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Poesia

Poesia está associada a um conteúdo conotativo que pode gerar estranheza. Já o poema se configura em uma estrutura textual que apresenta versos, estrofes e rimas.

Ilustração traz homem grego tocando lira
A relação entre poesia e música é antiga.
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Poesia é como chamamos o conteúdo plurissignificativo, subjetivo e ambíguo de um texto, que pode ser escrito em verso ou em prosa. Na Antiguidade e na Idade Média, ela era cantada, e apenas se dissociou da música a partir do século XV. Os tipos de poesia são: elegia, écloga, ode, epitalâmio, sátira e madrigal.

Já o poema é uma estrutura textual que apresenta versos, estrofes e, na maioria das vezes, rimas.

Leia também: O que caracteriza a linguagem literária?

Tópicos deste artigo

O que é poesia?

O que define uma poesia, acima de tudo, é o conteúdo do texto poético. Assim, ela pode tanto ser escrita em verso quanto em prosa. A poesia é plurissignificativa, apresenta ambiguidade, figuras de linguagem, subjetividade. A clareza não é característica da poesia, que está sempre envolta em um mistério a ser desvendado pelo leitor e pela leitora.

Características da poesia

  • Linguagem subjetiva

  • Presença de um eu lírico

  • Manifestação de emoções

  • Expressão de ideias

  • Conotação

  • Conteúdo enigmático

  • Múltiplas possibilidades de interpretação

  • Capacidade de provocar estranheza

Tipos de poesia

Os seguintes tipos de poesia são definidos com base no conteúdo da poesia lírica:

  • elegia: acontecimentos tristes ou temática da morte

  • écloga: elementos pastoris, bucólicos, campesinos

  • ode: exaltação de valores nobres ou homenagem a algo ou alguém

  • epitalâmio: celebração do casamento

  • sátira: ridicularização de algo ou alguém, em tom jocoso

  • madrigal: elementos pastoris e heroicos

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Exemplos de poesia

A seguir, vamos ler alguns trechos de poesias de autores consagrados:

Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

[...]

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo.|1|

Écloga I: Os maiorais do Tejo

Eu canto os dois Pastores
Que o Tejo cristalino
Na bela margem viu: canto o divino
Assunto dos amores,
Que de inveja, e de agrado
O céu, a terra, o mar tem namorado.

Também das Ninfas belas,
Que Amor viu abrasadas,
Os números entoo: se entre aquelas
Cadências delicadas,
Rude o som de meu canto
Se faz digno, Senhor, de obséquio tanto.

[...]

COSTA, Cláudio Manuel da. Obras poéticas de Glauceste Satúrnio.|2|

Ode aos óculos

Só fingem que põem
o mundo ao alcance
dos meus olhos míopes

Na verdade me exilam
dele com filtrar-lhe
a menor imagem.

Já não vejo as coisas
como são: vejo-as como eles querem
que as veja.

[...]

PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas.|3|

Epitalâmio da Excelentíssima Senhora D. Maria Amália

Esposo afortunado, em quem tem posto
A Pátria as suas doces esperanças,
No meio dos aplausos, e do gosto
Ah conhece o que logras, e o que alcanças.
A Fortuna, que a tantos volta o rosto,
Te põe na mão as fugitivas tranças.
Prêmio do teu ardor, a Deusa cega
Quanto te pode dar tudo te entrega.

[...]

GAMA, Basílio da. Obras poéticas de Basílio da Gama.|4|

Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

[...]

Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos.|5|

Madrigal I

Suave fonte pura,
Que desces murmurando sobre a areia,
Eu sei que a linda Glaura se recreia
Vendo em ti de seus olhos a ternura:
Ela já te procura;
Ah! como vem formosa, e sem desgosto!
Não lhe pintes o rosto:
Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade
Meu terno amor, minha infeliz saudade.

ALVARENGA, Manuel Ignácio da Silva. Glaura: poemas eróticos.|6|

Astro frio

[prosa poética]

Por entre celas místicas, silenciosas, lá te foste emudecer para sempre, ó harmonioso e célebre pássaro do canto, nos pesados claustros.

Cor de rosa e de ouro na iluminada sala dos teatros, trinava para o alto inefavelmente, e, agora, não sei por que tormentosa paixão que te desolou um dia, ficaste infinitivamente reclusa, sob os fuscos tetos de um convento, como uma rara rosa opulenta numa estufa triste, fugindo ao sol dos prados.

Fria e muda estarás, talvez, a estas horas, ajoelhada na capela de um Cristo glacial de marfim sagrado — branca, mais glacial e de mais branco marfim do que esse Cristo, com as níveas mãos de cera e face também de cera macerada pelos jejuns e pelos cilícios, dentro de sombrias vestes talares.

E, assim muda e assim fria, perpassarás como a sombra de um vivo afeto ou de um profundo sentimento artístico, ao frouxo clarão de âmbar das lâmpadas lavoradas.

O teu alado perfil, as tuas linhas suaves, serão, no religioso crepúsculo da capela, como que a recordação do aroma, da luz, do som que tu para a Arte foste.

[...]

CRUZ E SOUSA. Missal. In: PÉREZ, José (Org.).|7|

Diferenças entre poesia e poema

O poema é um gênero de texto caracterizado pelos seguintes elementos: verso, estrofe e rima. O principal deles é o verso. Não existe poema escrito em forma de prosa. Ele pode até ter apenas uma estrofe ou mesmo não apresentar rimas; mas, necessariamente, precisa possuir versos.

Assim, existem poemas líricos e narrativos. O poema lírico é aquele que apresenta um conteúdo de poesia. Já o poema narrativo conta uma história e, portanto, apresenta características do gênero narrativo. O que esses dois tipos de poema têm em comum é a sua estrutura, isto é, um texto escrito em versos.

Já a poesia pode estar presente tanto em um texto em verso quanto em um texto em prosa. Afinal, a poesia é um texto com conteúdo plurissignificativo. Desse modo, nem todo poema é poesia, e nem toda poesia é um poema, já que existe a prosa poética. Portanto, poema é uma estrutura textual, enquanto a poesia está relacionada a determinado conteúdo textual.

Leia também: Haicai — tipo de poema de origem japonesa marcado pela concisão

Estrutura do poema

O poema, necessariamente, apresenta versos — cada uma das linhas do texto. Esses versos podem ser regulares (com metrificação e rimas), brancos (com metrificação e sem rimas) ou livres (sem metrificação e sem rimas). Além disso, os versos compõem as estrofes.

Portanto, uma estrofe pode apresentar um ou mais versos. Um dístico, por exemplo, é uma estrofe com dois versos; um terceto, com três versos; um quarteto, com quatro versos, e assim por diante. Por fim, o poema pode ter rimas, que, entre outras classificações, podem ser ricas (entre palavras de classes gramaticais distintas) ou pobres (entre palavras de mesma classe gramatical).

História da poesia

A poesia já existia na Antiguidade. Apesar de epopeias como Ilíada e Odisseia, de Homero, serem as obras mais famosas desse período, também era produzida a poesia lírica. E um de seus grandes nomes foi o da poetisa Safo, cuja obra chegou até nossos dias em fragmentos, já que muito dela se perdeu durante os séculos.

Enquanto a epopeia permitia enaltecer a cultura e a tradição de um povo, a poesia lírica se caracterizava pela expressão individual de sentimentos e ideias. Nessa época, a poesia não era lida ou declamada, mas cantada, ao som, principalmente, da lira (daí o adjetivo “lírico”). A poesia trovadoresca da Idade Média também era cantada. Por isso, nós a chamamos de cantiga medieval.

Foi apenas a partir do século XV que a poesia e a música se dissociaram. Surgiu, assim, a poesia palaciana, que era declamada. Porém foi apenas durante o renascimento que a poesia lírica passou a ser tão valorizada como eram os poemas narrativos. A partir de então, e até os nossos dias, a leitura individual da poesia lírica passou a ser valorizada.

Notas

|1| ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

|2| COSTA, Cláudio Manuel da. Obras poéticas de Glauceste Satúrnio. Disponível aqui.

|3| PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

|4| GAMA, Basílio da. Obras poéticas de Basílio da Gama. São Paulo: Edusp, 1996.

|5| MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção de José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

|6| ALVARENGA, Manuel Ignácio da Silva. Glaura: poemas eróticos. Lisboa: Oficina Nunesiana, 1799.

|7| CRUZ E SOUSA. Missal. In: PÉREZ, José (Org.). Cruz e Sousa: prosa. 2. ed. São Paulo: Cultura, 1945.

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Poesia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/poesia.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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