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O que é soneto?
Existem alguns poemas que apresentam regras fixas quanto ao número de versos, à combinação das rimas e à organização das estrofes. Entre eles, está o soneto, poema que é encontrado desde muito tempo em diversas literaturas e, claro, também é encontrado na literatura portuguesa e na literatura brasileira.
Quanto à classificação, eles podem ser de dois tipos: soneto italiano e soneto inglês.
⇒ Soneto italiano
É caracterizado pela presença de quatorze versos que, normalmente, possuem dez sílabas poéticas, ou seja, versos decassílabos ou alexandrinos. Esses versos são organizados em duas quadras e dois tercetos.
Quadras
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Estrofe de quatro versos que se apresenta geralmente com rimas alternadas (abab) ou opostas (abba).
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Tercetos
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Estrofe de três versos. Podem apresentar a combinação das rimas seguindo o modelo de Dante em Divina comédia, decassílabos em rima encadeada (aba-bdc-cdc…), no qual o último verso terceto deve rimar com um verso final (xzx-z), ou podem fazer combinações de rimas diferentes (aab-ccb, abc-abc, etc.), ou até mesmo serem apresentados com ausência de rimas.
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Veja este exemplo do soneto de Manuel Bandeira que apresenta a estrutura citada acima (duas quadras e dois tercetos):
Soneto Italiano
Frescura das sereias e do orvalho,
Dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:
De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?
Também te vi chorar… Também sofreste
A dor de verem secarem pela estrada
As fontes da esperança… E não cedeste!
Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!
Combinação das rimas dos tercetos
Quando o soneto possuir tercetos que combinem apenas duas rimas, elas deverão seguir o esquema cdc-dcd. Veja o exemplo dos tercetos de Manuel Bandeira:
Também te vi chorar… Também sofreste C
A dor de verem secarem pela estrada D
As fontes da esperança… E não cedeste! C
Antes, pobre, despida e trespassada, D
Soubeste dar à vida, em que morreste, C
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada! D
Se os tercetos possuírem mais de três rimas, devem seguir as combinações abaixo:
a) ccd-eed
Exemplo:
Amar!
Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida: C
É preciso cantá-la assim florida, C
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! D
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada E
Que seja a minha noite uma alvorada, E
Que me saiba perder... pra me encontrar... D
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b) cdc-ede
Exemplo:
Ser poeta
Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito! C
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim… D
É condensar o mundo num só grito! C
E é amar-te, assim, perdidamente… E
É seres alma, e sangue, e vida em mim D
E dizê-lo cantando a toda a gente! E
c) ced-cde
Exemplo:
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto C
onde esperança falta, lá me esconde D
Amor um mal, que mata e não se vê. E
Que dias há que n'alma me tem posto C
um não sei quê, que nasce não sei onde, D
vem não sei como, e dói não sei porquê. E
Luís de Camões
O soneto italiano é organizado dentro dessas regras fixas em sua composição.
⇒ Soneto inglês
Assim como o italiano, o soneto inglês também possui quatorze versos, mas diferencia-se por apresentar três quadras e um dístico final. A combinação rímica é feita de acordo com duas organizações:
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abab bcbc cdcd ee: conhecido por soneto spenseriano, iniciado por Edmund Spenser.
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abab bcbc cdcd efef gg: conhecido como soneto shakespeariano ou soneto inglês.
Exemplo de soneto shakespeariano:
Soneto Inglês No. 1
Manuel Bandeira
Quando a morte cerrar meus olhos duros A
– Duros de tantos vãos padecimentos, B
Que pensarão teus peitos imaturos A
Da minha dor de todos os momentos? B
Vejo-te agora alheia, e tão distante: C
Mais que distante – isenta. E bem prevejo, D
Desde já bem prevejo o exato instante C
Em que de outro será não teu desejo, D
Que o não terás, porém teu abandono, E
Tua nudez! Um dia hei de ir embora F
Adormecer no derradeiro sono. E
Um dia chorarás… Que importa? Chora. F
Então eu sentirei muito mais perto G
De mim feliz, teu coração incerto. G
Atualmente, a forma mais utilizada na composição dos sonetos é o soneto inglês, pela grande popularidade do seu uso feito por Shakespeare, que produziu 154 sonetos do tipo.
Quer ler mais sonetos e estudar suas características diretamente nos poemas? Comece lendo Florbela Espanca, Belmiro Braga, Raimundo Correia, Manuel Bandeira e, claro, o próprio Shakespeare. Boa leitura! Bons estudos!
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras