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Deslizamentos de terra no Brasil acontecem em todo o território nacional e são mais comuns durante os meses de verão. Isso se deve ao fato de a estação ser a mais chuvosa no país, com precipitações recorrentes e intensas em diversas regiões. Além das causas naturais associadas a esse fenômeno, a urbanização desordenada, sem planejamento, potencializou a sua ocorrência com as construções realizadas nas encostas de morros e serras, lugares já altamente suscetíveis aos movimentos de massa.
Leia também: Problemas ambientais dos grandes centros urbanos
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre deslizamentos de terra no Brasil
- 2 - Videoaula sobre deslizamento de terra no Brasil
- 3 - Causas do deslizamento de terra no Brasil
- 4 - Os principais deslizamentos de terra ocorridos no Brasil
- 5 - Consequências dos deslizamentos de terra no Brasil
- 6 - Como evitar possíveis deslizamentos de terra no Brasil
Resumo sobre deslizamentos de terra no Brasil
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Os deslizamentos de terra no Brasil acontecem com maior frequência no verão, quando as chuvas são mais recorrentes e intensas.
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Eles são causados por fatores de ordem natural e também antrópica.
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Os fatores antrópicos dizem respeito à urbanização desordenada, por meio da ocupação de encostas de morros e serras, e ao desmatamento, principalmente.
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As regiões Sul e Sudeste concentram o maior número de áreas de alto risco de deslizamentos, embora haja locais suscetíveis em todo o país.
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Uma das áreas mais afetadas é a região serrana do Rio de Janeiro. Em 2011, deslizamentos nessa região deixaram mais de 900 mortos e 35 mil pessoas desabrigadas.
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Evitar a retirada da vegetação de morros, não plantar árvores pesadas e de raízes curtas, descartar lixo e dejetos adequadamente e criar canais para o escoamento da água são algumas medidas preventivas contra o incidente.
Videoaula sobre deslizamento de terra no Brasil
Causas do deslizamento de terra no Brasil
Deslizamentos de terra são um fenômeno de origem natural, porém potencializado pela ação antrópica, ou seja, pela atividade humana. Acontece mais comumente em áreas de relevo acidentado, como serras e morros, e é caracterizado pelo movimento descendente do solo e/ou fragmentos de rocha e outros detritos pelas encostas.
A maneira como a sociedade utiliza e interage com o solo pode torná-lo mais suscetível aos diversos tipos de movimentos de massa, dentre os quais está a desagregação do solo e o seu escorregamento até a base das encostas de morros ou serras. Por essa razão, eles são mais graves quando acontecem em áreas urbanas.
Os deslizamentos de terra são frequentes no Brasil durante o período chuvoso, que se estende de dezembro a março na maioria das regiões do país. As chuvas intensas e concentradas em um curto período de tempo estão entre os fatores naturais causadores dos deslizamentos, o que provoca a saturação dos solos e o seu encharcamento. Nos últimos tempos, volumes históricos de chuvas têm sido registrados em diversas cidades do Brasil.
Além dessa, outras causas naturais desse fenômeno são:
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solos muito permeáveis formados sobre rochas impermeáveis ou de baixa permeabilidade, favorecendo a concentração de água no substrato;
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declividade das encostas, onde há grande potencial para deslizamentos, dado o baixo grau de equilíbrio do material que repousa sobre a rocha.
Os fatores humanos que potencializam a sua ocorrência estão intrinsecamente associados ao processo de industrialização do território nacional, seguido da expansão das cidades e formação dos grandes centros urbanos.
A urbanização brasileira é decorrente da industrialização que teve início no começo do século XX. Com a modernização do campo a partir das inovações da Revolução Verde, o processo de êxodo rural, que é a migração definitiva do campo para as cidades, se intensificou e, por conseguinte, acelerou o crescimento das cidades brasileiras. A expansão do tecido urbano do Brasil se deu de maneira desordenada e sem qualquer tipo de planejamento estratégico dos órgãos públicos, o que significa que a infraestrutura urbana era insuficiente para atender à nova demanda.
Nesse processo, a população de renda menor, que não dispõe de meios suficientes para comprar ou alugar uma casa nas áreas centrais da cidade, se desloca para as áreas periféricas e zonas de maior risco, como as encostas de morros. Lá são fixadas residências, comércios e outros estabelecimentos, o que adiciona peso ao solo. Soma-se a isso a retirada da cobertura vegetal para a abertura de áreas para construção, o que causa a remoção da proteção natural do solo contra o impacto direto da água da chuva.
Os serviços e a infraestrutura essenciais, como coleta de lixo e saneamento básico, são deficitários nessas regiões. Por essa razão, o descarte é feito de forma irregular, o que potencializa o risco de deslizamentos pelo peso atribuído ao solo, pelo bloqueio de vias de escoamento de água e, em menor escala, pela geração de gases a partir desses dejetos.
É importante notar ainda que a maior parcela da população brasileira se concentra nas regiões Sul e Sudeste, onde há o predomínio de formas de relevo como colinas, morros e serras, especialmente nas áreas mais próximas do litoral. As construções nessas áreas, tanto nas encostas quanto imediatamente abaixo delas, estão sujeitas direta ou indiretamente aos deslizamentos de terra.
Confira no nosso podcast: A problemática do saneamento básico no Brasil
Os principais deslizamentos de terra ocorridos no Brasil
O verão, que se estende de dezembro a março, é a estação mais chuvosa do Brasil, quando são registrados grandes volumes pluviométricos em diversas cidades e regiões do país. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado em 2019 mostrou que as regiões Sul e Sudeste do Brasil são as mais suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de terra.
Ao todo, 5,7% do território brasileiro apresenta risco muito elevado para esse tipo de movimento de massa|1|. É importante notar, como o próprio estudo ressalta, que os deslizamentos ocorrem em todas as regiões do país.
Um dos desastres mais recentes aconteceu na cidade de Petrópolis, na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Fortes chuvas que acometeram o município no mês de fevereiro de 2022 provocaram enxurradas extremamente violentas e grandes deslizamentos de terra que deixaram quase 1.000 pessoas desabrigadas, 191 desaparecidas e causaram 152 fatalidades até o momento|2|.
Onze anos antes do ocorrido em Petrópolis, a região serrana do Rio de Janeiro vivenciou a tragédia que é considerada hoje a pior catástrofe natural da história do Brasil e uma das piores do mundo. No dia 11 de janeiro de 2011, as chuvas que caíram na região ultrapassaram o total esperado para o mês inteiro e provocaram deslizamentos de grandes proporções nos municípios de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis.
O total de vítimas fatais chegou a 918, e até hoje 99 pessoas permanecem desaparecidas.|3| À época da tragédia, 35 mil pessoas ficaram desabrigadas por terem suas casas destruídas ou pelo risco iminente de desabamento|4|.
A cidade paulista de Caraguatatuba, localizada na Serra do Mar, sofreu com as fortes chuvas que caíram por mais de 13 horas ininterruptas no dia 18 de março de 1967. Os deslizamentos de terra deixaram três mil pessoas desabrigadas, o que representava 20% da população da cidade no período. As vítimas fatais chegaram a 450, sendo esse também um dos piores desastres ambientais da história brasileira|5|.
Consequências dos deslizamentos de terra no Brasil
Os deslizamentos de terra no Brasil têm consequências muito graves quando ocorrem nas áreas urbanas e urbanizadas, visto que acometem principalmente bairros das periferias das cidades e regiões densamente povoadas. Sem dúvidas, os danos mais severos são aqueles que atingem de forma direta os indivíduos, como é o caso dos desabrigados, feridos e mortos em decorrência dos movimentos de massa. Além disso, os deslizamentos ocasionam:
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soterramento e destruição de casas, estabelecimentos comerciais e edifícios;
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arraste e até mesmo destruição de carros, ônibus e outros veículos;
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obstrução pelo acúmulo de lama e detritos em ruas, avenidas e estradas;
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destruição da infraestrutura urbana;
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interrupção no fornecimento de água, luz e gás;
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assoreamento de rios e mananciais urbanos;
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maior fragilidade da área onde o deslizamento ocorreu, tornando-a mais suscetível a novas ocorrências e a outros desastres ambientais.
Leia também: Enchentes no Brasil — por que esse fenômeno ocorre com tanta frequência em nosso país?
Como evitar possíveis deslizamentos de terra no Brasil
Episódios de deslizamentos de terra acontecem todos os anos no Brasil, concentrando-se nos períodos chuvosos. Para que tragédias de grandes proporções sejam evitadas onde os escorregamentos são recorrentes, algumas ações e medidas são necessárias, como:
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evitar a remoção da cobertura vegetal das encostas ou promover o seu reflorestamento;
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não realizar o plantio de árvores grandes e/ou de raízes curtas nas encostas;
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descartar lixo doméstico e dejetos nos locais apropriados, e não diretamente no solo;
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instalar canaletas e outras vias para o escoamento da água;
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consertar vazamentos de água e esgoto o mais rapidamente possível para que não atinjam o solo, causando a sua saturação;
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criar barreiras de contenção, como muros de pedras;
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acionar a Defesa Civil em caso de risco de deslizamentos e avisar vizinhos e conhecidos que vivem na área;
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acionar a Defesa Civil para cobrir áreas de solo exposto, suscetíveis a deslizamentos, na tentativa de diminuir o impacto da água da chuva e proteger a encosta.
Notas
|1| RODRIGUES, Léo. Regiões Sudeste e Sul concentram áreas com risco de deslizamento. Agência Brasil, 29 nov. 2019. Disponível aqui.
|2| MARQUES, Ariane. Número de mortes em Petrópolis já é mais que o dobro do registrado na tragédia de 2011. g1, 19 fev. 2022. Disponível aqui.
|3| O GLOBO. Em 2011, temporal e deslizamentos na Região Serrana deixaram 918 mortos. Jornal O Globo, 16 fev. 2022. Disponível aqui.
|4| REDAÇÃO. Em 2011, chuva na Região Serrana deixou mais de 900 mortos. g1, 15 fev. 2022. Disponível aqui.
|5| CORRÁ, Daniel. Deslizamento de terra que devastou Caraguatatuba completa 50 anos. g1, 18 mar. 2017. Disponível aqui.
Créditos da imagem
[1] e [2] Joa Souza / Shutterstock
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia