos o hipopótamo que ali me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...
[...]
Já o leitor compreendeu que era a Razão que voltava à casa, e convidava a Sandice a sair, [...].
Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificilmente lha farão despejar. É sestro; não se tira daí; há muito que lhe calejou a vergonha. Agora, se advertirmos no imenso número de casas que ocupa, umas de vez, outras durante as suas estações calmosas, concluiremos que esta amável peregrina é o terror dos proprietários. No nosso caso, houve quase um distúrbio à porta do meu cérebro, porque a adventícia não queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar o que era seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um cantinho no sótão.”
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Romance psicológico
No romance de viés psicológico, sobressai o monólogo interior, os chamados fluxos de consciência, que revelam o universo íntimo das personagens. O enredo fica em segundo plano, pois o que importa não é a ação, mas a análise psicológica. Isso pode ser verificado na obra A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector (1920-1977):
“Abaixei rapidamente os olhos. Ao esconder os olhos, eu escondia da barata a astúcia que me tomara — o coração me batia quase como numa alegria. É que inesperadamente eu sentira que tinha recursos, nunca antes havia usado meus recursos — e agora toda uma potência latente enfim me latejava, e uma grandeza me tomava: a da coragem, como se o medo mesmo fosse o que me tivesse enfim investido de minha coragem. Momentos antes eu superficialmente julgara que meus sentimentos eram apenas de indignação e de nojo, mas agora eu reconhecia — embora nunca tivesse conhecido antes — que o que sucedia é que enfim eu assumira um medo grande, muito maior do que eu.”
Notas
|1|Tradução de Laura Alves.
|2|Tradução de Pedro Gonzaga.
Crédito da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura