PUBLICIDADE
Nesta estrofe,
Soneto Inglês No. 1
Quando a morte cerrar meus olhos duros
– Duros de tantos vãos padecimentos,
Que pensarão teus peitos imaturos
Da minha dor de todos os momentos?
(...)
(Manuel Bandeira)
Nota-se que o poeta repete algumas sílabas (tônicas e átonas) e até palavras inteiras. Esse recurso é conhecido como ritmo poético e consiste na divisão do tempo e do espaço em intervalos iguais, por meio da repetição de sílabas tônicas ou átonas.
O ritmo poético, entretanto, não possui um período fixo, ou seja, ele pode ser assegurado por diferentes formas que podem ser combinadas de maneiras variadas, como:
a) número fixo de sílabas;
b) distribuição das sílabas fortes (ou tônicas) e fracas (ou átonas);
c) cesura (pausa interna em versos longos);
d) rima;
e) aliteração;
f) encadeamento;
g) paralelismo.
Assim, quando a poesia é constituída de unidades rítmicas iguais, sua versificação é regular, mas, quando se diferem, então, sua versificação será irregular.
Vamos agora analisar a construção rítmica em um poema:
Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(Manuel Bandeira, Estrela da Manhã, 1936)
Perceba que o poema é rico em aliterações. Além disso, é possível notar que o poeta utiliza da métrica irregular de seus versos para trazer o ritmo do trem para o texto, ou seja, quando a sua intenção é mostrar que o trem ganha velocidade, ele usa versos menores. Veja:
Bo/ta/ fo//go
Na/ for/na//lha
Que eu/ pre/ci//so
Mui/ta/ for//ça
Mui/ta/ for//ça
Mui/ta for//ça
Por outro lado, quando a sua intenção é mostrar que o trem perde velocidade, são utilizados versos maiores:
Me/ni/na/ bo/ni//ta
Do/ ves/ti/do/ ver//de
Me/ dá/ tua/ bo//ca
Pra/ ma/tá/ mi/nha/ se//de
Note também a aliteração e o encadeamento realizados pela repetição de fonemas e palavras:
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
(…)
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras