Rima é um recurso literário obtido por meio de palavras com som semelhante, localizadas no final dos versos de um poema (rimas externas) ou ainda no final de um verso e no interior de outro verso (rimas internas). Existem também outros tipos de rima, classificadas pela posição (cruzada, interpolada etc.), pela fonética (consoante, toante ou imperfeita) ou pelo valor (pobre, rica etc.).
Leia também: O que é poesia?
Tópicos deste artigo
Resumo sobre rima
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A rima é um recurso literário resultante da combinação de sons semelhantes entre palavras.
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As rimas podem ser classificadas por posição, fonética ou valor.
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Por posição, os tipos de rima são:
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internas;
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externas;
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cruzadas;
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emparelhadas;
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interpoladas;
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misturadas;
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agudas;
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graves;
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esdrúxulas;
Conceito de rima na literatura
A rima é um recurso literário baseado na semelhança de sons entre palavras, de forma a dar sonoridade a um poema. Por exemplo, palavras como “severidade” e “modernidade” rimam, já termos como “perder” e “ação” não rimam, pois não apresentam semelhança fonética.
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Classificação das rimas
CLASSIFICAÇÃO
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TIPO DE RIMAS
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Posição
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internas
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externas
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cruzadas
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emparelhadas
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interpoladas
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misturadas
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agudas
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graves
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esdrúxulas
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Fonética
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Consoantes ou perfeitas
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Toantes
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Imperfeitas
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Valor
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pobres
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ricas
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raras
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preciosas
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→ Tipos de rimas
Agora, veja a definição de cada tipo de rima:
Penumbra voluptuosa, igual à que abre a esfera
À espera do arrebol;
Ou à que ensombra os ares
Se aos mares baixa o sol;
(Canção 5a: aventura meridiana, de Ovídio.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos,
Ensanguentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.
(Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
Outras almas talvez já foram tuas: (A)
Viveste em outros mundos... De maneira (B)
Que em misteriosas dúvidas flutuas, (A)
Vida de vidas múltiplas herdeira! (B)
(Estrofe do poema A um triste, de Olavo Bilac.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata, (A)
Cristos ideais, serenos, luminosos, (B)
Ensanguentados Cristos dolorosos (B)
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata. (A)
(Estrofe do poema Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata, (A)
Cristos ideais, serenos, luminosos, (B)
Ensanguentados Cristos dolorosos (B)
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata. (A)
(Estrofe do poema Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
Vem! É tarde! Por que tardas? (A)
São horas de brando sono, (B)
Vem reclinar-te em meu peito (C)
Com teu lânguido abandono!... (B)
’Stá vazio nosso leito... (C)
’Stá vazio o mundo inteiro; (D)
E tu não queres qu’eu fique (E)
Solitário nesta vida... (F)
Mas por que tardas, querida?... (F)
Já tenho esperado assaz... (G)
Vem depressa, que eu deliro (D)
Oh! minh’amante, onde estás?... (G)
(Estrofe do poema Onde estás, de Castro Alves.)
Desenrola-se a sombra no regaço
Da morna tarde, no esmaiado anil;
Dorme, no ofego do calor febril,
A natureza, mole de cansaço.
(Estrofe do poema As estrelas, de Olavo Bilac.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos,
Ensanguentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.
(Estrofe do poema Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos,
Da luz da lua aos pálidos venábulos,
Na ânsia de um nervosíssimo entusiasmo,
Julgava ouvir monótonas corujas
Executando, entre caveiras sujas,
A orquestra arrepiadora do sarcasmo!
(Estrofe do poema Monólogo de uma sombra, de Augusto dos Anjos.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos,
Ensanguentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.
(Estrofe do poema Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
E foram grandes teus heróis, ó pátria,
— Mulher fecunda, que não cria escravos —,
Que ao trom da guerra soluçaste aos filhos:
Parti — soldados, mas voltai-me — bravos!
E qual Moema desgrenhada, altiva,
Eis tua prole, que se arroja então,
De um mar de glórias apartando as vagas
Do vasto pampa no funéreo chão.
(Estrofe do poema Quem dá aos pobres, empresta a Deus, de Castro Alves.)
Já te esqueceste, pois, inteiramente,
De que em melhores épocas da vida,
Teu coração, querida,
Me palpitou no coração ardente?
Teu coração de leve mariposa
Esvoaçante e terrena,
Tão pequeno e tão falso que outra coisa
Não pode haver mais falsa e mais pequena?
(Estrofe do Intermezzo de Heine, traduzido por Francisca Júlia.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos, [adjetivo]
Ensanguentados Cristos dolorosos [adjetivo]
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.
(Estrofe do poema Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata, [substantivo adjetivo]
Cristos ideais, serenos, luminosos,
Ensanguentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata. [verbo]
(Estrofe do poema Cristo de Bronze, de Cruz e Sousa.)
Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
— Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus
E a miséria anatômica da ruga!
(Estrofe do poema Monólogo de uma sombra, de Augusto dos Anjos.)
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
(Estrofes do poema Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos.)
→ Videoaula sobre tipos de rimas
Estrutura dos poemas
Um poema é composto por estrofes. As estrofes são constituídas de versos. Esses versos podem ser metrificados e possuírem rimas (regulares), apenas metrificados e sem rimas (brancos) ou sem metrificação e sem rimas (livres).
Observe a estrutura do poema Vênus, da poetisa brasileira Francisca Júlia (1871-1920):
Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara,
Que lhe serve de trono, a formosa escultura,
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.
Um sopro, um quê de vida o gênio lhe insuflara;
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura,
A majestade real de uma beleza rara.
Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono
De minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono.
E, na mesma atitude a que a insolência a obriga,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na régia perfeição da formosura antiga.
Esse poema apresenta quatro estrofes. As duas primeiras possuem quatro versos cada uma. Já as duas últimas apresentam três versos cada uma. Os versos são regulares, pois são metrificados (alexandrinos) e com rimas.
Importância das rimas
A rima é um dos elementos responsáveis pela sonoridade e ritmo do poema. O outro elemento é a metrificação. Assim, as rimas não estão presentes apenas em poemas, pois letras de música também podem utilizar esse recurso literário. As rimas estimulam o sentido da audição e provocam prazer devido a seu caráter musical.
Saiba mais: Cavalgamento — outro recurso utilizado em poemas
Exercícios resolvidos sobre rimas
Leia o poema abaixo, de Cecília Meireles, para responder às questões.
AMÉM
Hoje acabou-se-me a palavra,
e nenhuma lágrima vem.
Ai, se a vida se me acabara
também!
A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo — e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?
Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus... E ninguém
entende o que se está contando
e a quem...
Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém.
Questão 01
As rimas da primeira estrofe devem ser classificadas como:
A) internas, consoantes e ricas.
B) externas, esdrúxulas e raras.
C) externas, graves e pobres.
D) internas, alternadas e preciosas.
E) externas, cruzadas e ricas.
Resolução:
Alternativa E.
As rimas da primeira estrofe são: externas, já que ocorrem no final dos versos; cruzadas, pois apresentam esquema ABAB — “palavra/ acabara”, “vem/ também” — e ricas, uma vez que “palavra” (substantivo) rima com “acabara” (verbo) e “vem” (verbo) rima com “também” (advérbio).
Questão 02
Na segunda estrofe, é possível apontar uma rima:
A) interpolada.
B) toante.
C) imperfeita.
D) pobre.
E) interna.
Resolução:
Alternativa C.
As palavras “imensa” e “cabeça” não apresentam os mesmos fonemas finais a partir da última vogal tônica; portanto, formam uma rima imperfeita.
Fontes
ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BILAC, Olavo. Antologia: poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002.
CASTRO ALVES. Espumas flutuantes. 5. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2005.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 45. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.
CRUZ E SOUSA. Broquéis. Porto Alegre: L&PM, 2011.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 13. ed. São Paulo: Ática, 2001.
MEIRELES, Cecília. Antologia poética. 3. ed. São Paulo: Global, 2013.
OVÍDIO. Os amores. Tradução de António Feliciano de Castilho. Rio de Janeiro: Bernardo Xavier Pinto de Sousa, 1858.
SILVA, Francisca Júlia da. Mármores. Brasília: Senado Federal, 2020.